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Um videogame pode ajudar a tratar depressão em jovens ?





Dark Souls mergulha o jogador em um mundo sombrio e desesperado. No entanto, muitos jovens superaram a depressão graças a este videogame.


Dizem que quem mergulha no universo Dark Souls passa a ver as coisas de forma diferente. A vida ganha sentido, novas forças são desenvolvidas e o “fogo” da motivação é recuperado. Em um cenário virtual habitado por monstros no mais puro estilo Lovecraft, em que se morre repetidamente, a mente que navega no oceano da depressão parece despertar.

Fake news? Lenda urbana do mundo gamer? A verdade é que há vários anos lemos opiniões, notícias e artigos sobre quantos jovens experimentaram um bem-estar psicológico graças a este videogame. Desde o seu lançamento no Japão em 2011, a franquia só ganhou popularidade. Atmosfera, trilha sonora, sua mecânica de ação…

Parece que cada elemento deste videogame RPG visa criar uma série de sensações muito específicas no jogador. Em um mundo escuro onde o desespero é uma constante, a pessoa é forçada a abrir caminho quase à força.

O herói que morre e renasce mil vezes em um eterno retorno finalmente emerge com novos valores. Constância, propósito, senso de esperança e luta para se levantar novamente sonhando com a vitória. O que é verdade nesta ideia? Um videogame pode tratar a depressão?

Levante-se de novo e de novo para lutar. Essa é a mecânica que rege este videogame que tem melhorado a qualidade de vida de muitos jovens.

O que é Dark Souls?

Dark Souls é mais do que um videogame, é uma metáfora sobre como superar as dificuldades. É uma saga que já tem três partes e que, para os conhecedores, é uma referência quando o assunto é RPG.

Sua narrativa e a mecânica para introduzir o jogador na ação são impressionantes. A imersão é absoluta e embora a princípio tudo seja um pouco estranho e até cansativo, aos poucos uma série de mudanças se impõe à pessoa.

Para começar, o protagonista que o jogador controla é Chosen Undead, um herói (humano-morto-vivo) que deve abrir caminho por Lordran, um mundo escuro habitado por seres monstruosos, criaturas atávicas que não são fáceis de derrotar. Isso faz com que o herói morra diante do menor descuido e que Chosen Undead perca seus pontos e até um pouco da sua humanidade.

Quanto mais ele morre, maior é o risco de se transformar em um estado denominado “Hollow”. Sabendo disso, o que há de tão especial em um videogame dominado por cenários sombrios e habitado por uma raça imortal de dragões?

O videogame como uma ajuda para os jovens superarem a depressão

Cerca de 6 anos atrás, o termo Dark Souls começou a aparecer com frequência no espaço do Reddit. Essa rede social em que os usuários postam textos, vídeos ou imagens revelou algo que uma parte da população estava vivenciando. Muitos jovens disseram que estavam superando sua depressão graças a este videogame.

De lá para cá, essa percepção só aumentou, a ponto de vários estudos já terem sido realizados. Por exemplo, a Universidade do Arizona iniciou um projeto em 2018 para investigar essa hipótese terapêutica. Até o momento, os seguintes benefícios foram encontrados.

A integração de dois aprendizados: fracasso e resistência

Um iniciante pela primeira vez em Dark Souls descobre algo quase que instantaneamente: é muito difícil permanecer vivo em Lordram. O herói e avatar do jogador morre repetidamente. Um pequeno fracasso, um ataque inesperado, um perigo imprevisto e a morte chega. É comum se desesperar e também é comum abandonar o jogo por um tempo.

Qual é o sentido de se esforçar se os perigos dificilmente podem ser previstos? A chave é aprender com cada morte. Algo que os jovens desenvolvem neste jogo é a tolerância ao fracasso. Eles aceitam a queda, o erro, a tragédia e sua própria frustração.

Depois de darem esse passo, vem o próximo: aumentar a resistência. Sempre há outra oportunidade e, com ela, a obrigação de persistir. Cada uma dessas dimensões é enriquecedora diante de um transtorno depressivo.

A cada morte, o jogador é convidado a assumir um novo aprendizado. Como na vida, cada queda é uma oportunidade de adquirir sabedoria e se levantar novamente.

Dark Souls e a motivação intrínseca

Há outro fator inevitável que é fundamental no tratamento de qualquer transtorno de humor: despertar a motivação intrínseca. É fazer com que a pessoa encontre seus próprios objetivos, explorando, aplicando curiosidade, entusiasmando-se com tudo o que foi planejado, feito e alcançado…

Esse tipo de motivação é o mais poderoso porque molda uma necessidade humana subjacente, como competência social e autodeterminação. Agora, como o videogame Dark Soul desenvolve essa dimensão psicológica decisiva?

Por meio de várias estratégias altamente cuidadosas:

Favorece a competência. Ao longo da jornada épica do herói, o jogador se torna cada vez mais competente ao passar e aprender com os difíceis testes de sobrevivência.

Desenvolve a autodeterminação e a autonomia. Embora seja muito fácil perder a vida em Lordram, o mais importante é resistir e lembrar qual é o propósito, qual é o objetivo. Da mesma forma, o jogador está livre para explorar, mover, decidir e descobrir os mecanismos para superar perigos e ameaças. Isso intensifica a motivação.

Você não está sozinho: os relacionamentos são importantes. Hoje, grande parte dos videogames oferece a oportunidade de jogar com outras pessoas online. Dark Souls planeja testes que só podem ser superados se “pedirmos ajuda” de outros companheiros de equipe.

Satisfação. Conforme os jovens acumulam horas de jogo, eles sentem que muitas coisas estão mudando em suas mentes. Eles aprendem a aceitar as derrotas e a se superar. Entendem que poucas coisas são tão importantes quanto ter um propósito… A satisfação vai aumentando e o humor vai melhorando.

Dark Souls encoraja habilidades decisivas como autoconsciência, perseverança, técnicas para tomar decisões, se defender, resolver problemas, etc.

Uma mente que luta contra pensamentos sombrios para não se tornar um Hollow

Um Hollow é um estado degenerativo no videogame Dark Souls. Cada morto-vivo, como o herói da história, está condenado a se tornar esse tipo de ser, a menos que obtenha um suprimento constante de Humanidades. Esse é o objetivo final, esse é o verdadeiro feito. A metáfora aqui é reveladora, o dispositivo simbólico de como superar uma depressão é tão evocativo quanto inegável.

Estamos diante de um videogame cuja atmosfera é sombria e opressora, como a mente de uma pessoa que passa por esse distúrbio psicológico. Algo que esse recurso alcança é forçar a pessoa a despertar novas habilidades, novas abordagens e ferramentas de vida. Para não se tornar um Hollow, a primeira coisa a fazer é derrotar os pensamentos negativos e, então, gradualmente moldar o herói que todos carregamos dentro de nós.

Para concluir, se agora nos perguntarmos se esse recurso pode realmente ajudar uma pessoa a superar sua depressão, podemos nos referir, por exemplo, a estudos como os realizados este ano na University College London. Crianças e adolescentes que dedicam algumas horas da semana a esse tipo de lazer apresentam menores índices de depressão.

Se as habilidades desenvolvidas em Dark Souls forem posteriormente aplicadas à vida diária, os benefícios podem ser indiscutíveis.








A angústia não tem face. Existem almas tristes, que sorriem !




 Daniele Abrantes


A angústia não tem face. Existem almas tristes, que sorriem. Trate as pessoas bem, a dor que carregam nem sempre transparece no rosto. O sorriso, nem sempre vem da alma. É um mecanismo de defesa. Um ”cala boca” exageradamente forjado para afastar a culpa de não se encaixar na sociedade. A pressão para ter um bom emprego, uma boa casa, um bom relacionamento, um corpo atraente, uma vida interessante. Pressão que grita alto dentro do nosso cérebro. Pressão que cresceu em um nível alarmante com o advir das redes sociais, nossas aliadas e também, constantes inimigas.

Inicialmente criada como forma de diminuir distância física e promover encontros, as redes sociais foram, pouco a pouco, se tornando um estranho objeto de desejo. O portfólio virtual posto em um patamar elevado, corrobora para o desgaste emocional e a competitividade exacerbada da frustração de não se enquadrar nas vidas online saídas de comercial de margarina causam angústia e medo.

De acordo com a pesquisa recente de um dos autores que associa “desistência da vida” e internet, do Dr. Cheng, publicada no prestigiado Journal of Clinical Psychiatry, revela que após sucessivos testes e monitoramento de comportamento, indivíduos que passavam bastante tempo nas redes, adolescentes e adultos, mesmo sem estarem em quadro depressivo, apresentaram uma dependência maior, que, em curto a médio prazo, poderiam vir a aumentar as chances de cometerem um ato contra a própria vida.

O vício em internet, embora não esteja ainda incluído no DSM-5 (Manual Diagnóstico dos Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria), sugere, a partir destes estudos, que, aliado ao vício em jogos online corroboram para o aumento significativo de comportamentos destrutivos, podendo ou não estar intrinsecamente ligado a depressão. Você abre o Facebook, o Instagram, o Twitter e lá estão vários “portfólios” interessantes. Parece que a vida de todo mundo é saída de um conto de Lewis Carrol, Charles Perrault ou Monteiro Lobato. Todos com finais felizes. Sempre há algo instigante na vida social da vitrine online que não encontramos na nossa realidade diária. Um olhar mais sensível, quase clínico, consegue captar o que é fake, o que é transitório, o que é proposital e o que é real.

Dando uma geral no feed de notícias, é possível se detectar pedidos de socorro subliminares que, para olhos superficiais, passam quase imperceptíveis, mas não para um olhar sagaz.

A PROFUNDIDADE PARA ENXERGAR A ALMA DO OUTRO SE FAZ NECESSÁRIA EM TEMPOS DE VAZIOS QUE TRANSBORDAM.

A angústia e o pedido de ajuda

O grito por ajuda pode estar nas postagens de várias selfies. Na troca quase semanal de foto de perfil, naquelas frases melancólicas na calada da madrugada, nas músicas que a pessoa posta, nas páginas que a pessoa segue, no gênero de filme que a pessoa mais se identifica.

EXISTEM VÁRIAS “PORTAS” MAS É DIFÍCIL CONSEGUIR PENETRAR NA APARENTE CARCAÇA QUE O INDIVÍDUO ERGUEU SOBRE SI MESMO.

A couraça protetora superficial que é impenetrada por uma mente distraída, que no barulho externo diário, não intercepta os sinais.

Há um tempo atrás, vagando pelo webmundo, à noite, me chamou a atenção um comentário de um bela moça num post que era extremamente hilário e que falava sobre viagens e falta de dinheiro. Ela assim escreveu: “Hahaha. Vocês rindo e eu aqui pensando como vou acordar amanhã após ler isto. Muito engraçado”.

Um comentário leve, irônico, se visto de relance, concordam? Contudo, a intuição falou mais alto e fui checar o perfil da moça. Jovem, 29 anos, bonita, advogada, boa família. Fotos em lugares exóticos, como Bali, o que testifica que o motivo do post sarcástico dela não era escassez financeira, já que o destino é um dos mais caros do Mundo. Fui analisar as curtidas da moça, páginas que seguia e, num golpe de sorte, vi um comentário dela num post de uma página sobre a poeta americana Sylvia Plath, que dizia: “Admiro sua coragem. Quem sabe eu chegue lá, um dia”.

Sobre Sylvia Plath: tirou a sua vida premeditadamente, aos 30 anos, e fazia, tal qual esta moça da internet, declarações melancólicas constantes disfarçadas por ironia, sarcasmo e humor mórbido. Possuía um quadro depressivo durante boa parte de sua existência e seus poemas eram quase sempre sobre a morte, isolamento, amores perdidos, suicídio. Ela escreveu, além de poemas, um romance (que é considerado auto-biográfico) chamado The Bell Jar.: “Morrer é uma arte, como todo o resto. Eu o faço excepcionalmente bem.”

Curiosamente, sua amiga, a também escritora e modelo, Anne Sexton, que começou a escrever sobre sugestão de sua psiquiatra como catarse, já que havia tentado tirar a vida por diversas vezes, tendo inclusive ganho o Prêmio Pullitzer,de poesia,em 1967,ao saber da morte da amiga, ficou extremamente revoltada por esta “roubar a sua morte”,segundo confidenciou ao seu psiquiatra. Escreveu, nestes versos, dedicados a Sylvia:

“Ladra-como se rastejou
rastejou sozinha
para a morte que desejei tanto e por tanto tempo”

A estas duas talentosas escritoras depressivas, junta-se a célebre escritora inglesa Virginia Woolf. O que torna as três escritoras com uma linha de vida parecida, é a aparente decepção com seu estado social e a dificuldade em aceitar a si mesmas. Buscaram, na máquina de escrever, uma fuga da realidade que não tinham forças para alterar. Enquanto era mais fácil escrever sobre sua história, e sobre a vida como enxergavam, reescrever um novo capítulo de suas vidas era algo inatingível. Como se o pincel de tinta para colorir o arco-íris em suas vidas fosse concedido a todas as pessoas do Mundo, menos a elas. Não se consideravam apenas não capazes, mas não merecedoras.

Angústia: Um vazio que não tinha mais espaço para ser preenchido.

É preciso cautela e sensibilidade ao lidarmos com a alma humana. A felicidade deve sim ser celebrada, mas precisamos ser solidários quando percebermos um sinal de descontentamento de alguém próximo de nós. A velada competitividade que o mundo estabelece pode ser cruel (Não confundir com inveja). Indivíduos depressivos geralmente não celebram a felicidade alheia porque vivem num mundo escuro e frio, presos dentro de si mesmos.

Não é fraqueza, porque eles, agarrados à cauda da Esperança, até tentam submergir, o que demanda um esforço físico dilacerante. Mas, tampouco conseguem chegar à superfície e pegam um breve fôlego, são tragados de novo para o subaquático mundo em que aprenderam a viver e se sentem eternos habitantes da penumbra que, no regresso, os envolve no colo aconchegante da tristeza, e os recebe como a um velho amigo que constantemente os visita.

A angústia e o vício pela tela

A luz noturna da tela do celular, do tablet, do notebook, reflete o fracasso interno por não ter forças para lutar pela aparente felicidade alcançada pelos demais usuários. É um mundo solitário, sombrio, assustador. A culpa por não ter alcançado o patamar desejado causa uma angústia avassaladora. É preciso que não se culpem. Não se culpem por estarem aparentemente atrás dos outros nas suas conquistas pessoais e profissionais. O tempo, é algo relativo. Cada um tem um relógio interno que funciona de uma determinada maneira.

NOSSOS PONTEIROS INTERNOS NÃO NECESSARIAMENTE PRECISAM ESTAR EM SINCRONIA COM O EXTERNO.

Todos temos nossas características e elas são determinantes no nosso modo de ser, agir e pensar.

Nossa configuração interna já vem meio que programada, mas isto não quer dizer que você não possa aperfeiçoa-la. Não tenha medo dos riscos. A Vida não é sobre quem perde ou quem ganha, mas sim, sobre quem melhor resiste.

NÃO SE COBRE TANTO. SE TIVER VONTADE DE CHORAR, CHORE.

Mas busque sofrer apenas o necessário, por um período, para renovação interna.

O Mundo pode bater forte às vezes. A angústia pode tentar te dominar. Mas lembre-se:Faça tudo ao seu modo e no SEU tempo. E jamais se compare! A única certeza que temos é que um dia iremos morrer, mas por favor não antecipe o fim do jogo. O destino se estabelece quando se decide por continuar o jogo ou desistir dele. Haja o que houver, não desligue o aparelho da tomada. Jogue até o fim. Não desista do jogo da sua vida. Vença a si mesmo. Sempre. Todos os dias! e se preciso for, desligue o celular!

“A vida vale a pena, e os caminhos mais difíceis nos fortalecem e nos tornam mais sábios! Se resolvermos aprender com eles, e principalmente, se buscarmos ajuda para percorrê-los, conseguiremos deixar fluir as emoções sem que elas consigam nos dominar por completo. Tudo na vida exige dedicação. Não há necessidade de esforço, apenas dedicação. Para desfrutar as maravilhas que a vida nos oferece, precisamos aprender a mudar os pensamentos que nos levam a uma vida murmurante, exercitar a gratidão pelas pequenas e simples coisas, e cultivar a fé que nos inclina a coragem para a ação transformadora”.Iara Fonseca

A angústia pode ser lavada com a fé e a esperança de que dias melhores virão! Porque quando confiamos nisso, eles sempre vêm !






Todos nós temos um Coringa dentro da gente a ponto de explodir


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Luciano Cazz

O filme “O Coringa” expõe uma ferida que todos têm na alma. Na verdade joga na nossa cara todas as mazelas escondidas atrás dos sorrisos amarelos e das alegrias forjadas.

Nosso Coringa interno guarda todas as rejeições que sofremos durante a vida. De pais que nos abandonaram ou falharam no amor e proteção e de todos os familiares perversos. Rejeição das tantas paixões que nos desdenharam, dos grupos que nos excluíram e dos momentos em que não fomos escolhidos nem convidados. Nosso Coringa engole a seco todas as humilhações que suportamos dentro de casa ou na rua. Todas as risadas da nossa cara, todo deboche cruel. Ele segura no tranco das dores do bullying, que nada mais é do que pisotear em fraquezas ou defeitos para fazer graça como um patético Joker.
O CORINGA QUE VIVE DENTRO DE VOCÊ TEM NA MEMÓRIA CADA DETALHE DE TODOS OS ABUSOS QUE JÁ SOFREU.
Quando seu corpo foi violado pelo desejo do outro ou por tapas. Tem registrado todos os atentados de uma violência psicológica que não se entende nem se mede, mas que o seu Coringa jamais esquecerá. E, por mais que você acredite que tenha superado, lá no fundo, bem escondido no seu íntimo, ele sofre por todas as traições sofridas, por todas as confianças quebradas e os afetos que tentou dar, mas foram jogados no lixo. Ele guarda dolorosamente a forte sensação de impotência diante das frustrações da vida e até das injustiças sociais e políticas.

Ou talvez nem guarde tão bem assim. E deixe escapar na violência doméstica ou no ardiloso usufruto do poder. Nos vícios e promiscuidades. Na falsidade e nas mentiras. Nos julgamentos equivocados e nos destemperos exagerados. Nos egoísmos do dia a dia, nas corrupções diárias e na falta de empatia que impera em uma sociedade, cujo ego infla com a frustração do próximo. E, assim, não implodimos. Nos pequenos delitos, deixamos escapar um pouco do nosso Coringa, como um balão que a gente libera um pouco de ar para não estourar. Então, a gente pune o outro com maldades e sorridentes boicotes pela inveja que nos causa. Jogamos nele as nossas frustrações e o condenamos a um rótulo que é nosso. Competimos com todo mundo por troféu nenhum, atrás de uma autoafirmação do nosso Coringa, mesmo que em cima da infelicidade de quem a gente estima.

Somos todos palhaços de um mundo de aparências. Que finge ser politicamente correto na bolota redonda e vermelha na ponta do nariz, porque, por trás da maquiagem colorida das nossas personalidades virtuais, somos todos sozinhos em nossos sentimentos verdadeiros e amargos no reconhecimento que não temos e negamos às pessoas quando sofremos pelo sucesso do outro e desejamos, secretamente, mesmo que por um momento, o seu pior.
O SORRISO DO CORINGA DESMASCARA UMA SOCIEDADE QUE DISSIMULA FELICIDADE, ENTRETANTO, VIVE INSATISFEITA, DEPRESSIVA OU ANSIOSA.
Que só quer falar sem saber escutar, receber sem saber dar. Saber mais, ter mais, ser mais mesmo que de mentira. Que sofre ao ajudar o próximo e finge que não vê as qualidades alheias. No momento da virada do filme, o Coringa não se liberta do desespero, aprisiona-se. Ele perde o controle sobre a dor para a loucura da verdade humana. A frieza é uma culpa gigantesca que tomou conta de tudo. Ele não tem contraponto e se perde no “não sentir.” Então, pisar nos outros é afrouxar a corda em volta do próprio pescoço, porque a dor que a gente causa é a mesma que desesperadamente queremos nos livrar. Da mesma forma que o narcisismo é o retorno de uma interpretação extremamente feia que temos de nós mesmos.

Segundo Freud a psique se forma em cima do conflito. Mas se o Coringa dentro da gente é natural e inevitável como fazer para não enlouquecer?

Os instintos não de desfazem. Um dia, de uma forma ou de outra, virão à tona. Então, para não implodir e aliviar seu Coringa, procure subterfúgios sadios. Uma luta, um hobby, a arte ou uma religião. A natureza. Viaje! Faça terapia. Procurar razões para gargalhar de verdade. Diga os nãos que calou, os sins que se acovardou. Ou quem sabe tudo isso junto, mas deixe os outros em paz. Pare de fazer, de quem não tem culpa nenhuma, o seu tapete para esconder por debaixo todas as suas frustrações. Encare-se no seu espelho e foque em esvair-se dos rancores escondidos na sua alma.
PERDOE AQUELES QUE SE DEIXARAM LEVAR POR SUA PRÓPRIA LOUCURA E LHE FIZERAM MAL. MAS, MAIS DO QUE ISSO, PERDOE-SE!
Por não ter se defendido, por sua ingenuidade. Perdoe-se por não ter dito: Não! Por ter baixado a cabeça. Por todas as vezes que chorou em vez de reagir e que alimentou o seu Coringa engolindo sapos. Neste mundo torto, foi a maneira que você encontrou de sobreviver. Mesmo assim, afasta-se de quem lhe subestima, como o Coringa não fez, com sanidade.

E caso se identifique com o monstro, principalmente, no momento em que ele vinga o bullying, não se preocupe nem sinta culpa, é só um pouco da pressão saindo, pois ele está em você, mas você está no controle. E, só assim, aceitando e controlando o seu Coringa interno, que você é um ser pleno.

E quem sabe em um futuro não muito distante, o sistema respeite mais a nossa humanidade e, então, em uma civilização mais evoluída e madura, seremos capazes de conciliar melhor os instintos biológicos com os deveres sociais, com menos recalques e mais respeito à expressão individual, e, por conseguinte, tirar a máscara do palhaço para, finalmente, sermos bons de verdade. Como de fato somos.






3 hábitos que aumentam o risco de depressão




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A depressão é um transtorno grave que requer a máxima atenção. Infelizmente, muitas pessoas acreditam que é uma condição que deve ser ignorada, pensando que aqueles que estão deprimidos são fracos e que não se esforçam o suficiente para ficar bem. Dizem que isso é um capricho ou uma extravagância como muitas outras. No entanto, o risco de depressão existe para todos.

A depressão não se “cura sozinha”. Pelo contrário: quando os seus efeitos não são tratados no tempo devido, podem levar a um desgaste progressivo e outras doenças mais sérias, tanto física como mentalmente.

O estilo de vida é um fator decisivo para nutrir ou superar os estados depressivos. Os hábitos diários influenciam positivamente ou negativamente essa condição. Alguns hábitos fazem com que você se sinta deprimido com mais facilidade, enquanto outros permitem que os sintomas sejam reduzidos e melhoram o seu humor. Neste artigo falaremos sobre três desses hábitos que aumentam o risco de depressão.
“ A depressão é alimentada pelas feridas não cicatrizadas.”
– Penélope Sweet –
Hábitos que contribuem para aumentar o risco de depressão

1. Má utilização do tempo livre

A rotina, especialmente se você vive em uma grande cidade, pode causar um grande desgaste emocional. Todos os dias você está exposto a centenas de estímulos, muitos dos quais são agressivos. Nas grandes cidades existe uma atmosfera de estresse generalizado. Você raramente encontra um rosto amigável e tudo acontece rapidamente.

O tempo livre não é apenas um momento de pausa, mas também um tempo determinante para manter a sua boa saúde mental. O problema é que o mesmo ritmo agitado do dia a dia geralmente nos leva a não saber o que fazer no nosso tempo livre. Muitas vezes, simplesmente buscamos quietude e solidão. É verdade que isso contribui para o descanso, mas também nutre a depressão.

O ideal é que o tempo livre seja utilizado para oxigenar o corpo e a mente. Devemos fazer atividades divertidas e agradáveis; isso renova a nossa energia física e mental, traz vitalidade e melhora o humor. É aconselhável cultivar algum hobby, fazer atividades ao ar livre, praticar esportes.

2. Dormir mal

Nada compensa um sono reparador. Enquanto dormimos, o cérebro dispõe de um tempo para se reorganizar e filtrar as informações. Dormir bem faz parte da higiene mental, mas também da boa saúde. O descanso é fundamental para o corpo e a mente.

Passar a noite “em claro” ou dormir mal afeta o nosso humor. Uma das primeiras manifestações é uma hipersensibilidade, que facilmente se transforma em depressão. Ela se expressa através do desânimo, irritabilidade e falta de energia.

Muitas vezes as dificuldades para dormir são causadas pelos problemas que não foram resolvidos e que se manifestam como ansiedade. Ao mesmo tempo, não descansar adequadamente nos torna mais vulneráveis ​​e torna mais difícil a concentração para resolução dos problemas. Isso forma um círculo vicioso que nos leva à depressão.

3. Descuidar da aparência pessoal

Uma das primeiras manifestações da depressão é o descuido com a aparência pessoal. Isto é um sinal de indiferença consigo si mesmo e com o mundo. Às vezes, são episódios pontuais que se resolvem de forma relativamente rápida. Outras vezes, no entanto, se transformam em uma atitude constante.

É claro que não precisamos nos preocupar exageradamente com o tipo de roupa ou o penteado que usamos. Tomar banho, usar roupas limpas e parecer basicamente arrumado faz parte de uma vida saudável. Isso também se estende ao ambiente, ou seja, dentro da aparência pessoal também se encaixa o cuidado com o espaço onde nos movemos e os objetos que nos rodeiam.

Quando há depressão, tanto a aparência como a ordem do lugar onde vivemos ou trabalhamos passa para um “segundo plano”. As pessoas deixam de lado as suas rotinas básicas de higiene. Da mesma forma, os seus objetos pessoais e móveis são completamente negligenciados. O inverso também é verdadeiro. Cuidar de nós mesmos e organizar o espaço onde vivemos são fatores que melhoram o nosso humor.

A vida nunca está livre de tristezas e dificuldades. Muitas vezes perdemos o interesse em viver e ficamos doentes. Por isso, é importante se cuidar e se proteger, para não permitir que em alguns momentos da vida os sentimentos negativos nos invadam e nos afetem emocionalmente. Adotar hábitos saudáveis e descartar hábitos nocivos é sempre o melhor escudo contra o risco de depressão.








Doente de Brasil : Como resistir ao adoecimento num país (des)controlado pelo perverso da autoverdade



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Eliane Brum


Jair Bolsonaro é um perverso. Não um louco, nomeação injusta (e preconceituosa) com os efetivamente loucos, grande parte deles incapaz de produzir mal a um outro. O presidente do Brasil é perverso, um tipo de gente que só mantém os dentes (temporariamente, pelo menos) longe de quem é do seu sangue ou de quem abana o rabo para as suas ideias. Enquanto estiver abanando o rabo – se parar, será também mastigado. Um tipo de gente sem limites, que não se preocupa em colocar outras pessoas em risco de morte, mesmo que sejam funcionários públicos a serviço do Estado, como os fiscais do IBAMA, nem se importa em mentir descaradamente sobre os números produzidos pelas próprias instituições governamentais desde que isso lhe convenha, como tem feito com as estatísticas alarmantes do desmatamento da Amazônia. O Brasil está nas mãos deste perverso, que reúne ao seu redor outros perversos e alguns oportunistas. Submetidos a um cotidiano dominado pela autoverdade, fenômeno que converte a verdade numa escolha pessoal, e portanto destrói a possibilidade da verdade, os brasileiros têm adoecido. Adoecimento mental, que resulta também em queda de imunidade e sintomas físicos, já que o corpo é um só.

É desta ordem os relatos que tenho recolhido nos últimos meses junto a psicanalistas e psiquiatras, e também a médicos da clínica geral, medicina interna e cardiologia, onde as pessoas desembarcam queixando-se de taquicardia, tontura e falta de ar. Um destes médicos, cardiologista, confessou-se exausto, porque mais da metade da sua clínica, atualmente, corresponde a queixas sem relação com problemas do coração, o órgão, e, sim, com ansiedade extrema e/ou depressão. Está trabalhando mais, em consultas mais longas, e inseguro sobre como lidar com algo para o qual não se sente preparado.

O fenômeno começou a ser notado nos consultórios nos últimos anos de polarização política, que dividiu famílias, destruiu amizades e corroeu as relações em todos os espaços da vida, ao mesmo tempo em que a crise econômica se agravava, o desemprego aumentava e as condições de trabalho se deterioravam. Acirrou-se enormemente a partir da campanha eleitoral baseada no incitamento à violência produzida por Jair Bolsonaro em 2018. Com um presidente que, desde janeiro, governa a partir da administração do ódio, não dá sinais de arrefecer. Pelo contrário. A percepção é de crescimento do número de pessoas que se dizem “doentes”, sem saber como buscar a cura.

Vou insistir, mais uma vez, neste espaço, que precisamos chamar as coisas pelo nome. Não apenas porque é o mais correto a fazer, mas porque essa é uma forma de resistir ao adoecimento. Não é do “jogo democrático” ter um homem como Jair Bolsonaro na presidência. Tanto como não havia “normalidade” alguma em ter Adolf Hitler no comando da Alemanha. Não dá para tratar o que vivemos como algo que pode ser apenas gerido, porque não há como gerir a perversão. Ou o que mais precisa ser feito ou dito por Bolsonaro para perceber que não há gestão possível de um perverso no poder? Bolsonaro não é “autêntico”. Bolsonaro é um mentiroso.


Podemos – e devemos – discutir como chegamos a ter um presidente que usa, como estratégia, a guerra contra todos que não são ele mesmo e o seu clã. Como chegamos a ter um presidente que mente sistematicamente sobre tudo. Podemos – e devemos discutir – como chegamos a ter um antipresidente. Assim como podemos – e devemos – perceber que a experiência brasileira está inserida num fenômeno global, que se reproduz, com particularidades próprias, em diferentes países.

Esse esforço de entendimento do processo, de interpretação dos fatos e de produção de memória é insubstituível. Mas é necessário também responder ao que está nos adoecendo agora, antes que nos mate.

Em 10 de julho, o psiquiatra Fernando Tenório escreveu um post no Facebook que viralizou e foi replicado em vários grupos de Whatsapp. Aqui, um trecho: “Acabei de atender a um homem de 45 anos, negro, sem escolaridade. Nos últimos cinco anos, viu seus colegas de setor serem demitidos um a um e ele passou a acumular as funções de todos. Disse-me que nem reclamou por medo de ser o próximo da fila. Tem sintomas de esgotamento que descambam para ansiedade. Qual o diagnóstico para isso? Brasil. Adoeceu de Brasil. Se eu tivesse algum poder iria sugerir ao DSM (o manual de transtornos mentais da psiquiatria) esse novo diagnóstico. Adoecer de Brasil é a mais prevalente das doenças. Entrei agora na Internet e vi que a reforma da previdência corre para ser aprovada sem sustos. O povo, adoecido de Brasil, permanece inerte. Vai trabalhar sem direito a aposentadoria até morrer de Brasil”.

Não há normalidade nem jogo democrático quando um perverso governa a partir da administração do ódio e da mentira

Alagoano da pequena Maribondo, Fernando Tenório fez residência e atuou na rede pública de saúde mental do Rio de Janeiro. Atualmente, mantém consultório na capital fluminense e atende trabalhadores de um sindicato do setor hoteleiro. O psiquiatra me conta, por telefone, que cresceu muito o número de pessoas que chegavam ao seu consultório com sintomas como taquicardia, desmaios na rua, sinais de esgotamento corporal, dores de cabeça frequentes, sentimentos depressivos. Eram pessoas que estavam objetiva e subjetivamente esgotadas pela precarização das condições de trabalho, como jornada excessiva, acúmulo de funções, metas impossíveis de cumprir, falta de perspectivas de mudança, insegurança extrema. Tinham um “trabalho de merda” e, ao mesmo tempo, medo de perder o “trabalho de merda”, como testemunharam acontecer com vários colegas.

O psiquiatra diz que ele mesmo se descobriu adoecido meses atrás. “Fiquei muito mal, porque me senti quase um traficante de drogas legais. Estava tratando uma crise, que é social, no indivíduo. E, de certo modo, ao dar medicamentos, estava tornando essa pessoa apta a sofrer mais, porque a jogava de volta ao trabalho.” Na sua avaliação, o adoecimento está relacionado à precarização do mundo do trabalho nos últimos anos, acentuada pela reforma trabalhista aprovada em 2017, e foi agravado com a ascensão de um governo “que declarou guerra ao seu povo”. “O Brasil hoje é tóxico”, afirma.

Após a publicação do post, Tenório sentiu ainda mais o nível da toxicidade cotidiana do país: recebeu xingamentos e ameaças. Um dos agressores lembrou que sua filha, cuja foto viu em uma rede social, um dia poderia ser estuprada. A menina é um bebê de menos de 2 anos.

“Tóxico” é palavra de uso frequente de brasileiros ao relatarem o sentimento de viver em um país onde já não conseguem respirar. Na constatação de que o governo Bolsonaro já aprovou 290 agrotóxicos em apenas sete meses, o envenenamento ganha uma outra camada. É como se os corpos fossem um objeto atacado por todos os lados. País que ultrapassou a possibilidade das metáforas, a toxicidade do Brasil abrange todas as acepções.

Cresce nos consultórios os casos de depressão provocados e alimentados pelo contexto político e social

Mas que adoecimento é este que Tenório chama de “doente de Brasil”? Um psicanalista que prefere não se identificar por temer represálias explica que aumentou muito nos consultórios os quadros depressivos provocados pelo momento vivido pelo Brasil, em que especialmente pessoas ligadas à esquerda, mas não necessariamente ao PT, sentem uma total perda de sentido e horizonte. “Para a psiquiatria, a depressão é a tristeza sem contexto. Ou seja, ela é relacionada à estrutura psíquica de cada pessoa, às fundações e alicerces construídos na infância”, explica. “O que temos vivido hoje nos consultórios é o aumento da depressão com contexto, esta que não tem a ver com a estrutura do indivíduo e que nem vai melhorar no divã. Esta em que o uso de medicamentos só vai servir para obscurecer o esclarecimento das questões. Esta que só pode ser sanada por mudanças sociais.”

O rompimento dos laços, como a divisão das famílias provocada pela polarização política, tornou as pessoas ainda mais sujeitas ao adoecimento mental e com menos ferramentas para lidar com ele. Como disse um filósofo, ninguém deixa de dormir porque está tendo uma guerra no outro lado do mundo, com exceção daqueles que vivem a guerra. Com isso, ele queria dizer que as pessoas perdiam o sono muito mais por pequenas dores e preocupações comezinhas com as quais se identificavam, como as relacionadas à família e ao mundo dos afetos, do que por enormes barbáries que ocorriam no outro lado do mundo.

O que os brasileiros testemunharam foi uma inversão: a política, que sempre foi algo do campo público, invadiu o campo privado, passando a ser um fator íntimo, um fator primeiro de identificação. Dias atrás uma amiga presenciou uma conversa em que duas garotas decidiam quais os critérios para dividir apartamento com uma outra. “Não suportaria dividir com uma petista”, disse uma delas. Essa conversa, exceto no caso de militantes mais radicais, dificilmente aconteceria anos atrás: ninguém costumava perguntar qual era a orientação política antes de dividir a casa com alguém.

A eleição, que costumava ser um acontecimento pontual, da esfera pública, tornou-se algo crucial na esfera privada. Do mesmo modo, o inverso também aconteceu. Questões íntimas, como a orientação sexual de cada um, como o que acontece na cama de cada um, passaram a ser discutidas publicamente. Esse fenômeno atingiu fortemente laços que cada um considerava incondicionais, como os familiares, laços com os quais se contava para enfrentar a dureza da vida. E acentuou ainda mais os quadros depressivos e persecutórios, aumentando ansiedade e angústia, corroendo a saúde.

O sofrimento é agravado pela constatação de que as instituições não barram a violência do governo e do governante

Uma psicanalista de São Paulo, que também prefere não se identificar, acredita que o adoecimento do Brasil de 2019 expressa a radicalização da impotência. As pessoas, hoje, não sabem como reagir à quebra do pacto civilizatório representada pela eleição de uma figura violenta como Bolsonaro, que não só prega a violência como violenta a população todos os dias, seja por atos, seja por aliar-se a grupos criminosos, como faz com desmatadores e grileiros na Amazônia, seja por mentir compulsivamente. Não sabem, também, como parar essa força que as atropela e esmaga. Sentem como se aquilo que as está atacando fosse “imparável”, porque percebem que já não podem contar com as instituições – constatação gravíssima para a vida em sociedade. E então passam a sentir-se como reféns – e, seguidamente, a atuar como reféns.

“Como reagimos à violência de alguém como Bolsonaro, que faz e diz o que quer, sem que seja impedido pelas instituições?”, questiona. “Toda a nossa experiência dá conta de que a vida em sociedade é regulada por instâncias que vão determinar o que pode e o que não pode, que têm o poder de impedir a quebra do pacto civilizatório, este pacto que permite que a gente possa conviver. Nesta experiência de que há um regulador, se uma pessoa é racista, ela vai ser processada – e não virar presidente do país. O que vivemos agora, com Bolsonaro, é a quebra de qualquer regulação. E isso tem um enorme impacto sobre a vida subjetiva. Ninguém sabe como reagir a isso, como viver numa realidade em que o presidente pode mentir e pode até mesmo inventar uma realidade que não corresponde aos fatos.”

A documentação das experiências de autoritarismo em diferentes épocas e países costuma relatar o sofrimento físico e psíquico das vítimas, mas geralmente em condições explícitas. Como, por exemplo, um judeu num campo de concentração nazista. Ou uma das mulheres torturadas no Doi-Codi, em São Paulo, durante a ditadura militar do Brasil (1964-1985). Perceber essa violência explícita como violência é imediato. O que a experiência autoritária do bolsonarismo tem demonstrado é o quanto pode ser difícil resistir (também) à violência do cotidiano, aquela que se infiltra nos dias, nos pequenos gestos, na paralisia que vira um modo de ser, nas covardias que deixamos de questionar.

O cotidiano de exceção tem se infiltrado e realizado em milhões de pequenos gestos de autocensura, silêncio e ausência no Brasil

Há milhares, talvez milhões de pequenos gestos de conformação acontecendo neste exato momento no Brasil. Em silêncio. Pequenos movimentos de autocensura, ausências nem sempre percebidas. Uma autora me conta que conseguiu manter seu livro no catálogo da editora sem usar a palavra gênero.... para falar de gênero e sexualidade. Uma diretora me diz que vestiu os corpos de suas atrizes, até então nuas, numa peça de teatro. A professora de uma das mais importantes universidades públicas do país me relata que muitos colegas já deixaram de analisar determinados temas em salas de aula por medo do “poder de polícia” dos alunos, que têm gravado as aulas e se comportado de forma ainda mais violenta que a polícia formal. Um curador de eventos preferiu não fazer o evento. Mudou de assunto. Outro deixou de convidar uma pensadora que certamente levaria bolsocrentes para a sua porta. Nunca saberemos o que poderia acontecer, porque o acontecimento foi impedido para não sofrer o risco de ser impedido.

Há tantos que já preferem “não comentar”. Ou que dizem, simpaticamente: “me deixa fora dessa”. É também assim que o autoritarismo se infiltra, ou é principalmente assim que o autoritarismo se infiltra. E é também assim que se adoece uma população por aquilo que ela já tem medo de fazer, porque antecipa o gesto do opressor e se cala antes de ser calada. E em breve talvez tenha medo também de sussurrar dentro de casa, num mundo em que os aparelhos tecnológicos podem ser usados para a vigilância. Chega o dia em que o próprio pensamento se torna uma doença autoimune. É assim também que o autoritarismo vence antes mesmo de vencer.

Um dos sintomas do cotidiano de exceção que vivemos é a colonização de nossas mentes. Mesmo pessoas que viveram a ditadura militar não têm recordação de algum momento da sua vida em que tenham pensado todos os dias no presidente da República. Bolsonaro administra o horror dos dias, com suas violências e mentiras, de um modo que o torna onipresente. Faça o teste: quantas horas você consegue ficar sem pensar em Bolsonaro, sem citar uma bestialidade de Bolsonaro? É isso o autoritarismo. Mas sobre isso poucos falam.

Bolsonaro encarna a vanguarda messiânica-apocalíptica do mundo

Se Bolsonaro encarna a vanguarda messiânica-apocalítica do mundo, é preciso sublinhar que os brasileiros não estão sós. Um amigo estrangeiro me conta que, desde que Donald Trump assumiu, a primeira coisa que ele faz ao acordar é conferir qual é a barbaridade que o presidente americano escreveu no Twitter, porque sente que isso afeta diretamente a vida dele. E afeta.

Mario Corso, psicanalista e escritor gaúcho, aponta que não é possível pensar no que ele chama de “ethos depressivo” deste momento fora do contexto do Ocidente. “Veja o Reino Unido. O novo primeiro-ministro (referindo-se ao pró-Brexit Boris Johnson) é um palhaço. E eles já tiveram Churchill!”, exemplifica. “O problema, no Brasil, é que além de toda a crise global, elegemos um cretino para presidente”, diz o psicanalista. “O que assusta é que não há freios para impedi-lo. E, assim, ele segue atacando os mais frágeis. Como Bolsonaro é covarde, ele não engrossa com os maiores que ele.”

Boris Johnson não chega a ser um Donald Trump. E nem Donald Trump chega a ser um Jair Bolsonaro. Mas a diferença maior está na qualidade da democracia. Tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido, as instituições têm conseguido exercer o seu papel. No Brasil, não chega a ser perda total – ou não bastou (ainda) “um cabo e um soldado” para fechar o STF, como sugeriu o futuro possível embaixador do país nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro, o garoto zerotrês. Mas a precariedade – e com frequência a omissão – das instituições – quando não conivência – são evidentes. “Enquanto Bolsonaro não consegue uma ditadura total, porque isso ele quer, mas ainda não conseguiu, ele antecipa a ditadura pelas palavras”, diz Corso. “Bolsonaro usa aquilo que você definiu como autoverdade para antecipar a ditadura. Os fatos não importam, o que ‘eu’ digo é o que é.”

“A guerra acontece quando a palavra, como mediadora, se extinguiu”

Para Rinaldo Voltolini, professor de psicanálise da Universidade de São Paulo, a autoverdade é a amputação da palavra no sentido pleno. “Este é um grande disparador do sofrimento das pessoas, ao constatarem que estão fora no nível mais importante. Não é que você está fora porque não tem uma casa ou um carro, hoje você está fora das possibilidades de leitura do mundo. O que você diz não tem valor, não tem sentido, não tem significado. É como se, de repente, você já não tivesse lugar na gramática”, diz o psicanalista. “O que é a guerra? A guerra acontece quando a palavra, como mediadora, se extinguiu. Isso acontece entre duas pessoas, entre países. Sem a mediação da palavra, se passa diretamente ao ato violento".

A autoverdade, como escrevi neste espaço, determinou a eleição de Bolsonaro. E seguiu moldando sua forma de governar pela guerra, o que implica a destruição da palavra. Assim, desde o início do governo, Bolsonaro tem chamado os órgãos oficiais de mentirosos sempre que não gosta do resultado das pesquisas. Como quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostrou que o número de desempregados tinha aumentado no seu governo.

Nos últimos dias, porém, o antipresidente levou a perversão da verdade, esta que torna a verdade uma escolha pessoal, à radicalidade. Decidiu que a jornalista Míriam Leitão não foi torturada – e ela foi. Insinuou que o pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil teria sido executado pela esquerda, quando ele desapareceu por obra de agentes do Estado na ditadura militar. Decidiu que ninguém mais passa fome no Brasil – o que é desmentido não só pelas estatísticas como pela experiência cotidiana dos brasileiros. Decidiu que os dados que apontaram a explosão do desmatamento na Amazônia, produzidos pelo conceituado Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, eram mentirosos. Isso porque apenas no mês de julho de 2019 foi destruída uma área de floresta maior do que a cidade de São Paulo, e o índice de desmatamento foi três vezes maiores do que em julho do ano passado. E Bolsonaro decidiu ainda que “só os veganos que comem vegetais” se importam com o meio ambiente.

Bolsonaro controla o cotidiano porque fora de controle. Bolsonaro domina o noticiário porque criou um discurso que não precisa estar ancorado nos fatos. A verdade, para Bolsonaro, é a que ele quer que seja. Assim, além da palavra, Bolsonaro destrói a democracia ao usar o poder que conquistou pelo voto para destruir não só direitos conquistados em décadas e todo o sistema de proteção do meio ambiente, mas também para destruir a possibilidade da verdade.

O que vivemos não é mal-estar, mas horror

“Narrar a história é sempre o primeiro ato de dominação. Não é por acaso que Bolsonaro quer adulterar a história. A história da ditadura é construída por muitos documentos, é uma produção coletiva. Mas ele decide que aconteceu outra coisa e não apresenta nenhum documento para comprovar o que diz”, analisa Voltolini. “Não é que estamos vivendo o mal-estar na civilização. Isso sempre houve. A questão é que, para ter mal-estar é preciso civilização. E hoje, o que está em jogo, é a própria civilização. Isso não é da ordem do mal-estar, mas da ordem do horror.”

Como enfrentar o horror? Como barrar o adoecimento provocado pela destruição da palavra como mediadora? Como resistir a um cotidiano em que a verdade é destruída dia após dia pela figura máxima do poder republicano? Rinaldo Voltolini lembra um diálogo entre Albert Einstein e Sigmund Freud. Quando Einstein pergunta a Freud como seria possível deter o processo que leva à guerra, Freud responde que tudo o que favorece a cultura combate a guerra.

Os bolsonaristas sabem disso e por isso estão atacando a cultura e a educação. A cultura não é algo distante nem algo que pertence às elites, mas sim aquilo que nos faz humanos. Cultura é a palavra que nos apalavra. Precisamos recuperar a palavra como mediadora em todos os cantos onde houver gente. E fazer isso coletivamente, conjugando o nós, reamarrando os laços para fazer comunidade. O único jeito de lutar pelo comum é criando o comum – em comum.

É preciso dizer: não vai ficar mais fácil. Não estamos mais lutando pela democracia. Estamos lutando pela civilização.


Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. 

Site: desacontecimentos.com
Email: elianebrum.coluna@gmail.com
Twitter: @brumelianebrum
Facebook: @brumelianebrum







“ Você pode ser o que quiser ”, diga isso a seu filho e o perderá para a depressão.



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Luciano Cazz

Nossa liberdade acaba quando começa a liberdade do outro. Esta é uma máxima fundamental para que a vida em sociedade seja possível. Os grandes desencontros do mundo acontecem exatamente quando um acha que pode mais que o outro. Quando ser a si mesmo significa ser mais do que qualquer um. Se todos fossem o que desejam ser, não existira pobreza, feiura, imposto de renda, polícia, quiça, vida no planeta que, do caos, provavelmente viraria poeira.

O que precisamos ensinar para a nova geração é exatamente o contrário. Ninguém pode ser o que quiser. Vivemos em um mundo onde o bom senso prima pela paz. Somos feitos de sentimentos bons e de um voraz ardor para o rancor e a raiva. E é aí que mora o perigo. Se somos o que a gente quer, somos também nossas crueldades, nossas vinganças, nossa sujeira, nossas fantasias mais esdrúxulas e nossos desejos mais desumanos. Que, na verdade, são bem humanos.

Por isso, devemos ser, sim, o melhor que temos dentro de nós. E não o que a gente quer, porque, nosso instinto é primitivo e nosso querer não vê regras, nem limitações. Nossas vontades não estão inseridas em uma corte que luta pelo bem contra o mal. Elas simplesmente são sem qualquer julgamento. E a racionalidade que vem para nos dizer: Espera aí! Você não pode ser o que quiser.

E a criança que não aprender isso crescerá frustrada e se tornará um adulto infeliz, provavelmente, depressivo. Porque, todos os dias, alguém vai lembrá-lo que ele não é tão importante quanto gostaria de ser, tão competente quando pensa que é, tão bonito quanto quem lhe dera que fosse. Todos os dias, a vida vai jogar na cara dele suas limitações e, muitas vezes, dirá em alto e bom tom: Você está muito longe de ser o que quer. E, então, não haverá outra realidade do que a inconformidade que o levará a conflitos, vícios, rebeldias. A uma vida destrutiva ou autodestrutiva e muito, mas muito infeliz. Sem esquecer que a principal causa do suicídio é, exatamente, não ser o que se quer. 

Pessoas que não sabem respeitar limites, não se adaptam a sociedade, são incapazes de terem relacionamentos saudáveis e, principalmente, de enxergar aquilo que o outro deseja ser. A filosofia “posso ser o que eu quiser” é vivida por violadores que querem ser garanhões e não respeitam o não das mulheres. Por assassinos que querem ser o que quiserem e destroem a vida daqueles que entram em seu caminho. Querer ser o que quiser é a máxima dos políticos corruptos que desejam ser ricos e por isso deixam o povo morrendo nas filas dos hospitais, passando fome, etc.

Portanto, ensine seus filhos a se frustrarem. É um dos maiores bens que você pode dar a eles. E, mais do que isso, mostre aos seus pequeninos que, além da frustração fazer parte da vida, levantar, sacudir a poeira e seguir em frente também faz. É assim que conquistamos nossos sonhos, nosso espaço e o respeito dos outros. Deixe-o com a certeza de que, mesmo ele não sendo um monte de coisas que gostaria de ser, você ainda estará com ele, por ele, amando-o incondicionalmente não importando os limites que a vida lhe imponha.

E, então, em vez de se tornar um frustrado e cair em depressão por nunca se tornar tudo aquilo que gostaria, seu filho crescerá com a sábia maturidade de entender que ter sucesso na vida significa não ser tudo o que se quer e, ainda assim, ser muito feliz.





A bela mensagem de Stephen Hawking contra a depressão



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Conheça neste artigo a inspiradora mensagem de Stephen Hawking contra a depressão, ensinamentos de uma das mentes mais privilegiadas do nosso tempo. Além de suas importantes contribuições para o mundo da física e a origem do universo, a história da vida dele parece um conto de ficção.

Em 7 de janeiro de 2016, Stephen Hawking deu uma palestra na Royal Society.Seu conteúdo foi transmitido pela Internet. Ao contrário do que muitos poderiam pensar, o tema central do seu discurso não foi o mistério do Big Bang, nem da luz ou do espaço. Hawking decidiu falar sobre a depressão e outros problemas emocionais.

“ Não importa o quão difícil a vida possa parecer. Porque perde-se a esperança se não se pode rir de si mesmo e da vida como ela é.”

-Stephen Hawking-

Sua mensagem tem um enorme valor. Não só porque vem de um dos cérebros mais lúcidos do nosso tempo, mas principalmente porque ele próprio é um exemplo. Hawking viveu uma vida muito mais dura do que a média. No entanto, permaneceu firme na luta por seus objetivos e sonhos. É por isso que Stephen Hawking tem grande autoridade para falar de tristeza.

Biografia de Stephen Hawking

Stephen Hawking nasceu em uma família que apreciou profundamente o valor do conhecimento. Seu pai era um biólogo de prestígio. Stephen era o filho mais velho e ele também tinha duas irmãs e um irmão adotado. Quando criança, era um bom aluno, mas nunca foi um dos mais brilhantes. Terminou de estudar ciências naturais em Oxford e fez especialização em física.




Aos 21 anos, Stephen Hawking foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica ou ELA. Uma doença degenerativa do tipo neuromuscular. Ele estava prestes a se casar e os médicos não lhe deram mais de 2 ou 3 anos de vida. No entanto, contra todas as probabilidades, hoje ainda está vivo, aos 76 anos, apesar de estar perdendo cada vez mais habilidades motoras.

Mesmo assim, Hawking levou uma vida feliz e produtiva. Ele recebeu 24 prêmios por seu trabalho. Entre eles, a Medalha Albert Einstein e o Prêmio Príncipe das Astúrias. Suas principais contribuições para a física estão relacionadas à conceituação e descrição dos buracos negros.




A mensagem de Stephen Hawking contra a depressão

A vida não foi fácil para Stephen Hawking. Ele foi forçado a nadar contra a corrente devido à sua doença. No entanto, a perda progressiva de suas capacidades físicas não o impediu de continuar com seu trabalho, com sua vida familiar e com seu papel de grande farol no mundo científico e humano. Ele sempre parece feliz. Ele brinca e está interessado no destino dos outros.

Em sua palestra de 2016 ele abordou particularmente as pessoas deprimidas. Fazendo uma comparação com a física, este cientista disse: “A mensagem dessa conversa é a de que os buracos negros não são tão negros quanto dizem. Eles não são prisões eternas como alguma vez se pensou. As coisas podem sair de um buraco negro de ambos os lados e possivelmente em outro universo. Então, se você entrar em um buraco negro, não desista: há uma saída”.

Sem dúvida ele estava fazendo um chamado à esperança. Suas palavras convidam a não desistir porque sempre há uma saída. Ele também disse que desde o início de sua juventude teve que viver atado à uma cadeira de rodas, sem poder levar uma vida comum, como a dos outros.

Alguns conselhos valiosos

Stephen Hawking é a prova viva de que o importante não é o evento que acontece, mas a atitude escolhida para enfrentá-lo. Na mesma palestra, ele acrescentou: “Apesar da doença que sofro, tive muita sorte em quase tudo. Tive muita sorte de trabalhar na teoria física em um momento fascinante, e esta é uma das poucas áreas onde a minha deficiência não foi uma desvantagem”.




A mensagem é clara. Seu grande ensinamento não é se concentrar em tudo o que a vida nos impede de fazer, e sim no contrário. O objetivo é aproveitar ao máximo o que você tem, o que você pode fazer, o que você pode apreciar. Certamente você passou por muitos momentos de desespero. O importante é que conseguiu superá-los e tornar-se o que é hoje.

Hawking também falou da importância de aceitar a realidade como ela é.Ressaltou que não é bom se deixar levar pelas emoções negativas. Isso só piora tudo e irá impedi-lo de ser feliz com o que você tem. Uma multidão o aplaudiu nessa ocasião. Agora, suas palavras ressoam e certamente têm eco para aqueles que precisam de uma voz de incentivo.