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Jornalista espanhol deixa a profissão indignado com guerra midiática contra a China



247 - O jornalista Javier Garcia, chefe da sucursal da agência noticiosa EFE na China, publicou no Twitter em tom de desabafo uma denúncia das manipulações feitas pela mídia empresarial, no quadro da guerra midiática contra o país socialista asiático. Essa guerra é comandada pelo Departamento de Estado dos EUA, escreveu.

"Em alguns dias deixarei o jornalismo, pelo menos temporariamente, após mais de 30 anos na profissão. A embaraçosa guerra de informações contra a China tirou uma boa dose da minha ilusão por este trabalho, que até agora havia sobrevivido a não poucos conflitos e outras sutilezas.

Vim para a China, como qualquer outro destino, tentando manter a mente aberta e livre de preconceitos. Sempre acreditei que a curiosidade e a capacidade de maravilhar-se, a par do rigor e da fidelidade à verdade, são os elementos básicos do jornalismo.

O que encontrei me surpreendeu. Por um lado, um país enorme, diverso e em constante transformação, cheio de histórias para contar. Um lugar inovador, moderno e tradicional ao mesmo tempo, em que o futuro se vislumbra e o destino da humanidade está de alguma forma em jogo.

Por outro lado, uma história da imprensa estrangeira - a grande maioria - profundamente tendenciosa, que segue constantemente o que a mídia dos Estados Unidos e o Departamento de Estado dos Estados Unidos querem nos dizer, aconteça o que acontecer.

Nessas informações, repletas de lugares comuns, quase não há espaço para surpresas, nem para uma análise minimamente verídica do que acontece aqui. Não há lugar para mergulhar nas chaves históricas, sociais ou culturais. Tudo o que a China faz deve, por definição, ser negativo.

A manipulação informacional é flagrante, com dezenas de exemplos no dia a dia. Qualquer pessoa que se atrever a confrontá-la ou tentar manter posições moderadamente objetivas e imparciais será acusada de ser paga pelo governo chinês ou pior. A menor discrepância não é tolerada.

As potências que estão promovendo a perigosa tendência de confronto com a China não deixam nada ao acaso. Seus fios aparentemente invisíveis alcançam os lugares mais insuspeitados. Qualquer pessoa que se desviar do caminho marcado será posta de lado ou marginalizada.

O tão proclamado totem ocidental da "imprensa livre" recebe assim, paradoxalmente refletido, sua imagem mais nítida na China: imprensa livre para dizer exatamente a mesma coisa, para não sair do roteiro pré-estabelecido, para enfatizar repetidamente o quão ruim é o "comunismo".

Mesmo as políticas que deveriam servir de exemplo, como o reflorestamento, sem paralelo, ou a saída da pobreza de 800 milhões de pessoas, sempre carregam o lema eterno de "mas a que custo", que a mídia anglo-saxônica usa ad nauseam ao noticiar sobre a China".

Acompanhe o fio.

Paraninfo deixa formatura na Unisinos escoltado após discurso sobre ataques à imprensa


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Da Redação

Paraninfo da turma de formandos em Jornalismo da Unisinos, em São Leopoldo, Felipe Boff precisou deixar a cerimônia acompanhado por seguranças na noite de sábado (7), depois de, aos gritos e vaias, convidados do evento terem tentado impedir que o professor concluísse seu discurso. “A virulência desse ataque só reforçou a importância do que foi dito”, escreveu Boff em sua página no Facebook, onde compartilhou o discurso.

A coordenação do curso emitiu declaração de apoio e solidariedade ao jornalista e professor, na qual destaca que a fala foi corajosa e necessária, “principalmente na ocasião em que jovens colegas chegam ao mercado de trabalho, Felipe, embasado em dados e exemplos, alertava para o que deveria ser óbvio: o presidente da República vem constantemente ofendendo e destratando jornalistas”.

Na tarde deste domingo, a postagem de Boff já tinha mais de mil reações e centenas de compartilhamentos.

Confira o discurso proferido por Felipe Boff na cerimônia de formatura:

A imprensa brasileira vive seus dias mais difíceis desde a ditadura militar. Entre 1964 e 1985, jornalistas foram censurados, perseguidos, presos, torturados e até assassinados, como Vladimir Herzog. Hoje, somos insultados nas redes e nas ruas; perseguidos por milícias virtuais e reais; cerceados e desrespeitados por autoridades que se sentem desobrigadas de prestar contas à sociedade. Todos sabem – mesmo aqueles que não acompanham as notícias – quem é o principal propagador dessa ameaça crescente à liberdade de imprensa. É o mesmo que também considera como inimigos os cientistas, professores, artistas, ambientalistas – como se vê, estamos bem acompanhados.

No ano passado, segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas, o presidente da República atacou a imprensa 116 vezes em postagens nas suas redes sociais, pronunciamentos e entrevistas. Um ataque a cada 3 dias.

Querem exemplos? “É só você fazer cocô dia sim, dia não.” “Você está falando da tua mãe?” “Você tem uma cara de homossexual terrível.” “Pergunta pra tua mãe o comprovante que ela deu para o teu pai.”

É dessa forma chula e rasteira que o presidente da República, a maior autoridade do país, costuma responder aos jornalistas. Seus xingamentos tentam desviar a atenção das respostas que ele ainda deve à sociedade. Nos casos citados, explicações sobre o retrocesso da preservação ambiental no país, sobre os depósitos do ex-assessor Fabrício Queiroz na conta da hoje primeira-dama, sobre o esquema da “rachadinha” de salários no gabinete do filho hoje senador, sobre o envolvimento da família presidencial com milicianos.

O presidente das fake news, que bate na imprensa cada vez que ela informa um fato negativo sobre ele e seu governo, é o mesmo que deu 608 declarações falsas ou distorcidas – quase duas por dia – ao longo de 2019. 

O levantamento é da agência de checagem Aos Fatos. Querem exemplos? “O Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente no mundo.” “Leonardo Di Caprio tá dando dinheiro pra tacar fogo na Amazônia.” “O Brasil é o país que menos usa agrotóxicos.” “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira.” “Nunca teve ditadura no Brasil.”

Em 2020, depois de completar um ano de mandato com resultados pífios na economia e desastrosos na educação, na cultura, na saúde e na assistência social, o presidente não serenou. Redobrou os ataques à imprensa. Aplicou o duplo sentido mais tosco à expressão jornalística “furo” para caluniar a repórter que denunciou a manipulação massiva do WhatsApp na campanha eleitoral. Atacou outra jornalista, mentindo descaradamente, para negar a revelação de que compartilhou vídeos insuflando manifestações contra o Congresso e o STF.

E segue promovendo o boicote à imprensa, com exceção daqueles que aproveitam o negócio de ocasião para vender subserviência e silêncios estratégicos. 

Aos veículos que não se dobram ao seu despotismo, o presidente da República impinge pessoalmente retaliações financeiras diretas, pressão sobre anunciantes e difamação de seus profissionais.

Pratica, enfim, toda sorte de manobras sórdidas para tentar asfixiar o jornalismo e alienar a população dos fatos. E já nem se preocupa em disfarçar suas intenções. Querem um último exemplo? Declaração de 6 de janeiro deste ano, dita pelo presidente aos jornalistas “Vocês são uma raça em extinção”.

Não, presidente, não somos uma raça em extinção. Ao contrário. Somos uma raça cada dia mais forte, mais unida, mais corajosa, mais consciente. Basta olhar para estes 21 novos jornalistas que estamos formando hoje. Basta ler os dizeres na camiseta deles: “Não existe democracia sem jornalismo”.

Esta é a mensagem a ser destacada nesta noite: quando tenta calar e desacreditar a imprensa, o atual presidente da República ameaça não só o jornalismo e os jornalistas. Ameaça a democracia, a arte, a ciência, a educação, a natureza, a liberdade, o pensamento. Ameaça a todos, até aqueles que hoje apenas o aplaudem – estes, que experimentem deixar de bater palma para ver o que acontece.

Para encerrar, gostaria de citar o exemplo e as palavras do grande escritor e jornalista argentino Rodolfo Walsh. Precursor da reportagem literária e investigativa e destemida voz contra o autoritarismo e o terrorismo de Estado, Walsh pregava que “Ou o jornalismo é livre, ou é uma farsa, sem meios-termos”. Dizia também que “um intelectual que não compreende o que acontece no seu tempo e no seu país é uma contradição ambulante; e aquele que compreende e não age, terá lugar na antologia do pranto, não na história viva de sua terra”.

Rodolfo Walsh foi sequestrado e assassinado pela ditadura argentina em 25 de março de 1977. Na véspera, publicara corajosamente uma “carta aberta à junta militar”, denunciando os crimes do sanguinário regime, que então completava apenas seu primeiro ano. 

Estas foram as últimas palavras que Walsh escreveu: “Sem esperança de ser escutado, com a certeza de ser perseguido, mas fiel ao compromisso que assumi, há muito tempo, de dar testemunho em momentos difíceis”.

Jornalistas, este é o nosso compromisso. Não deixaremos que a tirania nos cale mais uma vez.




A revolução não será delatada






Miguel do Rosário




Você não poderá ficar em casa, irmão”.



Assim começa o famoso – e maldito – poema de Gil Scott-Heron, a Revolução não será televisionada.

Há uma razão para os roteiristas de Homeland, a premiada série política americana, incluírem trechos desse poema, recitados pelo próprio Gil, na abertura de todos os episódios da temporada 6. O clímax narrativo da temporada acontece no episódio 11, quando Saul, ex-agente da CIA, explica à presidenta eleita sobre os métodos usados por seus adversários para enfraquecê-la.

Eu transcrevo a fala de Saul aqui, por motivos que vocês entenderão rapidamente conforme forem lendo:

É sério? É difícil ouvir o que vocês estão falando. Porque o que eu estou ouvindo não é um plano. Rastrear o dinheiro? Acreditem, é muito mais difícil do que pensam. Vocês ainda estarão fazendo isso quando o mundo rolar por cima de suas cabeças. Por que não conseguem enxergar? Está acontecendo debaixo de seus narizes!
Já temos O’Keefe (blogueiro de extrema-direita). Temos uma campanha de desinformação projetada para desacreditar a presidenta eleita. E a partir de hoje temos tropas em terra e os manifestantes dos quais me desviei para chegar aqui. Isto não lhes é familiar? Porque para mim, sim. Nós fizemos isso na Nicarágua, Chile, Congo, em vários outros países, começando pelo Irã, nos anos 50. E o regime eleito se dá mal. A vida de vocês está em jogo, entenderam? Vocês não podem se calar. E não me refiro à coletiva de imprensa.
– Ao que você se refere?
– Você o intimou a mostrar a cara e foi o que ele fez. Você tem que enfrentá-lo.

Desculpem se pareço repetitivo, mas eu sinto necessidade de afirmá-lo novamente: o que está acontecendo no Brasil, com a Lava Jato, é um golpe de Estado.

Assim como ocorre na trama de Homeland, e, na verdade, em quase todas as histórias parecidas, os articuladores do golpe não são os políticos, e sim as forças de segurança do próprio regime. No caso do Brasil, é a Lava Jato, ponta-de-lança dos setores mais radicalizados desse monstro de três cabeças que substituiu os militares de 1964: Ministério Público Federal, Polícia Federal e Judiciário.

Em algum momento, esses três setores perceberam que, trabalhando juntos, poderiam assumir o poder político no país.


Para isso, é preciso disseminar uma quantidade faraônica de desinformação, com vistas a desacreditar todo o sistema político, eleito pela população.

Dalton Dallagnol, por exemplo, aproveitando-se do momento, tem distribuído, via whatsapp, um artigo de José Padilha, que traz uma análise primária, profundamente preconceituosa, cheia de exageros e omissões, sobre o sistema político brasileiro. Não fala nada sobre desigualdade de renda. Não fala nada, claro!, sobre concentração da mídia.

É claro que o nosso sistema político tem milhares de falhas. Mas é insanidade total destruí-lo sem termos nada para pormos em seu lugar.

Sobretudo, é antidemocrático e desonesto desacreditá-lo a golpes de delação.

Esse último espetáculo da Lava Jato me provocou profundas náuseas. No vídeo com Emilio Odebrecht, vemos o procurador usar o interrogatório para tentar incriminar a revista Carta Capital! É muita podridão! É Emílio, o delator, o corruptor, o “vilão”, que tenta defender a revista, explicando ao procurador que os adiantamentos de publicidade que fez à Carta Capital também foram usados para o Estadão, Folha, Correio Braziliense, para toda a imprensa brasileira!

Como a história se repete!

O “mar de lama” do tempo de Vargas era a Lava Jato daquela época. Os mesmos jornais, representantes das mesmas forças reacionárias, acusavam o governo de ter financiado, através do Banco do Brasil, a Última Hora, de Samuel Wainer. Anos depois, Nelson Werneck Sodré, em sua História da Imprensa Brasileira, resgata documentos que provam que (olha eles de novo!) Folha, Estadão, Globo, Correio da Manhã, receberam financiamentos, do mesmo Banco do Brasil, ainda maiores!

No post anterior, eu já explicitei esse raciocínio, mas gostaria de aprofundá-lo: a delação (o fato de ser “premiada” apenas a torna ainda mais ilegítima) é a representação mais perfeita da antiverdade.

O problema não se trata apenas de acreditar ou não numa delação, e sim dar legitimidade ao discurso de um delator!

Uma delação pode até conter várias verdades, mas a maneira como essas verdades são contadas podem configurar a maior mentira de todas!

Se a imprensa comercial, que depende de sua credibilidade, especializou-se, de maneira tão sofisticada, em produzir pós-verdades em série, o que dizer de um delator?

O problema da informação política destinada às grandes massas é que estas não são guiadas por informações verdadeiras, e sim por símbolos fortes que vão de encontro a seu profundo irracionalismo, conforme explica Wilhelm Reich, em Psicologia de Massas do Fascismo.

É assim que fazem os partidos políticos. É assim que fazem os grandes meios de comunicação.

A Lava Jato está legitimando, no topo da pirâmide social, a repressão brutal e indiscriminada que sempre aconteceu embaixo. Por isso, não é lógico que setores da esquerda defendam a operação com o argumento infantil de que está “prendendo empresários e políticos”, ou “desmontando o sistema político burguês”. O objetivo de um regime democrático, seja de esquerda, socialista ou liberal, não é “prender empresários e políticos”, e sim ampliar o conjunto de direitos e liberdades à disposição da sociedade. Ou seja, temos que prender menos, não mais. Se há políticos e empresários que cometeram crimes, que sejam punidos, mas com direito amplo à defesa, inclusive o de responder ao processo em liberdade!

Nos últimos dias, o STJ indeferiu habeas corpus para o Almirante Othon Pinheiro e para o ex-ministro Pallocci. O judiciário tornou-se um bloco monolítico em apoio às violências e arbítrios da Lava Jato, até porque os ministros tem medo da operação. Um ou outro ministro do STJ que ousou discordar de seus métodos foi rapidamente enquadrado através do modus operandi da Lava Jato, que é vazar alguma coisa contra a pessoa. Como a Lava Jato detêm o maior banco de dados do país, com dados eletrônicos, telefônicos, fiscais, bancários, de milhares de pessoas, não é difícil para seus operadores vazarem um trecho qualquer em que um investigado menciona o nome de alguém. Daí essa nova categoria penal, genial, terrível, que a imprensa adotou com tanto entusiasmo e cinismo, como se tivesse existido desde sempre: o citado na Lava Jato. Fulano foi “citado” na Lava Jato. Não quer dizer nada, mas é o bastante para se iniciar um desgastante e paralisante processo de enlameamento da reputação.

Luciana Genro, defensora da Lava Jato, acaba de sentir o bafo na nuca, ao aparecer como recebedora de uma quantia de empresa vinculada à Odebrecht.

Temos de tomar muito cuidado, porém, para não sucumbir às violências morais da Lava Jato.

A situação do PT é muito complicada do ponto-de-vista narrativo. Eles tem de jogar não apenas contra um time infinitamente mais poderoso, porque tem mídia, mas contra o próprio juiz!

Os militantes e operadores políticos do PT lutam com as armas que conseguem, a custo de muito sacrifício, tomar das mãos de seus inimigos, brandindo em suas redes pedaços de delações que possam neutralizar o jogo de acusações e contra-acusações que um partido lança ao outro. É um método perigoso, porque ao mesmo tempo que atinge o seu inimigo partidário, também fortalece os operadores que atuam como adversários políticos e jurídicos.

A leitura do livro Justiça Política, de Otto Keichmeiner, que relata as aflições de operadores políticos europeus e russos, comunistas, social-democratas, nazistas, liberais, de todos os credos, para transformarem batalhas judiciais em capital político, me fez compreender melhor os dilemas dos partidos brasileiros em meio à guerra jurídica.

Keichmeiner estuda generosamente o problema do “delator”, que é uma figura sempre presente na justiça política. Ele explica que o delator jamais falará a verdade. O delator tentará, invariavelmente, dizer alguma coisa que beneficie a si mesmo, que agrade ao interrogador e que, naturalmente, atinja com a maior violência possível o adversário das forças que controlam o processo de delação.

A Lava Jato ainda tem cartas na mão. Ela pode prender quem ela quiser, e obrigar essa pessoa a delatar.

Isso sem contar os que já estão presos, e ainda não se decidiram a delatar: Pallocci, Eike Batista, João Santana e sua esposa, Sergio Cabral.

Qual a resistência psicológica de cada um desses antes de falar exatamente o que os procuradores querem ouvir?

A partir do momento em que se elege a “delação” como principal arma política, e as críticas à delação são neutralizadas por uma estratégia bastante sofisticada de relações públicas (que inclui vazamentos cuidadosamente seletivos), então os órgãos de repressão detêm um poder descomunal. Um delator pode dizer tudo que você quiser. Pode falar, por exemplo, que um determinado dirigente político “sabia”. Que numa noite tal, foi conversado “tal coisa”.

A ética desse tipo de investigação é deplorável. Aprovar e apoiar a delação premiada foi mais um desses atos suicidas do PT que nasceram de sua debilidade no campo do pensamento jurídico, e, mais genericamente, de sua miséria intelectual, ao não criar um think tank que discutisse, antes de tomar qualquer decisão, os seus prós e contras.

Delação é uma coisa negativa, antiética. O ser humano precisa ser leal, sempre! Sem confiança, sem lealdade, não há política, não há solidariedade, não há civilização.

Se alguém precisa denunciar um crime que testemunhou, de um político ou empresário, que seja uma delação espontânea, baseada na consciência de que está fazendo um bem à sociedade.

Premiar a delação é bizarro. Premiar uma delação extraída de alguém sob tortura, sob ameaça de permanecer em “prisão cautelar” por tempo indeterminado, é duplamente bizarro!

Quanto à questão de se “acreditar” numa delação, não creio que exista nada mais profundamente antijornalístico ou mesmo antifilosófico.

Um jornalista não deveria acreditar nem em provas. Um jornalista de verdade não deve acreditar em nada.

A história já mostrou muito bem que provas podem ser manipuladas, e que a nossa própria consciência nos prega um monte de peças.

Um jornalista não precisa “acreditar” em alguma coisa. Ele deve questionar. Questionar, sobretudo, o poder!

Cadê todos aqueles jornalistas que viviam dizendo que a imprensa deveria questionar o poder? Onde está o questionamento do judiciário, da Lava Jato, do Ministério Público, da própria grande imprensa?

O trabalho do jornalista deveria constituir, sempre, um contraponto à violência do Estado. Se alguém é acusado pelo Estado, não compete ao jornalista se aliar ao Estado na acusação. Um jornalista dotado de espírito democrático, humanista e liberal deve ouvir, primordialmente, a versão do acusado, porque ele é a parte frágil do processo.

A Lava Jato nos revela ainda uma outra coisa, extremamente importante: a demagogia é desonesta, hipócrita e cínica.

Testemunhamos, esse tempo todo, colunistas da grande imprensa declarando que a justiça brasileira é boa porque está prendendo “poderosos”, sem jamais lembrar aos espectadores/leitores uma coisa óbvia. Os verdadeiros poderosos não vão presos. É exatamente por isso que eles são poderosos. É uma questão lógica.
Se alguém é preso pela Lava Jato, isso é prova cabal de que esse fulano não era tão poderoso como ele mesmo pensava. A Lava Jato pode estar prendendo políticos e empresários, mas não poderosos!

A Lava Jato está revelando, com uma clareza solar, quem são os verdadeiros poderosos no país: o Estado burocrático, não-político, em primeiro lugar, representado por seus agentes de repressão; em segundo, os barões da mídia; os banqueiros, em terceiro.

Encerro o post com um outro trecho do poema de Gil Scott-Heron:

A primeira revolução acontece quando você muda a sua mente sobre como ver as coisas, e percebe que pode haver uma outra maneira de olhar para elas que ainda não lhe mostraram. O que você vê depois é o resultado disso, mas essa revolução, esta mudança que se opera em sua maneira de ver, não será televisionada.


 Postado em O Cafezinho em 18/04/2017


TVE Entrevista Especial - Dilma Rousseff : Imperdível para quem defende a Democracia !

















NA PRIMEIRA ENTREVISTA desde seu afastamento, a ex-presidente Dilma Rousseff citou a declaração em que Michel Temer diz que o impeachment foi motivado por Dilma não aceitar o plano econômico do PMDB, e não por supostas irregularidades praticadas por ela.


A entrevista foi conduzida pelo jornalista Bob Fernandes para a TVE Bahia e será transmitida nesta terça-feira, às 20h40, na TVE e no portal do canal

O comentário da ex-presidente refere-se a um discurso dado por Temer na sede da Sociedade Americana/Conselho das Américas (AS/COA), em Nova York, na quarta-feira passada, dia 21, quando disse que ele e seu partido começaram a articular o afastamento de Rousseff em consequência direta da não aceitação, pela ex-presidente, do programa neoliberal do PMDB chamado “Ponte para o Futuro”.

A fala inesperada de Temer foi noticiada por vários meios de comunicação da mídia independente, mas foi completamente ignorada por toda a mídia tradicional, com exceção da revista Exame, Carta Capital e Jornal do Brasil.

Veja o vídeo aqui:










Postado em The Intercept Brasil em 27/09/2016