Música que sai diretamente do meu coração . . .




Oi gente, vários fatores nesta pandemia nos afetaram mental e psicologicamente e por isso recorri a algumas músicas, pensadores e filósofos que nos ensinam com suas obras a encarar a vida com mais serenidade e sabedoria.

Saibam que isso não se aprende nos livros, na escola ou apenas com as vitórias. A sabedoria se aprende e deve ser cultivada ao longo de toda a vida, através de experiências, vivências, erros e acertos. E a música tem uma parcela de contribuição gigante nisto tudo.

E para nos ajudar nesse longo e maravilhoso percurso, cataloguei algumas mensagens de sabedoria, reflexão e otimismo que irão despertar uma faísca de reflexão sobre o modo que você está construindo a sua vida. E ao final, uma canção diretamente do meu coração...


O grau mais elevado da sabedoria humana é saber adaptar o seu caráter às circunstâncias e ficar interiormente calmo apesar das tempestades exteriores.   Daniel Defoe

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
Cora Coralina

Escuta e serás sábio. O começo da sabedoria é o silêncio.
Pitágoras

Ser feliz não é ter uma vida perfeita, mas deixar de ser vítima dos problemas e se tornar o autor da própria história.
Abraham Lincoln

E agora diretamente do meu coração, pois estou sem palavras para grandes textos, mas o coração continua gigante e pulsante para trazer as canções que de uma forma latente tocam os nossos corações trazendo à tona reflexões e beleza e sobretudo levezas... A vida é para ser vivida todos os dias, sem mágoas ou ressentimentos. Deixe seu coração pulsar de emoção!



" Eu poderia começar a sonhar, mas isso nunca terminaria

Enquanto você estiver distante

nós podemos também fingir que eu estava sonhando

Diretamente do coração

Você disse que é fácil, mas quem diria

que nós seríamos capazes de manter isso desta maneira

Mas é mais fácil

Vindo diretamente do coração

Entregue para mim, diretamente do coração

Diga-me que nós podemos começar de novo

Você sabe que eu nunca partirei - enquanto eu souber que

Isso está vindo diretamente do coração

Eu te verei na rua alguma outra hora e todas as nossas

palavras simplesmente sairão do controle

Enquanto estivermos sonhando

Diretamente do coração

Entregue para mim, diretamente do coração

Diga-me que nós podemos começar de novo

Você sabe que eu nunca partirei - enquanto eu souber que

Isso está vindo diretamente do coração."

Bryan Adams

Sobre a Canção Straight from the Heart

Bryan Adams em 1984 e nos dias atuais


" Straight from the Heart " é uma canção gravada pelo músico de rock canadense Bryan Adams . Foi lançado em fevereiro de 1983 como o primeiro single de seu terceiro álbum de estúdio, Cuts Like a Knife .

A canção foi escrita por Eric Kagna, um cantor / compositor de Vancouver, e a ponte instrumental foi contribuída por Adams. O crédito oficial do compositor é dividido igualmente entre Adams e Kagna.

E agora a canção que é uma linda viagem dentro da nossa emoção. Espero que apreciem!


 


Fontes de pesquisa:









Casal de fotógrafos captura a beleza surpreendente de crianças afro em fotos únicas



Na série “AfroArt” eles celebram a versatilidade do cabelo afro e sua beleza inata. O objetivo desta série é ilustrar a história do passado real dessas pessoas, celebrar a glória do aqui e agora e até mesmo ousar prever o futuro.



Regis e Kahran são um casal de artistas que há mais de 10 anos trabalham com centenas de crianças, famílias e marcas. Eles são obcecados por uma narrativa visual única.

Os dois se conheceram justamente por conta de sua paixão compartilhada de preservar momentos preciosos. Eles se apaixonaram perdidamente um pelo outro e, no processo, criaram algo lindo: o CreativeSoul Photography

O casal é especializado em fotografia de estilo de vida, com uma narrativa visual autêntica. O trabalho deles é único e possui uma abordagem holística.

Os fotógrafos já trabalharam na Teen Vogue, CNN, revista Glamour, Vogue Italia, Black Enterprise, BET.com, BBC News, e muito mais.

Na série “AfroArt” eles celebram a versatilidade do cabelo afro e sua beleza inata. O objetivo desta série é ilustrar a história do passado real dessas pessoas, celebrar a glória do aqui e agora e até mesmo ousar prever o futuro.

“Com esta série, pretendemos capacitar crianças de cor a abraçar seus cachos naturais e a pele em que estão. Esta série viral ganhou atenção mundial e foi apresentada na BBC News, CNN, CBS News, Teen Vogue, Glamour Brasil e mais.”, diz o site dos fotógrafos.

O trabalho incomparável desses artistas tem como resultado imagens surreais que mostram a beleza única desses jovens e crianças e suas culturas. Confira!


by CreativeSoul Photography

by CreativeSoul Photography

by CreativeSoul Photography

by CreativeSoul Photography

by CreativeSoul Photography

by CreativeSoul Photography

by CreativeSoul Photography

by CreativeSoul Photography

by CreativeSoul Photography

by CreativeSoul Photography

by CreativeSoul Photography

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by CreativeSoul Photography

by CreativeSoul Photography

by CreativeSoul Photography


Qual foi sua foto preferida? Conta pra gente!

Para saber mais sobre os artistas, acesse o site.




As mentiras do canalha na ONU




Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

Logo no início da pandemia, quando comecei a escrever sobre os desmandos deste Presidente desalmado e desumano na condução criminosa da crise sanitária, propus que ele fosse processado não somente pelos crimes contra a saúde pública, mas também por genocídio. Escrevi sobre isso em maio de 2020 e fiz várias lives defendendo a criminalização da conduta desse fascista. Fui muito criticado por vários amigos que tinham o cuidado sobre a exata tipificação da conduta desse criminoso. Uma preocupação técnica que eu respeito, mas que não me comove.

O ar que começava a faltar para milhares de brasileiros tragados pela nuvem tóxica que exalava desse governo me turvava os olhos. Agia por impulso, usando o que a advocacia e a vida me deram de mais precioso: a capacidade de poder falar e escrever. Quis fazer da minha voz a voz daqueles que começavam a sofrer os efeitos de uma política perversa e cruel. Já trazia a indignação para o debate que se avizinhava na certeza de que o irresponsável Presidente estava guiando o país para o abismo, para o precipício.

E, aos poucos, fui colocando mais pimenta para definir esse Presidente desprovido de empatia, de compaixão, de solidariedade e de emoção com a dor do outro. Dentre as várias palavras que eu usei para definir minha repulsa, talvez uma o defina melhor: canalha!

Gradativamente, fui tomando atitudes que me davam a tranquilidade necessária para fazer o embate na travessia que se anunciava longa, tumultuada e em mares revoltos. Cortei os fascistas da minha lista de relação, saí de grupos de WhatsApp e mostrei a mim mesmo que a coerência era imprescindível nessa luta. Nos detalhes. Afinal, não é possível denunciar a barbárie e continuar celebrando a vida com os bárbaros. Temos que ter coragem de denunciar a conivência dos covardes, que são cúmplices do desastre humanitário ao qual o Brasil está sendo submetido.

Aos poucos, fui notando que éramos muitos. A palavra genocida passou a ser um substituto do nome desse canalha. Mesmo a imprensa quase já não usa mais o nome do Presidente para se referir a ele. Nos grupos, a maneira de qualificá-lo é, na maioria das vezes, de forma pejorativa e merecidamente depreciativa. O grande Rui Castro fez épica coluna com mais de uma centena de nomes para poder definir o canalha. Virou um pequeno dicionário para ser consultado quando queremos nos referir a esse assassino.

Mas nada é tão ruim que não possa piorar. A tragédia continua com a destruição de todos os valores humanistas que nossa sociedade incorporou ao longo de décadas. Esse canalha governa para as trevas e leva, cada vez mais, o país para o caos. Desestruturou a saúde, desmantelou a cultura, desarranjou a segurança e se apropriou até das nossas cores e símbolos. Corrupto que sempre foi, lambuzou-se com o poder. Usou a sua absoluta falta de escrúpulos para sacramentar uma política de ódio, da mediocridade e da desumanidade. Saiu de cena o debate político para dar lugar a uma baixaria que dá asco e nojo.

A mentira é a arma oficial dos canalhas. Criaram um universo paralelo onde o que importa é a estratégia de manutenção do poder. Nenhuma preocupação com a realidade e com a verdadeira situação do povo brasileiro. Um discurso voltado para os milhões de cúmplices e a desfaçatez de arrombar os cofres públicos, a céu aberto, para a perpetuação da quadrilha no comando. Um acinte diário, permanente e sem limites. O Brasil está sendo estuprado aos olhos do mundo, que acompanha perplexo o nosso dia a dia. E nós seguimos indignados com nossa resistência diária e nossa dor pelos que ficaram no caminho.

A fala do canalha na ONU foi um fecho de ouro para coroar a hipocrisia e celebrar a mentira. A humilhação a que o país foi submetido é apenas a continuação do que ocorre a todo instante com as mulheres, os negros, os desempregados, a comunidade LGBTQIA+ e os que perderam amigos e familiares na luta contra o obscurantismo. Pode parecer tarde, mas ainda é tempo. Vamos seguir resistindo. Só não podemos nos esquecer do nome do canalha, esse nome que, por profilaxia, acabamos não usando, preferindo sempre uma qualificação pejorativa: Bolsonaro. Esse é o chefe dos canalhas.

Com a lembrança do mestre Miguel Torga, em Penas do Purgatório.

“Guarde a sua desgraça
Oh desgraçado.
Viva já sepultado
Noite e dia.
Sofra sem dizer nada,
Uma boa agonia
Deve ser lenta, lúgubre e calada.”









O abraço





O abraço só deixou de ser vulgar quando a pandemia

 o tornou problemático


Boaventura de Sousa Santos (*)

No passado dia 28 de Agosto de 2021 às 16.30 dei o primeiro abraço a alguém fora do círculo das poucas pessoas íntimas que convivem comigo diariamente, quinhentos e vinte cinco dias depois de me ter isolado na minha aldeia a 30km de Coimbra devido à pandemia. O que senti não tem descrição possível. Foi um ato incondicional, uma presença demasiado forte para poder ser objeto de planeamento ou representação. Sentir as minhas mãos deslizar e apertar outro corpo contra o meu, era algo tão familiar quanto estranho. O prazer de outro corpo contra o meu era mais que erótico. Era a verdade carnal da existência, uma prova de ser. Depois veio medo, mas seria medo ou punição pelo prazer? Terá sido um ato impensado e desnecessariamente arriscado? Seria preciso retreinar os sentidos e reaprender a lidar com as emoções do contacto físico e com o conforto desafiador que delas deriva? Teria eu estado sujeito a uma prolongada privação do toque e do tacto de outros seres vivos que não os estritamente familiares, entre humanos, gatos e cães?

Porque não me ocorrera durante a longa privação pandémica abraçar árvores, como fazem muitos ecologistas para sentirem a energia desses maravilhosos seres vivos que ligam de modo tão natural a profundeza da terra e a altura do céu, algo que é tão difícil para os humanos treinados na cultura ocidental? Por que é que abraçar as árvores (e tantas tenho no meu quintal), que eu poderia abraçar sem ter medo de ser por elas contaminado pelo coronavírus, não me daria a mesma indescritível emoção que me invadiu ao abraçar e sentir o corpo quente de um ser humano amigo? Por que é que esta verdade carnal da vibração incontida de um abraço escapa à reflexão e só como surpresa invade a consciência como uma avalanche solta e “irracional”, de modo menos previsível que um tsunami ou um terramoto? Sendo certo que em certas culturas há quem não possa ser tocado, quer por ser demasiado superior quer por ser demasiado inferior, como funcionará a vibração dos corpos sem toque?

Esta verdade carnal dos corpos e das relações humanas é o dia-a-dia de todos os seres humanos que não fazem do corpo (próprio ou alheio) e das relações humanas um instrumento de diagnóstico científico, um objecto de lucro ou um motivo de especulação filosófica, mas raramente ocorre ou se impõe a intelectuais e filósofos. Quando isso ocorre, o que é muito raro, faz deles seres muito especiais.

Lembro-me de Michel de Montaigne que, nos seus Essais, escritos por volta de 1570, escreve sobre o que verdadeiramente conhece, o seu corpo e as surpresas e contradições das relações humanas. Por isso, dedica um ensaio à arte de conversar e da confrontação oral e discorre sobre o prazer de comer ostras, mesmo tendo de sofrer as cólicas que elas podem vir a causar. Mas o caso mais notável é o de Albert Camus e a sua incessante luta contra as ideias abstractas, a que contrapõe a verdade carnal da morte e do sofrimento concretos. Numa sessão na Universidade de Estocolmo, por ocasião da entrega do Prémio Nobel da Literatura em 1957, quando interpelado agressivamente por um ativista islâmico sobre a independência de Argélia e a questão da violência, Camus respondeu: “terrorismo nas ruas de Argel… poderia matar a minha mãe ou a minha família. Eu creio na justiça, mas defenderei a minha mãe acima da justiça”. A sua mãe valia mais para ele do que qualquer ideia abstrata.

O abraço e a cultura

A verdade carnal do abraço depois de tanto desuso e a emoção com que me abalou fez-me refletir sobre o abraço. 

Os poetas desde sempre contemplaram as ambiguidades do abraço. Florbela Espanca canta, num dos sonetos, o “lânguido e doce” abraço de “Dona Morte”. Pablo Neruda dedica-lhe um poema de amor: “Em teu abraço eu abraço o que existe / a areia, o tempo, a árvore da chuva / E tudo vive para que eu viva: / sem ir tão longe posso vê-lo todo: / veio em tua vida todo o vivente.” António Ramos Rosa recusa-se a adiá-lo, e ao amor: “Não posso adiar este abraço / que é uma arma de dois gumes / amor e ódio”. E Ana Luísa Amaral canta rupestres saudades de “fresco e doloroso abraço”. 

Já Shakespeare tinha mostrado um derrotado Henrique VI a não ter escolha senão “abraçar o amargo infortúnio”. Por sua vez, o grande poeta, matemático, astrónomo e filósofo persa do século XI, Omar Khayyam, ousou perguntar-se pelo maternal, derradeiro abraço que tudo apazigua. Muitos séculos mais tarde, o grande poeta turco, Nâzim Hakmet, haveria de cantar o desejo do seu povo – “honesto, trabalhador, valente, meio saciado, meio faminto, meio escravo…” – de abraçar tudo o que fosse “moderno, belo e bom”.

Entretanto, descobri que psicólogos, etólogos, antropólogos e estudiosos da cultura têm dedicado longas páginas ao estudo de tão simples fenómeno, tão comum entre humanos como entre animais, mas com tantas variações e tão diferentes significados. 

O termo vem do latim, “bracchia collo circundare”, pôr os braços à volta do pescoço. É um ato que transmite afabilidade, simpatia, ausência de hostilidade, um gesto que entre humanos tanto ocorre no início de um encontro como na despedida. Os animais também se abraçam mas, ao contrário dos humanos, abraçam-se de frente e de costas, e, pelo menos os animais domésticos, não parecem abraçar-se nunca à despedida. 

A fenomenologia do abraço é muito complexa e tem sido objecto de minucioso estudo: os movimentos de aproximação, as expressões corporais, a fixação do olhar, a duração, a maior ou menor pressão dos corpos apertados no abraço, o contacto ou não de zonas tabu no encontro de corpos de sexo diferente, o toque na cabeça ou na cara, o âmbito do deslizar das mãos nas costas ou nos ombros do parceiro sem causar desconforto. O contato corporal é fundamental para os recém-nascidos e o abraço da mãe é rapidamente identificado com sentimentos de alegria, conforto e confiança, que são depois reproduzidos quando abraçam bonecos ou brinquedos. 

Por outro lado, há um ramo do conhecimento, a proxémica, dedicado a estudar a relativa distância que as pessoas em diferentes culturas ou com diferentes características psicológicas consideram ser necessário manter entre si e outra pessoa, numa interacção normal, sem sentirem desconforto. Por exemplo, pessoas extrovertidas exigem menos distância que as introvertidas ou com distúrbios psicológicos. A zona de distância entre os corpos no abraço é considerada a zona íntima, entre 0 e 15 cm. Considera-se hoje que essa distância está relacionada com factores genéticos, ambientais, práticas culturais, papéis sociais, infância, religião. 

No mundo ocidental (sobretudo anglo-saxónico), os homens tendem a preferir o aperto de mão ao abraço, enquanto as mulheres entre si preferem o abraço. Tudo isto me parece fascinante, embora nada me diga sobre o que senti quando abracei o visitante bem-vindo e de quem tinha tantas saudades. E também não me explica por que razão, nesse preciso momento, um simples aperto de mão (sobretudo se seguido de desinfecção), longe de ser um acto afectivo, significaria distância, desconforto e até hostilidade. 

A ciência do abraço não ensina a abraçar, nem é esse o seu propósito. Mas não deixa de ser interessante conhecer os diferentes significados culturais que esse ato tão vulgar pode ter. Afinal, o abraço só deixou de ser vulgar quando a pandemia o tornou problemático, e foi então que, perante a sua perda, passámos a apreciá-lo verdadeiramente.

O significado do abraço está inscrito em muitas culturas. Na Bíblia, é pelo abraço que se dá a reconciliação entre Esaú e Jacob: “Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço e beijou-o; e choraram”. É sabido que os povos latinos e africanos têm uma maior necessidade ou uma maior disponibilidade para se abraçar e de o fazer mais efusivamente, ainda que nos países africanos de cultura islâmica, os abraços ocorram apenas entre humanos do mesmo sexo. A duração do abraço está sempre relacionada com a intensidade da emoção, que tanto pode estar relacionada com felicitações como com condolências. Enquanto na Rússia, na França e em certas regiões da Europa de Leste o abraço entre homens seguido de beijo na face é comum, tal não acontece noutros países. Mas enquanto na Europa do Sul o abraço é uma saudação comum, na Europa do Norte a saudação comum é o aperto de mão. Nas diferentes culturas islâmicas, o contato corporal entre homens e mulheres no espaço público é mais raro, a distância na interação tende a ser maior, e o abraço pode mesmo ser proscrito.

A população branca dos EUA é tão pouco atreita a abraçar-se, pelo menos em público, que Kevin Zaborney propôs em 1989 que o dia 21 de Janeiro passasse a ser dia nacional do abraço para desenvolver sentimentos de confiança e de segurança entre familiares e entre amigos. Não surpreende que os sessenta milhões de latinos que vivem nos EUA, que tão gostosamente mostram a sua diferença em relação à população branca ao abraçar-se profusamente entre si, tenham sofrido tanta privação psicológica durante a pandemia. Segundo alguns relatos, a propagação da infecção entre latinos esteve relacionada, entre muitos outros factores, com os abraços e a proximidade corporal, de tal modo entranhados na cultura, que não puderam ser dispensados, apesar dos riscos.

O abraço e a saúde

São Hojin Zaborney propôs o dia nacional do abraço para melhorar a comunicação humana e diminuir os níveis de stress e de hostilidade. Curiosamente, o Brasil também celebra o dia anual do abraço, mas a 22 de Maio, e não é porque faltem abraços nas relações entre os brasileiros e as brasileiras. É apenas para celebrar a magia do contacto corporal da amizade e da afectividade e do apoio mútuo, tão necessária nos momentos que correm. 

Os mais conhecidos efeitos físicos do abraço são a produção da ocitocina, considerada a hormona do amor pelo seu papel na diminuição da ansiedade, na melhoria do humor e no aumento da afectividade. Também diminui a agressividade do humano masculino, tornando-o mais amável, generoso e social. O abraço baixa a tensão arterial e, segundo alguns especialistas, aumenta a imunidade do corpo, o que não deixa de ser irónico e mesmo cruel em tempos de pandemia: quanto mais necessidade teríamos de nos abraçar, mais perigoso isso se torna em razão da possibilidade de contágio. O ser humano em pleno labirinto da sua potência e limitação. A inconformidade prometeica com tal contradição levou à engenharia do abraço a nós próprios como se fôssemos outrem. Refiro-me à invenção do Sense Roid, o manequim coberto de sensores tácteis, fato táctil com motores de vibração e músculos artificiais que recriam a sensação do abraço. O Sense-Roid foi criado pela Universidade de Electrocomunicações do Japão e pode ser comprado na Amazon. 

À primeira vista, parece estarmos na fronteira da distopia pós-humana. Mas, afinal, a estranheza que nos causa será diferente da que causaram no início da sua comercialização os vibradores sexuais, considerados hoje um acessório comum? Contra este fix tecnológico, que torna o solitário em espelho perverso do solidário, parece crescer entre os jovens o hábito de se abraçarem para se sentirem mais apoiados, mais íntimos e mais afetuosos. Em tempos de pandemia, talvez corram riscos, mas o risco maior não será viver como se morre? Só.


(*) Diretor Emérito do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra












A arte e a natureza se unem saudando a Primavera !

 





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