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Criando com as tecnologias 3D e 4D




Os videoartistas Antoon Verbeeck e Filip Sterckx começaram a trabalhar juntos em 2015, com o vídeo “Le Petit Chef", o pequeno cozinheiro. A dupla belga, conhecida por Skullmapping, surpreende com seu trabalho bem humorado de vídeos 3D em locais inesperados criando animações com muito humor e criatividade.

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Sexo e tecnologia : influência e particularidades




Sexo e tecnologia podem se tornar um binômio excepcional se forem bem compreendidos,  mas podem se transformar em um pesadelo
 se o vínculo criado não for respeitado.

Sexo e tecnologia são dois termos que mantêm um relacionamento cada vez mais próximo. Por milhares de anos a sexualidade humana não foi afetada por muitos avanços tecnológicos; no entanto, atualmente, a tecnologia também começou a tomar o centro do palco neste campo.

É claro que isso é possível porque existe a tecnologia em si, mas também porque o modo de compreender e viver a sexualidade se transformou. Então, vamos nos aprofundar um pouco mais nesse assunto.

Sexo e tecnologia: influências

Os avanços tecnológicos ofereceram novos espaços aos seres humanos. Sem dúvida, esse fato fez com que novas formas de socialização fossem geradas em todas as áreas, inclusive a intimidade.

Como a sexualidade é uma faceta tão importante na vida de um ser humano, qualquer elemento que a condicione se torna importante. Em relação à tecnologia, os aplicativos móveis, a internet e as redes sociais são provavelmente os que mais influenciaram.


Hoje em dia, quase todo mundo tem um “telefone sombra”; no entanto, não fazemos mais ligações do que antes. Pelo contrário, tendemos a optar por formas mais distantes de comunicação. Nesse sentido, a evolução está ocorrendo em tal velocidade que é difícil estudar e tirar conclusões sobre como nos relacionamos com a tecnologia.

Não há dúvidas de que, a nível pessoal e social, sua influência é importante. Embora às vezes pareça imprevisível, devemos nos manter a par da relação entre tecnologia e sexo, especialmente se nos referirmos a comportamentos inadequados ou patológicos.

Internet e sexo

A internet é infinita, sendo também infinito o número de páginas e referências com conteúdo sexual. Tanto a nível recreativo quanto para informação, a grande rede é um destino de preferência, embora não seja necessariamente adequado em todos os casos.

Por outro lado, no estrato social mais jovem (incluindo adolescentes e menores de idade), o compartilhamento de conteúdo sexual de geração própria é uma prática que tem se implantado fortemente. Há atributos que a tornam muito atraente, o protagonismo fica com o visual – em um mundo de pessoas cada vez mais visuais – e não requer muito tempo.

Conteúdo para adultos

Podemos encontrar material sexual em diferentes formatos. Não há necessidade de procurar muito. Por outro lado, as estatísticas nos dizem que falamos de um gênero que tem um grande público e uma ampla gama de idades.

Hoje sabemos, por exemplo, que o conteúdo compartilhado condiciona bastante as condições das expectativas sexuais das pessoas que o consomem. De certa forma, nosso cérebro parece não processar o que percebe como ficção.

Sexting

Uma das práticas que unificam sexo e tecnologia e que está entre as mais perigosas é o sexting. Ocorre especialmente entre jovens e adolescentes e consiste no envio de fotos e vídeos com conteúdo sexual explícito que são tomados como selfie com o celular.

Embora possa ser uma prática que introduz a sedução na vida sexual adulta, entre os jovens se tornou um jogo erótico arriscado. Além de aumentar o desejo, também faz com que alguns materiais acabem em mãos indesejadas, fazendo com que se disseminem conteúdos não permitidos e inadequados.

Infelizmente, na perversão desta prática, encontramos o grooming. O groomer é um indivíduo que busca prejudicar menores de idade usando redes sociais e métodos tecnológicos para entrar em contato com as pessoas, geralmente muito mais jovens, disfarçando sua aparência para obter material sexualmente explícito de suas vítimas.
“ Tornou-se terrivelmente óbvio que nossa tecnologia superou nossa humanidade."   - Albert Einstein -



Sexo e tecnologia, um relacionamento polêmico

Aludindo ao assunto que nos preocupa, podemos dizer que sexo e tecnologia formam um binômio polêmico. A tecnologia abre um campo de possibilidades, mas a contrapartida é que muitas delas, longe de nos favorecer, podem nos fazer muito mal. Escolher bem o que queremos ou não queremos, além de ser nosso direito, tem muito a ver com nossa autoestima e empatia.

Por outro lado, a tecnologia revolucionou o vínculo afetivo dos indivíduos. Aplicativos como o Tinder, que dão origem a relacionamentos ou pseudo-relações em que todos os estágios passam muito rapidamente, se encaixam muito bem em uma concepção um tanto perversa do amor: o amor como um objeto de consumo com independência do outro.

A tecnologia também desenvolveu o que são conhecidos como dispositivos hápticos (relacionados ao toque). Ou seja, dispositivos que simulam a sensação de tocar ou ser tocado por outra pessoa. Mas todo esse sexo virtual que pode ser considerado uma vantagem não implica que a comunicação íntima melhore. De fato, em muitos casos tem criado conflitos, desconfiança e prejuízos severos.

No fim, poderíamos dizer que não se trata da tecnologia em si, mas de como a aplicamos. A tecnologia aplicada ao sexo não é ruim em si mesma; o uso ou abuso que fazemos dela será o que determina seus benefícios para cada pessoa ou casal.






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O (humaníssimo) Direito ao Reparo



Contra a alienação e a obsolescência programada surge uma reivindicação prosaica, mas cheia de sentido. É preciso recobrar o poder de consertar os aparatos que se danificam — ao invés de descartá-los e afundar no consumismo.

Por Valerie Vande Panne | Tradução: Gabriela Leite e Simone Paz


No final de 2018, conectei meu iPhone em meu MacBook usando um cabo genérico, comprado em um mercadinho. Comecei a fazer um backup. Tudo congelou. Meu iPhone não ligava, e ficou travado na tela inicial com o logo da Apple. Horas no chat de suporte da Apple e um dia depois (tirando os detalhes traumáticos), saí da loja mais próxima da empresa com meu celular “restaurado” para as configurações de fábrica.

Perdi todos os meus dados. Nada pode ser salvo.

O técnico da Apple repreendeu-me por usar um cabo não autorizado pela empresa. Tirou sarro de mim por não usar o Cloud, serviço de armazenamento online. Minha pergunta foi: “Por que a Apple não avisou que não se pode usar esses cabos para backups?” Ele riu, e disse que eu deveria saber.

Senti que a Apple estava me punindo por gastar 10 dólares em um cabo no mercado perto de casa, ao invés de pagar os 20 dólares no cabo proprietário.

Comprar um cabo de carregamento de celular é quase um gasto anual. Por que eu não deveria gastar o dobro? Por que a Apple não me avisaria para não fazer backup com ele?

Mais tarde, falei com Danny Varghese, dono de uma loja de reparos técnicos em Nova York. Ele disse que eu provavelmente não tinha perdido nenhum dado, e que ele provavelmente conseguiria recuperar tudo e consertar o problema por um preço razoável.

Por que a Apple me faz perder todos os meus dados quando isso não é necessário? Varghese explicou que eu não era a única. Ele recebe clientes como eu regularmente.

“Uma cliente veio aqui dois dias atrás”, contou. “Ela levou seu iPhone X para a autorizada da Apple. Ele estava reiniciando sozinho. Disseram para limpar o aparelho.” Ela o levou a Varghese. “Mesmo sem o programa de diagnóstico”, ele conta, “descobri que o problema estava na bateria, troquei a peça, e resolvi o problema. O celular funcionou bem — até melhor que antes.” A moça não perdeu seus dados, mas teria que mandar seu celular para fazer uma limpeza.

“Os clientes não têm que perder todos os seus dados só porque a Apple diz”, ponderou Varghese.

Não é só a Apple que nega ao consumidor o direito de consertar produtos que o consumidor compra. É a John Deere, que produz tratores. São os fabricantes de geladeiras. E mais ou menos tudo que é produzido hoje, que contenha partes eletrônicas, ou que se conecte à internet. Pode ser que você precise de uma peça de cinco centavos para consertar sua televisão de tela plana, mas sem os esquemas controlados pelo fabricante você jamais terá ideia de qual parte de cinco centavos você precisa, ou onde instalar. Então, você simplesmente compra outra TV.

Ao negar ao consumidor a estrutura, as ferramentas e a informação necessária para consertar os produtos que o consumidor possui, os fabricantes nos empurram para uma sociedade cada vez mais descartável, a um custo cada vez maior para nossos bolsos e para o planeta.

A consciência pública sobre essa questão cresceu, à medida que novos utensílios são programados para a obsolescência e as pessoas são pressionadas a comprar novas coisas — que talvez nem queiram, ou precisem. Um caso muito famoso é o da John Deere, que basicamente proíbe os agricultores — talvez algumas das pessoas mais hábeis a consertar seus equipamentos sozinhas — de fazer reparos em seus próprios tratores.

Os agricultores não são os únicos consumidores afetados. Quanto mais os eletrodomésticos incorporam tecnologias “inteligentes” de controle remoto, os fabricantes criam mais obstáculos para o reparo funcional. Colam as baterias dentro do produto, de maneira que não possam ser trocadas, e recusam-se a liberar os esquemas para fazer reparos, tanto aos técnicos quanto ao público geral.

Se um grupo de ativistas, pensadores e cidadãos engajados tiverem êxito, no entanto, Nova York vai ser o primeiro estado dos EUA a resolver esse problema crescente.

O movimento é chamado de Direito ao Reparo. A Associação pelo Reparo lidera os esforços para conseguir que a legislação do Direito ao Reparo passe [em mais de doze estados]. 2019 marca o quinto ano em que um projeto de lei com esses parâmetros foi introduzido na Assembleia Legislativa de Nova York. Com projetos semelhantes em duas instâncias, os apoiadores acreditam que o Direito ao Reparo possa passar em breve.

Se isso acontecer, como Nova York tem uma grande influência no país, será criado um precedente que os fabricantes não conseguirão ignorar. “É altamente improvável que empresas como a Apple ou a John Deere digam ‘não vou fazer negócios em Nova York’”, disse Gay Gordon-Byrne, diretor executivo da Associação do Reparo. “Uma vez que passe em Nova York… os fabricantes terão que estabelecer uma versão do direito ao reparo”. Ela frisa: “O primeiro projeto é o que cria o padrão”, disse. Com isso, a oposição dos lobistas da indústria deveráser “insanas”.

Se quebrou, não conserte!

Os argumentos que as corporações utilizam para impedir que o público mexa em seus produtos costumam ser a respeito a softwares proprietários, preocupações com a segurança e perigos da bateria de lítio.

Os fato de os programas serem licenciados e terem copyright não significa que sejam um segredo. Gordon-Byrne explica que os livros também estão protegidos por direitos autorais, mas o texto serve para compartilhar informações, assim como os softwares são feitos para passar por sinais elétricos que representam os dados. “É completa e especificamente legal fazer o reparo de hardwares e fazer cópias de backup legal, e mexer com os softwares, inclusive fazer modificações e customizações”, completa.

Preocupações com a segurança são outras táticas de amedrontamento que os lobistas gostam de empregar, segundo Gordon-Byrne. O único problema é que a vulnerabilidade da segurança cibernética não está ligada aos reparos do dispositivo “a não ser nos filmes”, brinca. “Equipamentos são feitos ou para serem seguros, ou não.”

Um exemplo de equipamento inseguro deve ser um dispositivo que usa um chip que já carrega com um spyware. Mas Gordon Byrne argumenta que “é alarmista e ridículo dizer aos consumidores que levar seus equipamentos ao conserto fará com que fiquem mais expostos a algum novo risco — quando os grandes riscos [tais quais os assistentes pessoais que gravam todas as conversas ou outros relacionados à Internet das Coisas] vêm sendo ignorados.”

Profissionais de segurança uniram-se para apoiar o Direito ao Reparo.

Para além de softwares e segurança, a maior parte das pessoas só quer que os produtos nos quais gastam centenas (quiçá milhares) de reais funcionem. No fim das contas, se a bateria do seu fone de ouvido sem fio está acabando rápido, você deve mesmo comprar novos fones? Não é mais fácil trocar a bateria? Principalmente se você não tem dinheiro pra ficar continuamente investindo em novas tecnologias. Mas infelizmente, a bateria em seus fones de ouvido provavelmente está colada. Quando ela morre, também morrem os fones.

Mas nós não jogamos fora os carros quando sua bateria está com defeito. Nós consertamos a peça que quebrou. Pelo menos foi o que fizemos por centenas de anos.

Outra tática de pânico é realçar o que é conhecido como o “escapamento térmico”: quando uma bateria de lítio-íon morre — a bateria que provavelmente está em seu celular, notebook e até nos carros elétricos — começa a pegar fogo. É assustador ver, ou imaginar crianças expostas a isso. Mas muito raramente acontece na assistência técnica — especialmente quando ferramentas de diagnóstico apropriadas existem, e seu funcionamento está disponível e referenciado.

Felizmente, os legisladores de Nova York ouviram o mesmo disco de lobistas pelos últimos quatro anos. Os mais experientes, segundo Gordon-Byrne, estão “muito bem inoculados” a táticas de pânico. Mas há sempre os novatos, que “ainda não foram vacinados”. Até agora.

“Quando você se senta pela primeira vez com um deputado, eles dizem que isso é muito óbvio”, diz Gordon-Byrne. “Então, ouvem a história dos lobistas e, de repente, ouvem que o jeito americano será destruído. Haverá acontecimentos catastróficos. Exige algum tempo até que eles sejam postos de volta nos eixos.”

Uma longa tradição de reparos

Os projetos de lei de Nova York estão baseadas no projeto de direito ao reparo estabelecido para automóveis e caminhões comerciais que passou em Massachusetts, em 2012. Essa lei diz que fabricantes de carros devem fornecer, a preços justos e razoáveis, diagnósticos, ferramentas, controle e manuais de serviço que sejam os mesmos da concessionária. A lei garante que se você vive em Massachusetts, você deve conseguir que seu carro seja consertado em uma mecânica que tenha o mesmo acesso à informação que a concessionária. A Auto Alliance e a Automotive Service Association — grupos de comércio para as grandes fabricantes de automóveis e de concessionárias de carros, respectivamente — chegaram a um acordo que diz que os fabricantes de carros cumprirão o que se exige em Massachusetts em todo o resto dos EUA.

Gordon-Byrne explica que a proposta de lei de Nova York opera de maneira semelhante. “Se algo tem eletrônicos em si, há variações dos mesmos componentes. Você consegue entender o que há de errado. Depois do diagnóstico, você consegue a nova peça, usa ferramenta, passa de novo pelo software de diagnóstico e… Está restaurado!”

Kyle Wiens é o novo presidente da iFixIt (um site de reparos) e um apoiador do Direito ao Reparo. A possível nova lei de Nova York “vai restaurar nosso direito de consertar nossas próprias coisas. Equipamentos de agricultura, eletrônicos — tudo, menos equipamento médico.” A concessão aos equipamentos médicos foi feita para conseguir com que o projeto consiga passar, mas a questão de hospitais é algo para se pensar adiante. Os hospitais podem querer ter o direito de consertar os equipamentos que possuem, mas os fabricantes de aparelhos médicos estão exigindo que sejam utilizados seus caros contratos de serviço.

Todo o resto, porém, está coberto pelo projeto de Nova York, diz Wiens. Considere, por exemplo, o novo Mac Pro básico de US$ 6 mil [preço nos EUA, cerca de R$ 22,8 mil reais. No Brasil, o modelo atual custa entre R$ 31 mil e R$ 55 mil], que foi anunciado recentemente pela Apple. “Você consegue consertá-lo?” pergunta-se Wiens. “Essa é uma questão aberta.”

Obviamente, a questão é mais séria do que as piadas inspiradas pelo recente anúncio da Apple, que soou como algo que apareceria em uma série de comédia, mais do que um produto real que os humanos realmente queiram.

“Antigamente, havia oficinas técnicas para aspirador de pó e TV, e agora há apenas caminhões de lixo levando embora nossas coisas”, diz Wiens. Mesmo o direito de manter os produtos que você tem está sendo, há muito tempo, retirado — simplesmente porque os fabricantes promovem a sociedade descartável, em busca de mais lucros para seus acionistas.

O que aconteceu com os consertos manuais?

Quando Henry Ford criou os automóveis que marcaram o século XX, ele o fez remexendo peças — e queria que outras pessoas tivessem o direito de fazer o mesmo. Na verdade, Ford valorizava tanto o espírito do “faça você mesmo” que sua empresa produziu múltiplos “kits de conversão” pós-venda para o Modelo T. Quem o possuísse poderia convertê-lo no que quer que precisasse, incluindo um trator, uma moto de neve e uma caminhonete. O modelo de negócio da Ford, naqueles dias, encorajava o consumidor a remexer e fazer reparos, com autossuficiência.

Benjamin Franklin era um remexedor de peças. Tomas Edison e Nikola Tesla também. Essa é a raiz da inovação — a liberdade de aprender como as coisas funcionam, e experimentar com a construção de coisas novas e melhores. O crescente controle corporativo parece estar esmagando o espírito inovador. 

Cultura do desperdício e a explosão do lixo eletrônico

Para além da inovação e do direito de simplesmente manter os produtos que funcionam (que empregam todos esses técnicos de bairro que ainda existem, e com quem você pode contar), Wiens vê o direito ao reparo como uma necessidade absoluta em contexto urbano.

“Remover uma geladeira antiga de um apartamento não é uma coisa fácil”, diz. Refrigeradores costumavam ter uma vida útil de 20 anos ou mais, e havia técnicos em sua comunidade que poderiam consertá-los rápida e facilmente. “Hoje em dia, se você compra uma geladeira, a vida útil esperada é de sete anos. É o menor tempo que se tem notícia. E as cidades acabam tendo que se responsabilizar por esse problema.”

Isso porque as cidades lidam com o fluxo de resíduos. Refrigeradores pesados e volumosos não entram em um caminhão de lixo comum. “Têm de ser manejados de maneira especial, pois há um motor refrigerador dentro”, lembra Wien. “Há instalações especializadas que lidam com o fim da vida útil dos refrigeradores.”

O mesmo acontece com televisões mais novas. “Não há nenhum bom motivo para trocar qualquer TV que você tenha comprado nos últimos cinco a dez anos”, declara Wien. Alguma peça barata e simples poderia ser trocada, mas ao invés disso, o aparelho inteiro vai para o lixo, e aí aparece mais um problema para a cidade.

Fabricantes que produzem geladeiras e TVs de vida útil curta, que não podem ser facilmente reparadas, criam um ônus para as cidades, que precisam lidar com um número crescente desses produtos que entram no fluxo de resíduos. Em grandes cidades, alguém pode fazer o atendimento do produto, mas as pessoas que moram em comunidades rurais e mais pobres não têm o mesmo acesso. Sem acesso fácil ao funcionamento e às partes, seu Direito ao Reparo — sua autossuficiência — é forçadamente diminuída.

Não são só as geladeiras e TVs que causam problemas para o fluxo de resíduos urbano. Ao fabricar produtos e treinar o consumidor a vê-los como descartáveis, como os telefones celulares, um perigo real pode acontecer. Baterias de lítio-íon são agora parte do fluxo de lixo, e quando esses componentes são esmagados em caminhões de lixo, podem criar o fogo de escapamento. Então, o próprio caminhão de lixo — ou a instalação de gerenciamento de resíduos — pega fogo.

O que está acontecendo agora, de acordo com Peter Mui, fundador da Fixit Clinic, na Baía de São Francisco, Califórnia, é que as seguradoras estão se recusando a cobrir centros de reciclagem por causa do risco de alguém ter jogado um equipamento eletrônico com uma bateria. “Nós projetamos esses dispositivos em um buraco negro”, segundo Mui.

De acordo com o site do iFixIt, para cada mil toneladas de eletrônicos, o aterro cria zero empregos, a reciclagem gera 15 e o conserto cria 200.

Empregos de reparo técnico são ótimos. O costureiro, o sapateiro, as oficinas de TV e celulares “são as lojas que queremos em nossos bairros”, diz Wiens. “Antigamente, havia lojas de câmeras em toda cidade, nos EUA. Agora não há nenhuma. Esse é um resultado direto da decisão da Nikon e da Canon de não vender peças de reposição para lojas independentes. Essas empresas simplesmente decidiram ‘não haverá mais peças para você’, e foi assim o fim das lojas de câmera, por volta de 2012. Como resultado dessas políticas de fabricantes, afirma Wiens, perdemos parte importante da resiliência econômica de nossas cidades.

Dentro da oficina de conserto

Mas isso não faz com que parem de surgir pequenas lojas de conserto nas cidades. Na oficina da Fixit, pessoas de todas as idades e todos os níveis de experiência se encontram em oficinas de reparo comunitário, que acontecem principalmente em bibliotecas públicas. Mui descreve as oficinas como uma “desmontagem guiada”, e diz que é “como uma reunião do AA para coisas quebradas.”

As pessoas chegam, e alguém diz “‘Olá, sou Paulo e esse é meu aparelho de DVD. Ele faz esse barulho quando eu insiro um disco’. Nós dizemos ‘OK, vamos abrir e ver o que pode estar errado’”, conta Mui, mostrando que eles ajudam as pessoas a consertar seus próprios aparelhos. “Não estamos consertando isso para o cliente. Estamos guiando-o para o conserto. Estamos espalhando o ethos de que consertar é possível.”

Mui ensina reparos técnicos desde 2009, quando começou a Fixit na Universidade da Califórnia. “Antes, tratava-se de uma oportunidade humilde de disponibilizar ferramentas, apenas para ver o que poderíamos fazer”, conta. “Mas ao longo do tempo, eu me aproximei mais da política e da defesa de direitos. Há algumas escolhas civilizatórias que enviam as coisas para o aterro prematuramente. Quanto mais eu trabalho com isso, fica mais politicamente claro que estamos operando o planeta em um nível de consumo. Nosso consumo está matando o planeta. É insustentável continuar dessa maneira. É nosso interesse, como civilização, manter as coisas a seu nível mais alto de utilidade pelo mais longo tempo possível.”

Mui acredita que as pessoas se cansam de seus produtos, ou pensam “isso está velho, preciso de um novo.” Outro problema, no entanto, é que o produto tem uma coisa muito simples que poderia ter sido consertada, e as pessoas não pensam que poderia ser reparável — a mentalidade hipercapitalista e descartável penetrando em nossos modos de vida.

Para Mui, ajudar a consertar dá poder às pessoas para que possam fazer que com que o aparelho fique “melhor do que quando era novo. Não apenas restaurado, mas agora você entende como ele quebrou e pode solucionar os problemas dele e consertá-lo muitas vezes.”

“A taxa de sucesso nos consertos é de 70%, sem acesso à assistência autorizada ou manual do fabricante. Na maior parte do tempo, simplesmente aplicamos as habilidades de pensamento crítico”, explica Mui.

Mui conta que sua inspiração veio de momentos em que viu equipamentos eletrônicos que eram facilmente reparáveis, mas cujos fabricantes “usavam uma cabeça triangular estranha ou uma chave de fenda com chave de boca, e as pessoas comuns não têm essas ferramentas.”

À medida em que o hardware e o software tornam-se mais e mais integrados, na eletrônica de hoje, a questão do direito ao reparo “fala sobre a natureza da propriedade em geral”, para Mui. “A Apple parou de fornecer atualizações para os iPhones 4 e 5. As informações pessoais contidas neles estão vulneráveis, e podem ser roubadas. Mas você tem direito à posse delas. Você gastou 500 ou 600 dólares naquilo. Ele faz tudo que você precisa. Mas a Apple decide que você não vai mais usá-lo. E se se uma terceira parte fornece a atualização, só a Apple pode dar o código para desencriptar o telefone. A Verizon decidiu por conta própria não permitir mais a ativação de telefones 3G. Então, se você quer vender o aparelho para outra pessoa, você vai ter um tijolo de 400 dólares. Não pode usar mais com a Verizon, já que a frequência está bloqueada para a rede da empresa.”

Mui aponta que a indústria de moda chamada de fast-fashion, de descarte rápido, também é parte crítica do movimento pelo reparo. “São roupas, malas, barracas e toldos” que poderiam ser facilmente arrumados, ele diz, e ainda assim essa é a segunda indústria mais poluidora da Terra, ao lado da de petróleo”.

“O conserto desapareceu. Não há mais reparos de terceiros em muitas cidades. Fica mais caro consertar que comprar algo novo”, explica Mui.

Uma das coisas que ele espera que aconteça com a FixIt é inspirar a “como projetar para a durabilidade, facilidade de manutenção e capacidade de manutenção e reparo… desde o início.”

Treinando para abandonar o descarte

Na Ethical Culture Fieldston School, uma escola particular de Nova York, alunos do ensino fundamental e médio aprendem a fazer reparos em seus próprios dispositivos.

“Existe um centro e voluntários, como um centro de reforço de matemática”, conta Jeannie Crowley, diretora de tecnologia da escola. “Nós dizemos: ‘Ok, seu celular quebrou. Vamos orientá-lo para que você mesmo possa consertar’. Falamos sobre os minerais e as ferramentas e a habilidade de fazer manutenção.”

Os estudantes, conta Crowley, passam muito tempo em seus celulares. Mas quando eles os abrem, conseguem ter um modelo mental de como os telefones funcionam, e sua relação com eles muda.

Não só a escola ajuda os alunos (e pais) a estender a vida útil de seus celulares, ela diz, “Queremos que as pessoas saiam da escola e façam projetos pensando em um ajuste para que possam prolongar a vida” dos produtos que desenharem. É assim que esperam levar as crianças para o movimento do reparo.

“As pessoas costumam pensar que crianças não devem se envolver com manutenção”, lembra Crowley. “Sentimos que o reparo é algo que as crianças precisam entender. Um de nossos objetivos é resolver os problemas para que as escolas que não têm recursos como nós possam pegar o que aprendemos e aplicar a seus estudantes.”.

Até os alunos do ensino fundamental têm a oportunidade de abrir seus computadores, fazer a limpeza, aumentar a memória RAM e deixá-los prontos para os estudantes do ano seguinte.

Crowley diz que o direito ao reparo diz respeito a muitas coisas fundamentais, incluindo a ideia de propriedade, e de economia de dinheiro. Para ela e os estudantes, também trata-se de prevenção às mudanças climáticas e sustentabilidade, contenção do lixo eletrônico, e prevenir que produtos vão para o aterro por causa de um software que tem data de validade, ou que a bateria esteja colada por dentro. “Nos tornamos uma sociedade descartável, e isso não é sustentável”, ela diz.

Reparo e sustentabilidade, ambos requerem que “os fabricantes nos deem as ferramentas, instruções e acesso a peças para completar o conserto.”

Crowley ri da ideia de que “‘é perigoso consertar seu próprio telefone, ou que crianças podem fazer algo errado.” Fazer a manutenção de seu próprio carro era uma tradição honrada — e podia ser perigoso também. As pessoas fazem reparos eletrônicos há muito tempo. Ao receber as instruções, podemos aumentar a segurança, mas os fabricantes não querem que isso aconteça, porque significa que vamos manter nossos aparelhos por mais tempo.”

Crowley diz que fabricantes querem “um ciclo de vida útil muito curta e muito lucro.” Reparos — e sustentabilidade — não se alinham a esses objetivos.

Pequenos consertos, enorme diferença

Varghese também é um grande defensor do Direito ao Reparo. “Digamos que o vidro da câmera traseira de seu iPhone quebre. A Apple dirá que você precisa de um telefone novo. É uma mentira. Você pode trocar aquele vidrinho”.

Está claro que Varghese sabe como os fabricantes operam. Ele explica por que não se tornaria um provedor de serviços autorizados pela Apple: “Eles exigem que você nunca conserte outros produtos — nem que faça isso com seus esforços, como no caso do vidro da câmera do telefone. Se você curte usar um produto, não deveria ser obrigado a trocá-lo por um melhor ou mais moderno só porque a Apple ou a Microsoft querem ganhar mais dinheiro”.

Varghese vem consertando telefones e computadores desde o colegial. “Se você lhes disser [à Apple] que caiu um pouco de água em seu computador, isso quer dizer… que sairá US$1.200 o conserto, mas que por US$1.300 você pode comprar um novo”, ele diz, evidentemente frustrado. Ele afirma que consegue fazer consertos de danos por líquido pelo preço de US$350 — mas mesmo assim, às vezes se vê envolvido em problemas. Por exemplo, recentemente, o aparelho de um cliente teve danos por líquido e ele conseguiu consertar tudo, menos a webcam. Se o Direito ao Reparo existisse, as instruções da máquina estariam disponíveis e Varghese poderia compreender como consertá-la.

Mais consumidores precisam saber do Direito ao Reparo, diz Varghese. A Apple pode ter falado que alguns problemas não podem ser consertados, mas com o Direito a Reparo, esses produtos podem se tornar plausíveis de conserto. “Um mercado aberto é bom para os negócios e para os consumidores”, diz Varghese. “É bom para todos”.

E quando o Direito ao Reparo for implementado, diz Wiens, “poderemos trazer de volta uma cultura de engenharia e de ajustes que fazia parte da experiência popular”.

É bom que isso seja feito logo. Eu adoro meu iPhone SE. É do tamanho ideal, e um dos menores iPhones que já inventaram. Sou uma mulher miúda, não quero um celular maior do que um CD Walkman dos anos 80. Se eu conseguir manter este telefone funcionando até que a Apple perceba que não todos seus clientes são homens de um metro e oitenta com mãos gigantes, ficarei muito feliz”.






Michio Kaku. “ O nosso mundo está destinado a morrer, deveríamos ir para outros . . ."




O ser humano vai abandonar a terra? Por que não? Responde o físico Michio Kaku em entrevista concedida ao site 52 Insights, de Londres. Para esse importante cientista norte-americano de origem japonesa, podemos estar assistindo ao início de uma mudança civilizatória que irá nos levar às estrelas. A nós, em carne e osso, ou, mais provavelmente, aos nossos duplos digitais. 


Fonte: Site 52 Insights, de Londres


O mundo das unidades de informação quântica produz números que dão vertigem. Ao passar dos kilobits para os petabits, dos l e O para os qubits (a unidade de base dos computadores quânticos), descortina-se um futuro tão imenso e complexo que futuristas famosos – como Ray Kurzweil, Max Tcgmark e também Michio Kaku, cofundador da Teoria das Cordas e autor de vários bestsellers – começam a se preocupar com isso. Kaku é um dos cientistas mais populares dos EUA e um dos poucos investigadores da atualidade capazes de se expressar numa linguagem científica compreensível para a maioria de nós.


O físico norte-americano Michio Kaku


A sua mais recente mensagem nos chega sob a forma de um trabalho prospectivo intitulado The Future of Humanity (O Futuro da Humanidade). Esse livro dá um vislumbre de um futuro em que a ciência e as novas tecnologias nos darão poderes tremendos que nos forçarão a reavaliar o nosso lugar no Universo.

Um futuro em que colônias humanas viverão em Marte, onde não seremos a única forma de vida inteligente, onde a imortalidade deixará de ser uma fantasia inatingível e onde viremos a ter capacidade para colonizar outros universos.

No entanto, como aponta Michio Kaku, isso significa abandonar o que em breve se tornará um planeta inabitável. É aqui que começa a nossa indagação.

52 Insights – O seu trabalho anterior, A Física do Futuro (de 2012) abriu-me os olhos consideravelmente e, desde então, vivo fascinado pela escala de Kardashev (ver Nota de Redação). Você prossegue na mesma linha com este novo livro, onde explica que estamos nos movendo lentamente no sentido de uma civilização de “Tipo 1”. Pode explicar o que isso significa e por que, em breve, poderemos ser forçados a deixar a Terra, para garantir a nossa sobrevivência?

Michio Kaku – Uma civilização de tipo 1 é também chamada planetária, porque controla todas as fontes de energia de um planeta. Controla, por exemplo, toda a luz do sol que atinge o seu planeta, controla a meteorologia. Dentro de apenas 100 anos, chegaremos a esse estágio. É muito fácil calcular a produção total de energia do globo e daí a energia de uma civilização de tipo 1. Ao faze-lo, percebemos que nos tornaremos uma civilização planetária por volta do ano 2100. Depois, quando passarmos a dominar todo o poder energético de uma estrela, teremos uma civilização estelar, ou de tipo 2. Poderemos então brincar com as estrelas. Para dar um exemplo, a série televisiva Star Trek (Jornada nas Estrelas), com a sua Federação dos Planetas Unidos, podia potencialmente formar uma civilização de tipo 2. O próximo passo são as civilizações de tipo 3, semelhantes às de A Guerra das Estrelas. Cada civilização está separada da anterior por um fator de cerca de dez bilhões: tomando a potência energética de uma civilização, multiplica-se esse número por dez bilhões e obtém-se a potência energética da civilização seguinte.




Por que é importante falar sobre isso agora?

Porque estamos prestes a nos tornar uma civilização de tipo 1. A internet é a primeira tecnologia de tipo 1 que tem uma dimensão verdadeiramente planetária, é a primeira a espalhar-se por toda a Terra. Para onde quer que olhemos, observamos culturalmente a prova dessa transição. É por isso que a internet é tão importante. Uma civilização de tipo 0 ainda transmite toda a selvageria ligada à sua recente saída do pântano. A nossa continua marcada pelo nacionalismo, pelo fundamentalismo… Mas quando chegarmos ao estágio de uma civilização de tipo 1, teremos eliminado a maioria desses problemas. Quando chegarmos ao tipo 2, nos tornaremos imortais: nada cientificamente conhecido destruirá uma civilização de tipo 2.

O futuro que descreve no seu livro é vasto e expansivo. Está repleto de ideias audaciosas e possibilita todos os tipos de proezas técnicas e cientificas: naves capazes de adaptar planetas ao modo de vida dos terráqueos, imortalidade, civilização avançada. Mas também é um enorme salto no desconhecido, não é?

Isso mesmo. No entanto, eu sou um cientista, por isso posso começar a quantificar o desconhecido. Se fosse um escritor de ficção científica, apenas poderia fantasiar sobre uma série de tolices contrárias às leis da física. Mas sou um físico, conheço o rendimento energético e os requisitos dessas tecnologias.




Vejamos uma das ideias que menciona, a “laserportação”, por exemplo. Pode explicar o que isso significa, de forma sucinta?

Até ao final do século, vamos ser capazes de nos digitalizarmos. Tudo o que sabemos sobre nós próprios e a nossa personalidade e até mesmo as nossas memórias será convertido em dados digitais. Neste momento, o Human Connectome Project, que o Presidente Obama ajudou a lançar, está trabalhando no mapeamento de todas as conexões internas do cérebro.

Cada um de nós já deixa uma pegada digital. Todas as nossas transações com cartões de crédito, as nossas fotografias no Instagram, os nossos vídeos… Isso já representa uma significativa informação digital. Mas, perto do final do século, será o próprio cérebro que vai deixar a sua marca. Vamos ser capazes de criar uma imagem compósita de quem somos. Vamos poder digitalizar essa imagem, carregá-la num feixe de laser e enviá-la para a Lua. Em um segundo, estaremos na Lua, em vinte minutos chegaremos a Marte, em um dia acercamo-nos de Plutão e em quatro anos estaremos perto das estrelas. Sem termos de nos preocupar com reatores de foguetões, sem risco de acidentes, sem efeitos da falta de peso ou de raios cósmicos. Vou ao ponto de dizer que acho que isto já existe. Que há extraterrestres muito mais avançados do que nós, que não se enlatam em discos voadores. Os discos são muito datados. São mesmo muito do século 20! Não. Eles já se laserportam. É possível que já exista uma autoestrada de laserportação muito perto da Terra, através da qual milhões de seres se laserportam através da galáxia, mas somos demasiado estúpidos para perceber isso.

Isso é por estupidez? Ou simplesmente porque estamos ainda a meio caminho entre os tipos 0 e 1 da escala de Kardashev?

Um pouco dos dois. Há uma certa estupidez da nossa parte, porque somos arrogantes. Achamos que sabemos tudo. Acreditamos que, ouvindo sinais de rádio, podemos determinar se existe vida noutro lugar que não na Terra. Para mim, é uma prova de estupidez. Se encontrarmos uma civilização primitiva, é possível que usem Código Morse; mas ao fim de algum tempo, vão ter de começar inevitavelmente a usar todo o espectro eletromagnético. Partimos do pressuposto de que os alienígenas utilizam o Código Morse, que ainda estão no tipo 1. Imaginamos que talvez estejam cem anos à nossa frente. Partimos do princípio de que usam discos voadores. Mas por quê? Isso é tão século 20! A laserportação através da galáxia é um meio muito mais avançado.





A comunidade cientifica levantou objeções a algumas ideias que expõe neste livro?

Não. Sou físico e outros físicos debruçaram-se sobre as minhas ideias. Elas não violam as leis da física. Se fosse o caso, então sim, haveria matéria para tal. Mas não violo as leis da física em momento nenhum. Tudo aquilo de que falo se enquadra nas leis da física.

Creio que uma das ideias fortes do seu livro é que o poder passou das mãos dos governos para as de cidadãos privados. Que pessoas como Jeff Bezos e Elon Musk, por serem multimilionários, são capazes de decidir o destino do mundo. Realmente eles anunciam uma nova era e, hoje, a própria NASA (Departamento da Administração norte-americana para as questões do Espaço e da Aeronáutica) parece ter perdido a sua razão de ser. Será isto o prelúdio de uma era em que os dirigentes das grandes empresas de tecnologia vão definir a orientação do mundo, como sugere no seu livro?

Considero que empresas públicas e entidades privadas podem trabalhar em conjunto. Quando o Presidente Barack Obama cancelou o programa do vaivém espacial, sabia que o setor privado podia ocupar-se disso. A NASA é prudente, porque é uma burocracia. A sua principal prioridade é a segurança. Para um capitalista, é claro que a segurança é importante, mas não é necessariamente a sua maior preocupação. Um empresário quer que as coisas sejam feitas com rapidez e eficácia. Daí que os privados possam trazer novas ideias e imprimir um novo ritmo, fazendo as coisas acontecerem mais depressa do que a NASA. Além disso, a NASA é uma burocracia, acaba tudo em compromisso. Basta pensar no que aconteceu com o setor ferroviário, quando separamos o tráfego de passageiros e de mercadorias: o sistema tornou-se imediatamente mais racional, mais econômico e mais eficiente. Os burocratas queriam o mesmo para todos e o que acabariam por conseguir era nada para ninguém. E foi também assim que a burocracia descarrilou com o programa do vaivém espacial.




Se entendi o que disse, Jeff Bezos, Elon Musk e Richard Branson seriam agora os sonhadores do novo mundo. Eles hoje estão estudando a possibilidade de adaptação de um novo planeta à vida de terráqueos. Pode explicar em que consiste esse processo?

Acima de tudo, o que deve ser entendido é que já estamos hoje transformando a Terra: a terraformação é uma realidade. (Quanto a Marte), podemos avançar por etapas. Primeiro, utilizando metano para aquecer um pouco a atmosfera. A segunda etapa será a de instalar painéis solares para derreter as calotas polares. Uma vez que a temperatura tenha subido seis graus Celsius, desencadeia-se uma reação desenfreada. O aquecimento acelera. É só o que é preciso fazer: aquecer o planeta cerca de seis graus. Atualmente estamos aquecendo a Terra um grau e nem sequer temos consciência disso. Mas em Marte, teremos de elevar a temperatura conscientemente cerca de seis graus. Depois, evidentemente, teremos de tornar Marte habitável, com plantas geneticamente modificadas para poderem vingar na atmosfera marciana, composta por altos níveis de dióxido de carbono.

Teremos também de explorar o gelo para produzir água, e procurar combustível para os nossos foguetes. Modificar geneticamente certas plantas, para que cresçam e nos alimentem, e derreter as calotas polares. Estaremos em condições de iniciar este processo dentro de uns 100 anos. Ninguém considera que possamos fazer isso no imediato, mas será possível dentro de um século; depois de instalada uma colônia em Marte poderemos iniciar esse processo.




É uma ideia muito séria, que começa a se difundir. A perspectiva de sair do nosso planeta vai provavelmente gerar forte ansiedade entre os mais de sete bilhões de seres humanos que somos. Alguns céticos dizem que ir para outro planeta é basicamente abandonar a Terra; mas devemos preparar-nos para isso, porque a Terra já não consegue nos manter. O que acha dessas críticas?

Considero que estão totalmente erradas. Ninguém está dizendo que temos de sair da Terra para ir para Marte. Isso não vai acontecer. Marte está muito distante. Mas é uma espécie de seguro de vida. Penso que as pessoas confundem os alvos nas suas críticas. Deveríamos estar tentando controlar e remediar o aquecimento global na Terra e não em fugir para Marte.

Você parece depositar grande confiança na quarta vaga tecnológica e científica atualmente em curso, ao dizer que vai causar uma nova revolução na riqueza. Mas a saída do planeta e a adaptação de Marte aos terráqueos vão ser acompanhadas por uma arrogância e um ego muito significativos. Teremos de ter cuidado para controlar possíveis abusos. Não lhe parece que precisamos criar uma espécie de tratado?

Sim, acho que devemos criar tratados. Veja o Tratado do Espaço Exterior (formalmente Tratado sobre os Princípios que Regem as Atividades dos Estados na Exploração e Utilização do Espaço Exterior, incluindo a Lua e outros Corpos Celestes), assinado em 1967. Não diz nada sobre indivíduos que reivindiquem direitos na Lua. Mas hoje isso já é possível. Em 1967, se alguém lhe dissesse que um dia o homem construiria o seu próprio foguetão e iria colocar a sua bandeira na Lua, para reivindicar uma parte dela, você acharia que ele estava maluco. E no entanto já chegamos aí. Milhões de pessoas assistiram ao lançamento do foguetão Falcon Heavy (lançado pela SpaceX, em 6 de fevereiro de 2018). Era um foguetão lunar. Quanto custou aos contribuintes? Nada. Nem um centavo. Ninguém podia prever isso em 1967. É por isso que precisamos de novos tratados. Porque a China, por exemplo, também se prepara para ir à Lua; já anunciou que vai implantar lá a sua bandeira. As empresas privadas acabarão por ir também à Lua, mais cedo ou mais tarde. É que não é muito complicado ir até lá. E é por isso que precisamos de tratados. No futuro, as pessoas irão passar a lua de mel na Lua. Vai tornar-se uma atração turística.




Você comenta que explorar toda essa nova tecnologia vai levar-nos a uma era de exploração totalmente nova. Uma professora que cita no seu livro (Sara Seager, astrônoma do MIT – Instituto de Tecnologia do Massachusetts) faz uma declaração fascinante sobre isso e gostaria de ter a sua opinião. “Até agora não descobrimos nenhum outro sistema solar semelhante ao nosso”, diz ela, “e na verdade vimos tantas coisas tão estranhas que os astrônomos não têm teorias suficientes para as explicar. Quanto mais descobrimos o Universo, menos o entendemos. Somos confrontados com uma barafunda incrível.” O que ela realmente pretende dizer com isto?

Quando eu estava na escola primária, nos ensinavam que tudo era simples e organizado. Que o nosso sistema solar era composto por planetas rochosos como Marte ou a Terra, gigantes gasosos como Saturno, e por cometas. Todos os planetas seguiam órbitas circulares e tudo decorria tranquilamente. Essa ideia está hoje totalmente posta de parte.

Claro que as órbitas circulares são necessárias para gerar vida, mas a vida é extremamente rara no Universo. Para que a vida surja, é preciso calma, um ambiente pacífico. Ora o Universo é violento, as órbitas são erráticas, os planetas entram constantemente em colisão uns com os outros. Nós somos uma exceção. É preciso um ambiente estável, para a vida aparecer num planeta. Uma estabilidade de vários milhares de milhões de anos. Todavia, com intervalos de poucos milhares de anos, ocorre um desastre em algum lugar do Universo.




“De toda a vida formada na Terra, 99,9% já se extinguiu. A extinção é a norma. Nós pensamos que a Mãe Natureza é doce e carinhosa, mas ela também sabe ser selvagem e indiferente. A Natureza não se importa que nos tornemos uma simples nota de rodapé no grande livro da história da vida”, diz Michio Kaku.

Então, porque é a Terra tão diferente de todos os sistemas solares que observamos? Porque nos temos vida. São necessárias condições extremamente rigorosas para gerar o ADN. Por exemplo, quando as crianças são informadas de que o Universo é muito antigo, imediatamente perguntam por que ele é tão velho. A maioria das pessoas não sabe o que dizer, não é? Bem, a razão pela qual o Universo é tão antigo é que demorou muito para o ADN aparecer. Não houve ADN logo após o Big Bang; levou 13 mil milhões de anos para o ADN aparecer no nosso cantinho da galáxia.

O fato de termos aparecido e de a Terra ter sobrevivido tanto tempo de forma tão perfeita é estranho, mesmo assim. A sua teoria do multiverso é compatível com esta realidade?

Sim, resolve o problema do “ajuste fino” (Ver Nota de Redação). Parece que o Universo sabia que íamos aparecer. Todas as forças do Universo se ajustaram com precisão, para tornar possível a vida na Terra. Se a força nuclear fosse mais forte, o Sol teria morrido há milhares de milhões de anos. Se fosse mais fraca, nunca teria entrado em combustão. De fato, a força nuclear é a suficiente para produzir a luz solar. 0 que é extremamente raro. Pode examinar a lista toda e encontrar muitas coincidências desse tipo. Portanto, ou Deus existe ou [nos] beneficiamos de uma conjugação de dados incrivelmente feliz.

Pode explicar sucintamente o que é um multiverso?

O Universo é uma bolha. Nós vivemos no invólucro da bolha, a qual está em expansão. É a teoria do Big Bang. Hoje, consideramos que estamos mergulhados num banho de espuma onde coexistem inúmeras bolhas-Universo, que, por vezes, colidem – é a isso que se chama Big Bang. Então, o que aconteceu antes do primeiro verso do primeiro capitulo do Gênesis, quando Deus disse: “Faça-se a luz”? O que aconteceu antes disso? Muito antes disso, houve uma colisão entre universos. A propósito, um dia vamos poder tirar fotografias da infância do Universo, usando detectores de ondas gravitacionais. Dentro de alguns anos, acho que vamos conseguir tirar fotos da infância do Universo. Então, veremos o Universo saindo do útero e poderemos ver um cordão umbilical a ligar o nosso Universo-bebê a uma mãe-Universo.

Neste contexto, você afirmou que as leis da física são “uma sentença de morte para toda a vida inteligente”. Isso porque o Universo acabará por morrer dentro de algumas centenas de milhares de milhões de anos. Quer dizer que, um dia, essas bolhas de sabão vão estourar e dar lugar a novas bolhas?

Não, elas não vão explodir, porque isso contraria a teoria de Einstein; mas vão ficar cada vez maiores e mais frias. Se essa expansão continuar indefinidamente, morreremos de frio. É o chamado Grande Congelamento (Big Freeze). Não temos a certeza dessa evolução, porque ela pode se inverter. Mas, por enquanto, o Universo parece estar acelerando. Vai a toda a velocidade e parece fora de controle. Vai em corrida desabalada.




0 que nos leva, naturalmente, à ideia de que devíamos sair deste Universo – daí os seus capítulos sobre viagens interestelares. Diz que, para conseguir esse tipo de deslocação, podíamos recorrer à energia de Planck. Pode nos dar uma ideia do que é essa energia e de como ela pode nos ser útil?

A energia de Planck é a ultraenergia. Matematicamente, é igual a 10 elevado a 19 GeV (ou seja, 10 elevado a 19 bilhões de elétrons-volt). Isto é, vários milhões de milhões de vezes mais poderoso do que o acelerador de partículas LHC (o Grande Colisor de Hádrons, instalado na Suíça). A um tal nível de energia, o espaço torna-se instável. É como quando se aquece água; a certa altura ela entra em ebulição, não é? Se aquecemos o espaço vazio, ele entra em ebulição. Começam a formar-se bolhas. Só que essas bolhas são universos. A maioria deles explode e regressa ao vazio, nunca mais os veremos; mas alguns estão se expandindo, como é o caso do nosso Universo. Provavelmente, foi assim que começou o nosso Universo. Mas um dia vai ficar tão grande e tão frio, que a vida não será capaz de subsistir. Desaparecerá toda a vida da superfície da Terra. Portanto, a minha posição é a de que, como o Universo está destinado a morrer, devíamos sair dele.

Na situação atual, quais são as nossas possibilidades de sobrevivência nos próximos 100 anos?

De toda a vida formada na Terra, 99,9% já se extinguiu. A extinção é a norma. Nós pensamos que a Mãe Natureza é doce e carinhosa, mas ela também sabe ser selvagem e indiferente. A Natureza não se importa que nos tornemos uma simples nota de rodapé no grande livro da história da vida. Dito isso, acho que somos diferentes dos 99,9% das formas de vida que desapareceram. Os dinossauros não tinham um programa espacial e é por isso que eles não estão hoje aqui. Eles fazem parte dos 99,9% extintos. Quando o asteroide atingiu a Terra, eles não sabiam como reagir. Nós temos um programa espacial, para podermos desenvolver um plano de emergência.

Quando a física quântica foi descoberta, há quase um século, parecia contrária à lógica utilizada até então pelos cientistas para apreenderem o mundo. Acha que uma descoberta equivalente, de um novo tipo de energia ou de um aspeto específico do Universo, poderia mudar a maneira como imaginamos o que, neste momento, somos incapazes de compreender?

Não acho que viremos a descobrir nada fundamental. Se algo surpreendente ou radicalmente novo está para acontecer, deve ser um feito de engenharia, mais do que uma descoberta devastadora para a física. Isto porque temos hoje uma compreensão razoavelmente boa das leis da física, tanto do infinitamente pequeno – ao nível do próton – como do infinitamente grande – como o Big Bang.

Do interior de um próton até às margens exteriores do Universo. Portanto, realmente não é de se esperar o surgimento de novas surpresas. A menos, é claro, que consigamos entrar num próton, para explorar um canal, ou que saiamos do Universo graças ao hiperespaço. Já do lado da engenharia, sim, pode haver todo o tipo de surpresas, assim como no da bioengenharia.




Notas da Redação :

Escala de Kardashev – Trata-se de uma escala teórica que classifica as civilizações de acordo com o seu consumo de energia e o seu nível tecnológico. Proposta em 1961, pelo físico russo Nikolai Kardashev, tem sido utilizada por investigadores do SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence – centro de investigação de inteligência extraterrestre), que buscam possíveis sinais de extraterrestres, e por futuristas, para descreverem civilizações extraterrestres.

Kardashev distingue três tipos de civilizações: Civilizações de tipo 1 – Capazes de aproveitar a energia potencial de um planeta. Civilizações de tipo 2 – Capazes de aproveitar a energia potencial de uma estrela. Civilizações de tipo 3 – Capazes de aproveitar a energia potencial de uma galáxia.

Esta teoria foi posteriormente criticada e revista. A principal crítica foi a excessiva importância dada ao consumo de energia.

Ajuste fino e Big Bang – É necessário estarem reunidas condições extremamente precisas para surja no Universo a vida como a conhecemos. Uma variação, mesmo muito pequena, de algumas constantes fundamentais da física não permitiria que a vida emergisse.

O cosmologista e astrônomo britânico Fred Hoyle designou essas condições particulares do Universo de “ajuste fino”, em 1953.

Esse mesmo cientista, que defende a teoria do estado estacionário (que descreve um Universo imutável e eterno), usou a expressão Big Bang, em 1919, num programa da BBC, para ridicularizar a teoria de um Universo em expansão. Ora, não apenas provas de um Universo em expansão têm sido amplamente reunidas desde então, como a expressão Big Bang se tornou muito popular.

(*) Michio Kaku. Físico norte-americano nascido em 1947 (71 anos). Professor de física teórica no City College, em Nova York. Michio Kaku é também um futurista. 

Trabalha especialmente no campo da Teoria do Todo, que busca unificar as quatro forças fundamentais do Universo. O seu mais recente livro, The Future of Humanity: Terraforming Mars, lnterstellar Travel, lmmortality, and Our Destiny Beyond (O futuro da humanidade: transformação terráquea de Marte, viagens interestelares, imortalidade e o nosso destino mais além) foi publicado em fevereiro de 2018 nos Estados Unidos, pela editora Doubleday. 

Em Portugal, vários livros de Michio Kaku estão incluídos no Plano Nacional de Leitura do Ministério da Educação, como sugestões para o Ensino Secundário, traduzidos em português, como Hiperespaço, Mundos Paralelos. A Física do Futuro e O Futuro da Mente, editados pelo Editorial Bizâncio. 

A mesma editora publicou também A Física do Futuro e Visões: como a Ciência irá Revolucionar o Século 21. No Brasil, está traduzido O Cosmos de Einstein (Companhia das Letras).



Postado em Brasil 247 em 05/07/2018




Que tal uma miniatura sua usando uma impressora 3D ?





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Impressoras 3D são "fábricas de objetos"; veja o que é possível criar com elas - Fotos - Tecnologia:





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