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Eles poderiam estar vivos


Gabriel Mesquita

Documentário mostrará como Brasil estaria sem negacionismo na pandemia


De autoria do cineasta Gabriel Mesquita filme faz paralelo com hipótese do país ter seguido orientações de autoridades sanitárias mundiais.

 

Caio Barbieri

O cineasta brasiliense Gabriel Mesquita está produzindo um documentário para mostrar como estaria a situação do Brasil se não houvesse o negacionismo e as interferências consideradas negativas do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia.

O roteirista está entrevistando políticos, médicos, epidemiologistas, cientistas e familiares de vítimas para mostrar que o pais poderia ter sido referência no combate ao vírus. Integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 também contribuíram para o material.

Batizado de Eles Poderiam estar Vivos, o documentário mostrará uma hipotética história na qual o Brasil deixaria de ser um dos países campeões em mortes, caso tivesse seguido as orientações de autoridades sanitárias mundiais. O filme está sendo gravado no Brasil e no Canadá, onde o cineasta reside.

“Desde o começo da pandemia, tudo o que acontece na Ásia, na Europa e nos EUA, acontece no Brasil depois um ou dois meses. É como se o Brasil tivesse uma máquina do tempo e soubesse tudo o que vai acontecer. Infelizmente, o governo ignorou essa valiosa ferramenta e apostou em estimular a contaminação generalizada. Assim a pandemia terminaria rápido”, iniciou o cineasta.

Na parte canadense do filme, o documentarista mostrará como o país onde mora lidou melhor que o Brasil na condução das políticas públicas contra o vírus. “Muito ajuda quem não atrapalha, diz o ditado, que no Brasil foi intencionalmente ignorado”, disse.

O documentário será um longa-metragem, com até 85 minutos de duração, com opção de áudios em português e inglês e legenda que inclui o francês. “O filme será dedicado aos filhos que perderam os pais, aos pais que perderam filhos, aos casais que a morte separou e a todos que perderam alguém querido”, finalizou.


Postado em Metrópoles em 14/02/2022



A morte do amigo negacionista



A morte de um amigo que virou bolsonarista também 
pode ser devastadora


Moisés Mendes

Morreu o amigo de adolescência de um grupo que se reúne há um ano e meio no WhatsApp. Esse é o resumo da história verdadeira de um sujeito brincalhão, alegre, falante, o cara aquele que se encaixava em qualquer turma com qualquer assunto e com qualquer tipo de risada, das contidas, compridas ou gargalhadas.

Um colega legal, daqueles que não colocava ninguém a correr se chegasse atrasado numa rodinha de conversa. Isso na segunda metade dos anos 70, no 2º grau, quando a escolha do que se quer ser na vida é uma pela manhã e duas outras à tarde.

O amigo não vacilou muito quando adulto e virou empresário. Quando se reuniam, muito tempo depois, já com famílias, filhos e agregados, ele aparecia.

Eram encontros raros, mas lá estava ele com o mesmo perfil. Outros mudaram um pouco ou muito os jeitos e temperamentos. Ele não. Era sempre o mesmo. Expansivo, assertivo, sempre divertido e agora um homem próspero.

Quando o grupo foi criado no Whats, no começo do ano passado, os colegas se reagruparam. Democratas com ideias progressistas e humanistas e atuando nas mais diversas áreas. E então o amigo aquele apresentou-se ali como se fosse outra pessoa.

O colega sempre leve depois de homem maduro, já com mais de 60 anos, incorporou no Whats um sujeito pesado. Não era mais o tucano que poucos sabiam que havia sido. Era um ativista bolsonarista e negacionista.

O grupo se abateu. O colega passou a pregar contra o isolamento e a vacina e em defesa do kit covid, como se fosse um modelo para cursinho de extremista de direita. Virou uma caricatura absolutista.

O grupo se sentiu constrangido, a maioria debandou em poucos meses, e o colega também foi embora. O adolescente interativo, agregador, divertido, não existia mais.

Mas, quando ele saiu, outros voltaram, sob um clima muito mais de desconforto do que de repulsa e condenação. A turma se reagrupou de novo quando o amigo aquele não estava mais por perto.

Há pouco mais de um mês ficaram sabendo que ele havia sido infectado. Depois, foram informados de que estava na UTI e entubado. E esta semana alguém deu a notícia de que havia morrido.

Poucos antes de morrer, reafirmou nas redes sociais (porque alguém espiava suas postagens) o que pensava da vacina e dos remédios milagrosos de Bolsonaro.

Sei, porque me contaram, que o sentimento de perda foi intenso e dolorido. O grupo agarrou-se à memória do guri divertido, para despedir-se dele, e não do sessentão que havia se apropriado do adolescente do colégio.

A morte nos reapresenta o dilema que, quanto mais a pandemia se espicha, mais fica irresolvido. O que teria virado esse amigo, aos 60 anos, se Bolsonaro não tivesse chegado ao poder e dividido famílias, colegas, vizinhos?

Os amigos que perdemos para a extrema direita em meio à ascensão do bolsonarismo são uma invenção de Bolsonaro, ou Bolsonaro só existe porque esses nossos amigos estavam à espera de um sujeito que incorporasse todas as crueldades e todos os ódios, ressentimentos e preconceitos?

Foi mesmo Bolsonaro quem fez aflorar a índole do amigo que se afastou da turma, ou esse e outros amigos criaram o Bolsonaro poderoso, eleito pelo voto, para que assim pudessem ser representados e se expressar como de fato são ou eram?

A morte de cada amigo da adolescência vai nos tirando aos poucos o que construímos naqueles tempos na direção da eternidade. A morte de um amigo que virou bolsonarista também pode ser devastadora.

Um adulto bolsonarista não deveria ter o direito de dar fim prematuro ao que ele mesmo foi no nosso tempo de colégio. O bolsonarismo tenta destruir até o nosso passado e as nossas melhores memórias.


   Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/





O Brasil não merece




O advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, falou sobre a pandemia do novo coronavírus. E sobre o desgoverno Bolsonaro. Nesse fechamento de 2021. No Último Segundo do iG

Kakay fala que o Brasil não merece

“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício interior”, Clarice Lispector.

Quando estávamos imaginando ser possível viver o que se convencionou chamar de “novo normal” – algo que não se sabe bem o que é, mas que ensaia a nossa vida de volta -, eis que nos vemos à beira do velho anormal. Ou será que o “novo normal” é essa volta às angústias e aos sobressaltos?

O fato é que o número excessivo de novos casos de Covid no mundo inteiro nos faz voltar a sentir essa estranha sensação de que estamos, novamente, perto de um colapso. E constatamos, de forma triste e desanimadora, que o governo fascista aqui instalado continua a brincar com vida e a promover o culto à morte.

E o país que sofreu com o descaso sarcástico desse genocida, quando do auge da crise sanitária, tem que voltar a viver com a insensatez, com a ignorância e com a arrogância não só no trato com a nova cepa, mas também no enfrentamento da ciência ao expor a vida das crianças.

A fala do Presidente da República sobre a desnecessidade da vacina para criança e adolescentes, brincando com vida, é a representação do que ele significa. É bom que prestemos atenção nesse padrão de comportamento. Ele não desafia a ciência por desafiar, ele fala para um público que tem a cara dele. Nada é por acaso.

Ele elegeu-se Presidente fazendo apologia à tortura, dizia abertamente que o Coronel Ustra era o seu herói; afirmou que preferia ter um filho morto do que ter um filho gay; ridicularizou as mulheres, os quilombolas e os negros. Enfim, todo o show de horror que choca qualquer pessoa minimamente civilizada. E essa foi a postura dele durante a vida toda e foi o que se ressaltou nas eleições passadas.

Ou seja, não se fez uma campanha tentando mostrar um homem com pensamentos humanitários. Não, ressaltaram o monstro que ele era e é. Para os milhões de seguidores dele, ou boa parte, esse é o perfil que deve ser seguido e admirado. E é esse o recado que ele continua passando para tentar se reeleger. É bom ter isso em mente: observar que ele age dentro de uma estratégia muito própria, e não achar que as eleições já estão definidas.

Talvez, o ponto mais forte que ele deliberadamente mentiu, também como tática, foi fixar suas ações no combate à corrupção. Ao dizer que ele e sua família não eram corruptos, ele desdenhou da realidade e construiu uma ponte com o ex-juiz que corrompeu o sistema de justiça. Sem nenhum escrúpulo, sem sequer corar, ele bateu no peito e falou o que as pessoas queriam ouvir.

Criticar a corrupção como mote de campanha, mesmo tendo a corrupção entranhada até como herança familiar. No caso das rachadinhas, podem ter certeza de que eles nem acham que estavam usando indevida e criminosamente o dinheiro público. Nem ao menos fazem a diferença entre o público e o privado. Essa é a essência do grupo que governa o Brasil. E se orgulham disso. São espertos e chegaram ao poder, é o que importa para eles.

O que devemos refletir, até para as próximas eleições, é sobre esse Brasil que ainda é bolsonarista. E quando falo bolsonarista, incluo também o Moro. Eles são da mesma orientação e possuem a mesma origem no que diz respeito à falta de escrúpulos para atingir o poder. E principalmente para o que fazer com o poder.

Parece claro que uma parte considerável dos brasileiros cansou das barbáries, do descaso e da maneira chula e agressiva do Presidente. Que os mais de 600 mil mortos nessa crise, boa parte pela irresponsabilidade e ganância financeira, estão a rondar o nosso dia a dia e a pedir mudança e respeito. Mas é necessário estar atento. 

Bolsonaro e Moro representam a mesma proposta.

Um levou a Presidência, com a ajuda do outro, e vestiu o figurino do homem simples e que fala diretamente com o povo. Exagerou na idiotice como estratégia por dois motivos: por acreditar que o brasileiro é mesmo idiota e por ser realmente idiota. Não conseguiu depois tirar a máscara pois ela era a realidade.

O outro agora quer ocupar o lugar daquele que ele ajudou a eleger. É a mesma proposta, só muda o figurino. No imaginário popular, só troca a farda pela toga. Nesse ponto, repito, a “conja” estava certa ao dizer que o marido dela, Moro, e Bolsonaro eram a mesma pessoa. Eles se misturam e se merecem, mas o Brasil não merece isso.

Tudo me remete a Pessoa:

“Fiz de mim o que não soube, e o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara”.





Fim de ano na pandemia a importância das relações pessoais



Chegando o final de ano algumas tradições se intensificam, como por exemplo, a união com as pessoas, os encontros, festas e a proximidade com a família. Porém, mais um ano se conclui dentro de uma pandemia, com impactos em diversos setores da vida e, com certeza, afetando o estado emocional de muitos. Os eventos de confraternização do final do ano, podem ser mais pesados para alguns neste período, pois ainda se mantém as restrições. Muitas pessoas sentem falta do “antigo normal” e ficam saudosistas e até mesmo melancólicas ao pensar no que já se viveu, e como a vida era antes da pandemia. Mas podemos sempre fazer novas e melhores escolhas para transformar este momento (com uma aceitação sincera do presente) em algo leve e bom no contato com o outro: seja no presencial ou no on line.

A intenção de estar em grupo, de cultivar amizades, de intensificar os vínculos, da ligação com a família faz parte do dia a dia de muitos. Nosso bem estar se fortalece, também da união, no apoio e da troca de experiência ao estar com os outros, e isso nos proporciona segurança emocional. Criar um espaço de troca, de compartilhamento de experiências e aprendizados é enriquecedor para a saúde emocional. Quem guarda tudo, fala pouco, não divide sua vida, de algum modo, também não soma. Compartilhar emoções e sensações nos une e fortalece.

Dentro da roda da vida, que é composta por diversos setores da vida, as relações pessoas se sobressaem quando se percebe que fazem parte de mais um setor: de relacionamento íntimo, da família, do trabalho e do lazer. Todos envolvem as relações e o impacto disto no dia a dia. Muitas das emoções (os pensamentos e sentimentos que temos) acontecem por gatilhos e estímulos nas relações com as pessoas que convivemos. As relações são importantes durante o ano todo, claro, mas quando pensamos qual época do ano este tema da união é reforçada, com certeza, concluímos que o final de ano é uma época especial para este tema.

Quais são seus planos para o final do ano em relação ao contato com pessoas que você conhece? Você já se organizou para isso? Participará de festas? Vai organizar eventos de união e confraternização? Cuidar da sua saúde física e emocional é fundamental. Além disso, cuidar também da proteção das pessoas que você conhece pode fazer parte das suas escolhas. Se escolher pelo contato on line, que possa ser satisfatório à você e à quem você ama. Se escolher pelo presencial, é fundamental pensar nos protocolos de segurança para não se colocar em risco e nem colocar ninguém em perigo. Todo contato presencial durante a pandemia (dependendo do modo) pode envolver riscos, mas também, sem dúvida, envolvem benefícios, união e troca. Por isso, é necessário antes de mais nada, conversar e discutir com calma, previamente, toda situação, para que se possa fazer uma análise em conjunto. Ser capaz de pensar nos prós e contras, analisar com atenção as boas escolhas do contato com a família e amigos é fundamental para vivenciar melhor qualquer momento. As possibilidades devem ser pensadas em conjunto, bem como as responsabilidades e consequências pela escolha tomadas também.

Chegamos a mais um final de ano, ainda dentro da pandemia e fazer uma retrospectiva do que se viveu é bem importante. Pensar sobre a própria vida, sobre os aprendizados é útil para o crescimento pessoal. E aqui, convido que você pegue seu caderno terapêutico (um caderno para que você possa fazer anotações para um bom trabalho emocional) e anote alguns questionamentos para reflexão:

1) O que eu vivi que foi significativo para mim este ano?

2) Como lidei com isso?

3) Quais foram as minhas emoções mais recorrentes durante o ano?

4) Como gerenciei isso?

5) Como me vinculei com as pessoas que gosto/amo este ano?

6) Como cultivei as relações importantes para mim?

Não tem certo ou errado para as possíveis respostas destes questionamento. Não há um gabarito ou pontuação para isso. A intenção é que através destas perguntas você possa encontrar respostas que possam ser úteis no auto conhecimento e na melhora das relações.

Desejo que estas reflexões possam ser úteis para conclusão de mais um ano e, assim, você possa se abrir para o próximo ano que logo chega!

Sucesso naquilo que busca e até breve!






Dançando como efeito colateral ! Alguém imaginaria ?




FESTA DE UM

Martha Medeiros

No período de 18 meses, as portas do mundo fecharam, ninguém entrou, ninguém saiu. De fronteiras a residências, isolamento foi a palavra adotada. Quem ainda circulava pelas ruas, não fazia por diversão: atendia doentes, comprava mantimentos, ia à farmácia e voltava direto pra casa, sem a habitual passadinha no bar ou na academia no final da tarde. Diante das estatísticas trágicas, e por respeito a tantas perdas, pouco se falou na solidão como efeito colateral da pandemia.

E efeito sério, solidão deprime. Não a todos - há quem lide muito bem com a própria companhia -, mas o ser humano é gregário, sente falta de se juntar, misturar, confraternizar, coisas que só agora, vacinados e aos poucos, tomando os cuidados necessários, começamos a nos atrever. Mas demorou. Antes dessa lenta alforria, foi um tal de dialogar com o espelho do banheiro, passar um tempão no sofá maratonando séries, bater papo com os amigos por WhatsApp, pedir comida por delivery e engordar. Pois é, não bastasse a deprê, solidão engorda. Muita gente ganhou uns quilinhos extras durante o recuo forçado.

Mas a gente se entrega? Se entrega nada. Crises estão aí para serem revertidas, compensadas. Se você não reparou, eu reparei: durante o confinamento, o pessoal começou a dançar entre quatro paredes. Quem estava namorando ou estava casado quando o coronavírus chegou para estragar a festa (e manteve-se heroicamente casado, apesar do excesso de grude), passou a fazer bailinho na sala, pagode na cozinha, ensaiou um tango no corredor. Uma pequena caixa de som, uma boa playlist no Spotify e quem diria? Bebida por conta da casa.

Já quem foi surpreendido pela pandemia em plena entressafra amorosa, sem um par perfeito ou imperfeito, se virou como? Do mesmo jeito. Fez festa de um. Suou a camiseta como se estivesse na pista, cantou alto sem medo de acordar a vizinhança, levantou os braços como se não houvesse amanhã - e ninguém sabia se haveria mesmo. Quem não soltou suas feras, nem caiu na gandaia, ficou mais triste e pesado.

Nunca precisei de uma ameaça global para dançar em casa, mas agora peguei gosto pra valer e enquanto não fraturar uma vértebra, continuarei com minha rave individual ou a dois (ambas as modalidades disponíveis por aqui), embalada por Fade Out Lines (The Avener), Ring My Bell (Anita Ward), Don´t Think I Could Forgive You (Tell me Lies), The Only Thing (Claptone), Save Your Tears (The Weeknd), Sunshine (Cat Dealers, LOthief, Santti), Again & Again (Oliver Tree) e outras músicas da minha playlist específica para noites incontidas. As sugestões são brinde da colunista. De nada.

Se não é meio ridículo dançar sozinho? Pode acreditar, é maravilhosamente ridículo.





Relatos emocionantes de vítimas da Covid-19 na CPI do Senado em 18/10/2021

 




Veja outros relatos emocionantes a partir do ponto 2:13:30 até 3:05:59 no vídeo abaixo:



Abaixo Carlos Harmitt comenta os emocionantes relatos das vítimas da Covid-19 






Relato de jovem que perdeu os pais com covid emociona até o intérprete de Libras

 


Intérprete de libras se emociona durante relato de jovem que perdeu os pais na pandemia (vídeo)


"Se ele tivesse ideia do mal que ele faz para a nação, além de todo o mal que ele fez, ele não faria isso", diz Giovanna Mendes, que perdeu pais para a Covid, sobre Bolsonaro não se vacinar.

Agência Senado com 247 - A jovem Giovanna Gomes Mendes da Silva, de 19 anos, ficou órfã e agora vai ter a guarda da irmã de 11 anos. Ela contou à CPI da Pandemia ter perdido a mãe, que era transplantada e fazia hemodiálise, para o covid-19, e o pai, que sofria de câncer e também teve covid-19. Segundo Giovanna, a mãe ficou intubada por oito dias.

"Eu vi que eu precisava da minha irmã e ela precisava de mim. A partir daí eu pensei que eu não poderia mais ficar sem ela, então decidi que precisava mesmo ficar com a guarda dela. Eu assumi esse desafio por amor", disse Giovanna que relatou as dificuldades para o tratamento dos pais e o desafio de cuidar da irmã.

Giovanna Mendes contou que a mãe era transplantada e fazia hemodiálise. "Meu pai também ficou internado neste período. ele se recuperou, tinha doença pré-existente, tinha um câncer, quando ele saiu do tratamento da covid, que tinha se recuperado teve que ser internado de novo porque o câncer havia se generalizado. Dois dias depois do falecimento da minha mãe ele voltou a ser internado. Não tive nem oportunidade de chorar a morte da minha mãe. ele passou 13 dias internados e veio a óbito também. Não perdemos só os pais, perdemos uma vida de alegria. Hoje temos uma vida triste", afirmou a jovem.







O abraço





O abraço só deixou de ser vulgar quando a pandemia

 o tornou problemático


Boaventura de Sousa Santos (*)

No passado dia 28 de Agosto de 2021 às 16.30 dei o primeiro abraço a alguém fora do círculo das poucas pessoas íntimas que convivem comigo diariamente, quinhentos e vinte cinco dias depois de me ter isolado na minha aldeia a 30km de Coimbra devido à pandemia. O que senti não tem descrição possível. Foi um ato incondicional, uma presença demasiado forte para poder ser objeto de planeamento ou representação. Sentir as minhas mãos deslizar e apertar outro corpo contra o meu, era algo tão familiar quanto estranho. O prazer de outro corpo contra o meu era mais que erótico. Era a verdade carnal da existência, uma prova de ser. Depois veio medo, mas seria medo ou punição pelo prazer? Terá sido um ato impensado e desnecessariamente arriscado? Seria preciso retreinar os sentidos e reaprender a lidar com as emoções do contacto físico e com o conforto desafiador que delas deriva? Teria eu estado sujeito a uma prolongada privação do toque e do tacto de outros seres vivos que não os estritamente familiares, entre humanos, gatos e cães?

Porque não me ocorrera durante a longa privação pandémica abraçar árvores, como fazem muitos ecologistas para sentirem a energia desses maravilhosos seres vivos que ligam de modo tão natural a profundeza da terra e a altura do céu, algo que é tão difícil para os humanos treinados na cultura ocidental? Por que é que abraçar as árvores (e tantas tenho no meu quintal), que eu poderia abraçar sem ter medo de ser por elas contaminado pelo coronavírus, não me daria a mesma indescritível emoção que me invadiu ao abraçar e sentir o corpo quente de um ser humano amigo? Por que é que esta verdade carnal da vibração incontida de um abraço escapa à reflexão e só como surpresa invade a consciência como uma avalanche solta e “irracional”, de modo menos previsível que um tsunami ou um terramoto? Sendo certo que em certas culturas há quem não possa ser tocado, quer por ser demasiado superior quer por ser demasiado inferior, como funcionará a vibração dos corpos sem toque?

Esta verdade carnal dos corpos e das relações humanas é o dia-a-dia de todos os seres humanos que não fazem do corpo (próprio ou alheio) e das relações humanas um instrumento de diagnóstico científico, um objecto de lucro ou um motivo de especulação filosófica, mas raramente ocorre ou se impõe a intelectuais e filósofos. Quando isso ocorre, o que é muito raro, faz deles seres muito especiais.

Lembro-me de Michel de Montaigne que, nos seus Essais, escritos por volta de 1570, escreve sobre o que verdadeiramente conhece, o seu corpo e as surpresas e contradições das relações humanas. Por isso, dedica um ensaio à arte de conversar e da confrontação oral e discorre sobre o prazer de comer ostras, mesmo tendo de sofrer as cólicas que elas podem vir a causar. Mas o caso mais notável é o de Albert Camus e a sua incessante luta contra as ideias abstractas, a que contrapõe a verdade carnal da morte e do sofrimento concretos. Numa sessão na Universidade de Estocolmo, por ocasião da entrega do Prémio Nobel da Literatura em 1957, quando interpelado agressivamente por um ativista islâmico sobre a independência de Argélia e a questão da violência, Camus respondeu: “terrorismo nas ruas de Argel… poderia matar a minha mãe ou a minha família. Eu creio na justiça, mas defenderei a minha mãe acima da justiça”. A sua mãe valia mais para ele do que qualquer ideia abstrata.

O abraço e a cultura

A verdade carnal do abraço depois de tanto desuso e a emoção com que me abalou fez-me refletir sobre o abraço. 

Os poetas desde sempre contemplaram as ambiguidades do abraço. Florbela Espanca canta, num dos sonetos, o “lânguido e doce” abraço de “Dona Morte”. Pablo Neruda dedica-lhe um poema de amor: “Em teu abraço eu abraço o que existe / a areia, o tempo, a árvore da chuva / E tudo vive para que eu viva: / sem ir tão longe posso vê-lo todo: / veio em tua vida todo o vivente.” António Ramos Rosa recusa-se a adiá-lo, e ao amor: “Não posso adiar este abraço / que é uma arma de dois gumes / amor e ódio”. E Ana Luísa Amaral canta rupestres saudades de “fresco e doloroso abraço”. 

Já Shakespeare tinha mostrado um derrotado Henrique VI a não ter escolha senão “abraçar o amargo infortúnio”. Por sua vez, o grande poeta, matemático, astrónomo e filósofo persa do século XI, Omar Khayyam, ousou perguntar-se pelo maternal, derradeiro abraço que tudo apazigua. Muitos séculos mais tarde, o grande poeta turco, Nâzim Hakmet, haveria de cantar o desejo do seu povo – “honesto, trabalhador, valente, meio saciado, meio faminto, meio escravo…” – de abraçar tudo o que fosse “moderno, belo e bom”.

Entretanto, descobri que psicólogos, etólogos, antropólogos e estudiosos da cultura têm dedicado longas páginas ao estudo de tão simples fenómeno, tão comum entre humanos como entre animais, mas com tantas variações e tão diferentes significados. 

O termo vem do latim, “bracchia collo circundare”, pôr os braços à volta do pescoço. É um ato que transmite afabilidade, simpatia, ausência de hostilidade, um gesto que entre humanos tanto ocorre no início de um encontro como na despedida. Os animais também se abraçam mas, ao contrário dos humanos, abraçam-se de frente e de costas, e, pelo menos os animais domésticos, não parecem abraçar-se nunca à despedida. 

A fenomenologia do abraço é muito complexa e tem sido objecto de minucioso estudo: os movimentos de aproximação, as expressões corporais, a fixação do olhar, a duração, a maior ou menor pressão dos corpos apertados no abraço, o contacto ou não de zonas tabu no encontro de corpos de sexo diferente, o toque na cabeça ou na cara, o âmbito do deslizar das mãos nas costas ou nos ombros do parceiro sem causar desconforto. O contato corporal é fundamental para os recém-nascidos e o abraço da mãe é rapidamente identificado com sentimentos de alegria, conforto e confiança, que são depois reproduzidos quando abraçam bonecos ou brinquedos. 

Por outro lado, há um ramo do conhecimento, a proxémica, dedicado a estudar a relativa distância que as pessoas em diferentes culturas ou com diferentes características psicológicas consideram ser necessário manter entre si e outra pessoa, numa interacção normal, sem sentirem desconforto. Por exemplo, pessoas extrovertidas exigem menos distância que as introvertidas ou com distúrbios psicológicos. A zona de distância entre os corpos no abraço é considerada a zona íntima, entre 0 e 15 cm. Considera-se hoje que essa distância está relacionada com factores genéticos, ambientais, práticas culturais, papéis sociais, infância, religião. 

No mundo ocidental (sobretudo anglo-saxónico), os homens tendem a preferir o aperto de mão ao abraço, enquanto as mulheres entre si preferem o abraço. Tudo isto me parece fascinante, embora nada me diga sobre o que senti quando abracei o visitante bem-vindo e de quem tinha tantas saudades. E também não me explica por que razão, nesse preciso momento, um simples aperto de mão (sobretudo se seguido de desinfecção), longe de ser um acto afectivo, significaria distância, desconforto e até hostilidade. 

A ciência do abraço não ensina a abraçar, nem é esse o seu propósito. Mas não deixa de ser interessante conhecer os diferentes significados culturais que esse ato tão vulgar pode ter. Afinal, o abraço só deixou de ser vulgar quando a pandemia o tornou problemático, e foi então que, perante a sua perda, passámos a apreciá-lo verdadeiramente.

O significado do abraço está inscrito em muitas culturas. Na Bíblia, é pelo abraço que se dá a reconciliação entre Esaú e Jacob: “Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço e beijou-o; e choraram”. É sabido que os povos latinos e africanos têm uma maior necessidade ou uma maior disponibilidade para se abraçar e de o fazer mais efusivamente, ainda que nos países africanos de cultura islâmica, os abraços ocorram apenas entre humanos do mesmo sexo. A duração do abraço está sempre relacionada com a intensidade da emoção, que tanto pode estar relacionada com felicitações como com condolências. Enquanto na Rússia, na França e em certas regiões da Europa de Leste o abraço entre homens seguido de beijo na face é comum, tal não acontece noutros países. Mas enquanto na Europa do Sul o abraço é uma saudação comum, na Europa do Norte a saudação comum é o aperto de mão. Nas diferentes culturas islâmicas, o contato corporal entre homens e mulheres no espaço público é mais raro, a distância na interação tende a ser maior, e o abraço pode mesmo ser proscrito.

A população branca dos EUA é tão pouco atreita a abraçar-se, pelo menos em público, que Kevin Zaborney propôs em 1989 que o dia 21 de Janeiro passasse a ser dia nacional do abraço para desenvolver sentimentos de confiança e de segurança entre familiares e entre amigos. Não surpreende que os sessenta milhões de latinos que vivem nos EUA, que tão gostosamente mostram a sua diferença em relação à população branca ao abraçar-se profusamente entre si, tenham sofrido tanta privação psicológica durante a pandemia. Segundo alguns relatos, a propagação da infecção entre latinos esteve relacionada, entre muitos outros factores, com os abraços e a proximidade corporal, de tal modo entranhados na cultura, que não puderam ser dispensados, apesar dos riscos.

O abraço e a saúde

São Hojin Zaborney propôs o dia nacional do abraço para melhorar a comunicação humana e diminuir os níveis de stress e de hostilidade. Curiosamente, o Brasil também celebra o dia anual do abraço, mas a 22 de Maio, e não é porque faltem abraços nas relações entre os brasileiros e as brasileiras. É apenas para celebrar a magia do contacto corporal da amizade e da afectividade e do apoio mútuo, tão necessária nos momentos que correm. 

Os mais conhecidos efeitos físicos do abraço são a produção da ocitocina, considerada a hormona do amor pelo seu papel na diminuição da ansiedade, na melhoria do humor e no aumento da afectividade. Também diminui a agressividade do humano masculino, tornando-o mais amável, generoso e social. O abraço baixa a tensão arterial e, segundo alguns especialistas, aumenta a imunidade do corpo, o que não deixa de ser irónico e mesmo cruel em tempos de pandemia: quanto mais necessidade teríamos de nos abraçar, mais perigoso isso se torna em razão da possibilidade de contágio. O ser humano em pleno labirinto da sua potência e limitação. A inconformidade prometeica com tal contradição levou à engenharia do abraço a nós próprios como se fôssemos outrem. Refiro-me à invenção do Sense Roid, o manequim coberto de sensores tácteis, fato táctil com motores de vibração e músculos artificiais que recriam a sensação do abraço. O Sense-Roid foi criado pela Universidade de Electrocomunicações do Japão e pode ser comprado na Amazon. 

À primeira vista, parece estarmos na fronteira da distopia pós-humana. Mas, afinal, a estranheza que nos causa será diferente da que causaram no início da sua comercialização os vibradores sexuais, considerados hoje um acessório comum? Contra este fix tecnológico, que torna o solitário em espelho perverso do solidário, parece crescer entre os jovens o hábito de se abraçarem para se sentirem mais apoiados, mais íntimos e mais afetuosos. Em tempos de pandemia, talvez corram riscos, mas o risco maior não será viver como se morre? Só.


(*) Diretor Emérito do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra












Vários mundos habitados

 


Certa ocasião um Homem disse:
“na casa de meu Pai existem muitas moradas”


Nilton Moreira
 
Posteriormente através de estudos das palavras proferidas há quase 2000 anos por Ele, e com informações complementares da Espiritualidade, compreendemos que a casa é o universo e as moradas são todos os mundos espalhados e que são habitados, pois se existe casa tem de existir habitante.

Quem nos garante que existem vários mundos habitados é Jesus. E mesmo nosso raciocínio racional nos diz que Deus não criaria Astros apenas para recriar nossos olhos.

Essas moradas são de várias categorias, ou seja, umas mais evoluídas que outras, e no caso a Terra é uma que precisa evoluir muito ainda, pois é um Planeta onde ainda predomina o mal.

Por outro lado, esclarecemos que as moradas referidas, no que a Terra se inclui, estão disponibilizadas em mundos superiores e inferiores ao nosso, e na mesma categoria do nosso existem vários.

Nos mundos superiores não tem doenças, desconhecendo-se os ódios, os mesquinhos ciúmes, não existindo o mal, sendo os sentidos mais apurados. A morte de modo algum acarreta os horrores da decomposição; longe de causar pavor, é considerada uma transformação feliz.

É evidente que não somos capacitados a enxergar com os olhos físico os habitantes de tais orbes, pois que neles habitam espíritos que possuem corpos adaptáveis a cada ambiente planetário!

O homem busca incessantemente descobrir vida fora da Terra, e certamente conseguirá deparar-se no momento oportuno, pois que ainda não estamos preparados para este encontro. Falta em nós evolução de sentimentos perseverados no bem para que possamos ter a revelação de mundos habitados, pois até hoje a Terra vive em conflito numa disputa de poder o que certamente seguiria acontecendo se tivéssemos o contato.


Mesmo agora quando foi necessária uma pandemia para apressar a depuração no Planeta, e mudar o comportamento de muitos no entendimento da necessidade do amor ao próximo e disciplina, ainda existe uma grande quantidade de mentes que continua refrataria em perseverar no bem. Nada na Criação foi sem objetivo. Deus é perfeito, e no momento certo os contatos acontecerão e isso possibilitará que o mundo passe a ter uma visão diferente da vida. Levará tempo, mas vivenciaremos.




Pandemia, provas e expiações




 Nilton Moreira

Já foi dito que o Planeta Terra é de categoria de menos evolução, onde predomina o mal e que está em evolução constante a exemplo de tudo que foi Criado por Deus.

Também sabemos que nós que habitamos este Planeta estamos uns mais, outros menos adiantados em relação ao que o Criador almeja para nós, e que não estamos abandonados aqui e temos Jesus como nosso Governador Planetário.

Também nos foi informado pelos espíritos amigos de hierarquia mais elevada que viemos a este Planeta para sermos provados, expiados e uma quantidade bem menor de pessoas com missão de caridade.

Estas características dos Planetas estão explicadas no Evangelho, quando Jesus afirma existirem muitas moradas na casa do Pai, sendo, portanto, a casa o universo e as moradas os diferentes mundos habitados.

Mas em razão de ser um local de habitação destinado a provas e expiações, vamos nos envolver em situações de dificuldades, tristezas e muito pouca alegria, ou seja, teremos apenas momentos felizes.

Faz quase um ano estamos enfrentando pandemia que já matou muita gente. Menos que muitas guerras é verdade, mas isso nos causa grande tristeza. Não é por acaso que está acontecendo esta calamidade, pois como disse não estamos sós no mundo e temos um Governador. Isso faz parte de expiações para uns, visto estarem resgatando algo de errado cometido em vidas passadas e também faz parte de provas que temos de passar, para na dor ou no pavor evoluirmos, sermos chamados atenção para algo que normalmente muita gente não dá importância, que é os desígnios de Deus, já que o chamamento pelo amor não foi atendido.

As calamidades têm por objetivo fazer o mundo avançar mais rapidamente, pois toda vez que isto acontece nos questionamos e passamos a pensar mais em Deus e desenvolver em nós mais amor.

A pandemia veio, e a maioria não entendeu o recado do Altíssimo. Muitos governantes, tanto da esfera federal, estadual e municipal não souberam liderar seu povo. Equivocaram-se ou tomaram providências tarde demais e a doença se espalhou.

Agora se fala em segunda onda, mas certamente não se trata disso e sim um agravamento em virtude do não tomar os cuidados devidos, como não se aglomerar, usar máscaras, higiene principalmente das mãos e manter pensamento elevado. Vamos sim sofrer novas consequências de nossa irresponsabilidade, mas logo ali adiante vamos sair mais fortalecidos dessa provação/expiação mundial.

Procuremos nos cuidar, fazer nossa parte. Vacinas estão chegando e tudo se normalizará, mas é preciso que nos conscientizemos do por que tudo isso aconteceu. Paz a todos.




No mundo, mais de 1 milhão de crianças órfãs pela pandemia de covid-19




Um milhão e meio de crianças perderam pais, avós ou cuidadores para Covid-19

Estudo publicado na revista 'The Lancet' é o primeiro a tratar do efeito das perdas sobre a formação de crianças e adolescentes

Guilherme Venaglia e Leonardo Lopes da CNN, em São Paulo

Um estudo divulgado pela revista científica "The Lancet" nesta segunda-feira (19) aponta que cerca de 1,5 milhão de crianças perderam pais, avós ou outras pessoas responsáveis por seus cuidados diretos em razão da Covid-19. Trata-se do primeiro estudo global sobre o tema diante da pandemia do novo coronavírus.

De acordo com o levantamento, o Brasil figura como um dos países em que proporcionalmente essa ocorrência é maior, com 130 mil crianças que perderam o principal responsável pelos seus cuidados, o que equivale a duas crianças a cada mil.

Esse índice só é menor que o registrado no Peru (10 a cada mil), na África do Sul (cinco a cada mil) e no México (três a cada mil). Das 1,5 milhão de crianças, em torno de um milhão perderam o pai e/ou a mãe. Outras 500 mil crianças perderam uma outra pessoa, como um avô, que vive no ambiente familiar e fazia parte desse cuidado.

O levantamento segue critérios científicos, como a revisão por pares. Os pesquisadores responsáveis alertam que "crianças que perderam um parente ou cuidador estão arriscadas a sofrerem de efeitos adversos de curto e longo prazo sobre a sua saúde, segurança e bem-estar, como o aumento do risco de doenças, abusos físicos, violência sexual e gestação na adolescência".

"Os pesquisadores pedem a adoção de uma ação urgente para responder o impacto das perdas de cuidadores como parte dos programas de combate à Covid-19", afirma a "The Lancet". "A cada duas mortes por Covid-19 no mundo, uma criança foi deixada para trás para enfrentar a morte de um parente ou cuidador", diz Susan Hills, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e uma das pesquisadoras que lideraram o estudo.

Pesquisadora pede vacinação e auxílio financeiro às famílias

Lucie Cluver, professora da Universidade da Oxford e da Universidade de Cape Town na África do Sul, diz que os governos devem se inspirar em medidas semelhantes adotadas em países mais afetados por doenças como a Aids e o Ebola.

A especialista sugere esforços adicionais para vacinar os cuidadores de crianças, em especial idosos que estejam com a responsabilidade de fazer esse cuidado, e dar suporte às famílias que ficarem responsáveis por ajudar os jovens que perderam seus pais e responsáveis.
"Nós precisamos apoiar as famílias estendidas ou adotivas a cuidarem dessas crianças, com ajuda de custos, programas de auxílio à parentalidade e acesso à educação. Precisamos vacinar os cuidadores das crianças -- especialmente os cuidadores avôs e avós. E precisamos responder rápido, porque a cada 12 segundos uma criança perde seu cuidador pela Covid-19", afirma Cluver.



Mais de um milhão de crianças perderam pais
 ou avós na pandemia

Brasil é um dos países onde mais crianças ficaram órfãs em decorrência da covid-19. Pesquisadores afirmam que o número real de menores afetados no mundo deve ser ainda maior.

Cerca de 1,1 milhão de crianças no mundo perderam ao menos um dos pais ou avós responsáveis por elas em consequência da pandemia de covid-19, estima um estudo publicado na revista científica The Lancet nesta terça-feira (20/07).

Em relação à população total, o número de menores de 18 anos nessa situação é particularmente alto no Brasil, onde 2,4 crianças a cada mil foram afetadas, atrás apenas do Peru (10,2), da África do Sul (5,1) e do México (3,5).

Segundo estimativas do levantamento, mais de 113 mil crianças ficaram total ou parcialmente órfãs em consequência da covid-19 no Brasil, sendo que 25,6 mil perderam a mãe, mais de 87,5 mil perderam o pai, e 13 crianças perderam tanto o pai quanto a mãe para a doença. Além disso, 17 mil perderam um dos avós que cuidavam delas, e 69 perderam os dois.

O estudo destaca que muitas vezes os avós, frequentemente os mais vulneráveis à covid-19, fornecem apoio prático, psicossocial ou financeiro para os netos. No Brasil, o segundo país do mundo com mais mortes por covid-19, atrás dos Estados Unidos, 70% das crianças recebem esse apoio financeiro, apontam os pesquisadores, indicando que muitas podem ter perdido esse suporte durante a pandemia.

Se considerados ainda avós ou parentes mais velhos que vivem no mesmo lar mas não são os principais responsáveis pelas crianças, o número total de menores afetados chega a mais de 1,5 milhão no mundo. O número de crianças que perderam o pai seria de duas a cinco vezes maior que o daquelas que perderam a mãe, segundo os pesquisadores, liderados por Seth Flaxman, do Imperial College de Londres.

Consequência trágica e negligenciada

"Como a maioria das mortes por covid-19 ocorre entre adultos, e não entre crianças, a atenção tem sido concentrada, compreensivelmente, nos adultos. Entretanto, uma consequência trágica do grande número de mortes de adultos é que um grande número de crianças pode perder seus pais e responsáveis para a covid-19", diz o estudo.

A pandemia vista pelos olhos de crianças


 

"Como a covid-19 pode levar à morte dentro de poucas semanas, famílias têm pouco tempo para preparar as crianças para o trauma que experimentam quando um progenitor ou responsável morre", destacam os pesquisadores.

Entre as consequências para as crianças órfãs ou que perdem um responsável por elas, o estudo aponta riscos de problemas de saúde mental e física, de vulnerabilidade econômica e de abusos sexuais. Tais experiências, por sua vez, aumentam os riscos de suicídio, gravidez na adolescência e doenças, afirmam.

Em comunicado sobre o estudo, os Institutos Nacionais da Saúde (NIH, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, afirmam que as crianças órfãs são uma consequência significativa, até então negligenciada, da pandemia. Segundo os NIH, a análise mostra que o apoio psicossocial e financeiro a essas crianças deve ter um papel central na resposta à pandemia.

Metodologia e subnotificação

Para o estudo, os pesquisadores fizeram cálculos usando dados como taxas de natalidade e mortes por covid-19 de 21 países, que responderam por 76,4% dos óbitos por covid-19 no mundo entre março de 2020 e abril de 2021: Argentina, Brasil, Colômbia, Inglaterra e País de Gales, França, Alemanha, Índia, Irã, Itália, Quênia, Malawi, México, Nigéria, Peru, Filipinas, Polônia, Rússia, África do Sul, Espanha, EUA e Zimbábue.

Os pesquisadores destacam que os números apontados no estudo são apenas estimativas – e o número real de crianças afetadas provavelmente é ainda maior.

Os cientistas apontam ainda que não foi possível levar em conta nas estimativas famílias formadas por dois pais ou duas mães, devido à falta de dados nos países analisados.




Brasil tem 1 órfão por covid a cada 5 minutos: 'Pensamos que crianças não são afetadas, 
mas é o oposto'

Susan Hillis, pesquisadora de doenças infecciosas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, é líder do estudo que mostrou que há 1,5 milhão de órfãos da pandemia pelo mundo, e que o Brasil é o segundo país mais afetado pelo problema. "Se você parar agora e contar até 12, é o tempo que basta para haver um novo órfão por covid-19 no mundo."


Mariana Sanches e Matheus Magenta, BBC

A covid-19 evoluiu rapidamente nos corpos de Thiago e Antonielle Weckerlin (ou Nielle, como era conhecida). Casados por 13 anos, ambos acabariam intubados na mesma UTI de Ponta Grossa, no hospital do Coração Bom Jesus. Primeiro morreu Thiago, numa madrugada de março de 2021, pouco antes de completar 35 anos. Onze dias depois, sem sequer ter chegado a saber que ficara viúva, morreria Nielle, aos 38 anos. "Nossa querida Nielle não resistiu e agora foi encontrar com Thiago e Jesus no céu", dizia um post de luto da igreja evangélica que a família frequentava na cidade.

O casal, enterrado lado a lado, deixou quatro filhos, dois meninos e duas meninas. As crianças, com idades entre 1 e 11 anos, agora vivem com familiares que dizem ter condições financeiras de sustentá-los. Ainda assim, amigos e familiares arrecadaram R$ 70 mil em um esforço para ajudar o futuro delas.

As quatro crianças são parte dos mais de 113 mil menores de idade brasileiros que perderam o pai, a mãe ou ambos para a covid-19 entre março de 2020 e abril de 2021. Se consideradas as crianças e adolescentes que tinham como principal cuidador os avós/avôs, esse número salta para 130 mil no país. Globalmente, a cifra ultrapassa 1,5 milhão de órfãos, de acordo com um estudo publicado na última terça-feira, 20/7, no periódico científico Lancet.

"Se você parar agora e contar até 12, é o tempo que basta para haver um novo órfão por covid-19 no mundo", afirmou à BBC News Brasil a cientista que liderou o estudo, Susan Hillis, pesquisadora de doenças infecciosas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).

Hillis, ela mesma mãe adotiva de 11 filhos, se esforça para confrontar uma ideia que se disseminou desde o início da pandemia de que crianças não são afetadas pela covid-19. De acordo com a cientista, a magnitude no número de órfãos expõe exatamente o oposto, mas autoridades de diferentes países e a sociedade em geral têm ignorado — ou agido de modo lento demais — para ajudar esses menores de idade em situação tão extrema.

Para além da tragédia emocional, muitas famílias perderam pais ou mães que eram as principais fontes de renda da casa. Hillis defende que haja inclusão imediata desses menores de idade em programas de transferência de renda, para combater a vulnerabilidade financeira e social que vem junto com a orfandade. Essa seria uma necessidade especialmente verdadeira no Brasil, onde a maior parte dos órfãos, 87,5 mil, perdeu o pai, historicamente o responsável pelo sustento financeiro do lar.

Órfãos da pandemia: o desafio de criar as crianças que perderam os pais para a Covid


No Congresso brasileiro, onde Thiago e Nielle foram homenageados por um deputado federal do Paraná, tramitam diversos projetos de lei para beneficiar com assistência social órfãos da covid-19. O governo federal já anunciou que planeja pagar uma pensão para órfãos já inscritos em programas sociais, algo em torno de 68 mil menores de idade, segundo estimativas.

Mas nenhuma dessas propostas de auxílio saiu do papel ainda. "Nossos dados são muito claros em mostrar que o Brasil é o segundo país com maior número de órfãos, atrás apenas do México", afirma Hillis. "Só posso dizer que existe um chamado urgente para que o país previna mortes e se prepare para proteger as crianças que vão precisar."


Susan Hillis, especialista em doenças infecciosas e líder de pesquisas de orfandade, é mãe adotiva de 11 crianças
 Foto: Divulgação CDC

Leia a seguir os principais trechos da entrevista da pesquisadora à BBC News Brasil feita por videochamada.

BBC News Brasil - O artigo que a senhora coassina afirma que a orfandade é uma epidemia escondida dentro da pandemia de covid-19. Qual é a importância de conhecermos esses números?

Susan Hillis - Sabemos por epidemias e pandemias anteriores, como a da gripe espanhola de 1918, ou a pandemia de HIV/AIDS ou a epidemia de Ebola, que toda vez que há pandemias que matam um grande número de adultos, isso significa que há um grande número de crianças que ficaram órfãs pela morte de um ou de ambos os pais. Dessa vez, no entanto, me parece que ficamos tão chocados e consumidos pela urgente necessidade de combater as mortes — que realmente ocorrem principalmente entre adultos —, que presumimos que isso significa que as crianças não são afetadas.

E, na verdade, é exatamente o oposto disso. As crianças são altamente afetadas quando os adultos que morrem são seus pais ou avós, as pessoas que mantêm suas casas e que cuidam delas.

BBC News Brasil - A magnitude desses números surpreenderam?

Hillis - Eu acho que foi surpreendente para a maior parte do mundo pelo simples fato de que não temos pensado nisso. No entanto, nosso estudo deixa claro que agora é a hora de nos concentrarmos em um grupo de crianças que está em crise e que continuará a crescer à medida que a pandemia progride. Descobrimos que em pouco mais de um ano, a cada 3 milhões de mortes por pandemia, havia mais de 1,5 milhão de crianças que perderam a mãe, o pai ou seu cuidador primário (normalmente os avós). Isso é muito traumatizante para as crianças.

O tamanho do grupo de crianças em sofrimento é chocante e a velocidade com que ele aumenta é de tirar o fôlego. O extremo da situação fica claro quando você pensa que muitas vezes, em poucos dias ou semanas, a pessoa que contraiu covid-19 está morta, o que deixa muito pouco tempo para que os familiares possam preparar esses filhos para o que é o futuro de uma vida sem mãe ou uma vida sem pai ou uma vida sem a avó que cuidava de você o tempo todo, todos os dias, que fazia a lição de casa com você, que lavava o seu cabelo, que estava ali para te ouvir quando você precisava de apoio psicossocial, que pagava suas mensalidades na escola. Então, estamos mesmo preocupados com essas crianças e, ao mesmo tempo, temos esperança porque aprendemos com pandemias anteriores o que funciona para ajudar e apoiar órfãos e crianças vulneráveis ​​e suas famílias nessas circunstâncias.

BBC News Brasil - O número de órfãos agora é comparável com algo que vimos na história recente da humanidade?
 
Hillis - Mais do que comparações históricas, há duas imagens muito simples e que traduzem de uma forma muito clara o tamanho da nossa tragédia. A cada 12 segundos, uma criança ao redor do mundo perde os pais ou um dos avós cuidadores por covid-19. Pense nisso: se você parar agora e contar até 12, é o tempo que basta para haver um novo órfão. Dito de outra forma, a cada dois adultos que morrem pela pandemia no mundo, uma criança é deixada para trás lamentando a perda de sua mãe ou de seu pai ou avó ou avô que o criava. Isso traduz a urgência de agirmos todos juntos e agora.

Órfãos da Covid: projeto ajuda crianças e jovens que perderam
 a família para o coronavírus


BBC News Brasil - Como os governos deveriam agir em relação a esses órfãos? E a sociedade, em geral?

Hillis - Há vários níveis de ação. Do ponto de vista das famílias, apesar dos lockdowns e restrições de movimento que o mundo todo tem experimentado, é preciso usar o momento para fortalecer o relacionamento com parentes que moram perto, e até mesmo aqueles que não moram perto, por meio de plataformas de videochamadas, porque são esses parentes que provavelmente terão que intervir e ajudar caso o pai ou o avô cuidador morra. E, especialmente para uma doença que mata tão rapidamente, eles precisam estar a postos.

Já em relação a governos e à sociedade civil, esse é o momento para que todos os níveis administrativos se engajem em três estratégias. Em primeiro lugar, precisamos prevenir as mortes desses pais, e certamente a essa altura sabemos como fazer isso. É preciso acelerar e garantir a equidade da distribuição das vacinas e enquanto isso não acontece e a imunização segue indisponível em muitos países, temos que seguir adotando aquelas medidas de saúde pública: uso de máscara, distanciamento social, higiene apropriada das mãos. Isso é essencial para impedir que esses pais contraiam a doença e morram.

A segunda estratégia é preparar para essas perdas. Há evidências claras de que crianças que crescem em orfanatos têm um risco aumentado de atrasos cognitivos permanentes. Isso está longe de ser o melhor que podemos fazer, como sociedade, por uma criança órfã. Então precisamos preparar parentes das famílias delas ou mesmo formar rapidamente famílias substitutas e adotivas que possam dar um lar para as crianças que precisam e precisarão deles. E não são poucas. Vamos pegar apenas o caso da cidade de Nova York. Ali, descobrimos que uma em cada quatro crianças que perderam um dos pais ou o responsável precisa de uma vaga em orfanato porque não tem outra opção. É preciso olhar para a possibilidade de famílias alternativas. Obviamente, isso deve sempre começar com os parentes e, quando isso não for possível, é preciso um lar substituto seguro e amoroso.

E a terceira estratégia é a proteção social. É central falarmos de proteção a essas crianças, porque sabemos que aquelas que crescem sem uma mãe ou um pai para zelar por elas correm maior risco de exposição à violência sexual, física e emocional. Há um risco aumentado de muitas outras vulnerabilidades sociais, como a interrupção dos estudos. Então, fica claro que precisamos trabalhar juntos para garantir que os pais ou cuidadores adotivos possam construir uma coesão familiar, que essas crianças sigam tendo oportunidades de permanecer na escola e precisamos assegurar seu fortalecimento econômico, inscrevendo-os em programas de transferência de renda, já que órfãos também acabam em situações econômicas altamente vulneráveis ​​quando quem falece de covid-19 é também o chefe de família.

BBC News Brasil - Seu estudo mostra também que, no caso do Brasil, a maior parte das crianças perdeu o pai, e não a mãe. Por que isso acontece e que diferença isso faz para elas no futuro?

Hillis - Também ficamos impressionados ao verificar que o risco de perder o pai foi de duas a cinco vezes mais alto do que o de perder a mãe. Isso, no mundo todo. Um dos motivos centrais para essa diferença é que, frequentemente, os homens têm um número médio de filhos maior do que as mulheres. Os homens podem continuar sua vida reprodutiva até 70 anos ou mais e as mulheres normalmente interrompem abruptamente seus anos reprodutivos por volta dos 50. Então, acreditamos que esse fato — o número médio mais alto de filhos dos homens —, associado com um risco ligeiramente maior de morte por covid-19 no caso dos homens explica esse dado.

Em termos de consequências, a perda do pai em vez da mãe costuma trazer maior risco de vulnerabilidade econômica nas famílias, presumivelmente porque eles são muitas vezes o principal ganha-pão na casa. Outra evidência forte é que a perda do pai tende a aumentar o risco de exposição a abuso sexual. Isso é especialmente verdade no caso das meninas órfãs.