O problema não é Bolsonaro, é esse Brasil por trás dele que não sabia existir, diz Mia Couto


Por Adriana Brandão

O “Mapeador de Ausências”, último romance do moçambicano Mia Couto, acaba de ser traduzido para o francês. O livro, que chegou às livrarias da França no início de setembro, foi selecionado para o importante prêmio literário Femina. O escritor veio a Paris participar da promoção do romance, publicado na França pela editora Métailié e traduzido por Elisabeth Monteiro Rodrigues.

Mia Couto, que se define como um “poeta que tem a ousadia de entrar no universo da ficção”, é um dos maiores escritores contemporâneos em língua portuguesa. Ele é autor de mais de 30 livros, traduzidos em mais de 30 países, e muitas vezes pressentido para o Nobel de Literatura.

“O Mapeador de Ausências”, em francês “Le cartografe des absences”, foi publicado em português em 2020. O romance conta a história de um intelectual e poeta moçambicano branco que volta à sua cidade natal, Beira, em busca de seu passado. A viagem acontece sob a ameaça iminente do ciclone Idai, que destruiu a região em março de 2019.

A história, narrada no estilo poético e polifônico que caracteriza a obra de Mia Couto, navega entre duas linhas temporais, o presente às vésperas do ciclone e o começo dos anos 1970, época da guerra pela independência de Moçambique, ainda colônia portuguesa. No centro do livro está um massacre, o massacre de Inhaminga.

Nesta entrevista à RFI, Mia Couto confirma que este é o seu livro mais autobiográfico, mas que usa a própria história para contar como era esse tempo que os moçambicanos chamavam de “Guerra de Libertação Nacional” e os portugueses de “Guerra Colonial”.

Falsas ausências

As ausências de que fala o título, “são falsas ausências”. São as ausências do pai, jornalista e poeta, engajado na luta contra a colonização e perseguido pela polícia política, e de pessoas que foram invisibilizadas no passado, como a população negra, mulheres e homossexuais. O escritor resgata a história de seu país, mas não “como uma missão”. Mia Couto diz que essa história oficial “tem um exercício de esquecimento” fascinante e que escreve para “construir uma outra versão”.

Nessa e em outras de suas obras, ele aborda os paradoxos do colonialismo e nessa entrevista faz um paralelo com o Brasil, que ele considera como uma segunda pátria: “Em Moçambique, e mesmo no Brasil, a herança colonial persiste”. O escritor moçambicano tem uma relação estreita com a cultura brasileira e comenta com frequência a atual situação política no país. Ele avalia que o Brasil está diante de uma “escolha quase de civilização. O problema não é só o Bolsonaro, o problema é tudo que está por trás do Bolsonaro, esse Brasil que eu não sabia que existia e que existia com tanta dimensão”.

RFI: Mia Couto “O Mapeador de Ausências” é o seu livro mais autobiográfico?

Mia Couto: Sim. Eu não sabia, quando comecei o livro, o que ele iria ser, mas sabia que eu ia percorrer esse meu passado sempre com a intenção de que, ao trazer esse passado, eu não estaria contando a minha própria história; eu estaria usando a minha história do que foi esse tempo, que foi na minha cidade um tempo muito rico porque a ‘Guerra Colonial’, como os portugueses chamavam e nós chamávamos de ‘Guerra de Libertação Nacional’, dividia a população em dois mundos. Mas os dois mundos enlouqueceram porque para uns era o anúncio de um certo futuro, um futuro luminoso, e para outros o anúncio do fim do mundo.

Que ausências são essas que o personagem mapeia?

MC: São falsas ausências. (O livro) começou pela ideia que havia que meu pai tinha sido um pai ausente, que não deixou marca. Na verdade, essa minha visita que eu faço agora à cidade para fazer esse livro ela ressuscita a presença do meu pai, fundamental. Da mesma maneira, alguma coisa no meu passado me foi entregue como sendo invisível, como sendo não existente. Portanto, quando eu conto a história desse lado ausente do meu pai, eu conto também a história daqueles que foram tornados ausentes, no sentido de tornados invisíveis no passado.

No centro deste livro está um massacre, o massacre de Inhaminga. A história de Moçambique, este país que como você escreve em “O Mapeador de Ausências” tem memória curta, lhe inspira e está presente em praticamente todos os seus livros. Resgatar essa história é seu objetivo?

MC: Sim, mas não como um sentido de missão. Eu não me apresento com essa intenção. Essa história tem um exercício de esquecimento que me entusiasma. Me fascina como o esquecimento é uma construção ficcional, no fundo. Não é um lapso, não é uma ausência. Eu dialogo com esse aparente vazio que se criou sobre a escravatura, sobre a colonização, sobre a guerra civil depois da independência, para construir uma outra versão da história.

Você começou a escrever o romance desse regresso ao passado, à infância, antes do ciclone. Por que decidiu incorporar à catástrofe à sua narrativa?

MC: O ciclone apareceu e, de alguma maneira, ele vai perturbar e trazer um final para essa história. De fato, o livro já estava muito adiantado quando aconteceu o ciclone e como tu podes imaginar, meses antes não fazíamos ideia nenhuma do que ia acontecer. Mas nessa altura, eu sobrevoei a cidade, quando os aviões puderam começar a sobrevoar a cidade, e eu chorei no avião porque eu não vi a minha terra. A terra estava submersa. Sabia-se que ali estava a terra porque havia árvores que emergiam daquela superfície da água e para mim era um sinal. Eu perdi o chão da minha vida. Tudo aquilo que dava fundamento, sustento, essa coisa da ligação com a terra, estava cortado e eu pensei: ‘se calhar isso é um sinal de que esse livro tem de fazer o regresso aquilo que era antes’.

Perdeu o chão que o personagem tenta recuperar?

MC: Sim, era como se eu e meu personagem estivéssemos a trabalhar juntos nesse ciclo, no desfecho desse ciclo.

O personagem principal é poeta, que vai em busca da memória do pai, também poeta. Sua narrativa em prosa é caracterizada como poética. Você se sente mais poeta ou romancista?

MC: Eu sou um poeta que tem a ousadia de entrar no universo da ficção. Mas eu não acredito muito nessas fronteiras. Quem pensou na fronteira entre a prosa e a poesia não era certamente nem prosador nem poeta, alguém outro.

O seu penúltimo livro traduzido para o francês, também por Elisabeth Monteiro Rodrigues, “As areias do Imperador”, foi uma nova versão do original. Neste, também há a advertência de que a tradução foi feita a partir do original revisado por você. As traduções são uma oportunidade de reescrita?

MC: Sem dúvida, sobretudo quando se trabalha com uma tradutora da qualidade da Elisabeth que dialoga com o autor, que se interroga sobre coisas que às vezes passaram ao autor, ao revisor, ao primeiro editor do livro. Ela descobriu algumas incoerências que era preciso resolver. Em todos os casos, um tradutor reescreve um pouco um livro. Não há uma coisa chamada passagem de uma língua para a outra que seja completamente inocente, isto é, ela tem de reescrever em francês às vezes como se fosse ela própria a autora dessa versão.

Os paradoxos da colonização continuam te interpelando e seu próximo livro vai abordar as agruras de um colonizador português?

MC: É que a gente fala da colonização, do fenômeno colonial, como se fosse uma coisa do passado. Mas a colonização não foi superada no sentido da relação colonial que se tem com esses países ou que eles têm consigo próprios. Nós vemos em Moçambique e mesmo no Brasil, que tem 200 anos de independência, como essa herança colonial persiste e se quer reproduzir. Pode haver uma ruptura ao nível político. O país pensa que tem uma bandeira, tem um hino, mas do ponto de vista da sua relação com o mundo, da sua relação interior, de como as pessoas se definem numa certa hierarquia racial, social, tanto um como outro país que estou citando agora, Brasil e Moçambique, continuam a ter fortemente presente essa herança colonial.

Você tem com frequência comentado a situação política no Brasil. O que achou do resultado do primeiro turno?

MC: Eu, como tenho uma natureza pessimista, tinha uma grande esperança, mas não tinha uma grande convicção de que o Lula fosse ganhar. Acho que posso falar à vontade porque eu não sou brasileiro, não tenho que tomar opções partidárias, mas neste caso estamos perante uma situação que temos um candidato, que é o Lula, que representa a democracia, que representa o respeito pelas instituições, pela vida. Portanto, acho que a escolha agora não é só uma escolha política, mas uma escolha quase de civilização. Eu esperava muito que o Lula ganhasse, mas eu tinha também algum receio porque o problema não é só Bolsonaro, o problema é tudo que está por trás do Bolsonaro, esse Brasil que eu não sabia que existia e que existia com tanta dimensão.

Você falou das semelhanças entre Moçambique e Brasil, você teme que aconteça em seu país a mesma coisa que no Brasil?

MC: Acho que não é a mesma situação. Acontece em Moçambique um terrorismo de uma facção religiosa, do extremismo islâmico. O que existe no Brasil é um extremismo religioso também. Muito daquilo que é política no Brasil vem da força que essas igrejas evangélicas vêm tomando. Eu não sei dizer, não posso vaticinar nada, mas preocupa muito como isso cresça (em Moçambique), ao lado do reforço de um armamento da população. Portanto, há ali potencial para que se crie uma situação que pode ser mais violenta que o Brasil, que hoje já não é tão pouco violento assim.

No início de “O Mapeador de Ausências”, o personagem está deprimido e volta à cidade natal para tentar resolver esse problema e conseguir dormir. Você diz que é o seu livro mais autobiográfico. Como está o Mia Couto hoje?

MC: Na altura, eu percebi que eu não estava bem, que realmente, como acontecia com esse personagem, eu tinha dificuldades em ler, em me concentrar, em escrever e isso me preocupava muito. E quando fui ao médico, ele me disse que eu estava deprimido. Eu fiquei muito surpreendido porque eu tenho um temperamento que pensa que eu estava livre dessa condição, mas eu acho que não fico preocupado com isso, eu enfrento isso. Num mundo que está tão deprimido ele próprio, nenhum de nós pode estar normal. Há sempre uma ferida que fica olhando a situação de um mundo que a gente não sabe prever, não sabe entender.

Como diz um de seus personagens no final do livro, você tem de contar sua própria história para superar?

MC: Exatamente. A contação da sua própria história tem um efeito terapêutico enorme sobre nós próprios e sobre os outros, quer dizer, se eu escutar a sua história, eu fico melhor também. É uma espécie de um abraço que a gente dá.”

Você já ganhou vários prêmios literários, como o Camões, o principal prêmio da língua portuguesa. Este ano, aqui na França, você foi selecionado para os importantes prêmios “Femina” e “Melhor Livro Estrangeiro” e foi cotado para o Nobel. Qual é a sua expectativa?

MC: Nenhuma! Eu tenho essa relação com os prêmios que para mim eles não existem e quando existem, quando acontecem, obviamente eu fico muito feliz, mas não estou à espera deles. É uma espécie de um desencontro antecipadamente assumido.




Texto originalmente em RFI

Nota 
Os grifos, em amarelo, no texto acima foram feitos por mim. 
( Rosa Maria - Editora do Blog )


Aprenda a ouvir a sua voz interior, aprenda a acreditar no que sente



Você não precisa de opinião de ninguém; quando acredita, isso basta; quando não acredita, basta; quando desacreditar, basta.

Em diversos momentos, prefira ouvir a sua voz interior.

São muitas as situações que confundem, são muitas as pessoas que nos confundem, mas a sua voz interior está lá, pronta para falar a verdade, a realidade sobre todas as situações e pessoas, basta aquietar o seu coração, acalmar as emoções e prestar mais atenção ao que está em seu interior…

Muitas vezes, as pessoas disfarçam, mostram algo que não são, fazem você acreditar em um caminho que não é o seu caminho, então começa a se instalar uma confusão em tudo que acredita e em tudo aquilo que você vê a sua frente…

A melhor direção não será a que o outro escolhe, mas a que comunga com as suas verdades interiores, o que está de acordo com tudo aquilo que acredita.

Não basta gostar de alguém se essa pessoa obriga você a deixar de ser quem é, insistindo em levá-lo por direções opostas aos seus valores.

Na dúvida, observe como se sente em cada situação e acredite no seu interior.

Quando precisar escolher entre você e uma outra pessoa, isso já diz muito do outro e isso já define a situação em si, coloca fim em qualquer dilema: Escolha você!

Quando existe sentimento bom, quando existe qualidade de emoções, não precisará escolher entre você e o outro, isso não estará nunca em questão. Não precisará escolher entre o que acredita e o que o outro acredita, haverá uma congruência natural de situações e forma de pensar a vida, sua e do outro.

Ouça seus sentimentos, dê atenção devida às suas percepções, preste muita atenção ao que a sua intuição está dizendo a você…

Cuidado ao transformar um “Não ” que vem lá do fundo do coração em “sim”, com desculpas, com justificativas de que isso é pelo “outro”. O nosso ser cuida muito bem de nós mesmos… A gente é que não ouve, não dá importância a nossa energia interior, a nossa força, ao nossa real proteção e percepção.

Quem gosta de você, não tentará forçar você a sair da sua natureza e fazer coisas que não comungam com sua verdade interior.

Não fique querendo mostrar para os outros o que vale, ou não, na vida; tenha isso claro, principalmente para você.

O pior desacordo que pode acontecer é de você para com você mesmo.

Olhe tudo de uma outra forma e pode até ser que compreenda jeitos de ser equivocados dos outros, isso não é o problema, o problema maior é quando os equívocos dos outros retiram o seu prumo. Alguém pode estar perdido, isso não é um problema seu; passa a ser seu problema quando deixa que a perturbação do outro o atinja, de tal forma que passe a ser sua perturbação também e você se perca de quem é de verdade…

Não concorde, não faça, não aceite. Diga terminantemente “Não”, sempre que algo atentar contra a sua “ecologia pessoal”.

Você só precisa fazer coisas que ressoem com a sua energia, com aquilo que realmente faz vibrar seu coração, com aquilo que concorda de fato; para todo resto é: “não”.

E quem realmente gosta de você, respeitará os seus limites, não quererá invadi-los, ultrapassá-los. Quem gosta de você como você realmente é, irá respeitá-lo, respeitar a sua natureza e condição.

Não crie ilusões, nem antagonismos com relação a sentimentos verdadeiros.

Respeite-se, olhe seus limites com carinho, proteja-se, primeiro goste de você, Respeite todo o seu ser.

Isso é o mais importante de tudo!

Na dúvida, primeiro olhe para você. Fique com as suas opiniões, com as suas intuições… Na dúvida, opte por você!







Oração da gratidão




Pai, Mãe, Vida … Minha gratidão, por ser o início de tudo.

Deus Pai, Divino Criador, minha Centelha Divina, Deus em mim! Eu sou grata e agradecida pela minha vida.

Gratidão pela construção do meu corpo físico e pela arquitetura de meu espírito.

Gratidão por tudo o que sou e por tudo o que tenho!

Gratidão pelos meus irmãos de tempos outrora e que hoje constituem a minha família, e os meus amigos.

Gratidão pelas curas físicas, mentais e espirituais que diariamente me acontecem e algumas vezes nem percebo. Porque se eu notasse com os meus olhos da alma, não me cansaria de agradecer, pelo milagre que Tu és, por todo o funcionamento do meu corpo, por todo o trabalhar dos meus órgãos e por toda a renovação de minhas células.

Mas ainda assim, eu expresso de todo o meu coração a minha pura gratidão por mais um dia, e por todos os dias ser oportuno para um recomeço, mesmo que ainda eu não transforme esse recomeçar em atitudes, eu sei que a minha gratidão sincera me fará alcançar á Consciência Divina que habita em mim me despertando para uma busca transformadora, realizando todo o meu bem-estar, em todos os sentidos da minha vida, para a realização dos meus desejos.

Gratidão pelos maravilhosos mestres que me aparecem para me ensinar o mínimo que seja dentro de minha percepção o que eu julgo um bem para mim através de minhas escolhas, quer por livros, filmes, estudos etc.

E gratidão por aqueles mestres que eu não escolhi conscientemente, mas que me aparecem e se faz necessário com seus ensinamentos, que julgo ofensivos e que meu julgamento não me deixa entender como um bem, porque afeta o meu ego, o meu domínio, me fazendo ver como ofensas, oposição, respostas contrárias as minhas visões e entendimentos, e quando tenho gratidão por isso, me faz sentir que é para minha evolução espiritual, e quando estou evoluindo haverá sempre uma melhora em todo o meu ser.

Gratidão por todos os livramentos, principalmente por aqueles que eu não enxerguei que eu não percebi, mas sei que eles existiram e que, em tempos depois, eu pude sentir.

Gratidão por ser o perdão e a misericórdia de todos os meus erros passados, me ensinando a romper os laços desses mesmos erros que eu me prendo, me fazendo me apegar em culpa, mas que diante desse rompimento posso me libertar e libertar os outros, dando o perdão que é preciso.

E finalmente, minha gratidão por suprir todas as minhas necessidades, por ser minha inspiração, por todos os meus sentidos, e por esse sentimento de ternura, simplicidade e humildade que sinto exalando de minha alma, ao expressar essas palavras.

Gratidão, gratidão e gratidão!