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Emancipação do pensamento e a liberdade integral



Patricia Tavares

Quão gratos deveríamos ficar com quem explana seu ponto de vista de forma clara, verdadeira e sem rodeios.

A verdade, a realidade dos fatos: “dos tempos”, da política, da sociedade, do mundo, e também pessoal, nem sempre é fácil de lidar, de assimilar, de elaborar uma verdade importante de ser dita e de ser ouvida, mas sempre é infinitamente melhor do que a hipocrisia: essa psicose instalada como meio de sobrevivência, articulação e um meio de manobra social, mundial, política e pessoal…

Abrir o jogo e dar opção de escolha ao outro, aos outros, é algo ético e grandioso, e de uma ordem genuína.

Cada um tem o seu direito – inegavelmente -, mas articulações, manobra de argumentações baseadas em fatos inventados, ou em partes escondidas, é algo vil e corriqueiro.

Olhar para quem tem “coragem” de assumir suas próprias verdades – de forma clara, para si mesmo e para os outros-, mesmo sabendo que pode perder aliados, colaboradores, dinheiro, amigos, amores… em comparação com quem é totalmente degradante, desonesto, podemos compreender que: quem se presta ao papel de defender ideais, projetos por meios desonestos, apenas para convencer o outro e vender o seu “peixe”, para que os outros entendam que a sua forma de ser, de viver, ou de garantir suas verdades nada verdadeiras, para convencer seja no setor público ou íntimo, caracteriza-se como algo ínfimo. É absurdo querer catequizar, principalmente, com uma cartilha que, nem de longe, funciona para o próprio, muito menos para o setor público…

Mas é claro que é preciso também definir a palavra funcionar, porque coisas completamente vis podem funcionar muito bem para uma pessoa, situação, relação, estado, país … Vai depender do tipo de organização – ou desorganização – e o que pode ser aceito por um ou por muitos. O que está intitulado como “adequado”, mas é totalmente inaceitável, e nada saudável ou construtor.

Definição da palavra funcionar:

funcionar

verbo

1.

intransitivo

exercer sua função, estar em exercício; trabalhar, servir.

2.

intransitivo

estar em atividade.

Funcionar para quê? Funcionar para quem?

É possível observar o Brasil, a sociedade, o “Ser humano”; as relações, “acordos”, “desacordos”, por um viés totalmente psicológico, da ordem dos distúrbios mais complexos que fazem a pessoa sofrer, mas não a deixam parar de funcionar… Proporcionam a sua degradação humana, contudo, não privam de funcionar a qualquer preço…

Como é preciso entender de que “verdade”, de qual “hipocrisia” estamos falando. Porque se algo que é uma articulação vil, porém funciona muito bem para se obter o que se quer; para obter a qualquer custo acordos, posições, destaques, aliados, amigos, um amor tão desejado… pode se tornar algo corriqueiro, aceitável, até bom e sinônimo de força, “inteligência”, “esperteza”. E isso, claro, desde que o mundo é mundo.

Não é fácil ser solitário, não é fácil defender pontos de vistas que são mais sensatos, que ultrapassem o ultrajante, e seguir fiel ao que se acredita, seguir leal a você em detrimento de tudo e todos que não comungam com tais formas de viver, escolher, pensar, relacionar, inserir, e seguir pertencendo a si mesmo.

Não é nada fácil não pertencer, não é fácil a solidão do pensamento, não é fácil ser incomum, não é fácil defender pontos de vistas que são particulares; é sim, um exercício de muita coragem, de certa lucidez em meio a tantas “desbaratinagens”, mesmo que cada um tenha a sua, porque se for para ser imaturo, ao menos não imite ninguém…

A construção de alguém é algo particular, nascemos e morremos sozinhos, o outro é um meio importante de experienciarmos muitas coisas diferentes, a sociedade tem muita importância na nossa própria construção e do mundo a nossa volta, mas a unicidade do próprio “ser” é o que existe de maior valor para cada um. E é fundamental atribuir total valor a quem realmente você é, basear sua vida principalmente por isso, e aperfeiçoar aspectos de sua personalidade, de tudo que o compõe para não ser pego sempre pelas “redes”, pelas “teias” do outro, de um mundo que não se importa com nada disso – ao contrário – estimula a descaracterização de si mesmo para poder roubá-lo de si mesmo, sempre que for conveniente.

Esteja atento, o processo individual é construído, é consolidado dia a dia, não se desanime diante da multidão, diante das avalanches do caminho.

Quando você já consegue ver diferente, percebendo melhor você sem deixar ser arrastado pelo convencimento apelativo e manobrista, você pode se sentir sozinho mas cada dia mais será muito mais você. E isso terá um valor inestimável e só quem conseguir sentir saberá a sensação….

A conquista é sua e de mais ninguém.







Bolsonarismo é massacrado nas redes após entrevista, aponta cientista de dados

 


 


Para ler clique no link abaixo :

Todas as mentiras de Bolsonaro no Jornal Nacional

 







Bolsonaro e o paradoxo do mentiroso




" Quem votará no chefe do executivo que mente e declara que mente? ", questiona Marcia Tiburi.

Vivemos submetidos a jogos de poder que incluem cálculos sobre o psiquismo das populações. É o que chamamos de psicopoder : técnicas, espontâneas ou programadas com o objetivo de retirar dos indivíduos a sua capacidade de pensar e de tomar decisões por conta própria, ou seja, de ter livre-arbítrio. Pesquisadores ajudaram a especializar essas táticas a serviço de Estados (o francês, o estadunidense e o brasileiro, entre outros) e demonstraram como funciona a mais famosa delas que é a lavagem cerebral. Muitos Estados empregaram torturadores que usaram tais técnicas na guerra contra opositores.

O que estudiosos do fascismo chamaram de “caráter manipulador” faz parte disso tudo. O atual presidente do Brasil é um tipo desses, um natural agente do psicopoder e da lavagem cerebral. Mas ele não surgiu sozinho. Ele mesmo foi esvaziado da capacidade de pensar e de sentir e, assim, transformado em robô a serviço do sistema. Estereótipo do torturador psicológico, há algo de autômato nele. Espantalho do que vem sendo chamado de partido militar, ele segue com sua operação clássica de produção de medo e pânico na direção das massas. Ele sabe hipnotizar muito bem, pois foi programado para isso por especialistas cuja inteligência inescrupulosa administra a sua burrice e grosseria.

Em “Alien, o oitavo passageiro”, filme de Ridley Scott de 1979, há um androide entre os ocupantes da nave. Sua função é salvar o capital e deixar que todos os outros ocupantes da nave morram. Ele mesmo não se importa em morrer, pois está programado para não se importar com isso. Ele imita humanos, pois parecer humano é essencial ao processo de proteção do capital, mas não tem empatia por eles. Tudo esta organizado em um sistema, e sairá vivo dele quem tiver coragem de enfrentar o monstro.

Assistimos nessa semana a um evidente pane do autômato que serve ao sistema: ao dizer que o chefe do executivo mente, sendo ele mesmo o chefe do executivo, o presidente do Brasil desmascarou-se mais uma vez. Não foi apenas um ato falho psicanaliticamente compreensível. Com sua fala, o presidente androide atualizou o que em filosofia se chama “paradoxo de Epimênides”, ou paradoxo do mentiroso, pelo qual uma frase com pretensão de verdade, demonstra que o emissor dessa frase é o próprio mentiroso e, desse modo, o que ele diz não tem validade.

A verdade foi escancarada como uma falha do sistema da mentira.

O que os brasileiros farão com um cidadão como Bolsonaro é o problema, diante da lavagem cerebral diária a evitar a capacidade de reflexão. Quem ainda acredita no mentiroso? Quem votará no mentiroso?


Marcia Tiburi Professora de Filosofia, escritora, artista visual.













Bolsonaro bate 5 mil mentiras desde 2019 #BolsonaroMentiroso e #BolsonaroDay crescem nas redes

 



Segundo o site de checagem Aos Fatos, em 1.185 dias como presidente, Bolsonaro deu 5.145 declarações falsas

A hashtag #ForaBolsonaro está sendo utilizada nesta sexta-feira, 1º de abril, considerado o Dia da Mentira, para relembrar as falsidades ditas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a sua gestão. A ação nas redes sociais está sendo promovida pela Campanha Nacional Fora Bolsonaro.

Até agora, em 1.185 dias como presidente, Bolsonaro já deu 5.145 declarações falsas ou distorcidas, segundo o site de checagem Aos Fatos.

Uma das frases mais repetidas é que em seu governo não há corrupção. “Três anos e três meses em paz nessas questões [corrupção]”, disse o presidente 191 vezes. Frequentemente, funcionários da gestão são alvos de denúncias e investigações sobre casos de corrupção e outros crimes relacionados à administração pública.

No caso mais recente, o agora ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, é investigado por um suposto esquema corrupção dentro da pasta envolvendo a distribuição de verbas para prefeituras intermediada por pastores.

Repercussão

Entre as mentiras do presidente relembradas pelos usuários está a de que “Bolsonaro mentiu que abaixaria os preços. Em uma live feita em seu canal do Facebook, em 2018, ele prometeu que, caso fosse eleito presidente, o botijão de gás custaria R$ 30,00 #BolsonaroMentiroso”, disse um usuário no Twitter.

O preço médio da gasolina ultrapassou os R$ 7 por litro em 24 dos 27 estados brasileiros em março deste ano. O dado consta da primeira pesquisa de preços de combustíveis divulgada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) com valores apurados após a Petrobras reajustar o custo dos produtos vendidos pela estatal a distribuidores. A Petrobras aplicou aumento de quase 19% na gasolina e 25% no diesel produzidos em suas refinarias no último dia 11.

A pesquisa de preços mais recente da ANP leva em conta valores apurados em postos de combustíveis entre os dias 13 e 19 de março, ou seja, já após o aumento. De acordo com o levantamento, a gasolina comum só tem preço médio abaixo de R$ 7 no Amapá (R$ 6,279), no Rio Grande do Sul (R$ 6,975) e em São Paulo (R$ 6,867).

Em outro post, um usuário comenta que “tem muita gente que não sabe porque a gasolina está cara porque vê na televisão o presidente mentiroso dizendo que é por causa da guerra da Ucrânia. É mentira”.

No Brasil, o preço dos combustíveis é baseado pela política de preços paritários de importação (PPI), por meio da qual os valores são determinados de acordo com os preços praticados no mercado internacional, ou seja, em dólar. Com isso, a estatal abriu mão de controlar diretamente o preço desses produtos no país, evitando variações inflacionárias, para determiná-lo de acordo com o preço do mercado internacional.

Os internautas também relembraram o Golpe Militar de 1964, que completa 58 anos entre esta quinta (31) e sexta-feira (1º), defendido de forma contumaz por Bolsonaro e seus aliados.

“Bolsonaro diz que não houve um golpe militar no Brasil. Mas o fato é que em 1964, o presidente João Goulart, legitimamente eleito, foi deposto por um golpe, e substituído, à força, por uma ditadura militar que durou 24 anos. #BolsonaroMentiroso”, publicou um perfil do Twitter.

Edição: Vivian Virissimo




Leia também :
 









Nem mesmo ele acredita no que fala. Ele ia dizer mais uma mentira... e acabou falando a verdade : que o Brasil " tá uma desgraça "  



As mentiras do canalha na ONU




Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

Logo no início da pandemia, quando comecei a escrever sobre os desmandos deste Presidente desalmado e desumano na condução criminosa da crise sanitária, propus que ele fosse processado não somente pelos crimes contra a saúde pública, mas também por genocídio. Escrevi sobre isso em maio de 2020 e fiz várias lives defendendo a criminalização da conduta desse fascista. Fui muito criticado por vários amigos que tinham o cuidado sobre a exata tipificação da conduta desse criminoso. Uma preocupação técnica que eu respeito, mas que não me comove.

O ar que começava a faltar para milhares de brasileiros tragados pela nuvem tóxica que exalava desse governo me turvava os olhos. Agia por impulso, usando o que a advocacia e a vida me deram de mais precioso: a capacidade de poder falar e escrever. Quis fazer da minha voz a voz daqueles que começavam a sofrer os efeitos de uma política perversa e cruel. Já trazia a indignação para o debate que se avizinhava na certeza de que o irresponsável Presidente estava guiando o país para o abismo, para o precipício.

E, aos poucos, fui colocando mais pimenta para definir esse Presidente desprovido de empatia, de compaixão, de solidariedade e de emoção com a dor do outro. Dentre as várias palavras que eu usei para definir minha repulsa, talvez uma o defina melhor: canalha!

Gradativamente, fui tomando atitudes que me davam a tranquilidade necessária para fazer o embate na travessia que se anunciava longa, tumultuada e em mares revoltos. Cortei os fascistas da minha lista de relação, saí de grupos de WhatsApp e mostrei a mim mesmo que a coerência era imprescindível nessa luta. Nos detalhes. Afinal, não é possível denunciar a barbárie e continuar celebrando a vida com os bárbaros. Temos que ter coragem de denunciar a conivência dos covardes, que são cúmplices do desastre humanitário ao qual o Brasil está sendo submetido.

Aos poucos, fui notando que éramos muitos. A palavra genocida passou a ser um substituto do nome desse canalha. Mesmo a imprensa quase já não usa mais o nome do Presidente para se referir a ele. Nos grupos, a maneira de qualificá-lo é, na maioria das vezes, de forma pejorativa e merecidamente depreciativa. O grande Rui Castro fez épica coluna com mais de uma centena de nomes para poder definir o canalha. Virou um pequeno dicionário para ser consultado quando queremos nos referir a esse assassino.

Mas nada é tão ruim que não possa piorar. A tragédia continua com a destruição de todos os valores humanistas que nossa sociedade incorporou ao longo de décadas. Esse canalha governa para as trevas e leva, cada vez mais, o país para o caos. Desestruturou a saúde, desmantelou a cultura, desarranjou a segurança e se apropriou até das nossas cores e símbolos. Corrupto que sempre foi, lambuzou-se com o poder. Usou a sua absoluta falta de escrúpulos para sacramentar uma política de ódio, da mediocridade e da desumanidade. Saiu de cena o debate político para dar lugar a uma baixaria que dá asco e nojo.

A mentira é a arma oficial dos canalhas. Criaram um universo paralelo onde o que importa é a estratégia de manutenção do poder. Nenhuma preocupação com a realidade e com a verdadeira situação do povo brasileiro. Um discurso voltado para os milhões de cúmplices e a desfaçatez de arrombar os cofres públicos, a céu aberto, para a perpetuação da quadrilha no comando. Um acinte diário, permanente e sem limites. O Brasil está sendo estuprado aos olhos do mundo, que acompanha perplexo o nosso dia a dia. E nós seguimos indignados com nossa resistência diária e nossa dor pelos que ficaram no caminho.

A fala do canalha na ONU foi um fecho de ouro para coroar a hipocrisia e celebrar a mentira. A humilhação a que o país foi submetido é apenas a continuação do que ocorre a todo instante com as mulheres, os negros, os desempregados, a comunidade LGBTQIA+ e os que perderam amigos e familiares na luta contra o obscurantismo. Pode parecer tarde, mas ainda é tempo. Vamos seguir resistindo. Só não podemos nos esquecer do nome do canalha, esse nome que, por profilaxia, acabamos não usando, preferindo sempre uma qualificação pejorativa: Bolsonaro. Esse é o chefe dos canalhas.

Com a lembrança do mestre Miguel Torga, em Penas do Purgatório.

“Guarde a sua desgraça
Oh desgraçado.
Viva já sepultado
Noite e dia.
Sofra sem dizer nada,
Uma boa agonia
Deve ser lenta, lúgubre e calada.”









Discurso do " Pinóquio " na ONU

 




Enquanto o Brasil passa vergonha em Nova York e na ONU, aqui no país . . . ↓


 


 

A terra tem que ser mesmo plana para justificar a profundidade dessa gente rasa e banal






Por Kakay

“A vida é luta renhida: viver é lutar. A vida é combate que os fracos abate, que os fortes, os bravos, só faz exaltar.”    - Gonçalves Dias -

Quando nos últimos dias resolvi falar sobre o resgaste das nossas cores e até dos nossos símbolos, eu me senti, num 1º momento, meio piegas. Como um norte-americano do interior do Texas. Mas, aos poucos, eu vi que esses gestos simples definem hoje, em parte, um ato de resistência. Ao sair de verde e amarelo na manifestação de 29 de maio, nada mais fiz do que dizer um basta, uma demonstração de cansaço e de indignação a esta mediocridade que nos domina.

É difícil manter a sanidade com 500 mil mortos nos fazendo companhia. Com as gravíssimas restrições ao dia a dia, com uma tristeza que se instalou nas pessoas e, ainda, com uma profunda ignorância ao nosso redor. Constato que quase tão grave quanto a morte física é o domínio absoluto das trevas e do obscurantismo.

Não é mais possível conviver com um país que não parece real. Estes bárbaros, repito, criaram um mundo imaginário e a partir dele comandam a narrativa do caos. Nós viramos o irreal, somos o ponto fora da curva. Pensar virou um gesto perigoso e revolucionário. Recorro-me a Miguel Torga, em “Auto-Retrato”:
“É por trás do espelho que me vejo.
Numa espécie de quadro em negativo.
Sinais fundos e certos de que vivo.
Mas sem a nitidez que todos me atribuem.”
Para que uma discussão se realize, é necessário que os envolvidos estejam à disposição para trocar ideias, para mudar de posicionamento e para refletir. Este bando que se apoderou do Brasil não funciona com racionalidade. No mundo imaginário e livre das amarras da consciência, a mentira é o motor que impulsiona as principais ações. Mas não são mentiras desconectadas, elas são estruturadas como uma estratégia de dominação.

O próprio presidente da República se sujeita a criar factoides para alimentar a sua rede insana de fake news sem nenhum resquício de constrangimento, e domina a arte de desviar as atenções dos problemas reais que interessam à nação.

Como enfrentar uma CPI no Senado Federal que, com alguns poderes inerentes ao Poder Judiciário, poderia chegar a desnudar e revelar os inúmeros crimes cometidos durante a crise sanitária? Com o uso desavergonhando, não só das mentiras, mas da afirmação e reafirmação deste mundo irreal, no qual habitam estes seres estranhos.

Como parte do país acredita na narrativa criada por eles, os depoimentos, muitas vezes, não têm nenhum compromisso com a verdade. E a força da fantasia se impõe. Lembro-me do velho Leão de Formosa:
"Foi um professor de silêncio
que um dia me disse:
a palavra é uma tolice.
Fica mudo e ficarás imenso.”
O presidente da República tem o desplante e a ousadia de citar um documento que sabe não existir, sabe ser falso, no intuito de alimentar a sua rede de robôs e de fanáticos. E faz isso em plena 3ª onda do vírus e de um número crescente de mortes. Para criar uma enorme nuvem de fumaça e desviar as atenções, ele simplesmente afirma que há uma informação do TCU de que metade das mortes contabilizadas como sendo pela covid, na verdade, foram forjadas. Não é uma mentira qualquer. É uma falsidade que envolve o Tribunal de Contas da União.

E os objetivos foram alcançados: o gado infame repercute como verdade, a imprensa dá grande destaque e as mortes reais parecem estar em segundo plano. O TCU desmente, mas a presidente da principal comissão da Câmara dos Deputados avisa no Twitter que a crise acabou, pois as mortes são falsas. É a mentira virando verdade no mundo virtual. Enfim, o mundo imaginário é alçado a algo real e palpável. Nós somos a irrealidade, os fantasmas. As nossas preocupações são a prova de que o universo verdadeiro é tão cruel que não existe. O que existe é a fantasia desses senhores da mentira, que dominaram e manipularam a história. A terra tem que ser mesmo plana para justificar a profundidade dessa gente rasa e banal.

E o show de horror é cuidadosamente dirigido como um espetáculo, no qual um ato se destaca a cada momento. Como um teatro mambembe, só que com atores profissionais. O texto é que é pobre. Tiram da cartola uma Copa América no meio da pandemia. Às favas as preocupações com a aglomeração e com o crescimento da contaminação. Para quem já mandou às favas os escrúpulos da consciência ao implantar a ditadura, torna-se insignificante bancar o circo que alimenta o mundo criado para a fantasia. E todos nós somos alimentados nesse embate. Até o Supremo Tribunal é chamado a se manifestar sobre a possibilidade de ter ou não os jogos da Copa. Nós perdemos o foco. Eles dirigem o espetáculo e nós somos meros espectadores.

E, nesse teatro de marionetes, os fios vão comandando o show, cuidadosamente manipulado. As Forças Armadas são subjugadas e os poderes constituídos olham apenas de soslaio. Os militares ocupam a cena política sem maiores constrangimentos. Enquanto nós ficamos a discutir se é correto ou não ocupar as ruas para demonstrar nossa revolta e perplexidade. A nossa consciência parece ser parte da estratégia do jogo jogado por aqueles que sabem tratá-la como um entrave. Difícil enfrentar a barbárie só com argumentos, mas é o que nos resta.

É necessário aprofundar nossas frentes de resistência. O debate tem que ser sobre a necessidade imperiosa do impeachment, os crimes de responsabilidade se acumulam e até ficam vulgares. Importante também enfrentar a hipótese de uma ação criminal subsidiária, na inércia do PGR, para responsabilizar o presidente e seu grupo. Se ficarmos apostando no desgaste do governo, à espera das eleições, estaremos exatamente participando do jogo que só interessa a eles. Fazendo o jogo da banca. Talvez seja essa a única hipótese de sermos parte do mundo ilusório criado por esse grupo. Eles dão as cartas, e a nós resta o papel de figurantes. Eles continuam blefando e nós não teremos mais como enfrentá-los, pois eles dirigem o espetáculo.

Resta-nos Pessoa:

“É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”


Postado em DCM em 11/06/2021


 
Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido pela alcunha de Kakay, é advogado criminalista brasileiro.



Dentro de um inferno, algo do paraíso não se perdeu


Qual é o propósito de Deus para a Terra e para a humanidade ...



Leonardo Boff

Se olharmos os cenários mundiais, temos a impressão de que a dimensão de sombra, o impulso de morte e a porção demente tomou conta das mentes e dos corações de muitas pessoas. Particularmente em nosso país, criou-se até o “gabinete do ódio” onde grupos maus maquinam maldades, calúnias, distorções e todo tipo de perversidades contra seus adversários políticos, feitos inimigos que devem ser liquidados senão fisicamente, pelo menos simbolicamente.

Várias janelas do inferno se abriram e suas labaredas incineraram celebridades, alimentaram as fake news e destroçaram porções do Estado Democrático de Direito e em seu lugar introduziram um Estado sem lei e post-democrático e, no caso do Brasil, em sua cabeça, um chefe de Estado demente, cruel e sem compaixão.

Historiadores nos asseguram que há momentos na história de uma nação ou de um povo nos quais o dia-bólico (o que divide) inunda a consciência coletiva. Tenta afogar o sim-bólico (o que une) no intento de fazer regredir toda uma história aos tempos sombrios, já superados pela civilização. Então surgem ideologias de exclusão, mecanismos de ódio, conflitos e genocídios de inteiras etnias. Conhecemos a Shoah, fruto do inferno criado pelo nazifascimo de extermínio em massa de judeus e de outros.

Na América Latina por ocasião da invasão/ocupação dos europeus, ocorreu talvez o maior genocídio da história. No México, em 1519 com a chegada de Hernán Cortez, viviam 22 milhões de aztecas; depois de 70 anos restaram somente 1,2 milhões. Foram católicos anticristãos que perpetraram extermínios em massa. Os gritos das vítimas clamam ao céu contra a “Destruição das “Índias”(Las Casas) e têm o direito de reclamar até o juízo final. Nunca se viu algum ato de reconhecimento deste genocídio por parte das potências colonialistas nem se dispuseram a fazer a mínima compensação aos sobreviventes destes massacres. São demasiados desumanos e arrogantes.

Mas dentro deste inferno dantesco, há algo do paraíso que nunca se perdeu e que constitui a permanente saudade do ser humano: saudade da situação paradisíaca na qual tudo se harmoniza, o ser humano trata humanamente outro ser humano, sente-se confraternizado com a natureza e filho e filha das estrelas, como dizem tantos indígenas. Em tempos maus como o nosso, vale ressuscitar esse sonho que dorme no profundo de nosso ser. Ele nos permite projetar outro tipo de mundo que, para além das diferenças, todos se reconhecem como irmãos e irmãs. E se entre-ajudam.

Narro um fato real que mostra a emergência desse pedaço de paraíso, ainda existente entre nós, lá onde a inimizade e a violência são diárias.

Essa não é uma história inventada mas real, recolhida por um jornalista espanhol do El Pais no dia sete de junho de 2001. Ocorreu no ontem, mas seu espírito vale para o hoje.

Mazen Julani era um farmacêutico palestino de 32 anos, pai de três filhos, que vivia na parte árabe de Jerusalém. No dia 5 de junho de 2001 quando estava tomando café com amigos num bar, foi vítima de um disparo fatal vindo de um colono judeu. Era a vingança contra o grupo palestinense Hamás que, quarenta e cinco minutos antes, havia matado inúmeras pessoas numa discoteca de Tel Aviv mediante um atentado feito por um homem bomba. O projétil entrou pelo pescoço de Mazen e lhe estourou o cérebro. Levado imediatamente para o hospital israelense Hadassa chegou já morto.

Mas eis que a porção adormecida do paraíso em nós foi acordada. O clã dos Julani decidiu aí mesmo nos corredores do hospital, entregar todos os órgãos do filho morto: o coração, o fígado, os rins e o pâncreas para transplantes a doentes judeus. O chefe do clã esclareceu em nome de todos que este gesto não possuía nenhuma conotação política. Era um gesto estritamente humanitário.

Segundo a religião muçulmana, dizia, todos formamos uma única família humana e somos todos iguais, israelenses e palestinos. Não importa em quem os órgãos vão ser transplantados. Essencial é que ajudem a salvar vidas. Por isso, arrematava ele: os órgãos serão destinados aos nossos vizinhos israelenses.

Com efeito, ocorreu um transplante. No israelense Yigal Cohen bate agora um coração palestino, o de Mazen Julani.

A mulher de Mazen teve dificuldades em explicar à filha de quatro anos a morte do pai. Ela apenas lhe dizia que o pai fora viajar para longe e que na volta lhe traria um belo presente.

Aos que estavam próximo, sussurrou com os olhos marejados de lágrimas: daqui a algum tempo eu e meus filhos iremos visitar a Ygal Cohen na parte israelense de Jerusalém. Ele vive com o coração de meu marido e do pai de meus filhos. Será grande consolo para nós, encostar o ouvido ao peito de Ygal e escutar o coração daquele que tanto nos amou e que, de certa forma, ainda está pulsando por nós.

Este gesto generoso demonstra que o paraíso não se perdeu totalmente. No meio de um ambiente altamente tenso e carregado de ódios, surgiu um Jardim do Éden, de vida e de reconciliação. A convicção de que somos todos membros da mesma família humana, alimenta atitudes de perdão e de incondicional solidariedade. No fundo, aqui irrompe o amor que confere sentido à vida e que move, segundo Dante Alignieri da Divina Comédia, o céu e todas as estrelas. E eu diria, também o coração da esposa de Mazen Julani e o nosso.

São tais atitudes que nos fazem crer que o ódio reinante no Brasil e no mundo, as fake news e as difamações não terão futuro. É joio que não será recolhido, como o trigo, no celeiro dos homens nem de Deus. Esse tsunami de ódio e seu promotor maior que desgoverna nosso país, irá descobrir, um dia em que só Deu sabe, as lágrimas, os lamentos e o luto que provocaram em milhares de seus compatriotas que por sua falta de amor e de cuidado para com os afetados pelo Covid-19 perderam a quem tanto amavam. Oxalá neles não esteja totalmente perdida a parcela do Jardim do Éden.


Leonardo Boff é ecoteólogo, escritor e escreveu “O doloroso parto da Mãe Terra: uma nova etapa da Terra e da Humanidade”, a sair pela Vozes em 2020.