A necessidade de cuidarmos uns dos outros e da criação de Deus !




Jackson César Buonocore

O nosso Papa Francisco, nestes tempos difíceis de pandemia do coronavírus, tem enfatizado a necessidade de cuidarmos uns dos outros e da criação de Deus, a fim de construirmos uma sociedade alicerçada em relações de fraternidade, um caminho – radicalmente – oposto da cultura da indiferença, que vivemos na atualidade.

A crise sanitária da covid-19 agravou outras crises mundiais, como a humanitária, climática, alimentar, econômica e migratória, que atingiram em cheio o Brasil. Essa realidade exige um grande desafio dos governos e da sociedade, que é manter aceso os sentimentos de cooperação e solidariedade, como base da cultura do cuidado, que nos permitirá sair dessas crises.

Porém, alguns governantes e certos grupos sociais agem egoisticamente, o que favorece a cultura da indiferença, ou seja, que é cuidar apenas dos seus interesses e que se danem os outros, criando um clima de polarização afetiva.

Sendo assim, é fundamental construirmos uma cultura permanente do cuidado, que é um convite para cessarmos o círculo vicioso de descuido e agressividade contra a criação de Deus. Isso provoca sofrimento à toda sociedade, sobretudo, aos mais vulneráveis socialmente.

Não há dúvidas de que são as mulheres (mães, avós, esposas, filhas, tias, sobrinhas) com sua força criadora que exercem – majoritariamente – a prática da cultura do cuidado em todas as dimensões e não são remuneradas por isso. Aliás, são elas que nas crises humanitárias nos ensinam de forma criativa a cuidar da vida, das famílias e das comunidades.

A cultura do cuidado, desde as civilizações antigas, está ligada a uma visão holística, que é a maneira de ver que cada ser humano está diretamente conectado com todos os seres humanos e com todas as demais coisas do universo. Ela se faz com diálogo e acolhimento, uma energia maternal que vem de dentro para fora: do cuidado integral com as pessoas, com a natureza e com a economia orientada ao bem comum.

Portanto, quando assumimos a cultura do cuidado como um modo de vida, ela cresce em nosso microcosmo, como uma espécie de universo pessoal e subjetivo e depois se expande para o macrocosmo, que é o universo numa perspectiva coletiva e objetiva, onde não aceitamos mais a lógica da cultura da indiferença.

Afinal, o estado de calamidade pública do coronavírus escancarou a nossa fragilidade humana, colocando como imperativo a importância das políticas públicas para o cuidado coletivo. Além disso, levou a ciência, os governos e as empresas num esforço inédito de produzir em escala mundial as vacinas contra a covid-19, revelando que economia funciona melhor quando põe no centro as pessoas e a solidariedade global.






 

“ Enquanto você posta foto na praia, na balada ou no bar, estamos vendo a segunda onda vir ”, desabafa médico





"Estamos exaustos, deprimidos e desesperançosos. Enquanto você posta foto na praia, na balada ou no bar, estamos aqui vendo a segunda onda vir com força redobrada. Enquanto nós não temos mais força nenhuma. Pois ninguém nos escuta", diz um trecho do desabafo do médico Diego Vieira.

O médico e professor de história Diego Vieira, viralizou nas redes recentemente ao usar a página no Instagram @imagens.história para compartilhar relatos de três episódios ocorridos neste sábado durante seu plantão na linha de frente contra a Covid-19 em um hospital em Baturite, no interior do Ceará.

Confira os relatos do médico:

“Jovem de 22 anos com sintomas respiratórios. Relata que viajou pra praia no Réveillon e que 3 pessoas da casa onde estavam testaram positivo para COVID. Está com medo pois abraçou a mãe idosa no dia primeiro de janeiro. Repreendi sobre a necessidade de evitar aglomerações, ele respondeu que ‘precisava relaxar’ no Ano Novo. Sinto que ele não me escutou”, conta Vieira sobre o primeiro exemplo.

“Mulher de 45 com febre e tosse. Tenta furar a fila de atendimento exigindo o “tratamento preventivo”. Mando esperar sua vez. Na sua consulta exige prescrição de cloroquina. Oriento que a medicação não tem nenhuma eficácia contra o COVID. Sai do consultório ameaçando me processar. Sinto que ela não me escutou”, diz ele sobre o segundo caso.

“Idosa de 71 anos com falta de ar. Saturação de oxigênio baixa. Ligo para o SAMU que informa que não pode levar no momento para hospital de grande porte pois já estão com vários pacientes na mesma situação esperando. Filha diz que fizeram uma “festinha” só de 15 pessoas na virada, apenas com parentes próximos. Nem tinha mais forças para repreender. Sinto que ela não vai me escutar”.

Ao fim dos relatos, o médico ainda fez um duro desabafo:

“E é assim que todos os profissionais da saúde que conheço estão se sentindo. A população não nos escuta há meses. Enquanto isso, chegamos a mais de 200 mil mortos oficialmente, mas quem trabalha na linha de frente sabe que esse número é subestimado. Estamos exaustos, deprimidos e desesperançosos. Enquanto você posta foto na praia, na balada ou no bar, estamos aqui vendo a segunda onda vir com força redobrada. Enquanto nós não temos mais força nenhuma. Pois ninguém nos escuta”.









Praia do Bairro Novo, em Olinda, ficou cheia de banhistas — Foto: Ezequiel Quirino / TV Globo
Janeiro / 2021



Praias de São Paulo em Janeiro / 2021