O poder da esperança




Maria Cristina Tanajura

Para iluminar a sombra reinante, em tempo de mudanças em todos os aspectos da vida neste planeta, existem faróis que a iluminam e que por isso precisam ser mantidos com extremo cuidado por cada um de nós. A fé e a esperança rasgam a escuridão com jatos luminosos de uma força incomensurável.

A fé nos assegura que tudo passa e que a dinâmica da vida é a constante mudança. Se estudarmos a história da humanidade perceberemos o quanto já melhoramos, mesmo que ainda nos falte muito para que cheguemos onde é preciso para vivermos realmente em paz. 

Nossa consciência nos fala de nossa origem e de nosso destino como seres cósmicos que têm uma vivência eterna e que por isso precisa ser cuidada, pois não vai ter um fim e será sempre da maneira que a tivermos construído ao longo dos caminhos. 

Independente da crença que cada um de nós professe, temos sempre uma noção de como fomos criados e da existência de um Ser Superior responsável por toda a maravilhosa harmonia do Universo infinito. Precisamos colocar o nosso contato com esta energia criadora e mantenedora da vida como prioritário em nossos dias, para que nos alimentemos sempre de uma energia vivificadora e pura que nos impedirá de viver em contato muito contínuo com as sombras. Não apenas com as que nos cercam, neste planeta de expiações e provas, mas também com as que ainda perduram em nós, seres em evolução, viajantes no Tempo.

Temos conhecimento de seres humanos que nasceram com muitos impedimentos físicos e que, mesmo assim, com a força da própria essência, de Deus em suas vidas, conseguem superar esses bloqueios, tornando-se verdadeiros farois a iluminarem o nosso caminhar.

A esperança é uma luz infinitamente poderosa e é preciso que não permitamos que a vida de hoje, recheada de notícias tristes e apavorantes a destrua. Sem fé e esperança fica muito difícil conseguir vencer os percalços e decepções que nos alcançam a todo instante.

Saber agradecer por tudo que conseguirmos ser e pelas bênçãos de um céu iluminado, pela beleza das flores, das paisagens deste planeta, pelos amigos que encontramos e que nos ajudam é imprescindível, também. Se fizermos da gratidão um hábito diário, perceberemos tudo de bom e belo que sempre está a nos acontecer.

Caminhando e agradecendo cada instante em que formos agraciados com a saúde, com momentos de paz, com a condição de mantermos o nosso corpo físico nutrido e cuidado, iluminaremos nossas vidas e de alguma forma, a de todos com que entrarmos em contato.

Tudo o que não conquistamos ainda, um dia será nosso, se o merecermos. Importa ser feliz com o que possuímos, tendo esperança num amanhã mais próximo dos nossos sonhos.

Não existe ninguém que tenha tudo que gostaria, que já seja como queria ser. Temos um tempo eterno pela frente para irmos avançando, agradecendo, caindo, recomeçando.

Esperança tem a ver com uma espera. Mas, pra quem tem fé, resta a certeza de que esta nunca será em vão...

Iremos conquistando a nós mesmos, nos autoconhecendo, tendo a humildade de reconhecer os nossos limites e assim galgaremos degraus, a pouco e pouco, em direção à tão sonhada paz que todos merecemos ter, cada dia em maior proporção e intensidade.

Que, no meio deste nevoeiro causado por notícias tão decepcionantes, possamos ser uma luz, mesmo pequenina, pois assim estaremos ajudando toda a Terra a ir se melhorando.

Bom atentar sempre para o fato de que podemos deixar de ouvir o que não nos ajuda em nada, escolher com quem passar nossas horas, que livros ler, que filmes assistir.

Temos uma grande missão junto a cada um de nós. A de nos ajudarmos, de nos amarmos, de nos perdoarmos também, para que dessa forma possamos fazer o mesmo com o outro que se aproximar de nosso caminho!

NÃO PODEMOS PERDER A ESPERANÇA, ou estaremos nos deixando vencer, pois encarnamos para melhorar, para crescer.









Páscoa, covid-19 e o renascimento psicológico






Arlete Salante (*)

O termo Páscoa se originou do latim pascha que, por sua vez, deriva do hebraico pessach / pesach, que significa ‘a passagem’.

Cada ser humano tem na sua passagem terrena os ciclos de vida e de morte e também os seus renascimentos. A passagem de Cristo e a ressurreição para a vida eterna também nos servem como uma metáfora da vida física e psicológica.

Nascemos, morremos, renascemos e, diante da pandemia, mais do que nunca precisamos ter esta compreensão dos processos da vida psicológica. Morremos quando nos aprisionamos em formas de vida que levam à estagnação, à perda da nossa capacidade criativa. Renascemos quando mudamos, quando atualizamos a nossa forma de ver o mundo, quando estamos juntos ao nosso ser, sendo fiéis a nossa verdadeira e autêntica identidade.

Estamos diante do invisível e desconhecido, uma vez que a ação do vírus é individualizada, ou seja, cada pessoa é impactada biologicamente de forma diferente e os efeitos são complexos.

Os impactos negativos na saúde mental têm sido altos. Mas não é só isso que a pandemia traz. Muitas pessoas têm amadurecido seus projetos e sonhos como efeito deste período de crise e isolamento.

A finitude é compreendida e vivida de forma particular, individualizada por cada pessoa. Conforme o nível de amadurecimento, nos abrimos para compreensões superiores e evoluímos diante da experiência dolorosa ou, por angústia, medos e inseguranças, abandonamos a vida e, assim, perdemos a oportunidade de amadurecer.

Percebermos o quanto a vida é breve e também frágil, fazendo com que a valorizemos mais. Ao menos para quem é inteligente, a questão da existência é importante, diz o Prof. Antonio Meneghetti.

Como você pode viver o renascimento psicológico? Não há uma receita pronta. Mas a dica que eu posso te dar é ser humilde e avaliar como está a sua vida.

Pergunte-se se a sua passagem por esta vida está agregando valor às pessoas. Pergunte-se o que você precisa aprimorar na sua forma de ser e o quanto está satisfeito com a pessoa que você se tornou.

Feliz Páscoa!

Que seja valorosa a sua passagem por esta vida!


(*) Arlete Salante é psicóloga.











A Força do Amor


( Sebastien )

Eu proteger-te-ei dos teus medos

Sou o teu príncipe azul

Anjo do céu

Nada mais há que temer


( Carlos )

Hoje, tal como ontem, sempre me vais ter

Apenas importa o teu amor, dá-mo

Aqui estou


( David )

La fuerza mayor

A maior força está no Amor

É interior

O objetivo é dá-lo

Deverás mostrá-lo sem razão

Com o coração


( Urs )

Prometo que te cuidarei

E viverei apenas para te amar

Quando triste estiveres, ali estarei

Com este imenso amor

Que sinto por ti e nunca chorarás

Serás a/o única/o


( Sebastien )

Apenas o teu amor importa, dá-mo

Estou aqui


( Todos )

La fuerza mayor

A maior força está no Amor

É interior

O objetivo é dá-lo deverás mostrá-lo

Com o coração


La fuerza mayor

A maior força está no Amor

É interior

O objetivo é dá-lo

Deverás mostrá-lo sem razão

Com o coração




O Crucificado se solidariza com as vítimas do Covid-19





Leonardo Boff

Um manto de tristeza se estende sobre toda a humanidade e não há lenços suficientes para enxugar tantas lágrimas por causa da vítimas do Covid-19. O vírus não poupa ninguém, pois, invisível, pode atacar os que não tomam os devidos cuidados. Ele pôs de joelhos as nações militaristas que se encheram de armas, capazes de exterminar toda a vida no planeta, inclusive a humana. Elas são absolutamente inúteis diante do pequeníssimo coronavírus. 

Alexandre, o Grande (356-323 A.C) formou um império que ia do Adriático ao rio Indo, morreu picado, provavelmente, por um mosquito que produz uma febre viral (a febre do Nilo ocidental). Quem aqui é mais forte? O jovem conquistador de 23 anos ou o mosquito? Estamos morrendo por um vírus invisível, arrasando com toda a nossa arrogância, sem dizer que ele é consequência de nossa sistemática agressão à natureza (o antropoceno e o necroceno) que se defende com sua arma letal e imperceptível, o Covid-19 e uma gama de outros vírus.

Todos tememos e sofremos, assistindo, impotentes, à dizimação de milhares, já cerca de dois milhões de vítimas. No Brasil a situação é dramática, porque um governante ensandecido e negacionista, sem qualquer sentimento de empatia, tolera que morram já mais de 300 mil pessoas e cerca de 13 milhões sejam infectados.

Não poder despedir-se dos mortos queridos, nem dizer-lhe um último adeus, e sem poder viver o luto imprescindível causa uma dor silenciosa de romper corações. É a nossa via-sacra de estações sem fim, de lamentos e choros. Celebramos a sexta-feira santa da morte na cruz do Filho do Homem no contexto desta paixão mundial e nacional. Quem nos consolará? Quem nos sustenta a esperança de que a vida ainda uma vez irá triunfar e que poderemos viver livres e sadios, desfrutando da alegria estarmos junto com nossos entes queridos, amigos, amigas e próximos?

Há muitas lições que se podem tirar da crucificação de Jesus, resultado de um duplo processo, religioso e político, seguramente de sentido transcendental como redenção/libertação dos seres humanos. Esta talvez seja a mais profunda. Mas há outros sentidos, humanitários, que podem, na atual situação, nos fortalecer no nosso desamparo e nas horas pesarosas do isolamento social, este que nos rouba a alegria de encontrar os familiares e amigos e poder abraçá-los e beijá-los. Consola-nos pensar que, para os que conseguem crer, não estamos sós em nossa paixão. O Crucificado sofre junto e irá sofrer até o final dos tempos enquanto houver sofredores e desamparados.

São Paulo o expressou adequadamente, numa versão simplificada: ”ele não fez caso de sua condição divina, apresentou-se como um simples homem, em solidariedade se fez servo e até não temeu morrer na cruz” (cf. Carta aos Filipenses 2,6-8). Não foi ingenuamente ao encontro da morte. Ao saber que seus opositores decidiram matá-lo, testemunha-o o evangelho de São João, escondeu-se na cidade de Efraim perto do deserto (11,54). Sabemos que Efraim era uma cidade-refúgio. Quem fosse perseguido e ameaçado por qualquer razão, na cidade de Efraim não podia ser pego e estava protegido. Para lá rumou Jesus com seus seguidores.

A Epístola aos Hebreus testemunha: ”entre lágrimas suplicou Àquele que o podia salvar da morte”. Versões mais antigas dizem: ”e não foi atendido; apesar de ser Filho de Deus, teve que aprender a obedecer por meio do sofrimento” (5,7-8). No monte das Oliveiras, no Getsêmani seu temor face à morte iminente o leva a suplicar: ”Pai, afasta de mim este cálice; mas não se faça a minha mas a tua vontade” (Lucas 22,42).

O evangelista Lucas relata ”cheio de angústia, o suor tornou-se como grossas gotas de sangue a escorrer por terra” (22,44). Jesus foi tomado mais do que pelo medo, mas pelo pavor a ponto de suar sangue, como é atestado em pessoas na iminência de seu enforcamento ou fuzilamento. Mas o paroxismo foi alcançado na cruz: sentindo-se abandonado pelos seguidores e absolutamente só enfrenta a maior tentação pela qual um ser humano pode passar: a tentação da desesperança. “Será que foi tudo em vão? Passei pelo mundo fazendo o bem e eis que me encontro crucificado”. Expressa seu desamparo gritando: “Deus, oh Deus, por que me abandonaste?” (Marcos 15,34). Finalmente, nu por dentro e por fora, entrega-se ao Mistério que se esconde mas que conhece todos os nossos destinos. A última palavra de Jesus, não resignada mas livre, foi: ”Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lucas 23,46). São Marcos ainda lembra: ”dando um imenso brado, Jesus expirou” (15,37).

Jesus se mostrou o protótipo do ser humano fiel a Deus e a causa de Deus no mundo, a predileção pelos pobres, o amor incondicional e a misericórdia ilimitada, causa essa levada até ao extremo, entregando livremente a própria vida. A recusa humana de sua pessoa e mensagem pode decretar sua crucificação, mas não pode definir o sentido que Jesus conferiu a esta vergonhosa condenação: ser solidário com todos os crucificados e sofredores do mundo.

A ressurreição após seu destino trágico veio mostrar de que lado estava Deus, ao lado dele e de sua vida e causa. Revela a justiça divina contra o justiciamento perpetrado pelo seus opositores.

Uma lição que podemos tirar da sexta-feira da paixão é seguramente esta: nenhum sofredor e prostrado de dor precisa sentir-se só. O Crucificado, agora Ressuscitado e feito o Cristo cósmico, estará sempre junto, sofrendo com quem sofre, dando esperança a quem quase se desespera e mostrando que a página mais importante do livro da vida vem escrita não pelo ódio e pela morte matada, mas pela vida, levada à sua plenificação pela ressurreição. Diz um discípulo tardio de São Paulo, Timóteo: ” verdadeira é esta palavra: se padecermos unidos a Cristo, com ele também viveremos”(Segunda Carta,2,11). Eis nossa consolação.


Leonardo Boff é teólogo e escreveu Paixão de Cristo - paixão do mundo, Vozes 2012 e Via-sacra para quem quer viver, Vozes 2003.