A revolução não será delatada






Miguel do Rosário




Você não poderá ficar em casa, irmão”.



Assim começa o famoso – e maldito – poema de Gil Scott-Heron, a Revolução não será televisionada.

Há uma razão para os roteiristas de Homeland, a premiada série política americana, incluírem trechos desse poema, recitados pelo próprio Gil, na abertura de todos os episódios da temporada 6. O clímax narrativo da temporada acontece no episódio 11, quando Saul, ex-agente da CIA, explica à presidenta eleita sobre os métodos usados por seus adversários para enfraquecê-la.

Eu transcrevo a fala de Saul aqui, por motivos que vocês entenderão rapidamente conforme forem lendo:

É sério? É difícil ouvir o que vocês estão falando. Porque o que eu estou ouvindo não é um plano. Rastrear o dinheiro? Acreditem, é muito mais difícil do que pensam. Vocês ainda estarão fazendo isso quando o mundo rolar por cima de suas cabeças. Por que não conseguem enxergar? Está acontecendo debaixo de seus narizes!
Já temos O’Keefe (blogueiro de extrema-direita). Temos uma campanha de desinformação projetada para desacreditar a presidenta eleita. E a partir de hoje temos tropas em terra e os manifestantes dos quais me desviei para chegar aqui. Isto não lhes é familiar? Porque para mim, sim. Nós fizemos isso na Nicarágua, Chile, Congo, em vários outros países, começando pelo Irã, nos anos 50. E o regime eleito se dá mal. A vida de vocês está em jogo, entenderam? Vocês não podem se calar. E não me refiro à coletiva de imprensa.
– Ao que você se refere?
– Você o intimou a mostrar a cara e foi o que ele fez. Você tem que enfrentá-lo.

Desculpem se pareço repetitivo, mas eu sinto necessidade de afirmá-lo novamente: o que está acontecendo no Brasil, com a Lava Jato, é um golpe de Estado.

Assim como ocorre na trama de Homeland, e, na verdade, em quase todas as histórias parecidas, os articuladores do golpe não são os políticos, e sim as forças de segurança do próprio regime. No caso do Brasil, é a Lava Jato, ponta-de-lança dos setores mais radicalizados desse monstro de três cabeças que substituiu os militares de 1964: Ministério Público Federal, Polícia Federal e Judiciário.

Em algum momento, esses três setores perceberam que, trabalhando juntos, poderiam assumir o poder político no país.


Para isso, é preciso disseminar uma quantidade faraônica de desinformação, com vistas a desacreditar todo o sistema político, eleito pela população.

Dalton Dallagnol, por exemplo, aproveitando-se do momento, tem distribuído, via whatsapp, um artigo de José Padilha, que traz uma análise primária, profundamente preconceituosa, cheia de exageros e omissões, sobre o sistema político brasileiro. Não fala nada sobre desigualdade de renda. Não fala nada, claro!, sobre concentração da mídia.

É claro que o nosso sistema político tem milhares de falhas. Mas é insanidade total destruí-lo sem termos nada para pormos em seu lugar.

Sobretudo, é antidemocrático e desonesto desacreditá-lo a golpes de delação.

Esse último espetáculo da Lava Jato me provocou profundas náuseas. No vídeo com Emilio Odebrecht, vemos o procurador usar o interrogatório para tentar incriminar a revista Carta Capital! É muita podridão! É Emílio, o delator, o corruptor, o “vilão”, que tenta defender a revista, explicando ao procurador que os adiantamentos de publicidade que fez à Carta Capital também foram usados para o Estadão, Folha, Correio Braziliense, para toda a imprensa brasileira!

Como a história se repete!

O “mar de lama” do tempo de Vargas era a Lava Jato daquela época. Os mesmos jornais, representantes das mesmas forças reacionárias, acusavam o governo de ter financiado, através do Banco do Brasil, a Última Hora, de Samuel Wainer. Anos depois, Nelson Werneck Sodré, em sua História da Imprensa Brasileira, resgata documentos que provam que (olha eles de novo!) Folha, Estadão, Globo, Correio da Manhã, receberam financiamentos, do mesmo Banco do Brasil, ainda maiores!

No post anterior, eu já explicitei esse raciocínio, mas gostaria de aprofundá-lo: a delação (o fato de ser “premiada” apenas a torna ainda mais ilegítima) é a representação mais perfeita da antiverdade.

O problema não se trata apenas de acreditar ou não numa delação, e sim dar legitimidade ao discurso de um delator!

Uma delação pode até conter várias verdades, mas a maneira como essas verdades são contadas podem configurar a maior mentira de todas!

Se a imprensa comercial, que depende de sua credibilidade, especializou-se, de maneira tão sofisticada, em produzir pós-verdades em série, o que dizer de um delator?

O problema da informação política destinada às grandes massas é que estas não são guiadas por informações verdadeiras, e sim por símbolos fortes que vão de encontro a seu profundo irracionalismo, conforme explica Wilhelm Reich, em Psicologia de Massas do Fascismo.

É assim que fazem os partidos políticos. É assim que fazem os grandes meios de comunicação.

A Lava Jato está legitimando, no topo da pirâmide social, a repressão brutal e indiscriminada que sempre aconteceu embaixo. Por isso, não é lógico que setores da esquerda defendam a operação com o argumento infantil de que está “prendendo empresários e políticos”, ou “desmontando o sistema político burguês”. O objetivo de um regime democrático, seja de esquerda, socialista ou liberal, não é “prender empresários e políticos”, e sim ampliar o conjunto de direitos e liberdades à disposição da sociedade. Ou seja, temos que prender menos, não mais. Se há políticos e empresários que cometeram crimes, que sejam punidos, mas com direito amplo à defesa, inclusive o de responder ao processo em liberdade!

Nos últimos dias, o STJ indeferiu habeas corpus para o Almirante Othon Pinheiro e para o ex-ministro Pallocci. O judiciário tornou-se um bloco monolítico em apoio às violências e arbítrios da Lava Jato, até porque os ministros tem medo da operação. Um ou outro ministro do STJ que ousou discordar de seus métodos foi rapidamente enquadrado através do modus operandi da Lava Jato, que é vazar alguma coisa contra a pessoa. Como a Lava Jato detêm o maior banco de dados do país, com dados eletrônicos, telefônicos, fiscais, bancários, de milhares de pessoas, não é difícil para seus operadores vazarem um trecho qualquer em que um investigado menciona o nome de alguém. Daí essa nova categoria penal, genial, terrível, que a imprensa adotou com tanto entusiasmo e cinismo, como se tivesse existido desde sempre: o citado na Lava Jato. Fulano foi “citado” na Lava Jato. Não quer dizer nada, mas é o bastante para se iniciar um desgastante e paralisante processo de enlameamento da reputação.

Luciana Genro, defensora da Lava Jato, acaba de sentir o bafo na nuca, ao aparecer como recebedora de uma quantia de empresa vinculada à Odebrecht.

Temos de tomar muito cuidado, porém, para não sucumbir às violências morais da Lava Jato.

A situação do PT é muito complicada do ponto-de-vista narrativo. Eles tem de jogar não apenas contra um time infinitamente mais poderoso, porque tem mídia, mas contra o próprio juiz!

Os militantes e operadores políticos do PT lutam com as armas que conseguem, a custo de muito sacrifício, tomar das mãos de seus inimigos, brandindo em suas redes pedaços de delações que possam neutralizar o jogo de acusações e contra-acusações que um partido lança ao outro. É um método perigoso, porque ao mesmo tempo que atinge o seu inimigo partidário, também fortalece os operadores que atuam como adversários políticos e jurídicos.

A leitura do livro Justiça Política, de Otto Keichmeiner, que relata as aflições de operadores políticos europeus e russos, comunistas, social-democratas, nazistas, liberais, de todos os credos, para transformarem batalhas judiciais em capital político, me fez compreender melhor os dilemas dos partidos brasileiros em meio à guerra jurídica.

Keichmeiner estuda generosamente o problema do “delator”, que é uma figura sempre presente na justiça política. Ele explica que o delator jamais falará a verdade. O delator tentará, invariavelmente, dizer alguma coisa que beneficie a si mesmo, que agrade ao interrogador e que, naturalmente, atinja com a maior violência possível o adversário das forças que controlam o processo de delação.

A Lava Jato ainda tem cartas na mão. Ela pode prender quem ela quiser, e obrigar essa pessoa a delatar.

Isso sem contar os que já estão presos, e ainda não se decidiram a delatar: Pallocci, Eike Batista, João Santana e sua esposa, Sergio Cabral.

Qual a resistência psicológica de cada um desses antes de falar exatamente o que os procuradores querem ouvir?

A partir do momento em que se elege a “delação” como principal arma política, e as críticas à delação são neutralizadas por uma estratégia bastante sofisticada de relações públicas (que inclui vazamentos cuidadosamente seletivos), então os órgãos de repressão detêm um poder descomunal. Um delator pode dizer tudo que você quiser. Pode falar, por exemplo, que um determinado dirigente político “sabia”. Que numa noite tal, foi conversado “tal coisa”.

A ética desse tipo de investigação é deplorável. Aprovar e apoiar a delação premiada foi mais um desses atos suicidas do PT que nasceram de sua debilidade no campo do pensamento jurídico, e, mais genericamente, de sua miséria intelectual, ao não criar um think tank que discutisse, antes de tomar qualquer decisão, os seus prós e contras.

Delação é uma coisa negativa, antiética. O ser humano precisa ser leal, sempre! Sem confiança, sem lealdade, não há política, não há solidariedade, não há civilização.

Se alguém precisa denunciar um crime que testemunhou, de um político ou empresário, que seja uma delação espontânea, baseada na consciência de que está fazendo um bem à sociedade.

Premiar a delação é bizarro. Premiar uma delação extraída de alguém sob tortura, sob ameaça de permanecer em “prisão cautelar” por tempo indeterminado, é duplamente bizarro!

Quanto à questão de se “acreditar” numa delação, não creio que exista nada mais profundamente antijornalístico ou mesmo antifilosófico.

Um jornalista não deveria acreditar nem em provas. Um jornalista de verdade não deve acreditar em nada.

A história já mostrou muito bem que provas podem ser manipuladas, e que a nossa própria consciência nos prega um monte de peças.

Um jornalista não precisa “acreditar” em alguma coisa. Ele deve questionar. Questionar, sobretudo, o poder!

Cadê todos aqueles jornalistas que viviam dizendo que a imprensa deveria questionar o poder? Onde está o questionamento do judiciário, da Lava Jato, do Ministério Público, da própria grande imprensa?

O trabalho do jornalista deveria constituir, sempre, um contraponto à violência do Estado. Se alguém é acusado pelo Estado, não compete ao jornalista se aliar ao Estado na acusação. Um jornalista dotado de espírito democrático, humanista e liberal deve ouvir, primordialmente, a versão do acusado, porque ele é a parte frágil do processo.

A Lava Jato nos revela ainda uma outra coisa, extremamente importante: a demagogia é desonesta, hipócrita e cínica.

Testemunhamos, esse tempo todo, colunistas da grande imprensa declarando que a justiça brasileira é boa porque está prendendo “poderosos”, sem jamais lembrar aos espectadores/leitores uma coisa óbvia. Os verdadeiros poderosos não vão presos. É exatamente por isso que eles são poderosos. É uma questão lógica.
Se alguém é preso pela Lava Jato, isso é prova cabal de que esse fulano não era tão poderoso como ele mesmo pensava. A Lava Jato pode estar prendendo políticos e empresários, mas não poderosos!

A Lava Jato está revelando, com uma clareza solar, quem são os verdadeiros poderosos no país: o Estado burocrático, não-político, em primeiro lugar, representado por seus agentes de repressão; em segundo, os barões da mídia; os banqueiros, em terceiro.

Encerro o post com um outro trecho do poema de Gil Scott-Heron:

A primeira revolução acontece quando você muda a sua mente sobre como ver as coisas, e percebe que pode haver uma outra maneira de olhar para elas que ainda não lhe mostraram. O que você vê depois é o resultado disso, mas essa revolução, esta mudança que se opera em sua maneira de ver, não será televisionada.


 Postado em O Cafezinho em 18/04/2017


Razão ou Sentimento, em qual depender?



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O Dia da Infâmia !



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DAMOUS LEMBRA DIA DA INFÂMIA E DIZ QUE BRASIL É GOVERNADO PELO JUDICIÁRIO


O deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) lembrou um ano do 'Dia da Infâmia' nesta segunda-feira 17 em um vídeo postado nas redes sociais – quando o processo de impeachment de Dilma Rousseff foi aceito na Câmara dos Deputados.
Segundo ele, o Supremo Tribunal Federal não deve reverter esse cenário, mesmo depois da confissão de Michel Temer de que o impeachment ocorrreu por um ato de vingança de Eduardo Cunha, porque "está mergulhado no golpe. Está mergulhado no desmonte do País".
Para Damous, "Temer desgoverna aquilo que ele foi pago para fazer. O desmonte das políticas sociais, do estado brasileiro". O deputado diz ainda que "hoje quem governa o País é o sistema de Justiça brasileiro. A política foi engolfada pelo Supremo, pela República de Curitiba e pela Polícia Federal".




Postado em Brasil 247 em 17/04/2017



Corte de cabelo 2017 para eles !





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Lula não cometeu crime !



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As respostas de Lula



No seu Facebook, Lula divulgou um  “perguntas e respostas” sobre as acusações veiculadas contra ele.
Depois da análise da exploração dos episódios pela mídia e da defesa política do ex-presidente, a nota trata de cada uma das histórias divulgadas nos últimos dias, demonstrando que , em nenhuma delas, há qualquer coisa que possa comprovar enriquecimento pessoal, desvios administrativos ou qualquer decisão que possa ser atribuída a ele como “contrapartida” por benefícios econômicos.
Vale a leitura, ainda que longa e,  por isso mesmo, esclarecedora.

Caso Odebrecht: Por que voltam 
a atacar Lula e sua biografia

O ex-presidente Lula está mais uma vez no centro de intenso bombardeio midiático. Na liderança do ataque, o Jornal Nacional da Rede Globo divulgou 40 minutos de noticiário negativo em apenas 4 edições. Como vem ocorrendo há mais de dois anos, Lula é alvo de acusações frívolas e ilações que, apesar da virulência dos acusadores, não apontam qualquer conduta ilegal ou amparada em provas. Desta vez, no entanto, além de tentar incriminar Lula à força, há um esforço deliberado de reescrever a biografia do maior líder popular da história do Brasil.
Os depoimentos negociados pelos donos e executivos da Odebrecht – em troca da redução de penas pelos crimes que confessaram – estão sendo manipulados para falsificar a história do governo Lula. Insistem em tratar como crime, ou favorecimento, políticas públicas de governo voltadas para o desenvolvimento do país e aprovadas pela população em quatro eleições presidenciais.
São políticas públicas transparentes que beneficiaram o Brasil como um todo – não apenas esta ou aquela empresa – como a adoção de conteúdo nacional nas compras da Petrobras, a construção de usinas e integração do sistema elétrico, o financiamento da agricultura, o apoio às regiões Norte e Nordeste, a ampliação do crédito a valorização do salário e as transferências de renda que promoveram o consumo e dinamizaram a economia, multiplicando por quatro o PIB do país.
Estas políticas não foram adotadas em troca de supostos benefícios pessoais, como querem os falsificadores da história. Elas resultaram do compromisso do ex-presidente Lula de proporcionar uma vida mais digna a milhões de brasileiros.
Por isso Lula deixou o governo com 87% de aprovação e é apontado pela grade maioria como o melhor presidente de todos os tempos. É contra esse reconhecimento popular que tentam criar um falso Lula, apelando para o preconceito e até para supostas opiniões de quem chefiou a ditadura, de quem mandou prender Lula por lutar pela democracia e pelos direitos dos trabalhadores.
No verdadeiro frenesi provocado pela edição dos depoimentos da Odebrecht, é preciso lembrar que estes e outros delatores da Lava Jato foram pressionados a apresentar versões que comprometessem Lula. Mas tudo o que apresentaram, antes e agora, são ilações sem provas.
E é preciso lembrar também que essa teia de mentiras está sendo lançada contra Lula às vésperas do julgamento de uma ação na Vara da Lava Jato que pretende condená-lo não apenas sem provas, mas contra todas as provas testemunhais e documentais de sua inocência.
E lembrar ainda que o novo bombardeio de mídia foi deflagrado no momento em que, mesmo não sendo candidato, Lula é apontado crescentemente nas pesquisas como o favorito para as eleições presidenciais.
Por tudo isso, é necessário analisar cada uma das ilações apresentadas, para desfazer cada fio dessa a teia de mentiras.
Há algum ato ilegal de Lula relatado na delação da Odebrecht?
Não há. Delações não são provas, mas informações prestadas por réus confessos que apenas podem dar origem a uma investigação. A legislação brasileira proíbe expressamente condenações baseadas somente em delações, negociadas em troca da obtenção de benefícios penais por réus confessos. As delações devem ser investigadas e os depoimentos de delatores expostos ao questionamento dos advogados de defesa. Por enquanto, o que existe, são depoimentos feitos aos procuradores, a acusação, divulgados de forma espetacular antes dos advogados terem acesso a eles. 
No passado, depoimentos divulgados de forma semelhante – como os de Paulo Roberto da Costa, Nestor Cerveró e Delcídio do Amaral – quando confrontados com depoimentos em juízo dos mesmos colaboradores não revelaram qualquer crime ou prova contra o ex-presidente Lula.
É parte da estratégia de lawfare e uso da opinião pública da Lava Jato, teorizada por Sérgio Moro em artigo de 2004, “deslegitimar o sistema político” usando a mídia, e destruir a imagem pública dos seus alvos para substituir o devido processo legal pela difamação midiática.
Sítio em Atibaia
Há mais de um ano a Lava Jato investiga um sítio no interior de São Paulo. Os proprietários do sítio, que não é do ex-presidente Lula, já provaram a propriedade e a origem dos recursos para a compra do sítio. Mesmo o relato de Emílio Odebrecht e Alexandrino Alencar indicam que eles desconhecem de quem é a propriedade, além do que ouviram em boatos, e de que a reforma de tal sítio seria uma surpresa para o ex-presidente, dentro de uma ação que não o envolveu em uma propriedade que não é sua. É estranho nesse contexto que Emílio Odebrecht diga que na véspera do fim do mandato tenha “avisado” Lula da obra. E é inadmissível que o silêncio de Lula, diante do suposto aviso, seja interpretado como evidência. O sítio não é do ex-presidente, não há nenhum ato dele em relação ao sítio, nem vantagem indevida, patrimônio oculto ou contrapartida.
“Terreno”  e doações ao Instituto Lula
Como já foi repetido várias vezes e comprovado nos depoimentos e documentos, o Instituto Lula jamais recebeu qualquer terreno da Odebrecht. Ele funciona em um sobrado adquirido em 1991. O tal terreno foi recusado. E foi recusado porque sequer havia sido solicitado pelo Instituto ou por Lula. É prova do lawfare e perseguição a Lula que um terreno recusado seja objeto de uma ação penal.
O Instituto recebeu doações de dezenas de empresas e indivíduos diferentes. Todas registradas. As doações da Odebrecht não representam nem 15% do valor total arrecadado pelo Instituto antes do início de uma perseguição judicial. Todas as doações foram encaminhadas por meio de diretores com o devido registro fiscal. Jamais houve envolvimento de Antonio Palocci ou de qualquer intermediário nos pedidos de doação ao Instituto. Os depoimentos de delatores Alexandrino Alencar e Marcelo Odebrecht inclusive se contradizem sobre esse assunto.
“Conta amigo”, os milhões virtuais que Lula nunca recebeu
Esta é a mais absurda de todas as ilações no depoimento de Marcelo Odebrecht. Ele disse que Lula teria uma “conta corrente” na empresa. Ora diz que essa conta seria de 35 milhões, ora seria de 40 milhões, mas ressalva que jamais conversou com Lula sobre essa conta. Narra uma confusa movimentação de saída e entrada de recursos, citando a compra de um terreno (depois devolvido), uma doação ao Instituto Lula e supostas entregas em dinheiro vivo a Branislav Kontic, totalizando R$ 13 milhões. Diz ainda que parte da reserva continuou na tal conta.
Se for verdadeiro o depoimento, Marcelo Odebrecht teria feito, na verdade, um aprovisionamento em sua contabilidade para eventuais e futuros transferências ou pagamentos. Isso é muito diferente de dizer que havia uma “conta Lula” na Odebrecht, como reproduzem as manchetes levianas. A ser verdadeira, trata-se, como está claro, de uma decisão interna da empresa. Uma “conta” meramente virtual, que nunca foi transferida, nem no todo nem em parte, que nunca se materializou em benefícios diretos ou indiretos para Lula.
O fato é que Lula nunca pediu, autorizou ou sequer teve conhecimento do suposto aprovisionamento.
As três supostas evidências apresentadas sobre a conta virtual desmoronam diante da realidade, a saber: a) o terreno comprado supostamente para o Instituto Lula nunca foi entregue, porque nunca foi pedido, por quem de direito; b) as doações da Odebrecht para o Instituto Lula foram feitas às claras, em valores contabilizados na origem e no destino, e informadas à Receita Federal, em transação transparente; c) a defesa de Branislav Kontic negou, em nota ao Jornal Nacional, que seu cliente tenha praticado as ações citadas pelos delatores.
Todos os sigilos de Lula e sua família – bancários, fiscal, telefônico – foram quebrados. O Ministério Público sabe a origem de todos os recursos recebidos por Lula, o destino de cada centavo ganho pelo ex-presidente com palestras e que Lula vive em um apartamento em São Bernardo do Campo desde a década de 1990. Onde estão os R$ 40 milhões?
Palestras
Após deixar a presidência da República, com aprovação de 87% e reconhecimento mundial, Lula fez 72 palestras para mais de 40 empresas. Entre elas Pirelli, Itaú e Infoglobo. Em todas as palestras foram cobrados os mesmos valores. Todas foram realizadas, e a comprovação de tudo relacionado as palestras já está na mão do Ministério Público do Distrito Federal e do Paraná. A imprensa deu a entender que a Odebrecht teria “inventado” essas palestras. Isso não foi dito de forma alguma mesmo nos depoimentos, que indicaram que as palestras eram lícitas e legítimas. E a Odebercht não foi a primeira empresa, nem a segunda, nem a terceira a contratar palestras de Lula. Microsoft, LG e Ambev, por exemplo, contrataram palestras pelos mesmos valores ANTES da Odebrecht. Segue a relação completa de paletsras entre 2011 e 2015: http://institutolula.org/uploads/relatoriopalestraslils20160323.pdf
A legislação brasileira não impede que ex-presidentes deem palestras. Não impediria que eles fossem diretores de empresa, o que Lula nunca foi. 
Ajuda ao filho
Após deixar a presidência Lula não é mais funcionário público. Mesmo considerando real o relato de delatores que precisam de provas, Emílio Odebrecht e Alexandrino Alencar relatam que a ajuda para o filho de Lula iniciar um campeonato de futebol americano foi voluntária e após diversas conversas e análises do projeto. A expressão inserida em depoimento de “contrapartida”  de melhorar as relações entre Dilma e Marcelo Odebrecht  é genérica e de novo, mesmo que fosse real, não incide em nenhuma infração penal. Em 2011, anos dos relatos, Lula não ocupava nenhuma função pública. 
A liga de futebol americano existiu e não teve a participação ou sequer o acompanhamento de Lula. Os filhos do ex-presidente são vítimas há anos de boatos na internet de que seriam bilionários. Tiveram suas contas quebradas e atividades analisadas. E não são nem bilionários, nem donos de fazendas ou da Friboi.            
Frei Chico
De novo, mesmo considerando o relato dos delatores, que necessitam de provas, eventual relação entre a Odebrecht e o irmão de Lula eram relações privadas. Lula não tem tutela sobre seu irmão mais velho e não solicitou ajuda a ele, nem cuidava de sua vida. Não há relato de infração, nem de contrapartida, nem de que tenha sido o ex-presidente que tenha solicitado qualquer ajuda ao irmão.
Carta Capital
A breve menção a revista indica que Lula falou para Emílio Odebrecht ver o que poderia fazer e se poderia fazer algo para ajudar a revista, novamente após ter deixado a presidência da República. A relação entre dois outros entes privados  (Carta Capital e Odebrecht) não tem qualquer contato com Lula a partir disso e o pedido de verificação se poderiam anunciar na revista não implica em nenhum ilícito. Os executivos da Odebrecht mencionaram que o grupo prestou ajuda a diversos outros veículos de imprensa, podendo ser citado como exemplo o jornal O Estado de S.Paulo.
Angola
O depoimento de Emílio Odebrecht indica que os serviços contratados da empresa Exergia, para prestar serviços em Angola, foram efetivamente prestados. A Exergia tem como um dos seus sócios Taiguara dos Santos, filho do irmão da primeira esposa de Lula. Se posteriormente a queda de serviços em Angola houve um adiantamento de recursos entre as duas partes privadas, ele não teve qualquer envolvimento do já ex-presidente, nem isso é mencionado nos depoimentos. Lula jamais recebeu qualquer recurso da empresa Exergia ou de Taiguara, e isso já foi objeto de investigação da Polícia Federal, que não achou nenhum recurso dessa empresa nas contas de Lula.
Esse caso já é analisado em uma ação penal na Justiça Federal de Brasília. Comprovando-se a verdade dos depoimentos dos delatores, a tese da ação penal se mostra improcedente, a acusação de que não houve prestação de serviços e que eles seriam algum tipo de propina ou lavagem cai por terra. Ou seja, nesse caso os depoimentos não só não indicam qualquer crime como inocentam Lula nessa ação penal.
Doações eleitorais
O depoimento de Emílio Odebrecht é explícito ao dizer que nunca discutiu valores ou forma de doações eleitorais com o ex-presidente Lula. Lula não cuidava das finanças de campanha ou partidárias.
O PT e o ex-presidente sempre defenderam o fim de qualquer financiamento privado de campanhas eleitorais. Mas o Supremo Tribunal Federal só determinou o fim de contribuição de pessoas jurídicas em 2015.
O ex-presidente nunca autorizou ninguém a pedir doações de qualquer tipo em contrapartida de atos governamentais de qualquer tipo.
Estádio do Corinthians
Mesmo tomando como verdade os relatos de delatores, não há nenhum ato ilegal relatado do ex-presidente em relação ao Estádio Privado do Sport Club Corinthians. Em 2011 havia o risco de São Paulo ficar fora da Copa do Mundo. O ex-presidente sempre defendeu o uso do Estádio do Morumbi, como registrou publicamente o falecido presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, mas em 2011 esse estádio foi vetado pela FIFA.O estádio do Corinthians de fato era um projeto menor. Com a possibilidade de sediar a abertura da Copa, o Corinthians construiu um estádio maior. O estádio, e isso é óbvio, não é do Lula, mas do Corinthians. Não só tem público lotado constantemente como a Rede Globo, empresa privada com fins lucrativos, já até usou o estádio vazio como estúdio dos seus programas de TV. 
Lula e a presidência
Lula é considerado em todas as pesquisas o melhor presidente brasileiro de todos os tempos, mesmo com a intensa campanha midiática contra ele. Lula também é o único presidente da história da República de origem na classe trabalhadora, nascido na miséria do sertão nordestino, migrante criado pela mãe. O único que superou todas essas condições adversas para ser o presidente que mais elevou o nome do Brasil no mundo.
Lula sempre agiu dentro da lei e a favor do Brasil antes, durante e depois da presidência, quando voltou para o mesmo apartamento que residia em São Bernardo do Campo antes de ir para Brasília.
Não foi só a Odebrecht que cresceu durante o governo Lula. A grande maioria das empresas brasileiras, pequenas, médias e grandes, cresceram no período. Milhões de empregos foram gerados e a pobreza e fome reduzidas de forma inédita no país. Foi todo o Brasil que cresceu no período de maior prosperidade econômica da democracia brasileira.
É hora de perguntar a quem interessa destruir Lula, quando o ex-presidente se posiciona contra o fim dos direitos trabalhistas e previdenciários. A quem interessa destruir Lula, quando o patrimônio brasileiro – reservas minerais na Amazônia, o pré-sal, estatais – são colocados a venda a preço de banana? A quem interessa reescrever a biografia do maior líder popular do país?

Postado  em Tijolaço em 16/04/2017