Toda vida importa




"Só teremos chances efetivas de sairmos da situação em que nos encontramos com a formalização de um pacto em torno da vacinação igualitária, que atinja, indistintamente, e de forma gratuita, a todas as pessoas", escreve o professor de Direito Trabalhista da USP Jorge Luiz Souto Maior

Por Jorge Luiz Souto Maior 

(Publicado no site A Terra é Redonda)

“Quem perdeu o trem da história por querer / Saiu do juízo sem saber / Foi mais um covarde a se esconder / Diante de um novo mundo” 
(Canção do Novo Mundo – Beto Guedes e Ronaldo Bastos)

Em meio a tantas desgraças trazidas (e acrescidas aos graves problemas sociais, econômicos e humanos que já vivenciávamos) pela pandemia nos é dada a rara oportunidade de vislumbrar a necessidade urgente de conceber um novo mundo pautado por valores humanos que abandonem a lógica de relações sociais identificadas com a produção, a circulação e o consumo de mercadorias, ou, dito de outro modo, de superação de uma sociedade de seres humanos que vivem para adquirir coisas que não precisam, para impressionar pessoas com as quais não se preocupam.

Diante das características de disseminação do novo coronavírus e dos efeitos devastadores da pandemia, se apresentam como inquestionáveis: a centralidade do trabalho; a condição humana de quem, com a venda da força de trabalho, produz a riqueza social; a relevância da ciência; a compreensão de que toda vida importa; a essencialidade da solidariedade; a importância do Estado Social como gestor responsável da política pública e promotor das instâncias regulatórias e de fiscalização.

Essa percepção nos impõe, como consequência ética inevitável, o desafio de buscar a concretização de um modelo de sociedade que seja compatível com a preservação e a reprodução de todos esses aprendizados.

A construção desse novo mundo só pode começar com o reconhecimento básico de que toda solução para os problemas identificados, notadamente no que diz respeito à defesa da vida, tem sua legitimidade vinculada ao pressuposto da igualdade, à qual se integra, certamente, a diferenciação dos desiguais, na medida em que, em razão das suas vulnerabilidades, se desigualam, o que justifica, inclusive, a fixação de prioridades objetivamente definidas.

No que se refere à vacinação, essencial para que se supere este momento, essa diferenciação, objetivamente definida, deve estar integrada a um plano social organizado e gerido pelo Estado e não em conformidade com os critérios subjetivos de entidades privadas, indivíduos e grupos sociais.

Dito de modo mais claro, a vacinação deve ser publicamente organizada e distribuída de forma gratuita e republicana, sempre sob o pressuposto da igualdade acima delineado.

O postulado teórico básico para o devido enfrentamento da tragédia que estamos vivenciando é a compreensão de que só sairemos dessa situação juntos, por meio de visualização coletiva do problema e dos instrumentos de sua solução.

A grande questão é que desde o início o governo federal, que seria o principal responsável pelo desenvolvimento da política pública de saúde, se postou negando a ocorrência da gravidade da pandemia, estimulando as práticas individuais contrárias ao interesse coletivo.

Então, quando deveriam florescer a solidariedade, o altruísmo e o compromisso com os projetos públicos e as ações coletivas para o enfrentamento da situação, o que se verificou, com o incentivo vindo de quem deveria estimular e até impor práticas diversas, foi a proliferação de comportamentos egoístas que não só agravaram a pandemia, no aspecto da disseminação da doença, como, agora, dificultam a eficiência do processo de vacinação, por meio da utilização de diversos subterfúgios para tentar “furar a fila” da vacinação.

O grande problema desses comportamentos é que eles são impeditivos da implementação das diversas e necessárias transformações que se precisam concretizar em nossa organização social, vez que isso requer, como dito, novos seres humanos, que expressam e praticam valores desvinculados da lógica do convívio reificado.

No entanto, quando, em uma pandemia, se verificam, de forma ampla e não apenas isolada, a realização de ações que desprezam as medidas coletivas que seriam necessárias para a preservação de vidas, o que se deve concluir é que a postura negacionista do governo não apenas promoveu a disseminação da doença, provocando a morte de milhares de pessoas, como também constituiu um vírus corrosivo da difusão da solidariedade e da admissão da relevância da ação coletiva.

E, no presente momento, em que a atitude negacionista repercute na ausência de um plano efetivo de vacinação e na completa falta de perspectivas reais de se obterem vacinas suficientes para a imunização de toda a população, o que se produz é uma espécie de complementação do “projeto” destruidor do futuro.

É isso mesmo! A irresponsabilidade, o desprezo consciente do conhecimento e a vaidade, integrados a um “plano” de governo, estão nos negando um futuro.

Para mudar o rumo dessa história, primeiro é preciso reconhecer que esse processo está em curso e que é extremamente grave, estando, inclusive, em estágio bastante avançado, uma vez que foi acelerado pela pandemia. E, segundo, é importante não se alinhar a tal processo, sendo que, para tanto, é essencial que cada um se perceba no contexto social, isto porque as estruturas engendradas são capazes de moldar as pessoas, transformando-as em seres humanos iguais àqueles que desencadearam o processo destrutivo.

Se todos e todas, ou a grande maioria das pessoas, reproduzirem os mesmos raciocínios fugidios da realidade, para justificarem práticas egoístas, não solidárias e descompromissadas com o todo, sequer restarão argumentos válidos para se combaterem os negacionismos e a desumanização.

Cabe perceber que a ausência de vacinas pode se constituir uma grande cilada (ainda que não propositalmente planificada), para que, diante do desespero e do risco de vida, por meio de justificativas que igualmente desprezam o conhecimento, negam a solidariedade e estimulam o individualismo e o egoísmo, os comportamentos egoístas se generalizem mesmo entre os adversários do negacionismo governamental, equiparando uns aos outros e eliminando, com isso, a legitimidade da crítica e, de forma ainda mais grave, as possibilidades concretas de uma reação, também porque o efeito da difusão dessa espécie de “egoísmo esclarecido” pode nos levar, muito rapidamente, ao colapso da humanidade.

Está cada vez mais claro que uma responsabilização – seguida do devido afastamento – dos agentes políticos que contribuíram para o genocídio no país é o passo fundamental e urgente para iniciar esse processo de edificação de uma sociedade solidária baseada no respeito à vida de todos e todas e na efetivação de seus direitos como cidadãos e cidadãs.

No entanto, deve estar muito claro que isso não basta.

É crucial que todos e todas que se entendem comprometidos com a agenda da necessária construção de outra sociedade, baseada em diversos e renovados laços sociais, se movam na direção contrária a quaisquer iniciativas que, mesmo sob o pretexto de contribuírem para a imunização geral, desprezem o pressuposto da urgente construção de um efetivo e eficaz plano público de vacinação.

Só teremos chances efetivas de sairmos da situação em que nos encontramos com a formalização de um pacto em torno da vacinação igualitária, que atinja, indistintamente, e de forma gratuita, a todas as pessoas.

E que se esclareça! Não falo apenas dos atos individuais e até institucionais que buscam meios (que chegam a se concretizar) para “furar a fila” da vacinação pública, que além de ofensivos e grotescos, são, antes de tudo, criminosos.

Falo, também, e com maior ênfase, das iniciativas voltadas a uma vacinação privada, com oferecimento livre de vacinas no mercado ou tendentes à vacinação de grupos específicos (tais como magistrados, advogados, militares, trabalhadores de empresas determinadas etc.) não integrados à racional e razoável definição de atividades essenciais, e que se tentam justificar pela ausência de uma política estatal a respeito.

Essas iniciativas não resolvem o problema da imunização e, pior, trazem consigo todo o conjunto de valores obstativos das transformações sociais que precisamos implementar, conforme acima explanado.

O que nos compete, além de exigir a punição dos responsáveis e antes de propor qualquer outra iniciativa, por mais relevante que possa parecer, é cobrar e estimular, inclusive financeiramente – para quem tiver condições de o fazer – a elaboração e a execução de um plano público de vacinação (desprovido de interesse eleitoral e de vaidades pessoais), que pressupõe, inclusive, a produção local das vacinas (com quebra de patentes, sendo isto necessário[i]) e no qual se preveja uma vacinação igualitária e gratuita.

Todo o resto, sobretudo no contexto da ausência de um plano público de vacinação, com o devido respeito (pressupondo aqui a boa-fé de tantos que defendem as iniciativas de vacinação privada), pode ser entendido, conforme se diz, como “farinha do mesmo”, reprodutora da preocupação egoísta traduzida no conhecimento popular na expressão “farinha pouca, meu pirão primeiro”.

Fato é que não será com a aceitação e estímulo da luta de todos contra todos, o reforço das desigualdades de oportunidades e a naturalização dos privilégios que se conseguirá a necessária repactuação social. E cada um de nós tem grande parcela de responsabilidade nesta história.

Como fruto de uma dinâmica, estabelecida de forma consciente ou inconsciente, estamos sendo postos à prova. A nossa capacidade de sermos humanos realmente solidários e dispostos a vivenciar uma realidade na qual a vida de todos e todas importa com exatamente a mesma intensidade está sendo testada.

Já perdemos muitas chances para essa redenção e se a perdemos novamente, talvez não tenhamos outra. Isto, é certo, pode valer, ao menos, para muitos de nós !

Estamos, mais do que nunca, diante da definição do que vamos deixar para as gerações futuras: solo plantado ou as ruínas de um caos. Aliás, tudo isso foi muito mais bem dito por Beto Guedes e Márcio Borges:

“Esperança viva
Que o sangue amansa
Vem lá do espaço aberto
E faz do nosso braço
Um abrigo
Que possa guardar
A vitória do sentimento claro
Vencendo todo medo
Mãos dadas pela rua
Num destino de luz e amor
Vem agora
Quase não há mais tempo
Vem com teu passo firme
E rosto de criança
A maldade já vimos demais
Olha
Sempre poderemos viver em paz
Em tempo
Tanto a fazer pelo nosso bem
Iremos passar
Mas não podemos nunca esquecer
De mais alguém
Que vem
Simples inocentes a nos julgar
Perdidos
As iluminadas crianças
Herdeiras do chão

​Solo plantado
Não as ruínas de um caos
Diamantes e cristais
Não valem tal poder
Contos de luar
Ou a história dos homens
Lua vaga vem brincar
E manda teus sinais
Que será de nós
Se estivermos cansados
Da verdade
Do amor
Esperança viva
Que a mão alcança
Vem com teu passo firme
E rosto de criança
A maldade já vimos demais”
(“Contos da lua vaga”)


   Jorge Luiz Souto Maior

Professor de direito trabalhista na Faculdade de Direito da USP. Autor, entre outros livros, de Dano Moral nas Relações de Emprego







Canção do Novo Mundo

Quem sonhou só vale se já sonhou demais
Vertente de muitas gerações
Gravado em nosso corações
Um nome se escreve fundo
As canções em nossa memória vão ficar
Profundas raízes vão crescer
A luz das pessoas me faz crer
E eu sinto que vamos juntos
Oh, nem o tempo amigo
Nem a força bruta pode um sonho apagar
Quem perdeu o trem da história por querer
Saiu do juízo sem saber
Foi mais um covarde a se esconder
Diante de um novo mundo
Quem souber dizer a exata explicação
Me diz como pode acontecer
Um simples canalha mata um rei
Em menos de um segundo
Oh, minha estrela amiga
Por que você não fez a bala parar?
Oh, nem o tempo amigo
Nem a força bruta pode um sonho apagar
Quem perdeu o trem da história por querer
Saiu do juízo sem saber
Foi mais um covarde a se esconder
Diante de um novo mundo

Oração para os vivos




Martha Medeiros

Que honremos o fato de ter nascido, e que saibamos desde cedo que não basta rezar um Pai Nosso para quitar as falhas que cometemos diariamente. Essa é uma forma preguiçosa de ser bom. O sagrado está na nossa essência e se manifesta em nossos atos de boa fé e generosidade, frutos de uma percepção profunda do universo, e não de ocasião. Se não estamos focados no bem, nossa aclamada religiosidade perde o sentido.

Que se perceba que quando estamos dançando, festejando, namorando, brindando, abraçando, sorrindo e fazendo graça, estamos homenageando a vida, e não a maculando. Que sejam muitos esses momentos de comemoração e alegria compartilhados, pois atraem a melhor das energias. Sentir-se alegre não deveria causar desconfiança, o espírito leve só enriquece o ser humano, pois é condição primordial para fazer feliz a quem nos rodeia. 

Que estejamos sempre abertos, se não escancaradamente, ao menos de forma a possibilitar uma entrada de luz pelas frestas. Que nunca estejamos lacrados para receber o que a vida traz. Novidade não é sinônimo de invasão, deturpação ou violência. Acreditemos que o novo é elemento de reflexão: merece ser avaliado sem preconceito ou censura prévia.

Que tenhamos com a morte uma relação amistosa, já que ela não é apenas portadora de más notícias. Ela também ensina que não vale a pena se desgastar com pequenas coisas, pois no período de mais alguns anos estaremos todos com o destino sacramentado, invariavelmente. Perder tempo com picuinhas é só isso, perder tempo.

Que valorizemos nossos amigos mais íntimos, as verdadeiras relações pra sempre.

Que sejamos bem-humorados, porque o humor revela consciência da nossa insignificância – os que não sabem brincar se consideram superiores, porém não conquistam o respeito alheio que tanto almejam. 

Que o mar esteja sempre azul, que o céu seja farto de estrelas, que o vinho nunca seja racionado, que o amor seja respeitado em todas as suas formas, que nossos sentimentos não sejam em vão, que saibamos apreciar o belo, que percebamos o ridículo das ideias estanques e inflexíveis, que leiamos muitos livros, que escutemos muita música, que amemos de corpo e alma, que sejamos mais práticos do que teóricos, mais fáceis do que difíceis, mais saudáveis do que neurastênicos, e que não tenhamos tanto medo da palavra felicidade, que designa apenas o conforto de estar onde se está, de ser o que se é e de não ter medo, já que o medo infecciona a mente.

Que nosso Deus, seja qual for, não nos condene, não nos exija penitências, seja um amigo para todas as horas, sem subtrair nossa inteligência, nosso prazer e nossa entrega às emoções que nos fazem sentir plenos. 

A vida é um presente, e desfrutá-la com leveza, inteligência e tolerância é a melhor forma de agradecer – aliás, a única.



Bum Bum Tam Tam

 



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‘Perdi minha mãe para as fake news’, diz filha de idosa que faleceu de Covid-19



"Ela assistia a muitos vídeos na internet e não acreditava que essa doença existisse. O que mais dói é saber que não é só ela que era assim, tem muita gente perdendo a vida por causa de notícias falsas", disse Adriana Aparecida Paim Avanci, que perdeu a mãe há cinco dias, vítima da Covid-19.

Há cinco dias, a professora Adriana Aparecida Paim Avanci, de 45 anos, perdeu a mãe, a aposentada Maria das Graças Paim, de 71 anos, vítima de complicações da covid-19. Ainda muito abalada, ela fez um honesto desabafo.

“O sentimento é de muita revolta, porque perdi a minha mãe para as fake news. Ela assistia a muitos vídeos na internet e não acreditava que essa doença existisse. O que mais dói é saber que não é só ela que era assim, tem muita gente perdendo a vida por causa de notícias falsas”.

A professora, que é moradora de Ribeirão Preto, conta que a mãe não acreditava na existência do vírus e se recusou a procurar atendimento médico. “Infelizmente, quando ela aceitou ir ao hospital, era tarde demais”, lembra a professora, em entrevista ao UOL.

Segundo Adriana, sua mãe apresentou os primeiros sintomas da doença no dia 29 de dezembro. Com dor de garganta e no corpo, Maria das Graças foi alertada pelos filhos que os sintomas eram da covid-19 e foi orientada pelos familiares a procurar atendimento médico.

“Durante dez dias, eu e meu irmão lutamos para levá-la ao hospital e ela não quis ir. Nesse período, ela chegou a nos mandar um áudio dizendo que não ia mais falar com a gente devido a essa insistência. [Ela dizia] Que tudo não passava de uma gripezinha”, acrescenta a filha.




Enquanto convencia a mãe a procurar atendimento médico, Adriana também apresentou os sintomas da doença, testou positivo para covid-19 e ficou em isolamento domiciliar. Sem poder visitar a mãe, foi durante uma chamada de vídeo que ela percebeu que a situação da idosa estava ficando cada vez mais complicada.

“No dia 6, eu percebei que ela estava muito debilitada, na cama, mas ainda assim ela se recusava ir ao médico e dizia estar bem. Então eu avisei no grupo da família o que estava acontecendo e todos passaram a pressionar a minha mãe para ela ir ao hospital”, conta a professora.

Já no dia seguinte, Maria das Graças foi levada ao hospital Beneficência Portuguesa pelo filho. Com 60% do pulmão comprometido, a idosa foi internada após algumas horas. No dia seguinte, o quadro de saúde se agravou e ela precisou usar máscara de oxigênio para auxiliar na respiração. No dia 10, a idosa entrou na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e foi intubada.

“Mesmo bastante debilitada, ela entrou no hospital falando que estava indo contra a vontade dela, mas já era tarde. Seis dias depois que ela estava na UTI, os rins pararam de funcionar e ela precisou fazer hemodiálise e o quadro de saúde só foi piorando”, conta Adriana.

Maria das Graças teve duas paradas cardiorrespiratórias no último dia 17 e não resistiu. Apesar da idade, a família relata que a aposentada era uma pessoa bastante ativa e praticava atividades físicas. Como comorbidade, ela tinha pressão alta.

“Ela dizia que a pandemia ia matá-la, mas não por causa do vírus, mas sim de solidão e tristeza. Eu vi a minha mãe entrar no hospital e não a vi sair. Acredito que se tivesse acreditado na doença, hoje ela estaria com a gente”, diz a professora.





NOTA

As 215.000 pessoas mortas, pela covid-19, se devem a uma criatura chamada JAIR BOLSONARO e aos 57 milhões que votaram na criatura.
 



Vamos protestar . . . da forma que você puder ou quiser

 







Surpresos com Bolsonaro ? Ora, ora !




Eugênio Aragão

Até as pedras do Distrito Federal conhecem a jornada medíocre do capitão da reserva Jair Bolsonaro. Foi quase expulso de sua força, escapando por pouco graças à descomunal benevolência do STM. Era, enquanto vivia nos quartéis, um indisciplinado. Tentou o caminho da sedição. Queria explodir dependências militares para submeter o comandante do exército a vexame público. A reserva remunerada foi um pacto fechado entre si e seus chefes, para acalmar o ambiente da caserna.

Mas Bolsonaro aproveitou sua momentânea celebridade para se lançar na política e ali ficou por trinta anos, graças aos votos de incautos nervosos. Nada fez. Nunca presidiu comissão, nunca fez parte da mesa da casa parlamentar, nenhum projeto de lei de sua autoria se conhece. 

O capitão da reserva não passava, no parlamento, de um ruidoso representante do chamado “baixo clero”, notabilizado por arruaças com que provocava com colegas, usando linguagem chula e argumentos toscos, recheados de ódio e preconceito. Homenageou torturadores da ditadura, lançou vitupérios contra colega, chamando-a de “feia” e por isso “não merecedora” de ser estuprada, chutou nas pernas de outro deputado durante votações em evidente “bullying” homofóbico e por aí vai. Isso foi e é Jair Bolsonaro.

Por um acaso do processo político, esse cidadão indigno da farda se tornou presidente da república, com letras minúsculas mesmo. E, como era inevitável, passou a pintar e bordar. Nomeou para seu ministério um punhado de medíocres como ele, alguns fardados a busca de boquinhas de cargos civis, outros, atores sem nenhuma expressão, “losers” em suas respectivas formações profissionais. Um ministério de incapazes.

Para piorar as coisas, adveio uma pandemia global que colocou a economia no chão e, obviamente, foi mediocremente enfrentada por uma equipe de militares sem nenhum conhecimento de saúde pública e muito menos de medicina. À frente do ministério da saúde, posicionou-se um general de intendência, algo que se parece com um almoxarife da força, que se gabava e continua a se gabar de ser um “especialista em logística”. Se tivessem nomeado um gerente de uma empresa de mudanças talvez até esse se sairia melhor. 

O tal general difundiu a ideia de que a pandemia poderia ser debelada com tratamento precoce à base de hidroxicloroquina, um produto da predileção do capitão da reserva feito presidente. Sem nenhuma base científica, sem nenhuma comprovação empírica de eficácia. Mas fez o governo adquirir toneladas desse tônico capilar para carecas iludidos. Jogou fora recursos tão necessários para políticas de saúde pública.

Sobreveio a vacina. O capitão e seus subalternos sabotaram durante meses o preparo de uma campanha nacional de vacinação. Deixaram os secretários estaduais de saúde à beira de uma crise de nervos. Batiam boca com governadores. E enrolavam nos processos de licenciamento dos produtos já desenvolvidos no Brasil e no exterior. Debocharam da CoronaVac, a vacina chinesa, à qual atribuíram o nome de “Vachina” ou de “vacina xinguelingue”. Lançaram desaforos ao embaixador da República Popular da China. Comportaram-se feito moleques de rua, dispostos a “entrar na porrada” contra desafetos escolhidos.

Mas esqueceram-se de um detalhe também: não se prepararam para comprar seringas e nem para enfrentar ondas sucessivas de contágio que voltaram a sacudir o país. O pico mais recente da crise se deu em Manaus. Faltou oxigênio hospitalar. E o governo (ou desgoverno) federal soube com boa antecedência do risco então iminente. Nada fez. Um avião da FAB com cilindros de oxigênio foi, por alguma razão não explicada, impedido de decolar para a capital amazonense. O descaso provocou a morte de dezenas de pacientes com COVID-19 e, também, de outros que padeciam de morbidades diversas.

O capitão não fez mais do que “lamentar” e atribuiu a culpa às autoridades locais, dizendo-se impedido de agir pelo Supremo Tribunal Federal. Mentira deslavada. O STF apenas decidiu o evidente: as competências dos entes federados em matéria de saúde pública são concorrentes e o governo federal não está autorizado a desfazer a política de estados e municípios no setor. Mas claro que não só não está impedido de executar sua própria política, de coordenar políticas nacionais mediante construção de consensos e de apoiar as políticas dos entes locais, mas, muito mais, está obrigado a tanto, pois lhe cabe, como aos outros entes, garantir o direito universal à saúd

A atuação desastrosa de Jair Bolsonaro e de seus subalternos na crise sanitária passou a catastrófica e atores políticos, econômicos e da mídia tradicional, que até então mantinham atitude leniente para com as diatribes do capitão, passaram a cogitar de sua remoção do cargo. Dizem-se, agora, surpreendidos com tamanha incompetência e inaptidão do chefe do executivo que, com sua ação e omissão, pôde se manter no cargo, mesmo provocando diariamente conflitos com outros poderes, com outros entes federados e com governos estrangeiros. 

Chega de hipocrisia. Todos sabiam quem era Jair Bolsonaro. Pode mentir muito, mas não mentiu sobre o que era e o que significava sua eleição para o cargo maior da república. Tal qual Adolf Hitler, que anunciara anos antes o que pensava e o que pretendia em seu “Mein Kampf”, Jair teve uma carreira de agressões e grosserias transparente, por quase trinta anos. Quem, na política tradicional, o aceitou, talvez, dissesse como Franz von Papen, ao sugerir o nome do corporal austríaco para o cargo de “Reichskanzler” ao Marechal Hindemburgo: “deixe conosco, em poucas semanas vamos domar essa fera e civilizá-la!” E deu no que deu. 

Jair está dando no que dá. Uma vergonha internacional, incapaz de dialogar a nível doméstico e global. Se o Brasil não lograr neutralizar esse risco, tornar-se-á um pária entre as nações, com um estado falido. Ele precisa sair, mas só não diga ninguém que foi surpreendido com o tamanho do desastre!Até as pedras do Distrito Federal conhecem a jornada medíocre do capitão da reserva Jair Bolsonaro. Foi quase expulso de sua força, escapando por pouco graças à descomunal benevolência do STM. Era, enquanto vivia nos quartéis, um indisciplinado. Tentou o caminho da sedição. Queria explodir dependências militares para submeter o comandante do exército a vexame público. A reserva remunerada foi um pacto fechado entre si e seus chefes, para acalmar o ambiente da caserna.

Mas Bolsonaro aproveitou sua momentânea celebridade para se lançar na política e ali ficou por trinta anos, graças aos votos de incautos nervosos. Nada fez. Nunca presidiu comissão, nunca fez parte da mesa da casa parlamentar, nenhum projeto de lei de sua autoria se conhece. 

O capitão da reserva não passava, no parlamento, de um ruidoso representante do chamado “baixo clero”, notabilizado por arruaças com que provocava com colegas, usando linguagem chula e argumentos toscos, recheados de ódio e preconceito. Homenageou torturadores da ditadura, lançou vitupérios contra colega, chamando-a de “feia” e por isso “não merecedora” de ser estuprada, chutou nas pernas de outro deputado durante votações em evidente “bullying” homofóbico e por aí vai. Isso foi e é Jair Bolsonaro.

Por um acaso do processo político, esse cidadão indigno da farda se tornou presidente da república, com letras minúsculas mesmo. E, como era inevitável, passou a pintar e bordar. Nomeou para seu ministério um punhado de medíocres como ele, alguns fardados a busca de boquinhas de cargos civis, outros, atores sem nenhuma expressão, “losers” em suas respectivas formações profissionais. Um ministério de incapazes.

Para piorar as coisas, adveio uma pandemia global que colocou a economia no chão e, obviamente, foi mediocremente enfrentada por uma equipe de militares sem nenhum conhecimento de saúde pública e muito menos de medicina. À frente do ministério da saúde, posicionou-se um general de intendência, algo que se parece com um almoxarife da força, que se gabava e continua a se gabar de ser um “especialista em logística”. Se tivessem nomeado um gerente de uma empresa de mudanças talvez até esse se sairia melhor. 

O tal general difundiu a ideia de que a pandemia poderia ser debelada com tratamento precoce à base de hidroxicloroquina, um produto da predileção do capitão da reserva feito presidente. Sem nenhuma base científica, sem nenhuma comprovação empírica de eficácia. Mas fez o governo adquirir toneladas desse tônico capilar para carecas iludidos. Jogou fora recursos tão necessários para políticas de saúde pública.

Sobreveio a vacina. O capitão e seus subalternos sabotaram durante meses o preparo de uma campanha nacional de vacinação. Deixaram os secretários estaduais de saúde à beira de uma crise de nervos. Batiam boca com governadores. E enrolavam nos processos de licenciamento dos produtos já desenvolvidos no Brasil e no exterior. Debocharam da CoronaVac, a vacina chinesa, à qual atribuíram o nome de “Vachina” ou de “vacina xinguelingue”. Lançaram desaforos ao embaixador da República Popular da China. Comportaram-se feito moleques de rua, dispostos a “entrar na porrada” contra desafetos escolhidos.

Mas esqueceram-se de um detalhe também: não se prepararam para comprar seringas e nem para enfrentar ondas sucessivas de contágio que voltaram a sacudir o país. O pico mais recente da crise se deu em Manaus. Faltou oxigênio hospitalar. E o governo (ou desgoverno) federal soube com boa antecedência do risco então iminente. Nada fez. Um avião da FAB com cilindros de oxigênio foi, por alguma razão não explicada, impedido de decolar para a capital amazonense. O descaso provocou a morte de dezenas de pacientes com COVID-19 e, também, de outros que padeciam de morbidades diversas.

O capitão não fez mais do que “lamentar” e atribuiu a culpa às autoridades locais, dizendo-se impedido de agir pelo Supremo Tribunal Federal. Mentira deslavada. O STF apenas decidiu o evidente: as competências dos entes federados em matéria de saúde pública são concorrentes e o governo federal não está autorizado a desfazer a política de estados e municípios no setor. Mas claro que não só não está impedido de executar sua própria política, de coordenar políticas nacionais mediante construção de consensos e de apoiar as políticas dos entes locais, mas, muito mais, está obrigado a tanto, pois lhe cabe, como aos outros entes, garantir o direito universal à saúd

A atuação desastrosa de Jair Bolsonaro e de seus subalternos na crise sanitária passou a catastrófica e atores políticos, econômicos e da mídia tradicional, que até então mantinham atitude leniente para com as diatribes do capitão, passaram a cogitar de sua remoção do cargo. Dizem-se, agora, surpreendidos com tamanha incompetência e inaptidão do chefe do executivo que, com sua ação e omissão, pôde se manter no cargo, mesmo provocando diariamente conflitos com outros poderes, com outros entes federados e com governos estrangeiros. 

Chega de hipocrisia. Todos sabiam quem era Jair Bolsonaro. Pode mentir muito, mas não mentiu sobre o que era e o que significava sua eleição para o cargo maior da república. Tal qual Adolf Hitler, que anunciara anos antes o que pensava e o que pretendia em seu “Mein Kampf”, Jair teve uma carreira de agressões e grosserias transparente, por quase trinta anos. Quem, na política tradicional, o aceitou, talvez, dissesse como Franz von Papen, ao sugerir o nome do corporal austríaco para o cargo de “Reichskanzler” ao Marechal Hindemburgo: “deixe conosco, em poucas semanas vamos domar essa fera e civilizá-la!” E deu no que deu. 

Jair está dando no que dá. Uma vergonha internacional, incapaz de dialogar a nível doméstico e global. Se o Brasil não lograr neutralizar esse risco, tornar-se-á um pária entre as nações, com um estado falido. Ele precisa sair, mas só não diga ninguém que foi surpreendido com o tamanho do desastre !






Eugênio Aragão é um jurista e advogado brasileiro, membro do Ministério Público Federal de 1987 até 2017 e Ministro da Justiça em 2016, no governo Dilma Rousseff. É professor titular de direito internacional da Universidade de Brasília, pela qual é graduado em direito. Wikipédia


Lula agradece Maduro por oxigênio a Manaus : “ Ação não será esquecida pelo povo brasileiro ”




Prezado Presidente Nicolás Maduro,

Quero agradecer o gesto de solidariedade e a grandeza política que vossa excelência teve ao ser solidário com o povo de Manaus, na crise por falta de oxigênio hospitalar, resultado da ausência de responsabilidade do governo no nosso país.

O seu gesto prova que é possível fazer política sem ódio.

Tenha certeza, senhor presidente, que essa ação não será esquecida pelo povo brasileiro. E tão logo conquistemos a democracia de volta para o Brasil iremos restabelecer relações políticas civilizatórias com o governo e o povo irmão da Venezuela. Seu país sempre foi um grande parceiro do Brasil durante o meu governo, no governo da presidenta Dilma e também durante outras administrações.

Fica, com esse gesto de solidariedade, a lição para os países aprenderem a conviver democraticamente na adversidade.

O povo da Venezuela e somente ele, pode julgar o governo venezuelano. E todos aqueles que reconheceram um impostor como presidente devem agora ter a mesma grandeza que o senhor teve em relação ao Brasil e reconhecer vossa excelência como o único e legítimo presidente da Venezuela.

Um abraço do seu amigo,

Luiz Inácio Lula da Silva













5 dicas para uma educação feminista e antirracista




Pequenas atitudes no dia a dia da educação podem ajudar a formar pessoas com muito mais respeito à diversidade


Luísa Toller

No início de janeiro, a campanha da revista AzMina para o dia das mães de 2020 virou base para uma questão da prova do vestibular da Unicamp. E inspirada pela menção, peço licença ao espaço artístico da coluna para trazer minha versão educadora. Afinal, começo de ano geralmente traz os ventos de planejamento e renovação. Venho, então, oferecer a professores e professoras algumas dicas que os ajudem a elaborar um conteúdo educativo feminista, antirracista e respeitoso à diversidade. E não estou falando sobre dar aulas sobre feminismo e racismo, não. Mas sim como isso pode estar presente no dia a dia da educação, trazendo para os alunos uma visão de mundo mais inclusiva.

1 – DIVERSIDADE EM TUDO

Certifique-se de que sua lista de fontes (sejam elas livros, filmes, músicas ou outros tipos de obras) contenha autores e autoras com o máximo de diversidade possível. Ainda executamos bastante os cânones do homem branco hétero como única via de consulta para o aprendizado. Para mudar isso é necessário que nós educadores saiamos de nossa zona de conforto e busquemos outros pontos de vista para o que já ensinamos há anos.

2 – REPRESENTATIVIDADE NAS IMAGENS

Como as aulas online são realidade de parcela expressiva da população, um dos recursos mais usados tem sido a apresentação de imagens. Caso for usar fotos ou ilustrações de pessoas, cuidado para não cair na armadilha do algoritmo racista e repetir padrões opressores que são considerados erroneamente como senso comum – padrões racistas, heteronormativos, gordofóbicos e capacitistas. Representatividade importa.

3 – NADA DE CANCELAMENTO

Estamos vivendo a era dos cancelamentos e julgamentos na internet, mas isso não deve chegar na sala de aula. Caso queira trazer alguma polêmica para as aulas, procure gerar questionamentos. Em vez de sairmos por aí definindo nossas opiniões, acredito que podemos aproveitar um momento em que as perguntas são mais potentes em desconstruir o sistema do que as respostas.

4 – CONEXÃO COM OS ALUNOS

E viva Paulo Freire! Quanto mais nos aproximarmos da realidade de nossos aprendizes maior a chance de conexão e transformação do conhecimento. Aparelhos eletrônicos, aplicativos e redes sociais nem sempre são adversários da capacidade de concentração. Às vezes podem ser instrumentos para pesquisa e observação.

5 – OLHAR MÚLTIPLO

Por último, justamente o ponto principal: elabore o conteúdo das aulas a partir dessas lentes de olhar múltiplo. A disciplina pode ser matemática, biologia, português, música, educação física, economia, línguas estrangeiras, ou qualquer outra não mencionada (me perdoem por isso), sempre há a possibilidade de criar situações ou escolher textos que retratem a sociedade de forma múltipla, inclusiva e respeitosa.


Natural do Rio de Janeiro, Luisa é musicista, professora e pesquisadora. Formada pela Unicamp, já participou de diversas bandas tocando em Festivais, Viradas Culturais, circuitos e prêmios como ProAC e BNDES. Foi curadora da Caixa Cultural e professora no Ensino à Distância da UFSCAR. Venceu três categorias no 8o Concurso de Marchinhas Nóis Trupica Mais Não Cai com a composição Marcha das Mulheres. Hoje cursa mestrado na USP, tendo participado do 13o. Encontro Mundos de Mulheres, e sua pesquisa (assim como tudo na vida) busca desconstruir padronizações e hierarquias de gênero. Além disso adora cozinhar e descobrir receitas e formas de vida mais orgânicas e menos industriais.