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" Na hora da intubação vamos de mãos dadas com eles, mas geralmente voltamos sozinhos ", diz fisioterapeuta

 

“Na hora da intubação vamos de mãos dadas com eles, mas geralmente voltamos sozinhos”, diz fisioterapeuta
FOTO: THALES RENATO / REPRODUÇÃO / REDES SOCIAIS PREFEITURA DE SÃO LEOPOLDO

 

Jovem profissional da UTI covid revela detalhes da rotina em um hospital na pandemia


Guilherme Becker / Editor

O texto com maior repercussão da fisioterapeuta Leandra Alainz foi sobre o desprazer da covid-19. Em linhas do Instagram, a profissional de apenas 23 anos, que atua na UTI do Hospital São Leopoldo, contou detalhes de pacientes que perderam a vida para a doença. Um dos personagens principais é um torcedor do Internacional, de aproximadamente 50 anos e que não tinha comorbidades.

O cara que foi intubado e não chorou

“Este cara era colorado, e a gente estava tentando. Ele entrou na internação saturando mal, mas com um prognóstico bom porque ele era um cara novo. A gente conversava, batia papo, sempre aquela coisa de ‘não desiste, estamos aqui, vai dar tudo certo’”, começou a contar a história, Leandra.

Entretanto, a situação do paciente que tinha tudo para sair ileso do hospital complicou. “Quando veio o exame de mau prognóstico e estava tudo muito difícil, com muita falta de ar, eu levei um choque muito grande. Eu falei ‘não, mas estamos lutando, ele está conseguindo’. Aí o médico olhou para mim e disse ‘Se você disser pra mim que não quer intubar ele, nós não vamos intubar, porque eu também não quero intubar’. Mas aí eu olhei para ele, olhamos o exame e não tinha o que fazer, precisávamos intubar”, lembrou Leandra.

O paciente já era amigo da fisioterapeuta, torcedores do Colorado, os dois compartilhavam a expectativa do Inter conquistar o Brasileirão. Mas, antes da partida decisiva, a profissional precisou levar a triste notícia da intubação.

“Quando eu cheguei perto do leito dele, ele olhou pra mim, e como somos colorados ele falou ‘então tá, eu te vejo daqui uma semana e o Inter vai ganhar o campeonato’. Eu respondi confiante que sim, que o Inter ganharia o campeonato e eu estaria ali cuidando dele. Na hora que eu o intubei ele, eu fiz aquilo chorando”, recorda a fisioterapeuta.

Na publicação do Instagram, Leandra transcreveu desta maneira o momento da intubação deste paciente: “É um soco no estômago quando nos 5 minutos antes da intubação, eles falam vão te ver em uma semana. Quando nos últimos segundos conscientes, não choram”.

O paciente não resistiu a luta e faleceu dias depois.

“Não tinha como, estava muito comprometido. E a gente sofre porque acabamos levando para eles uma certeza que não temos, que é a certeza que eles vão sair. A mulher dele foi lá e deram a notícia. Foi um dos piores momentos para mim”, comentou Leandra.

Na mesma publicação, Leandra citou um idoso que se questionava porque Deus fez aquilo com ele, e uma grávida que comoveu um hospital inteiro. Oito dias após dar à luz, a mulher de 37 anos partiu antes mesmo de ver o rostinho do filho. A morte da mulher comoveu todos os profissionais, naquele dia, o choro estava em todos os corredores do Hospital Centenário.

Confira o texto na íntegra:

A COVID é um desprazer;
É um desprazer ter que tentar acalmar um paciente de 30 anos, sem comorbidades que vai ser intubado porque já não consegue respirar sozinho.
É um desprazer ver idosos perguntando porque Deus fez aquilo com eles;

É um desprazer olhar um histórico de uma paciente e ver que ela é mãe a 8 dias, 37 anos e não conhece seu bebê e bem provavelmente não vai conseguir ver seu rostinho, nem uma única vez.

A COVID é um soco no estômago 
Quando a gente tem que conversar com um paciente e ele pergunta se ele vai morrer e a gente não pode dizer que não, porque ele tem mais de 80% do pulmão comprometido. 
É um soco no estômago quando quem percebe que vai ser intubado pede segurando na tua mão para ir pra casa. Para falar com a família, para ficar perto. 
Só que não temos tempo, já é tarde. 
É um soco no estômago quando nos 5 minutos antes da intubação eles falam que vão te ver em uma semana. 
Quando eles nos últimos segundos consciente não choram. 
Eu nem tenho como explicar a sensação de começar a reanimar uma pessoa que a 2 dias estava bem e agora simplesmente parou. 
Eles morrem sozinhos, os familiares não tem nem a chance de segurar as suas mãos. 
Por favor fiquem em casa, não se aglomeram, nos estamos lotados, sem leitos e sem ventilador não é a mídia dizendo, somos nós.
Eu não quero ter que intubar ou reanimar alguém da sua família.

 






Eu não quero, mas preciso dizer adeus . . .

 



Adriana Helena

Os dias estão difíceis, já estamos há mais de um ano lutando contra o coronavírus. Muitos partiram, muitos sofrem perdas terríveis. Chega um momento que a ansiedade e a dor ultrapassam os limites e nos impedem de prosseguir. Neste momento é preciso dizer adeus...

Isso tudo nos mostra o quanto é difícil encontrar a felicidade. Por isso, trouxe uma fábula, A DIFICULDADE E A FELICIDADE, para que possamos refletir sobre tudo o que está acontecendo conosco...




A Felicidade se encontrou com a Dificuldade e falou:

"Você atrapalha a minha existência."

A Dificuldade, muito difícil que era, em vez de responder, criou um caso: colocou dez pedras enormes no caminho da Felicidade.

A Felicidade, que já estava com as asas meio tortas de tanto levar pedrada, pulou uma, duas, três, quatro, cinco... e quando chegou na sexta, ufa! Descansou e reclamou um pouco:

"Você não me deixa passar, saia do meu caminho!"

Então a Dificuldade, chatinha e difícil que era, continuou calada e colocou mais doze pedras no caminho da Felicidade. Puxou outra vez a alavanca da determinação e começou a pular: uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete... ufa! Na hora da oitava, se deitou e pensou:
Estou cansada. Por que ela não sai do caminho?!

Ai... a Dificuldade colocou mais catorze pedras enormes na estrada. A Felicidade levantou-se, determinada e séria, e começou a pular: uma, duas, três, quatro, cinco, seis... exausta, chegou a pular treze pedras, e quando já estava quase na última, ops! Deu de cara de novo com a Dificuldade:


 
"O que é isto, não acredito! Outra vez você no meu caminho?"

A Felicidade não vacilou. Respirou fundo, sorriu e alavancou a força necessária para pular a última pedra. A Dificuldade ficou parada, olhando, e disse apenas:

"Eu existo para que você me vença, não para impedir a sua passagem."

A Felicidade então prosseguiu mais feliz: sabia agora como pular as pedras que iria encontrar pela estrada. Uma estrada muito, muito longa.

Bem amigos, é isso!! Parece que está cada dia mais difícil para suplantar as dificuldades do caminho e encontrar a tão sonhada felicidade. Os tempos estão sombrios demais. Eu, que sempre tive uma motivação acima do normal, confesso que estou sucumbindo...

Para poder estancar emoções tão tristes, fiz a edição da canção do Air Supply, Goodbye, que fala por nós neste momento terrível..




 Dizer dizer adeus não é fácil, mas chega um momento em que é preciso. É preciso dizer adeus, aprender a por pontos finais, fechar capítulos, encerrar etapas da vida… Mas para isso, é preciso ter coragem e convicção, porque dizer adeus é se desapegar daquilo que um dia já acreditamos, e de todas as expectativas que criamos.

Mas dizer adeus é também se desapegar do que já está perdido ou do que já não vale a pena, e entender que é hora de começar uma nova fase na vida. Aceitar o fim e dizer adeus pode ser uma espécie de ritual de libertação. A tristeza de perder algo em que se acreditava pode ser grande. Mas o alívio de se ver livre de dúvidas e incertezas e saber exatamente qual é o ponto real da situação é fundamental para reequilibrar as emoções.




Na vida, assim como em uma batalha, para se salvar é preciso saber a hora certa de recuar. Só assim é possível avançar com mais força e com mais garra em busca de novos destinos, novas batalhas, e novas vitórias. Eu estou tentando amigos, mas o sofrimento está me fazendo sucumbir...Mesmo que eu continue lutando, chega um momento em que é preciso mesmo dizer adeus...

Fiquem agora com a edição mais sofrida que fiz até hoje. A canção é do duo Air Supply, dupla de soft rock inglês / australiano e a canção Goodbye , faz parte do décimo segundo álbum chamado The Vanishing Race. Tomara que aprecie...É da alma, é do coração...






Imagens e gifs do Google Imagens

Video Goodbye do Canal de Adriana Helena no YouTube




O que importa é que agora eu tô dizendo que não disse o que eu disse





Diário, eu te pergunto: alguma vez eu disse que não ia comprar vacina da China?

Tá, eu disse.

Mas alguma vez eu falei que não ia me vacinar?

Tá, eu também falei.

Mas você me ouviu dizendo que a vacina da China não era segura?

Tá, tá…, eu sei…

Mas o que importa é que agora eu tô dizendo que não disse o que eu disse. E que ninguém venha com disse me disse que eu redigo que não disse!

Diário, eu mudei por dois motivos. O primeiro foi a surra que eu tomei do Oswaldo Cruz. O segundo foi por causa do Lula, que tá por aí bancando o estadista bonzinho que pensa no povo.

Por conta deles, ontem eu assinei uma lei que facilita a compra da vacina, falei bem de loquidaum e até usei máscara! Fazia 36 eventos que eu não botava a focinheira.

Vou te contar: eu faço qualquer coisa pra me reeleger. Se precisar, nos próximos dias boto uma saia e digo que sou a favor das causas LGBTs, falo que sou contra a tortura, boto um pôster do Miguel Nicolelis na sala, digo que tenho uma queda pela Margareth Dalcolmo, começo a seguir o Instagram do Átila Iamarino e visto a fantasia de Zé Gotinha.

Até já mandei o Carluxo tuitar que eu sempre fui a favor da vacina. Mas perceberam que era mentira e zoaram o garoto, que virou trending topic no Twitter.

O Flavinho tentou ajudar: botou uma foto minha dizendo “Nossa arma é a vacina” e tuitou “Vamos viralizar”. Mas o garoto é uma besta mesmo! Como é que vai falar em vírus numa hora dessa? Tinha que ter escrito “Vamos vacinalizar”.

E o Dudu não conseguiu se segurar. Fez um vídeo em que mandou as pessoas enfiarem a máscara no rabo.

Os três são o meu resumo: um mente na cara dura, outro não é muito esperto e o terceiro é violento por qualquer coisa. Esses aí não precisam nem de exame de DNA. São eu cuspidos e escarrados.

Diário, com os 270 mil que morreram, eu não mudei nada. Só que, com a surra do Oswaldo e com o discurso do Lula, não teve jeito.

Mas fica tranquilo que eu só tô fingindo por um tempo. Depois eu volto normal. Até lá, eu sou um negacionista do negacionismo. Um nenegacionista!


" Dói demais ver as crianças morrendo sem poder ver os pais " afirma pediatra de UTI




A BBC publicou nesta última semana uma emocionante entrevista com a pediatra intensivista Cinara Carneiro. Ela trabalha na UTI de covid-19 do Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza, no Ceará e contou à BBC a sua rotina e as suas dores como intensivista.

Na grande maioria dos hospitais, as visitas nas UTIs estão suspensas em virtude da covid-19. Assim, distante dos pais, cabe aos profissionais de saúde acolherem as crianças ali internadas, o que, segundo a médica, torna-se um tanto mais difícil em razão da máscara facial criar obstáculo por não possibilitar que vejam o seu sorriso. Assim, o acolhimento se dá pela fala, pelo toque e, certamente acima de tudo, pelo olhar.

Segundo a pediatra: “A interação com a criança estando de máscara e paramentada é algo que gera sofrimento na gente. Na nossa unidade, a gente não tem permitido a presença dos familiares, como se permitia antes, pelo risco de contaminação, porque a gente não tem EPI (equipamento de proteção individual) suficiente para disponibilizar para os pais“.

Ela revela a sua tristeza com relação a muitos crianças que chegam conscientes à UTI, mas pioram, são intubados e acabam morrendo sem que os pais possam acompanhar de perto os seus momentos finais.

“Dói ver uma criança morrendo sem ver os pais. Fica muita coisa não trabalhada no luto desses familiares, de não ter visto, de não ter acompanhado de perto fisicamente a piora. Por mais que a gente tente explicar por telefone, muita coisa não está sendo vista e vivida”, afirma a pediatra.

Segundo a médica, um dos momentos mais sensíveis da internação de um paciente de covid é a intubação. Ela relatou à BBC um diálogo com um adolescente de 14 anos, momentos antes de ele ser sedado. Ela conta que enquanto o nível de saturação caia, ele não parava de repetir: “Não quero que minha mãe sofra, não quero que minha mãe sofra“.

“Eu falei: ‘você está precisando de ajuda para respirar. Eu vou tentar te ajudar nesse momento, mas você vai receber medicação para dormir, para não sentir dor. E a gente vai estar aqui conversando quando você acordar’”, relata a pediatra.

Mas o menino, que não tinha nenhuma comorbidade quando se infectou pelo coronavírus, nunca mais acordou.

Infelizmente, histórias como a relatada pela pediatra se repetem a cada dia e cada vez mais em nosso país. Faz-se necessária, com urgência, uma ampla vacinação, mas, até lá, sigamos cumprindo as normas de sanitárias.

SE PUDER, fique em casa  !

Para ler a matéria completa, acesse BBC





Diante da proibição de visitas na UTI infantis de covid-19, médicos e enfermeiros do Hospital Albert Sabin, em Fortaleza, fizeram vaquinha e compraram tablets para fazer chamadas em vídeo entre pais e crianças.

Jessica Lira diz que o momento mais desgastante é o de dar notícias sobre a gravidade dos pacientes por telefone, num contexto em que os pais não podem ver os filhos pessoalmente.


Estou todo dolorido. Essa noite eu levei uma surra de um ser misterioso




Diário, estou todo dolorido. Não sei se foi pesadelo, encosto ou assombração, mas essa noite eu levei uma surra de um ser misterioso. Foi assim: eu estava dormindo no sofá da sala, porque fiquei jogando “Plague” até tarde (nesse jogo a gente tem que espalhar um vírus e destruir toda a humanidade). Lá pelas tantas, levo um tapão na cabeça e acordo. Pensei que era a Michelle, mas não. Era um cara com cabelo branco e bigode preto.

Não perdi tempo e já fui atirando nele.

– Não adianta disparar com o controle do videogame. Olhe bem pra mim. Não está me reconhecendo?

– Peraí… Já sei! É o cara da nota de cinquenta cruzados! Não fala, não fala, vou lembrar seu nome. É Einstein? Samaritano?

– É Cruz! Oswaldo Cruz!

– Arrá!, eu sabia que era o nome de um hospital. O que você veio fazer aqui?

– Vim tentar enfiar na sua cabeça que você precisa vacinar todo mundo.

– E vou comprar vacina onde? Só se for na casa da sua mãe!

– Mais respeito, vagabundo! – e aí ele me deu uma baita bofetada. Se eu fosse um desenho, minha cabeça tinha dado um monte de voltas. – Deixa de ser mentiroso! Você não comprou mais vacina porque não quis. A Pfizer te ofereceu 70 milhões de vacinas em agosto e você fez de conta que não escutou. Depois o consórcio da OMS ofereceu vacinas pra cobrir 50% da população. Mas você quis o mínimo: 10%.

– E daí? Mesmo assim o Brasil é o país que mais vacina, pô!

– Outra mentira! Estamos em 6º lugar. E, na média por habitante, em 47º. Mas esse número ia ser bem pior se dependesse de você, porque três em cada quatro vacinas são da Coronavac.

– Calma, pressa pra quê?

– Pra não morrer gente, seu chupador de lata de leite condensado!

– Olha, eu não matei ninguém! Numa pandemia cada um tem que cuidar de si mesmo.

– É exatamente o contrário. Numa pandemia todo mundo é responsável por todo mundo!

– Você é comunista?

– Não. Sanitarista! E em 1904 eu enfrentei um problema parecido. Boa parte do povo se revoltou contra a vacina.

– Por que o povo não quis tomar a vacina? – eu perguntei.

– Espalharam o boato de que quem fosse vacinado ficava com cara de vaca.

– Kkk! Ótima feiquenius! Mas prefiro a do jacaré.

– O quebra-quebra durou uma semana. Bondes foram queimados, mais de 700 lampiões a gás foram quebrados, barricadas foram levantadas, houve assaltos, saques e tiroteios.

– Dessa balbúrdia eu gosto!

– O senador Lauro Sodré, que era capitão do exército e antivacina, tentou até dar um golpe. Ele convenceu os cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha a marcharem até o palácio do governo para depor o presidente Rodrigues Alves. Mas uma tropa legalista apareceu no meio do caminho. Os dois grupos trocaram tiros na rua da Passagem, que estava às escuras por causa dos lampiões quebrados. O Lauro Sodré fugiu e as duas turmas debandaram.

– Se os cadetes, o exército e a milícia estivessem do mesmo lado, tinha dado certo, pô!

– Se um golpe dá certo é porque o país deu errado. No final das contas, 945 pessoas foram presas, 30 morreram, houve 110 feridos e 461 deportados para o estado do Acre.

– E o Lauro?

– Foi anistiado. É sempre assim…

– Suspenderam a vacinagem?

– Sim. Mas em 1908 houve uma grande epidemia de varíola e o povo correu pra se vacinar. O pior é que já se passaram mais de cem anos e ainda tem gente contra a vacinação.

– Eu sou um desses. Não me vacinar é meu direito, talkei?

– Seu direito é levar uma surra, seu ridículo! – ele disse, jogando uma lata de leite condensado na minha cabeça.

Passei a mão na testa para limpar um pouco. Depois, enquanto chupava os dedos, falei: – Posso ser ridículo, mas não sou mariquinha. Tem que enfrentar o vírus, pô!

– Enfrentar o vírus é ficar em casa e usar máscara, mequetrefe!

– Não vou tolerar ser xingado por uma nota de cinquenta cruzados. Você não vale nada!

Aí o Oswaldo me deu um joelhaço no meio das pernas e eu caí no chão. Quase desmaiei. Mas deu pra ver ele desaparecendo e falando assim:

– Onde está, afinal, a civilização? Será que ela se restringia a uma delgada camada, revestindo precariamente a lava incandescente da barbárie?


PS: Pô, Diário, tapa na cara mesmo foi a volta do Lula. Ainda nem sei o que pensar. Será que é bom, porque aí polariza a coisa de vez? Será que é ruim, porque o Moro pode escapar de ser considerado imparcial e virar vice de alguém, tipo o Mandetta ou o Huck, e aí vai ter uma chapa antiLula e antieu? Será que é bom, porque aí o pessoal para de falar nas mortes da covid? Será que é ruim, porque segundo uma pesquisa aí, o Lula é o único cara que pode me vencer? Ah, Diário, o que será que será…?

PPS: Ilustra de Ivo Minkovicius.




Sabrina Forte, obstetra de Fortaleza, relata a emoção em parto de paciente com Covid e intubada



Leia um dos mais emocionantes relatos do tempo da pandemia. A obstetra Sabrina Forte, num post no Instagram, apresentou a história do nascimento de Maria Liz, quinta-feira, em Fortaleza. A mãe dela, de 24, está internada com Covid e estava intubada no momento do parto.

247 - De maneira emocionada, a obstetra Sabrina Forte relatou, em seu Instagram, o bem sucedido parto em uma paciente com Covid-19 internada em estado gravíssimo, intubada, em um hospital de Fortaleza. Aconteceu na última quinta-feira. A recém-nascida é Maria Liz. Ela e a mãe, de 24 anos, estão se recuperando depois da cesariana de alto risco.

Foi um parto muito difícil e Sabrina chegou a pensar que a bebê, prematura, havia nascido morta:

"Bebê aparentemente morta. O tempo para. Pi, pi, pi. Menos as máquinas do setor, menos o sangue. 'Dra., a pediatra trouxe de volta, está viva!' Parei, olhos cheios de água [voltados] para a Yasmin Paes (outra médica que realizava o parto). Que surpresa boa. Que alívio... O obstetra só volta a respirar depois de todo nascimento. Fato, essa é a adrenalina que nos preenche".

Sabrina constata: "Acabou essa história de 'grupo de risco'. Ferrou geral. Quer ajudar? Enfie a máscara na fuça de quem você conhece, guarde seus pais e julgue, sim, os coleguinhas das festas proibidas. O caos não está para brincadeira, e a parte desesperadora é que não tem leito para todo mundo. Nem caixão".

Leia o post da doutora Sabrina e veja no original, no Instagram:

Odiada pandemia,

hoje fiz uma cesariana de uma vítima sua de 24 anos. Gravíssima. Intubada. Esperando a primeira filha, uma prematura extrema. Ao abrir, a placenta resolve atrapalhar o serviço. Puta que pariu, por que nunca é fácil? Bebê aparentemente morta. Merda.

O tempo pára. Pi, pi, pi. Menos as máquinas do setor, menos o sangue. “Dra, a pediatra trouxe de volta, está viva!” Parei, olhos cheios de água para a @yasminpaes. Que surpresa boa. Que alívio... O obstetra só volta a respirar depois de todo nascimento. Fato, essa é a adrenalina que nos preenche.

Muito obrigada publicamente aos envolvidos: técnicos, enfermeiros, médicos, bioquímicos, fisioterapeutas, maqueiros, povo da limpeza. Assisti a uma extensa equipe lutar pelo sentido. O limite físico existe, não se iludam, não somos especiais, corajosos. Somos tementes. Ou estamos exaustos, ou estamos doentes. Chorei baixinho antes de me paramentar. Sabiam que são várias camadas de roupa, que sentimos calor, que a máscara machuca o tempo inteiro o rosto, que as luvas apertam e que fazemos o checklist das coisas inúmeras vezes na cabeça para não se contaminar? Não há um segundo de paz.

Reparei, no censo, que a paciente mais velha da UTI tem a minha idade e olha que sou um brotinho. Acabou essa história de “grupo de risco”. Ferrou geral. Quer ajudar? Enfie a máscara na fuça de quem você conhece, guarde seus pais e julgue sim os coleguinhas das festas proibidas. O caos não está para brincadeira e a parte desesperadora é que não tem leito para todo mundo. Nem caixão.



“ Você tem que ver eu me formar ” : a última mensagem de uma filha à mãe morta com covid aos 42 anos




Davi Nogueira

Uma estudante mostrou uma troca de mensagens dramática antes da mãe morrer por complicações causadas pela covid-19.

Em publicação no Twitter, Giulia mostra sua última conversa com a mãe, que estava a caminho da UTI e disse que não tinha vagas.

“Estou torcendo por ti. Eu te amo muito”, diz a estudante.

A mãe responde: “Eu vou pra UTI. Só não tem vaga em lugar nenhum. Amo vocês”.

“Essa foi a última mensagem que tive da minha mãe, ela faleceu hoje por covid-19 e tinha só 42 anos, deixando três filhas (uma de 8 anos) pra trás. Ela nunca vai ver eu me formar… Usem máscara, não saiam se não for necessário, por favor”, alerta Giulia, após sentir na pele o drama vivido por centenas de milhares de brasileiros na pandemia do coronavírus.



Infelizmente . . .

 



Use máscara !

 











Abaixo a máscara, vejam o rosto da morte !


Fernando Brito

É tão assustador que muitos preferem fechar os olhos e não ver.

Racionalmente, porém, já não há como negar que há uma intenção deliberada de Jair Bolsonaro – e não só dele, infelizmente – que o vírus Sars Cov 2 faça o papel de “aliviar” aquilo que consideram uma carga inútil para o país: os velhos, os doentes, os “maricas”, sobretudo os mais pobres, menos capazes de obter cuidados.

Duvidar como, se o presidente da República do país que é o segundo em mortes no mundo, apela para que não se use máscaras, alegando que elas prejudicam as crianças. Se o prefeito de Porto Alegre pede que as pessoas “contribuam com a sua vida” para salvar a economia do município.

Tudo isso no dia em que o país amanheceu sob a marca de 250 mil mortes pela pandemia e chegaria à noite com o maior número de mortos, em 24 horas, desde o início deste pesadelo.

Isto tudo acontece em um país moralmente vencido, onde a classe dirigente, como o energúmeno alcaide de Porto Alegre, só enxerga oportunidades de ganhar dinheiro, poder, privilégio e retirar mais direitos da população, como a que anuncia hoje o Estadão, ao dizer que o governo prepara “decreto para ‘simplificar’ regras trabalhistas“.

Em O Globo, o médico e neurocientista Miguel Nicolelis, ainda se espanta:

(…)qual é o valor da vida no Brasil? Que valor os políticos dão para a vida do cidadão se não fecham as atividades num lugar com 100% de ocupação dos leitos? Ter que preservar a economia é não só uma falsidade econômica como demonstra completa falta de empatia com a vida das pessoas. O que mais me assusta é o pouco valor à vida. Os políticos são o primeiro componente, mas a sociedade também. (…) Nossa sociedade em algum momento perdeu a conexão com o quão irreparável é a vida.

As autoridades da Saúde – diria eu os militares da Saúde – portam-se como imbecis, como nesta “solução” encontrada por Eduardo Pazuello para a superlotação que está levando ao colapso os hospitais em diversos estados, é criar um “Coronatur”, transferindo pacientes entre unidades da federação, uma estratégia estúpida, ainda mais considerando a possibilidade de espalhar as variantes do vírus por toda parte.

Corrijo-me, porém, de minha própria incredulidade: não é estupidez ou, se for, é nossa, que não percebemos ou não queremos acreditar que é uma premeditação.

Mas é.