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Jovem indígena brasileira discursa na abertura da COP26






Ativistas da Amazônia estão na 26a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da ONU, que neste ano acontece em Glasgow, na Escócia.


Walelasoetxeige Suruí, conhecida como Txai Suruí, tem 24 anos e mora no estado de Rondônia, Brasil. É do povo Paiter Suruí e fundadora do Movimento da Juventude Indígena no estado. Txai é estudante de Direito e trabalha no departamento jurídico da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, entidade considerada referência em assuntos relacionados à causa indígena.

Ela também é uma jovem representante da Guardians of the Forest - uma aliança de comunidades que protege as florestas tropicais ao redor do mundo - e conselheira da Aliança Global “Amplificando Vozes para Ação Climática Justa”. Txai também tem atuado como voluntária da organização Engajamundo, e foi representante de seu povo na Conferência do Clima da ONU - COP25, em Madri.

Txai se tornou ativista desde cedo, inspirada pelos pais - o cacique Almir Suruí e a indigenista Ivaneide Bandeira Cardozo, conhecida como Neidinha Suruí. Também atuou no movimento estudantil, como primeira reitora indígena do Centro Acadêmico de Direito da Universidade Federal de Rondônia. Ela trabalha por uma floresta em pé, pelos direitos humanos e pela justiça ambiental e social para todos. Faz parte do Conselho Deliberativo do WWF-Brasil.

Discurso de Txai Suruí na abertura da COP26:

Meu nome é Txai Suruí, eu tenho só 24, mas meu povo vive há pelo menos 6 mil anos na floresta Amazônica. Meu pai, o grande cacique Almir Suruí me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a Lua, o vento, os animais e as árvores.

Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo.

Uma companheira disse: vamos continuar pensando que com pomadas e analgésicos os golpes de hoje se resolvem, embora saibamos que amanhã a ferida será maior e mais profunda?

Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais.
Não é 2030 ou 2050, é agora!

Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza.

Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo.

Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis.

É necessário sempre acreditar que o sonho é possível. Que a nossa utopia seja um futuro na Terra.

Obrigada!









Não, Luther King não foi um líder da conciliação, mas um revolucionário



Vitor Paiva

Os inimigos da liberdade, da justiça, da igualdade e da paz bem sabem, em qualquer época ou lugar do mundo, que são os que advogam pela não-violência, pela união, pela resiliência e pela resistência pacífica os que podem realmente transformar o mundo – não é por acaso que são sempre esses os que acabam mortos. Entre tantos, foi assim com Gandhi e foi assim também com Martin Luther King Jr., que no dia 4 de abril de 1968, há 50 anos, encontrou seu destino no disparo de uma bala na varanda do motel Lorraine, em Memphis, nos EUA. A maior liderança do movimento pelos direitos civis nos EUA e um dos mais importantes nomes da luta contra o racismo em todos os tempos morria assassinado aos 39 anos.

Quis o acaso que Dr. King fosse morto no exato dia em que a poeta, atriz e ativista negra Maya Angelou, um dos mais importantes nomes da literatura e da militância nos EUA, completava 40 anos – Angelou, falecida em 2014, completaria hoje 90 anos. Se a poesia de Angelou permanece se encaixando com precisão e função à barbárie que rege uma sociedade ainda desigual, racista, e criminosa, ela também significa a força que ainda ecoa tanto da poeta como de King, um rei que fez de suas palavras e de sua própria vida a obra que perpetuamente iluminará os injustiçados e o povo negro.

“Você pode me fuzilar com as palavras
E me retalhar com o seu olhar
Pode me matar com o seu ódio
Ainda assim, como ar, vou me levantar”

Maya Angelou, Ainda Sim Eu Me Levanto



A poeta e ativista Maya Angelou, que hoje completaria 90 anos

Não estaremos errados se chamarmos Martin Luther King Jr. de um conciliador, mas também não estaremos sendo justos com sua luta: o reverendo era antes de tudo um revolucionário, que lutava pela transformação total da sociedade americana e do mundo. Não o fazia, no entanto, se valendo das armas mais velhas e óbvias – mas sim por uma revolução que em nada fomentasse o espírito  contra o qual ele justamente se opunha.




Martin Luther King tinha nas palavras sua pólvora, e não queria nem por um segundo se parecer com o opressor. “A maior fraqueza da violência é o fato de ser uma espiral descendente, engendrando aquilo que exatamente procura destruir. Ao invés de diminuir o mal, ela o multiplica. Através da violência você pode matar o mentiroso, mas não pode matar a mentira nem estabelecer a verdade”, ele disse.

Pois ao lado da premissa irrevogável da não-violência pela qual Dr. King agia, havia também a desobediência civil como conduta e método revolucionário – o reverendo fazia justiça aos ensinamentos cristãos que guiaram sua vida como poucos seguidores de Jesus o fizeram, ao resistir contra leis que pregavam a injustiça. Mais: a desobediência civil era para Martin Luther King uma maneira de declarar seu justo respeito pelas próprias leis. “Qualquer pessoa que descumpre uma lei injusta e aceita de bom grado a punição permanecendo preso para despertar a consciência da comunidade sobre a injustiça da lei está, nesse momento, expressando seu respeito máximo pelas leis”.



Dr. King em uma de suas 30 prisões


A história de sua vida já foi contada e recontada tantas vezes quanto ainda precisa ser lembrada e jamais esquecida. O teólogo, sociólogo e pastor protestante, que encontrara um Jesus humano, despido de tantos milagres e tornado um exemplo de vida (que deveria ser seguido por todos) não via a necessidade de poderes sobrenaturais que justificassem tais crenças. As palavras de King em sermões e principalmente em atos públicos contra o racismo e a segregação inspiraram milhões de negros e ativistas por todo o mundo, e as moveram ao entendimento de possibilidades e sonhos maiores e mais justos – a própria Maya Angelou engajou-se ativamente na luta ao lado de King e outros líderes como Malcom X nos anos 1960 e pelo resto da vida.




Tendo crescido no segregado sul dos EUA, a humilhação racial que ele, seus amigos e familiares enfrentaram no dia a dia moldou a depressão que marcou sua juventude, mas que se transformaria na força motora de sua vida adulta. Sua participação no boicote aos ônibus em Montgomery (depois que a jovem Claudette Colvin e Rosa Parks se recusaram a ceder seus lugares no transporte público, contrariando a lei que segregava negros de brancos dentro de tais veículos no sul dos EUA) seria, em 1955, o ponto de partida de sua luta.



Ao lado da mulher, Coretta Scott King, marchando em Selma


Foram tantas as campanhas capitaneadas por King e sua impressionante oratória nos 13 anos que se seguiram que a ilustração de sua resistência pode se dar pelas cerca de 30 vezes que o reverendo foi preso – sem jamais ter reagido com violência ou cometido um crime de fato.



Sendo preso e detido pela polícia em dois momentos diversos



As marchas na cidade de Selma, a oposição ferrenha à Guerra do Vietnã, até a campanha pelos pobres (que King organizava à época de sua morte) em nome da justiça econômica, são somente uma parcela da dedicação integral que ofereceu às lutas mais importantes, contra o racismo e a opressão do povo negro, e também pelos menos favorecidos. Enfrentar os séculos de escravidão, opressão e desigualdade, ofertando a própria vida em palavras era seu ofício.



Outra marcha em Selma

Em 28 de agosto de 1963, diante de mais de 250 mil pessoas (quando foi apresentado como “o líder moral da nação”) King participou da famosa Marcha em Washington por Trabalho e Liberdade. Diante do Memorial Lincoln, pelo fim da segregação racial em escolas públicas, por uma lei representativa de direitos civis, pela proibição da descriminação racial na seleção por trabalhos, pela proteção dos ativistas dos direitos civis contra a brutalidade policial, pelo aumento do salário mínimo para todos os trabalhadores, o reverendo pronunciou seu mais célebre discurso e um dos mais importantes em todos os tempos, que entraria para a história sob o título de “Eu Tenho um Sonho” – um discurso conciliador, mas que se inicia como uma contundente denúncia, que vale até hoje, e em especial para o Brasil.


“Cem anos depois [da abolição da escravidão] precisamos enfrentar o trágico fato de que o negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do negro e ainda lamentavelmente aleijada pelas algemas da segregação e as correntes da discriminação. Cem anos depois, o negro vive em uma solitária ilha de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o negro ainda se enfraquece nas esquinas da sociedade americana e se encontra exilado em sua própria terra”.
Só então é que Dr. King adentra a parte mais conhecida dessa sua célebre fala.
Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que ainda que enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, eu ainda assim tenho um sonho. Eu tenho um sonho de que um dia essa nação irá se levantar e viver o verdadeiro sentido de sua crença: ‘Nós nos atemos a tais verdades como auto-evidentes: de que todas as pessoas são criadas iguais’. Eu tenho um sonho de quem um dia nas colinas vermelhas da Georgia os filhos de ex-escravos e os filhos de ex proprietários de escravos poderão se sentar juntos à mesa da irmandade (…). Eu tenho um sonho de que minhas quatro crianças um dia viverão em uma nação onde não haverá julgamento pela cor da pele mas pelo conteúdo do caráter. Eu tenho um sonho hoje. Eu tenho um sonho de que um dia, no Alabama, com seus racistas perversos, meninos e meninas negras poderão dar as mãos a meninos e meninas brancas como irmãs e irmãos”.
E foi clamando pela liberdade que King concluiu seu discurso histórico em Washington.
“Quando permitirmos que a liberdade emane, quando permitirmos que emane de cada vila e cada povoado, de cada estado e cada cidade, nós seremos capazes de acelerar até o dia em que todas as crianças de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar as mãos e cantar as palavras da velha canção negra: ‘Enfim livres! Enfim livres! Obrigado, Deus todo poderoso, nós enfim somos livres!’”.

 

 


Sua atuação foi de tal forma determinante para que a Lei dos Direitos Civis fosse enfim assinada, em 02 de julho de 1964 – colocando fim aos sistemas estaduais de segregação oficial – que em outubro do mesmo ano King se tornaria o mais jovem vencedor do Prêmio Nobel da Paz, aos 35 anos. Quando de seu assassinato, em 1968, a Campanha Pelos Pobres que liderava visava o levante de um “exército multirracial de pobres” que iria marchar em Washington para se engajar em um imenso ato não-violento de desobediência civil até que o congresso criasse uma “Lei de direitos econômicos” para os americanos pobres. Além disso, a reconstrução das cidades pobres do país e o estabelecimento de leis que combatessem o “o racismo, a pobreza, o militarismo e o materialismo sistemáticos” e o boicote a uma série de empresas eram então suas pautas.



Lançando a “Campanha pelos Pobres”, em 1968, um mês antes de ser assassinado. O grande ato, porém, seria impedido por seu assassinato.



King entre outros ativistas na sacada do motel, instantes antes de ser assassinado


King foi morto na sacada do quarto 306 do motel Lorraine, em Memphis, quando se preparava para jantar – sua morte, no entanto, já não eclipsaria seus feitos, tendo inflamado a alma de tantos e iluminado para sempre as sombras da injustiça e a consciência racial da América negra – King já era muito maior do que a própria vida. Em seu último sermão, na noite anterior, o reverendo falou como um profeta sobre o destino que possivelmente o aguardava, conforme mostra o vídeo abaixo.


“Não sei o que ocorrerá agora. Temos dias difíceis à nossa frente […]. Como todo mundo, eu gostaria de ter uma vida longa […]. Mas isso agora não me preocupa. Só quero cumprir a vontade de Deus. E ele me permitiu subir ao topo da montanha. E de lá vi a terra prometida. Pode ser que não chegue a ela com vocês. Mas quero que esta noite saibam que nós, como povo, alcançaremos a terra prometida. E estou feliz por isso. Nada me preocupa. Não temo nenhum homem”.

 


Pessoas apontam da onde o tiro havia vindo, enquanto Martin Luther King encontra-se morto ao chão (detalhe)

A morte de Martin Luther King Jr. provocou uma imensa onda de revoltas raciais nas principais cidades do país. Um ladrão e extremista branco recém fugido de um penitenciária chamado James Earl Ray, que dizia admirar Adolf Hitler e desejava uma “América toda branca” assumiu a autoria do crime, e acabou condenado a 99 anos de prisão. Ray cumpriu sua pena por 28 anos, até que, em 1998, veio a falecer na prisão. A controvérsia ao redor da autoria do crime, no entanto, jamais cessou.

Três dias depois de sua sentença, Ray desejou retirar a confissão, afirmando principalmente que sua confissão não significava, como a justiça apressadamente concluiu, que ele havia trabalhado sozinho. Ninguém que seriamente avalie o caso pode acreditar que um racista solitário foi realmente o único responsável pelo assassinato da maior liderança negra do século 20 – a própria família do reverendo afirmava que Ray havia sido usado em um esquema maior, que podia envolver até mesmo o governo americano. Coretta Scott King, esposa do Dr. King, defendeu até o fim da sua vida, em 2006, que o crime era parte de uma conspiração em alto nível. “A máfia local, agências de governos estaduais, federais estavam profundamente envolvidas no assassinato do meu marido”, disse.

Trata-se de um raro caso em que as teorias conspiratórias parecem muito mais razoáveis do que a versão oficial dos fatos. Martin Luther King era uma ameaça real ao establishment racista e elitista dos EUA, e às estruturas que até hoje mantém a desigualdade econômica e de direitos como um sistema regente das relações sociais, culturais e profissionais no mundo todo – e o fazia com a contundente e incontestável razão de quem não advoga pela violência, mas sim pela empatia, pela força, pela resistência e pela superação. Martin Luther King morreu como também morreu Gandhi e como também morreu a vereadora e ativista Marielle Franco recentemente: lutando de forma justa por uma causa igualmente justa em nome de um mundo realmente melhor para todos.




É o que perfeitamente traduz o poema de Maya Angelou, que por muitos anos não celebrou seu aniversário em luto pela morte de King. A vida do reverendo, porém, é que é celebrada todos os dias, e que permitiu que junto sejam também celebrados os 90 anos da poeta hoje – por conta da luta que ambos travaram, e ainda travam.



Maya Angelou


“Você queria me ver abatida?
cabeça baixa, olhar caído,
ombros curvados como lágrimas,
com a alma a gritar enfraquecida? (…)

Você pode me fuzilar com as palavras
E me retalhar com o seu olhar
Pode me matar com o seu ódio
Ainda assim, como ar, vou me levantar (…)

Das choças dessa história escandalosa
Eu me levanto

De um passado que se ancora doloroso
Eu me levanto

Sou um oceano negro, vasto e irrequieto
Indo e vindo contra as marés eu me elevo
esquecendo noites de terror e medo
Eu me levanto

Numa luz incomumente clara de manhã cedo
Eu me levanto

Trazendo os dons dos meus antepassados
Eu sou o sonho e as esperanças dos escravos
Eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto”


Maya Angelou, Ainda Sim Eu Me Levanto


Postado em Hypeness


Tamika Mallory fez um discurso contundente e expôs o racismo institucionalizado em seu país, Estados Unidos, onde negros são mortos pela polícia todos os dias, resultado de uma política racista que visa exterminar os negros daquele país. O discurso foi pela morte de mais um homem negro, George Floyd, asfixiado após ter o pescoço prensado pelo joelho de um policial branco em Minneapolis ( Minnesota ). O homicídio ocorreu em 25 de maio de 2020.





Leia a íntegra do discurso de Lula em Paris



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247 - O ex-presidente Lula recebeu nesta segunda-feira (2) o título de cidadão honorário de Paris pela prefeita Anne Hidalgo. Ele discursou sobre a emoção de receber a homenagem e falou da conjuntura política no Brasil.

Leia a íntegra do discurso:

“Senhora Anne Hidalgo,

Senhoras e senhores representantes do Conselho de Paris,

Minhas amigas e meus amigos,

Agradeço de coração o título que a cidade de Paris me concede, por meio de seus representantes. Agradeço especialmente à prefeita Anne Hidalgo, pela generosa indicação, e ao Conselho de Paris que a aprovou.

Este título teria de se estender, na realidade, às mulheres e homens que defendem a democracia e os direitos da pessoa humana, às brasileiras e brasileiros que lutam por um mundo melhor.

Receber este privilégio me emociona, primeiramente, porque a cidade de Paris é universalmente reconhecida como símbolo perpétuo dos Direitos do Homem e da mais elevada tradição de solidariedade aos perseguidos.

E me emociona de maneira especial porque foi concedido num dos momentos mais difíceis da nossa luta, quando me encontrava preso de forma ilegal, uma prisão política num processo que ainda não se encerrou.

Era o momento em que mais precisávamos da solidariedade internacional, para denunciar as injustiças que vinham sendo cometidas contra o povo brasileiro e as agressões ao estado de direito em meu país.

E o povo de Paris, como em tantas outras ocasiões, estendeu a nós sua proteção fraternal. Recordo-me de ter escrito, numa carta de agradecimento em outubro passado, que Paris estava rompendo o muro de silêncio que ocultava os crimes contra a democracia no Brasil.

Gostaria de estar nesta cidade libertária para simplesmente celebrar a fraternidade entre os povos e recordar os laços de solidariedade que nos unem ao longo da História. Afinal, sempre houve lugar para brasileiros e latino-americanos entre os lutadores da liberdade que Paris acolheu.

Mas é meu dever falar aqui em nome dos que sofrem, em meu país, com o desemprego e a pobreza, com a revogação de direitos históricos dos trabalhadores e a destruição das bases de um projeto de desenvolvimento sustentável, capaz de oferecer inclusão e oportunidades para todos.

É meu dever falar em nome de milhões de famílias de agricultores, das populações que vivem à margem dos rios e nas florestas, dos indígenas e dos povos da Amazônia, para denunciar a deliberada destruição das fontes de vida em nosso país, por causa das políticas irresponsáveis e criminosas de um governo que ameaça o planeta.

O que está ocorrendo no Brasil é o resultado de um processo de enfraquecimento do processo democrático, estimulado pela ganância de uns poucos e por um desprezo mesquinho pelos direitos do povo; desprezo que tem raízes profundas, fincadas em 350 anos de escravagismo.

No período historicamente breve em que o Partido dos Trabalhadores governou o Brasil, muitos desses direitos foram colocados em prática pela primeira vez. Dentre eles, o direito fundamental de alimentar a família todos os dias, o que se tornou possível graças à combinação do Bolsa Família com outras políticas públicas, com a valorização do salário e a geração de empregos.

Temos especial orgulho de ter aberto as portas da Universidade para 4 milhões de jovens, na maioria negros, moradores da periferia e dos rincões mais isolados de nosso imenso país; quase sempre os primeiros a conquistar um diploma universitário em gerações de suas famílias.

Milhares desses jovens tiveram a oportunidade de estudar nas melhores universidades do mundo, graças a um programa da presidenta Dilma Rousseff. Certamente alguns deles se encontram em Paris.

Bastaram 13 anos de governos que olharam o povo em primeiro lugar, para começarmos a reverter a doença secular da desigualdade em nosso país.

Foram passos ainda pequenos para a dimensão do desafio, mas estávamos no caminho certo, porque 36 milhões saíram da pobreza extrema e o Brasil saiu do tristemente conhecido Mapa da Fome da ONU.

Este processo, ao longo do qual cometemos erros, certamente, porém muito mais acertos, foi interrompido em 2016 por um golpe parlamentar, sustentado por poderosos interesses econômicos e geopolíticos, com apoio de seus porta-vozes na mídia e em postos-chave das instituições.

Como sabem, a presidenta Dilma, uma mulher honrada, foi afastada pelo Congresso sem ter cometido crime nenhum, num processo em que as formalidades encobriram acusações vazias.

A este primeiro golpe contra a Constituição e a democracia, seguiu-se a farsa judicial em que fui condenado, também sem ter cometido crime algum, por um juiz que hoje é ministro do presidente que ele ajudou a eleger com minha prisão.

Quando a Justiça Eleitoral cassou minha candidatura, contrariando uma determinação da ONU baseada em tratados internacionais assinados pelo Brasil, lançamos a candidatura do companheiro Fernando Haddad.

Ele foi vítima de uma das mais perversas campanhas de mentiras por meio das redes sociais, disparadas e financiadas ilegalmente pelo adversário, num crime eleitoral que denunciamos e que até hoje, passados quase 18 meses, não foi julgado pelo tribunal competente.

O candidato que venceu aquelas eleições, dono de um histórico de ataques à democracia e aos direitos humanos, foi poupado pelas grandes redes de televisão de enfrentar em debates o companheiro Haddad. Essa mídia, portanto, é corresponsável pela ascensão de um presidente fascista ao governo do Brasil.

A triste situação em que se encontra meu país e o sofrimento do nosso povo são consequência de repetidos ataques, maiores e menores, ao estado de direito, à Constituição e à democracia.Se hoje estou aqui, num estado provisório de liberdade e ainda sem direitos políticos, é porque em novembro passado, num julgamento por maioria, o Supremo Tribunal Federal do Brasil reconheceu, para todos os cidadãos, o direito constitucional à presunção de inocência que havia sido negado ao cidadão Lula, às vésperas de minha prisão.

Aqui na Europa, quero me encontrar e agradecer a todos que nos apoiaram nesses momentos tão duros. Mas quero especialmente dialogar com os que trabalham para enfrentar a desigualdade, essa doença criada pelo homem e que está corroendo o próprio conceito de humanidade.

Quero compartilhar as políticas exitosas que tivemos no Brasil, conhecer a experiência, os projetos de outros países e dos que estudam e lutam contra a desigualdade no mundo.

No recente encontro que tive com Sua Santidade papa Francisco, fiquei contagiado pelo entusiasmo com que ele convoca os jovens economistas a debater e buscar saídas para essa questão, que é crucial para o presente e o futuro.

Quero propor aos dirigentes políticos, aos governantes e à sociedade civil dos mais diversos países que promovam, não apenas o debate, mas ações concretas em conjunto, para reverter a desigualdade.

Sei que é possível. Temos de ter fé na juventude, como tem o papa Francisco. Temos de ter fé na humanidade e na nossa capacidade de construir, pelo diálogo e pela política, as bases de um mundo mais justo.

Sei o quanto tem sido importante a solidariedade internacional, na Europa, nos Estados Unidos e ao redor do mundo, para que se restaure plenamente o processo democrático, o estado de direito e a justiça para todos em meu país. E mais uma vez agradeço, em nome dos que sofrem com a atual situação.

O povo de Paris me acolhe hoje entre seus cidadãos, como um reconhecimento pelo que fizemos, junto com tantos companheiros e com intensa participação social, para reduzir a desigualdade e combater a fome no Brasil.

Quero me despedir afirmando que nossa luta prosseguirá, com a participação de todos vocês, porque é a luta pela democracia, pela igualdade, pelos direitos dos desprotegidos, pela humanidade e pela paz.

Muito obrigado.”

Lula





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Lula em Paris


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Ao receber prêmio, Joaquin Phoenix discursa em favor daqueles que foram excluídos da premiação


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Joaquin Phoenix foi mais uma vez premiado por sua impactante atuação como o personagem título do filme Coringa. Desta vez, ele levou o prêmio Bafta. Nada mais previsível, se considerarmos o fato de que o ator tem sido o grande destaque da atual temporada de premiações. A surpresa, entretanto, ficou à cargo do discurso do ator ao receber o prêmio. Em vez de fazer os tradicionais agradecimentos, o ator preferiu falar sobre aqueles que foram “esquecidos” pela premiação.

Nesta edição da premiação, nenhuma mulher foi indicada ao prêmio de melhor diretor, mesmo que Greta Gerwig tenha recebido as melhores críticas pelo seu mais novo filme, Adoráveis Mulheres. Além disso, todos os atores indicados nas quatro categorias de interpretação eram brancos.

“Sinto-me muito honrado e privilegiado por estar aqui esta noite”, começou o ator. “Os Bafta sempre me apoiaram em minha carreira, e estou profundamente agradecido. Mas também devo dizer que me sinto em conflito, porque muitos dos meus colegas atores que também merecem [o prêmio] não têm o mesmo privilégio. Acho que lançamos uma mensagem muito clara às pessoas negras: que vocês não são bem-vindos aqui. Essa é a mensagem que estamos enviando às pessoas que tanto contribuíram para o nosso meio e a nossa indústria, fazendo coisas das quais nos beneficiamos.”

“Acredito que ninguém está pedindo caridade nem um tratamento preferencial”, prosseguiu Phoenix, “embora seja isso o que nos damos a nós mesmos todo ano. Essa não é uma condenação totalmente justa, porque me envergonha dizer que sou parte do problema.




Não fiz tudo o que está em minhas mãos para garantir que todas as rodagens em que trabalho sejam inclusivas. Mas acho que se trata de algo a mais do que ter equipes multiculturais. Acho que temos que fazer um trabalho mais duro para entender o racismo sistematizado. Acho que as pessoas que criaram, perpetuaram e se beneficiaram de um sistema opressor têm a obrigação de desmantelá-lo. De modo que tudo depende de nós. Obrigado.”



Logo após o discurso, o ator se distanciou da mesa onde havia colocado o prêmio sem levá-lo. A situação levou alguns internautas a julgarem que a atitude dele teria sido mais uma “provocação” à premiação e à indústria do cinema. Até que alguém lhe indicou que aquela não era a saída (ele caminhou até o fundo do palco) e que havia esquecido o prêmio.

Essa não é a primeira vez que as atitudes de Phoenix em uma premiação chamam mais atenção do que a própria cerimônia de entrega. No Globo de Ouro, ele deixou o prêmio no chão para proferir um discurso sobre a comida vegana e criticar os atores que usam jatinhos particulares. Um discurso no qual também usou a palavra “fuck”, proibidíssima na TV norte-americana.

Alguém está ansioso pela participação de Joaquin Phoenix na cerimônia de entrega do Oscar?

Redação CONTI outra. Com informações de El Pais





Incrível e corajoso discurso da professora paraninfa para uma turma formanda da Universidade Federal de Goiás



Professora janta fascistas em formatura em Goiás (vídeo)


Em discurso como paraninfa da turma de Pedagogia da UFG, a professora Miriam Bianca Amaral Ribeiro saudou Paulo Freire e listou características do governo de Jair Bolsonaro. "Homofóbico, machista, racista, misógino, que odeia pobre", disse ela. Assista

247 - "Prepare o seu coração para as coisas que eu vou contar. Paulo Freire, Paulo Freire, Paulo Freire", assim iniciou seu discurso severamente politizado a professora Miriam Bianca Amaral Ribeiro durante a colação de grau da turma de Pedagogia da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Em vídeo que circula pela internet, a professora começa sua fala saudando Paulo Freire e ressaltando sua importância para a educação pública e de qualidade. "Se alguém acha que não se pode falar em Paulo Freire em uma colação de grau, saiba que a universidade pública e gratuita só existe porque pessoas como Paulo Freire não abrem mão do direito de todos em acessar o conhecimento produzido pela sociedade".

Miriam Amaral Ribeiro afirma durante o discurso que o governo de Jair Bolsonaro é racista, homofóbico, nazista, entre outras características. "O fascismo está em curso em um governo que se diz que índio não é gente, que ter filha é um vacilo e que a pobreza é que desmata para comer. Um governo homofóbico, machista, racista, misógino, que odeia pobre, um governo que elogio o nazismo, que matou 8 milhões de pessoas".

Ela criticou também a tentativa de Bolsonaro e equipe em transformar, segundo ela mesma, a "pátria amada" em "pátria armada". "Leve para o seu trabalho a luta incansável contra qualquer tipo de preconceito, porque a desigualdade não é natural e, se foi construída por humanos, também pode ser destruída por nós. Não desista de enfrentar a violência, porque 'pátria amada' não é pátria armada". 












Discurso de resistência de aluna de Direito viraliza nas redes






A estudante de Direito da PUC-SP Michele Maria Batista Alves emocionou ao fazer um discurso de resistência às conquistas sociais da classe mais pobres do Brasil; "Resistimos às piadas sobre pobres, às críticas sobre as esmolas que o governo nos dá. À falta de inglês fluente, de roupa social e linguajar rebuscado. Resistimos aos desabafos dos colegas sobre suas empregadas domésticas e seus porteiros. Mal sabiam que esses profissionais eram, na verdade, nossos pais", disse ela no discurso que viralizou.




Publicado na Nova Escola - Diante de um auditório lotado no Citibank Hall, gigantesca casa de shows da capital paulista, uma aluna de uma das graduações mais tradicionais do país toma o microfone para um discurso duro. “Gostaria de falar sobre resistência. De uma em específico, a que uma parcela dos formandos enfrentaram durante sua trajetória acadêmica”.

Ela falava em nome dos alunos bolsistas do curso de direito da PUC-SP, em que as mensalidades são de 3.130 reais. “Somos moradores de periferia, pretos, descendentes de nordestinos e estudantes de escola pública”, enumerou. Descrevendo uma experiência de solidão e preconceito, a oradora apontava as dificuldades do convívio com alunos e professores de uma outra classe social:

“Resistimos às piadas sobre pobres, às críticas sobre as esmolas que o governo nos dá. À falta de inglês fluente, de roupa social e linguajar rebuscado. Resistimos aos desabafos dos colegas sobre suas empregadas domésticas e seus porteiros. Mal sabiam que esses profissionais eram, na verdade, nossos pais.”

Migrante e filha da escola pública

A fala, aplaudida de pé, viralizou em áudio e vídeo nas redes sociais. NOVA ESCOLA conversou com exclusividade com a autora do discurso. Seu nome é Michele Maria Batista Alves, de 23 anos. Natural de Macaúbas, cidade de 50 mil habitantes no centro-sul baiano, ela é uma dos milhares de estudantes de classe popular que chegaram à faculdade a partir da criação do Programa Universidade para Todos (ProUni), em 2004. É também um exemplo das dificuldades dessa trajetória.

Filha de mãe solteira, criada com a ajuda do avô, Michele veio para São Paulo aos 12 anos, para tratar de uma depressão. Sua família se estabeleceu numa casa alugada em Itapevi, cidade da Grande São Paulo onde mora até hoje, e de onde leva duas horas para ir e voltar ao centro da capital. A intenção inicial era regressar à Bahia, mas dois anos depois a descoberta de um tumor no pescoço adiou indefinidamente os planos. “Hoje estou curadíssima, mas por causa da doença fomos ficando. Minha mãe trabalhava de doméstica e eu comecei a ajudar no Ensino Médio como monitora numa escola infantil”, conta.

Sua história na Educação Básica foi toda em escola pública. “Estudei numa escola estadual perto de casa. Tive professores bons, mas a estrutura dificultava. Faltava água sempre, não tinha como ir ao banheiro, as classes eram lotadas e havia brigas. Eu sentia o quanto era difícil lecionar ali”, lembra ela, que diz nunca ter tido uma aula de Química – a professora só existia no papel, mas nunca apareceu. “Por tudo isso, acho muito difícil um aluno de escola pública entrar direto na faculdade.”

“Percebi que era pobre”

Ela própria teve de fazer cursinho. Duas vezes, a primeira delas num comunitário. “Foi uma experiência fundamental”, conta. “Tive vários professores de origem popular que me mostraram a diferença entre classes. Era a primeira vez que eu me reconhecia como pobre.”

A segunda foi no ingresso na PUC-SP. “Não tinha ninguém do meu círculo social. Não tinha recepção para bolsistas”, diz. No primeiro dia, uma menina contava animadamente sobre a viagem de férias à Europa. No terceiro, uma professora fez um comentário sobre métodos de estudos que deveriam ser evitados porque até a filha da empregada dela estudava assim. O impacto virou trecho do discurso:

“Naquele dia, soube que a faculdade não era para mim. Liguei para a minha mãe, que é doméstica, e disse que queria desistir. Ela me fez enxergar o quanto precisava resistir àquela situação e mostrar o quanto eu era capaz de obter aquele diploma”.

Espelho da realidade

Professores da PUC confirmam a situação narrada por Michele. “Ouvi de alguns bolsistas que a maior dificuldade não era preencher as lacunas de formação, mas conviver com a discriminação por parte de colegas”, diz Leonardo Sakamoto, professor do curso de jornalismo. “Se a PUC tivesse mais estudantes como eles, faria mais diferença do que faz hoje. Alguns dos meus melhores alunos foram bolsistas.”

“Os alunos beneficiários de bolsas são os mais dedicados, pois vêem no diploma da PUC a única chance de fugir de um destino cruel, previamente estabelecido”, confirma Adalton Diniz, professor do curso de Ciências Econômicas, que compara sua própria trajetória com o cenário atual. “Nasci no Jardim São Luiz, na periferia de São Paulo, fui operário metalúrgico e filho de uma dona de casa e um trabalhador que apenas completou o ensino primário. Estudei na PUC nos anos 1980 e não me recordo de ter enfrentado, de modo significativo, resistência, preconceito e hostilidade. Creio que a sociedade brasileira era mais generosa na época.”

Michele Alves seguiu em frente, mas não sem dificuldades. Passou os seis primeiros meses sem falar com ninguém. “Também por minha conta, porque antes eu era mais radical, mais intolerante. Acho que a gente tem de ser radical, mas não radical cego. Isso eu só aprendi depois, ao perceber como as pessoas me enxergavam e como eu poderia me aproximar delas. Aos poucos, fui criando métodos para dialogar com quem era diferente de mim. Ficar sem falar é muito ruim.”

Choro, apreensão – e aplausos

O episódio do discurso nasceu dessa espécie de diálogo radical. Com colegas, Michele fundou um grupo para discutir a situação dos bolsistas na PUC. A formatura se tornou uma pauta importante, porque o custo da colação de grau e do baile – na casa dos 6 mil reais – era proibitivo. Uma negociação com a comissão do evento garantiu quatro ingressos para cada bolsista e o direito do grupo a ter um orador.

Michele foi a escolhida. “Fiz o texto numa única noite. Chorei muito. É um relato carregado de histórias não só minhas, mas de todos os bolsistas, que eu revivia conforme ia escrevendo. Ensaiei 12 vezes e só na última consegui ler sem chorar”, conta. 

Chegou o 15 de fevereiro, data da colação, e Michele aguardava sua vez de subir ao palco. O orador oficial fez um discurso leve, contando ‘causos’ do curso e arrancando risadas da plateia. Michele gelou. “Pensei: ‘e agora, como vai ser? Vou vir com um tapa na cara, agressivo, não sei como vão reagir’”. De cima do palco, tentou procurar a família – cunhado, uma amiga do Chile, três colegas de trabalho e a mãe, aniversariante da noite. Não viu ninguém. Leu tudo de um fôlego só.

Ao terminar, ainda meio atordoada, correu de volta para seu assento. “Achei estranho meus colegas se levantando. Depois entendi. Estavam me aplaudindo”, diz ela, contente também com a repercussão de sua fala nas redes sociais. “É uma vitória saber que minha reflexão está chegando a lugares que antes não debatiam esse assunto. Quem sabe cause algum impacto na vida dos bolsistas que virão depois de mim.”


Postado em Brasil247 em 20/02/2018



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