Mostrando postagens com marcador Poder Judiciário. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Poder Judiciário. Mostrar todas as postagens

Dos apequenados e dos micróbios: uma digressão sobre o Judiciário



Imagem relacionada



Marcos Danhoni, professor titular da Universidade Estadual de Maringá

“O orgulho dos pequenos consiste em falar sempre de si próprios; o dos grandes em nunca falar de si”. Voltaire

Voltaire em seu excelente conto MICRÔMEGAS nos relata a curiosa visita de Micrômegas, o Gigante de Sírio, e do Anão de Saturno (ambos seres excepcionalmente gigantes para os habitantes da Terra) em visita ao nosso nada amável planeta. Enquanto passeiam por um dos oceanos terrestres, as duas criaturas colossais encontram um navio cheio de supostos filósofos.

Os dois seres gigantescos, com o auxílio de um diamante, usam-no como um microscópio e, ajustando os sentidos visuais e auditivos, começam a estabelecer um diálogo com os insetos filosóficos. De início tiveram dificuldade em compreender que naquele corpo tão minúsculo pudesse caber uma alma.

Voltaire, em seu conto, eleva à altura dos dois gigantes a soberba pseudo-intelectual daqueles insetos dito pensantes. Pergunta-lhes acerca do conhecimento científico da natureza, da astronomia, da física e todos respondem como num jogral. Perplexos por saberes tão partilhados, pergunta-lhes sobre o que conhece do que tem dentro de si:

Dizei-me o que é a vossa alma e como formais as vossas idéias. Os filósofos falaram todos ao mesmo tempo, como antes, mas foram de diferentes opiniões. O mais velho citava Aristóteles, outro pronunciava o nome de Descartes, este o de Malebranche, aquele o de Leibnitz, aqueloutros o de Locke. Um velho peripatético disse em voz alta com toda a segurança: A alma é uma enteléquia, razão pela qual tem o poder de ser o que é. É o que declara expressamente Aristóteles, página 633 da edição do Louvre: “entelequia esti” etc.

Não entendo muito bem o grego – disse o gigante.

Nem eu tampouco – replicou o inseto filosófico.

— Por que então – tornou o siriano – citais um certo Aristóteles em grego?

É que – replicou o sábio – cumpre citar aquilo de que não se compreende nada na língua que menos se entende.

A soberba pseudo-filosófica dos insetos no navio atinge níveis tão estratosféricos que espanta o siriano e o anão de Saturno. O delicioso conto se encerra assim:

O siriano retomou os pequenos insetos; falou-lhes de novo com muita bondade, embora no íntimo se achasse um tanto agastado de ver que os infinitamente pequenos tivessem um orgulho quase infinitamente grande. Prometeu-lhes que redigiria um belo livro de filosofia, escrito bem miudinho, para seu uso, e que, nesse livro, veriam eles o fim de todas as coisas. Com efeito, entregou-lhes esse volume, que foi levado para a Academia de Ciências de Paris. Mas, quando o secretário o abriu, viu apenas um livro em branco. – Ah! bem que eu desconfiava… – disse ele.

Ao analisarmos este conto, nada como comparar a crítica voltairiana ao julgamento do TRF4 com a soberba de três juízes que, ao final combinaram veredictos e a matemática dosimétrica da pena para que não caísse na prescrição e, assim, pudesse corrigir o “erro de Moro” que perderia a chance de prender Lula.

Os três insetos deste Tribunal de Exceção, com nomes que nos lembram lugares tenebrosos da Europa de 1930 a 1945 (Itália fascista e Alemanha nazista), agiram com a soberba de um juridiquês que não se sustenta na razão e nos argumentos da prova, uma vez que prova nunca houve.

Não bastasse o acachapante 3 X 0, num julgamento não contra Lula, mas contra o que ele representa, o Povo, o STJ acaba de negar um habeas corpus preventivo ao ex-presidente Lula, tudo dentro de um script previamente elaborado com o Supremo e com tudo dentro, segundo o inseto político, Romero Jucá.

No mesmo dia, impulsionada por um Editorial do orwelliano jornal O GLOBO que pede a prisão imediata de Lula, a Presidente do STF, disse que é contra uma revisional da prisão em 2ª instância. Segundo ela, o “STF não pode se apequenar”.

Esta fala conduz a Ministra e todo o putrefato sistema judicial para o navio dos pseudo-filósofos de Voltaire folheando um livro em que a Lei deveria estar escrita, mas encontra-se em branco para eles a escreverem da forma que bem entendem. A Ministra sabe que o STF se apequenou ao conceder a condição de Ministro a um acusado como Moreira Franco ou restituir direitos políticos àquele que hoje é considerado o político mais corrupto do Brasil: Aécio Neves.

Sim, Sra. Carmem Lúcia, vocês se apequenam todas as vezes que interpretam a Lei segundo o nome que consta na capa dos processos. Vocês se reduziram a micróbios e, como todos sabemos, pela microbiologia, seres ínfimos e deletérios assim são suficientes para destruir um organismo sadio e levá-lo à morte lenta, mas inexorável e dolorosa!

Delenda microbium!!!



Postado em DCM em 31/01/2018



Isso não é processo, é golpe preventivo contra Lula



Resultado de imagem para Lula no nordeste


O Brasil inova: o Poder Judiciário articula um golpe contra Lula antes que ele vença as eleições e assuma. 

Isso que estão chamando indevidamente de Processo do Triplex é um engodo, biombo de um golpe jurídico que ninguém disfarça mais", afirma o jornalista Alex Solnik, sobre a tramitação a jato do processo de Lula na segunda instância.

 "É o processo mais claramente político e parcial da história da Justiça brasileira", diz ele.

 "Como disse Fidel, a história absolverá Lula, mas quando isso acontecer o Brasil estará irreconhecível".

Leia mais no link abaixo :










Berço de ouro, mentalidade autoritária : a “árvore genealógica” da Lava Jato





Publicado no Brasil de Fato

Rafael Braga foi o único brasileiro preso nas manifestações de junho de 2013. Negro, pobre e morador de favela, o ex-catador de material reciclável foi condenado a 11 anos e três meses de prisão pelo suposto porte de maconha, cocaína e material explosivo. Quatro anos depois, não resta comprovado que, naquele dia, Rafael levava consigo algo além de produtos de limpeza. Ele continua preso, à espera de um novo julgamento.

Breno Borges, filho da desembargadora Tânia Borges, teve melhor sorte. Flagrado no dia 8 de abril com 129 quilos de maconha e 270 munições, além de uma arma sem autorização, o jovem branco foi julgado e solto em menos de uma semana. A mãe dele, presidenta do Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso do Sul, é investigada por favorecimento na libertação do filho.

Os vínculos familiares são determinantes para se entender as dinâmicas dos campos político e judiciário no Brasil. Professor do Departamento de Ciência Política e Sociologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Costa de Oliveira afirma que a origem social dos indivíduos está relacionada a uma série de privilégios, hábitos e visões de mundo compartilhadas.

A última pesquisa dele foi publicada esta semana na revista Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP). O artigo “Prosopografia familiar da operação Lava Jato e do ministério Temer” foi assinado em conjunto com outros três pesquisadores: José Marciano Monteiro, Mônica Helena Harrich Silva Goulart e Ana Christina Vanali.

De pai para filho

O texto apresenta uma biografia coletiva do juiz de primeira instância Sérgio Moro, dos 14 membros da força-tarefa nomeados pela Procuradoria-Geral da República e de oito delegados da Polícia Federal que atuam no caso, além de ministros indicados pelo presidente golpista Michel Temer (PMDB).

O aspecto mais relevante do artigo diz respeito aos vínculos da operação Lava Jato com a elite econômica do Paraná. “Este seleto grupo de indivíduos forma parte do 1% mais rico no Brasil, e muitos até mesmo do 0,1% mais rico em termos de rendas”, descrevem os pesquisadores.




Políticos defensores da ditadura civil-militar e indivíduos que atuaram no sistema de justiça durante o regime também aparecem na “árvore genealógica” da Lava Jato. O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, por exemplo, é “filho do ex-deputado estadual da ARENA Osvaldo dos Santos Lima, promotor, vice-prefeito em Apucarana e presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, em 1973, no auge da ditadura, quando as pessoas não podiam votar e nem debater livremente”, segundo o texto. O pai de Carlos Fernando, assim como os irmãos, Luiz José e Paulo Ovídio, também atuaram como procuradores no Paraná.

O professor Ricardo Costa de Oliveira conversou com a reportagem do Brasil de Fato e debateu os resultados da pesquisa. Confira os melhores momentos da entrevista:

Brasil de Fato – O que há em comum na biografia de todos os personagens da operação Lava Jato analisados no artigo?

Ricardo Costa de Oliveira – Todos eles pertencem à alta burocracia estatal. Há alguns, da magistratura ou do Ministério Público, que ganham acima do teto [salarial do funcionalismo público, equivalente a R$ 33,7 mil por mês]. Com suas esposas e companheiras, eles estão situados no 0,1% mais ricos do país.

Quase todos são casados com operadores políticos, ou do Direito. Você só entende os nomes entendendo a família. É uma unidade familiar que opera juridicamente, opera politicamente.

O juiz de primeira instância Sérgio Moro é um desses exemplos?

O juiz Moro é filho de um professor universitário, mas também é parente de um desembargador já falecido, o Hildebrando Moro. A mulher do Moro, a Rosângela [Wolff], é advogada e prima do Rafael Greca de Macedo [prefeito de Curitiba]. Ela pertence a essa importante família política e jurídica do Paraná, que é o grande clã Macedo, e também é parente de dois desembargadores.

O artigo ressalta as coincidências entre a Lava Jato e o caso Banestado [que investigou o envio ilegal de 28 bilhões de dólares ao exterior]. Como isso ajuda a entender o papel da força-tarefa e do Judiciário nas investigações sobre os contratos da Petrobras?

Boa parte deles também estiveram no [caso] Banestado. Foi uma operação que desviou muito dinheiro e apresentou uma grande impunidade, ao contrário de outros momentos. Até porque era outra conjuntura, outros atores políticos que foram investigados.




O [procurador] Celso Tres era um dos maiores especialistas nessas questões. Por que ele não foi convidado para entrar na Lava Jato? Porque ele não tinha a homogeneidade político-ideológica que essa equipe tem. É uma equipe que foi preparada para essa tarefa, não apenas jurídica, mas também política – que na nossa leitura, é a perseguição, lawfare [“guerra jurídica”] à esquerda, ao Partido dos Trabalhadores, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em relação aos vínculos com a ditadura civil-militar [1964-1985], quais foram as constatações mais relevantes da pesquisa?

Os operadores da Lava Jato, bem como os jovens ministros do governo Temer, são de famílias políticas. E os pais trabalharam, defenderam, reproduziram e atuaram na ditadura militar. Os filhos herdam a mesma mentalidade autoritária, o elitismo, o ódio de classe contra o PT.

Como pertencem ao 1% mais rico, eles sempre tiveram uma vida muito luxuosa e beneficiada [pelas condições econômicas]. Estudaram em escolas de elite, vivem em ambientes luxuosos, estudaram Direito, depois fizeram concursos, com muito sucesso. Quando você tem pais no sistema, você tem facilidades.

Por que incluir na mesma pesquisa os operadores da Lava Jato e os ministros nomeados por Michel Temer?

Há uma conexão, no sentido de que é a mesma ação política da classe dominante. Eles operam em rede. Há uma coordenação.

Por isso que é uma prosopografia [biografia coletiva]. Eles são originários da mesma classe social, do mesmo círculo social, e eles transitam nos mesmos ambientes empresariais, elitizados.

O juiz Sérgio Moro, por exemplo: onde é que ele atua quando está em público? Em grandes publicações da mídia dominante burguesa, quando ele está muitas vezes abraçado, cumprimentando efusivamente os membros do golpe [de 2016]. Você vai ver um juiz ou um membro da Lava Jato num acampamento sem-terra? Ou num órgão alternativo da mídia, num sindicato de trabalhadores de categorias braçais e manuais? Jamais.

Tudo em família

Coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol é filho de outro procurador de Justiça, Agenor Dallagnol. O procurador Andrey Borges de Mendonça, que também atua na operação, é irmão do procurador Yuri Borges de Mendonça. Outro membro da força-tarefa, Diogo Castor de Mattos, é filho de um ex-procurador de Justiça, Delivar Tadeu de Mattos. O tio de Diogo, Belmiro Jobim Castor, foi secretário de Estado várias vezes no Paraná nos anos 1970 e 1980.

O escritório de advocacia Delivar de Mattos & Castor é dos mais conhecidos do Paraná. Nele também atuam os irmãos Rodrigo Castor de Mattos e Analice Castor de Mattos.

Os vínculos familiares de Gebran Neto

Amigo e admirador confesso de Sérgio Moro, João Pedro Gebran Neto é um dos desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Ele será o relator do processo conhecido como “caso triplex”, em segunda instância, cujo réu é o ex-presidente Lula (PT).

Segundo pesquisa do professor Ricardo Costa de Oliveira, o desembargador que atua no Rio Grande do Sul é filho de Antonio Sebastião da Cunha Gebran e neto de João Pedro Gebran, ex-diretores-gerais da Assembleia Legislativa do Paraná nos anos 1950 e 1970.

O casamento de João Pedro Gebran, em 1924, foi o acontecimento que abriu as portas da família junto à classe dominante paranaense. Foi quando eles passaram a ter relações com a antiga rede social e política de sua esposa, Francisca Cunha, filha do coronel Francisco Cunha, prefeito da Lapa na República Velha.

O avô do coronel Cunha era o comendador Manuel Antonio da Cunha, primeiro prefeito da Lapa, em 1833, casado com a filha do 1º capitão-mor da Lapa, o português Francisco Teixeira Coelho. Todas, famílias com origens históricas no latifúndio escravista, aparentadas entre si – tais como a família Braga, do ex-governador Ney Braga, e a família Lacerda, do ex-reitor e ministro da Educação do início da ditadura, Flávio Suplicy de Lacerda.



Postado em DCM em 11/08/2017



O dono do posto lava jato



Resultado de imagem para operação lava jato e fascismo






Resultado de imagem para operação lava jato e fascismo



Imagem relacionada



Resultado de imagem para operação lava jato e fascismo



Resultado de imagem para operação lava jato e Estados Unidos fbi



Dono de posto denuncia delegado 

Marcio Anselmo ! 



Anselmo.jpg

O delegado Anselmo é um veterano do Banestado (Reprodução: G1)





" Ele disse que me envolveria com o narcotráfico..."





O delegado Márcio Anselmo é da categoria dos delegados da Polícia (sic) Federal (sic) que apoiou o candidato Aécio gângster e Mineirinho: Aécio, o queridinho dos operadores da Lava Jato.

O delegado Anselmo - mostrou a Carta Capital - é suspeito de forjar provas.

O delegado Anselmo honra jornalistas com processos judiciais - que perderá, irremediavelmente.

O delegado Anselmo faz parte da equipe que investigou o Banestado, onde se destacaram ele, o Imparcial Moro de Curitiba, o Procurador Santos Lima - e o doleiro Youssef, que dela se beneficiou, como se beneficiou da Lava Jato...

(Essa turma de funcionários públicos tem uma certa queda pelo Youssef: se necessário lhe concederá uma terceira delação premiada?)

Outro notável membro da equipe de delegados da Lava Jato é o inesquecível Moscardi Grillo, responsável pela criminosa operação Carne Fraca - estará ele ainda em atividade?

(Grilo é outro que processa jornalistas...)

O delegado Anselmo se inscreve, agora, num dos capítulos sinistros da gênese da Lava Jato:


O doleiro Carlos Habib Chater foi o primeiro preso da Operação Lava Jato, após busca e apreensão no seu posto de combustíveis em 2014. O dono do Posto da Torre, localizado em Brasília, cumpriu um ano e sete meses de prisão em regime fechado e ficou um ano no semiaberto. Chater optou por não fazer delação premiada, mas afirma em entrevista ao UOL ter sido "ameaçado" pelo ex-chefe da Polícia Federal, Márcio Anselmo, para delatar.

"Ele disse que me envolveria com o narcotráfico, que eu ficaria mais de 20 anos na cadeia, que me livraria [da prisão] em uma semana caso eu dissesse quem eram os agentes público ou os políticos que recebiam [propina] aqui [no Posto da Torre]", conta. Procurado pelo UOL, o delegado Márcio Anselmo não se manifestou sobre as acusações de Chater (veja mais informações abaixo).

A PF apontou o Posto da Torre como o "caixa eletrônico da propina". O estabelecimento começou a ser investigado em 2008, após suspeita de lavagem de dinheiro do ex-deputado José Janene (morto em 2010). Chater nega ilícitos.

Ele cumpre pena em liberdade desde outubro, quando voltou a administrar o 'Posto da Lava Jato', como ficou conhecido. O empresário recusa a alcunha de doleiro, mas reconhece ter operado ilegalmente na conversão de moedas na década de 1980.

A Polícia Federal interceptou conversas dele com o doleiro Alberto Youssef sobre suposta lavagem de dinheiro. Chater exalta o "amigo", mas nega ter operado propina de Youssef.

Leia abaixo a entrevista de Chater ao UOL:

Nos anos 1990, o senhor foi investigado por operações ilegais de câmbio e lavagem de dinheiro. A acusação voltou com a Lava Jato. Por quê?

[Risos] Eu tenho que dar risada, porque até hoje eles não conseguiram mostrar onde houve a lavagem de dinheiro. Nem na lavanderia nem na casa de câmbio. Inclusive, essa questão de doleiro é porque, no Brasil, depois que você ganha uma pecha ninguém tira. Eu não fazia câmbio há simplesmente 20 anos. Em 1991, quanto tive o problema, isso a mídia também não coloca, eu era credenciado pelo Banco Central [para ter casa de câmbio]. O BC simplesmente retirou o credenciamento sem nunca ter me avisado. Aí me prenderam em flagrante, quando eu estava exercendo uma atividade que imaginava lícita. Isso também ninguém nunca colocou [na imprensa]. Tanto é que eu não tive uma condenação. Fui absolvido [na verdade, prescreveu]. O BC até hoje nunca apresentou qualquer assinatura que eu tivesse ciência de que tinha sido descredenciado.

Por que o BC lhe prejudicaria? 

Foi uma questão muito mais política do que técnica. Na época envolvia o ex-senador Romeu Tuma [morto em 2010], que era conhecido da família. Havia um problema dentro da Polícia Federal e acharam por bem que o compadre do Tuma, que era meu pai, talvez deveria pagar o pato por uma briga política.

Como explica a acusação da PF de que 375 contas suas teriam movimentado ilegalmente R$ 10,8 milhões entre 2007 e 2014?

Como eles podem ter provado que eu lavei tanto dinheiro, se fui condenado por uma lavagem de R$ 460 mil numa das sentenças? Numa lavagem de US$ 120 mil [convertidos nos R$ 460 mil] que só o juízo de primeira instância localizou e criou o mecanismo para dizer que foi lavagem. Cadê o restante do dinheiro? Cadê essas lavagens, onde estão? Por que talvez a mídia não foca um pouco mais nessas questões de pegar um processo e perder um pouco mais tempo para dar uma analisada? Acho que é uma questão até interessante.

Mas o juiz Sérgio Moro o condenou no total a 9 anos e 9 meses, pena confirmada em 2ª instância.

Foi uma condenação completamente injusta. Acho que o Brasil está combatendo ilegalidades com outras ilegalidades. Mas cumpri o que tinha de cumprir [1 ano e 7 meses em regime fechado e 1 ano no semiaberto]. Agora é olhar para frente.


A Lava Jato exagera, é isso que quer dizer?

Eu entendo a sanha por Justiça. Mas não devemos, como se diz por aí, fazer Justiça com as próprias mãos. Eu acho que a Lava Jato, em princípio, começou com esse foco. Tive duas sentenças condenatórias: uma de 5 anos e 6 meses; outra de 4 anos e 9 meses. Não sei qual das duas foi corrigida no tribunal [de 2ª instância] e reduzida em 3 meses. Eu gostaria de saber quem vai pagar esses três meses que eu fiquei a mais. Mas aí não tem quem cobre isso, nem a mídia [risos].

Se sente injustiçado?

O juiz Sérgio Moro conseguiu me manter numa prisão preventiva por 570 dias. Essa é a nossa Justiça.

A PF chamou seu posto 'caixa eletrônico da propina'. Políticos buscavam dinheiro lá?

Eles não conseguiram apontar nem comprovar nenhum político que tenha recebido aqui. O que acontecia, isso está nos autos, [é que] eu tinha operações de crédito com o senhor Alberto Youssef. Eu tomava dinheiro emprestado [do Youssef] e, na hora de devolver, ele ou indicava algumas contas ou pessoas que vinham aqui receber. Para onde ia esse dinheiro eu não posso lhe dizer. O que eu posso afirmar é que não conheço nenhum desses políticos envolvidos. Agora, se esse dinheiro foi para algum político, foi por intermédio de algum motorista ou coisa assim. Eu nunca entreguei e nenhum político disse que recebeu de mim. Nem a polícia nem o Ministério Público provaram que eu tenha tido contato com qualquer político.


Posto da Torre, na região central de Brasília, onde teve início a Operação Lava Jato em 2014 (Créditos: Pedro Ladeira/Folhapress)


Isso não era lavar dinheiro para o Youssef?

O senhor Alberto Youssef, quando eu saldava minhas dívidas com ele, ou me indicava contas para eu depositar o dinheiro que era dele ou pedia que em entregasse para algumas pessoas. Ele indicava: 'Vai chegar uma pessoa chamada João da Silva, por exemplo. Por favor, entregue a ele R$ 50 mil reais num envelope do dinheiro que você está me devolvendo'. Se houve alguma lavagem, ela foi feita do senhor Alberto para trás. Não no Posto da Torre.

Mas o ex-gerente do posto, Ediel Viana da Silva, disse à PF ter visto políticos pegando dinheiro vivo. Como explica isso?

Quando [Ediel] percebeu que ficaria [preso] mais tempo do que deveria, ele tentou uma delação. Ele estava preso comigo na mesma cela no Presídio de São José dos Pinhais e o retiraram para fazer a famigerada delação premiada. Ele ficou na [sede da] PF [em Curitiba] por alguns meses e, no final, o Ministério Público não teve como acatar a delação dele porque não havia nenhum tipo de prova que corroborasse com o que estava dizendo. O que aconteceu com o senhor Ediel, que é um mentiroso, é que quando começou a ouvir o nome dos políticos escolheu um ou dois, que eu não sei quem são, para dizer que tiveram reuniões comigo e logo depois começou a sair dinheiro. Mentira. O dinheiro começou a sair muito antes dele trabalhar comigo. Ele inventou uma história, não conseguiu provar e a delação não foi homologada. Foi o desespero de um cara que estava preso. Esse é o modus operandi da Lava Jato: minar o cara que está lá dentro para falar até o que ele não fez, quando ele vislumbra a possibilidade de sair da cadeia. Infelizmente, a delação premiada como está no Brasil é um tiro no pé, porque está se combatendo uma ilegalidade com outra ilegalidade. O povo brasileiro está batendo palmas para isso. Não estou dizendo que a delação é ilegal, mas a maneira ou as condições que se colocam os presos. Repito: eu fiquei 500 e tantos dias preso numa preventiva sem ser julgado. Isso é um estupro.

O que significa esse 'o dinheiro saía'. Saía para onde e por quê?

Eu sempre tive operações [financeiras] com o senhor Alberto [Youssef], muito antes de conhecer o senhor Ediel.

O senhor era operador do Yousseff?

Não. Nós sempre fomos amigos. Eu conhecia o Beto como um cara que sempre operou o mercado de ações. Volta e meia, quando eu 'tinha uma dor de barriga' [financeira], eu recorria ao Alberto e ele me mandava dinheiro e nunca me cobrava. Por isso, eu sou completamente revoltado com essa situação de lavagem de dinheiro. Quem é que lava dinheiro sem cobrar? Se fosse para lavar dinheiro do senhor Alberto, eu teria que cobrar alguma coisa. É a lógica. Ninguém vai lavar dinheiro por lavar, para fazer bonito para alguém. Mas isso não é levado em consideração pelo juiz de primeira instância [Sérgio Moro].


 doleiro Alberto Youssef (Créditos: Alan Marques/Folhapress)


Por que Youssef lhe emprestaria dinheiro sem contrapartida?

A minha relação com ele era pessoal e se tornou comercial por algumas vezes. Nós éramos, antes de qualquer questão comercial, amigos. Nunca houve uma reunião em que fosse definida uma decisão para lavar dinheiro. Inclusive, eu sequer pagava juros a ele porque era uma questão de amizade. Agora, só um idiota para acreditar que eu lavaria dinheiro sem cobrar nada. O senhor Alberto Youssef, que é um delator - e parte-se do princípio de que ele não pode mentir, omitir, faltar com a verdade -, colocou isso para o juiz de primeira instância [Moro], que simplesmente não levou em consideração quando me julgou. Pois bem, se eu fui julgado por lavagem de dinheiro e o proprietário do dinheiro, que é o senhor Alberto Youssef, disse em juízo que me emprestava dinheiro e eu devolvia, ou seja, se havia lavagem houve dele para trás, das duas uma: ou ele mentiu e toda a delação dele devia ser descartada; ou ele falou a verdade e o juiz de primeira instância não levou em consideração.

Mas por que Moro faria isso, se Youssef confessou crimes?

Talvez, eu vou lhe dizer, o que tenha acontecido: como é que pode ser absolvido o cidadão que deu origem à Operação Lava Jato? Talvez isso tenha pesado e talvez eles tenham achado que uma eventual absolvição fragilizaria a Lava Jato. Essa é a minha revolta com a Justiça no Brasil. Ele como delator não podia mentir nem omitir, e disse a verdade: 'Eu emprestava dinheiro para o senhor Carlos Habib [Chater] e quando ele me devolvia, eu [Youssef] determinava as contas ou os portadores que lá iam para liquidar a operação comigo". Portanto, ele falou a verdade. Eu sou muito agradecido. Infelizmente, a verdade dele serve para condenar, mas não para inocentar.

Usou a casa de câmbio ValorTur nessas operações?

A casa de câmbio operou por muito pouco tempo. Não existe nenhuma operação irregular na casa de câmbio. Inclusive, o movimento era ridículo porque ela era uma casa nova. Mas para fazer barulho, a Polícia Federal utilizou essa falácia que até hoje não provaram. Nem vão provar, porque nunca existiu.

O senhor diz que não é doleiro, mas fazia operação em dólar. Isso não é ser doleiro?

Eu não fazia operação de câmbio há muitos anos. Há muitos anos...

Mas então o que fazia a sua casa de câmbio?

A casa de câmbio fazia operações legais. O doleiro é tido como operador ilegal. Basta ver o inquérito e o processo, eu não fui condenado em nenhum momento por operação ilegal.

O senhor em algum momento foi doleiro?

Eu fui doleiro antes de 1991. Antes de eu ser credenciado pelo Banco Central. Na época sequer ventilavam que haveria qualquer tipo de autorização do BC, fora [a dada] aos bancos, para fazer operação. Isso era muito normal nas décadas de 80 e 90. Todo mundo era doleiro. Até o ascensorista do Hotel Nacional. Quem compra e vende dólar sem autorização do Banco Central é doleiro. Inclusive vários policiais federais e delegados da PF já fizeram operações na época. O Brasil precisa acabar um pouco com a hipocrisia e tentar ver a realidade dos fatos para entender o que acontecia nas décadas de 80 e 90 e o que acontece hoje.

A PF apontou pelo menos uma operação de câmbio para lavar dinheiro de um traficante. Isso ocorreu?

O que houve foi uma operação que eu fiz para um senhor, que estava viajando e disse que viria uma pessoa para receber esse dinheiro, isso está nos autos. A pessoa que veio receber esse dinheiro eu sequer conhecia. Por telefone, essa pessoa entrou em contato na época para marcar um horário para vir receber. Essa pessoa era envolvida com o tráfico, em princípio. Eu não sei se era ou não era. Isso quem diz é a Polícia Federal. A casa de câmbio não tem nada a ver com isso. Talvez esteja havendo uma confusão na interpretação ou até mesmo a PF possa ter induzido a população e até mesmo jornalistas a acreditarem nisso. Mas o que houve foi exatamente isso: eu, por não saber exatamente, do que se tratava emiti cheques do posto. Que idiota seria eu de emitir cheques do posto para um traficante de drogas?

Por que fez essa operação?

Era um amigo meu, um libanês, que pediu para eu resgatar um dinheiro dele aqui [no Brasil] e repassar para ele mesmo, em dinheiro vivo. Só que essa pessoa viajou para o Líbano e mandou um portador. E esse portador, diz a Polícia Federal, era envolvido com drogas. Eu não conheço, nunca vi esse portador. Fui conhecê-lo dentro do camburão quando eu cheguei em Curitiba e fui para a Polícia Federal, porque quando essa pessoa esteve no posto para receber eu não estava. Mas chegamos ao cúmulo de eu ser condenado por uma operação de US$ 120 mil [ou R$ 460 mil] por lavagem de dinheiro para o tráfico. Eu não sei o que é o tráfico. Eu não conhecia essa pessoa. Mas a PF, mesmo sabendo que eu não conhecia essa pessoa, porque ela me monitorou e pegou conversas e conversas, me ameaçou dizendo que se eu não entregasse os políticos e os agentes públicos seria indiciado por tráfico de drogas. Mesmo assim ele não conseguiu, porque seria uma coisa esdrúxula.

Ameaça para fazer delação? 

Como o delegado Márcio Anselmo [responsável pela Lava Jato até o início de 2017] viu que eu não faria delação e não teria quem entregar, depois de várias tentativas, de insistências, de ameaças, ele disse que mandaria para o presídio. No dia seguinte eu fui para o presídio [de São José dos Pinhais].

Explique que tipo de ameaça.

[O delegado] disse que me envolveria com o narcotráfico, que eu ficaria mais de 20 anos na cadeia e ele me livraria em uma semana, caso eu dissesse quem eram os agentes públicos ou os políticos que recebiam [propina] aqui [no Posto da Torre]. Eu disse a ele que, em primeiro lugar, eu fui monitorado por 8 meses oficialmente - mas fora da questão oficial com certeza fui monitorado por muito mais tempo -, e ele não teria indício de tráfico de droga. Inclusive, dentro das celas da Polícia Federal nós localizamos uma escuta ambiental, que na época o juiz disse que não tinham autorização de colocar. Existe muitas coisas que aconteceram nos bastidores dessa operação que eu diria ilegais, imorais, que ninguém sabe ou que pelo menos ninguém quer dar ouvidos.

Nota da redação: O delegado Márcio Anselmo foi procurado pelo UOL para se manifestar sobre a acusação. Foi lhe enviado um e-mail no seu endereço pessoal, ao qual ele respondeu se dizendo disposto a dar entrevista. Mas pediu para formalizar o pedido na assessoria de imprensa da PF em Curitiba, que repassou a demanda para a regional do Espírito Santo. Ao final de segunda-feira (7), contudo, a assessoria capixaba da PF pediu para procurar novamente a de Curitiba. A unidade paranaense foi procurada novamente, mas não se manifestou até fechamento da reportagem.

Por que não denunciou para corregedoria da PF?

Quando nós localizamos a escuta ilegal ambiental que estava nas celas, abriram uma sindicância e quem estava cuidando era o delegado responsável pelas investigações da Operação Lava Jato. Isso é uma piada, né?


Postado em Conversa Afiada em 09/08/2017